Chanceler confirma carta de Obama a Lula sobre Honduras e diz que diferenças não atrapalham relação
Alfredo Junqueira, RIO
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, negou que haja tensão nas relações entre Brasil e EUA em consequência das divergências entre os dois países sobre as eleições e o impasse político em Honduras. Ontem, pouco antes de participar do encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, no Rio, Amorim explicou que as diferenças de posição não são suficientes para provocar uma crise entre Brasília e Washington.
“Não há tensão alguma na relação entre Brasil e EUA. Nós temos é de nos acostumar a ter diferenças. E, no passado, já tivemos em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), em relação à OMC (Organização Mundial do Comércio). Isso não provoca tensão”, disse Amorim. Anteontem, o Estado revelou que o governo brasileiro enviou uma emissária a Washington no dia 17 para convencer a Casa Branca a apoiar o adiamento das eleições hondurenhas – a proposta foi recusada. Ontem, o governo de facto qualificou de “intervencionismo inédito” o pedido do Brasil aos EUA.
Amorim confirmou o recebimento de uma carta assinada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em que a questão hondurenha é abordada. Ele também disse que Lula deverá respondê-la de forma “educada, adequada, mostrando seu ponto de vista, sempre salientando a possibilidade de cooperação, não deixando de destacar o ângulo como a gente vê as coisas”. O ministro afirmou que só soube das críticas do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia à política externa americana “pela manchete do jornal”.
Na terça-feira, Garcia qualificou de equivocada a posição do governo Obama sobre a crise política hondurenha e disse estar decepcionado com os andamentos da política externa do presidente americano. Ontem, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, general Jim Jones, telefonou para Garcia. O tom da conversa foi cordial, mas as posições contrárias foram reiteradas. Garcia voltou a condenar a posição americana de reconhecer as eleições em Honduras.
Amorim avaliou de forma negativa o andamento do processo político em Honduras. “Sem o retorno do presidente Manuel Zelaya ao poder, todos os países da América Latina e do Caribe já declararam que não reconhecerão o novo governo. Eu não sei, no futuro, o que acontecerá com os outros países, mas o Brasil continua firme nessa posição”, ressaltou. Ele também negou que os desentendimentos entre Brasil e EUA tenham se radicalizado após a visita do presidente Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a Brasília, na segunda-feira.
COLABOROU TÂNIA MONTEIRO