Por Virgínia Silveira, para o Valor,
de São José dos Campos
Berço da indústria aeronáutica brasileira e modelo de excelência na formação de profissionais diferenciados para o mercado de trabalho, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) se prepara para dar um grande salto estrutural. A partir do próximo ano começa a introduzir um novo curso de graduação na área de engenharia aeroespacial e lança as bases para a expansão da escola. A meta, segundo o reitor Reginaldo dos Santos, é dobrar o número de alunos que anualmente ingressam na instituição, saindo dos atuais 120 para 250.
O ITA já finalizou o projeto de um novo alojamento, com três blocos de apartamentos, mais amplos e modernos e capaz de abrigar cerca de 1.200 alunos. A parte antiga, conhecida como H-8, por onde passaram os mais de 5 mil engenheiros formados pelo ITA, ao longo dos 59 anos de existência da escola, será reformada e passará a receber alunos de pós-graduação. Estes poderão, inclusive, trazer suas famílias para dentro do campus, algo inédito na história do ITA.
Os projetos arquitetônicos dos novos prédios, envolvendo a residência dos alunos, a divisão de Ciências Fundamentais do ITA e o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Aeronáutica (CPORAER) serão doados pela empresa Vale Soluções em Energia (VSE)
Em relação ao novo curso de engenharia aeroespacial, o reitor do ITA disse que ele estará disponível a partir de 2010, mas neste primeiro ano só serão oferecidas vagas para os alunos que já estudam na instituição. “Já temos por volta de 10 alunos interessados”. A partir de 2011, o novo curso estará disponível para todos os candidatos que prestam vestibular para o ITA.
A implantação do curso, segundo o reitor, atende a um pedido e a uma necessidade da Agência Espacial Brasileira (AEB), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), principais órgãos articuladores do Programa Espacial Brasileiro. O objetivo, segundo Santos, é formar pessoal qualificado para estes setores, que registram um déficit cada vez maior de pessoal para trabalhar em programas estratégicos do governo federal, especialmente nas áreas de nanotecnologia e de engenharia de materiais.
As mudanças de curto prazo no ITA também incluem um reforço na área de pós-graduação, com a implementação de novos cursos, em atendimento a uma demanda crescente do setor aeroespacial. As empresas são as principais parceiras do ITA nesses cursos. Há sete anos a Embraer mantém, em conjunto com a escola, um curso de mestrado profissionalizante que qualifica engenheiros recém formados na área de engenharia aeronáutica.
A Vale Soluções de Energia (VSE) fechou uma parceria com o ITA para desenvolver um curso de especialização em motores de combustão e um mestrado profissionalizante em turbinas a gás, que começa a partir de fevereiro do próximo ano. O curso de especialização em aeronavegabilidade continuada e segurança da aviação foi transformado em mestrado e tem como principais interessados a Infraero, o Departamento de Controle do Tráfego Aéreo (Decea) e o Centro de Prevenção, Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a Polícia Federal e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), além das companhias aéreas.
Dentro da nova estratégia de reforço da pós-graduação, segundo Santos, um dos objetivos é procurar integrar mais os atuais cursos com os institutos de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), onde também está sediado o ITA. “Temos vários projetos de desenvolvimento conjunto com o IAE e o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), nas áreas de propulsão hipersônica e de sistemas inerciais, com aplicação no programa espacial brasileiro”, comentou o reitor.
O ITA também administra cursos de pós-graduação em parceria com instituições estrangeiras. Este é o caso do mestrado profissionalizante na área de propulsão líquida para foguetes, feito em cooperação com o Moscou Aviation Institute. O curso, com dois anos de duração é desenvolvido com professores russos e brasileiros, tem um módulo prático realizado nos laboratórios da State University of Aerospace Technology, na Rússia.
Algumas parcerias internacionais também têm ajudado o ITA a promover o intercâmbio de alunos em universidades e institutos de pesquisa de renome como a NASA (Agência Espacial Americana) e o DLR (Centro Aeroespacial Alemão). A Technical University of Berlin, por exemplo, tem recebido dois alunos do ITA por ano e acaba de mandar 25 para o Brasil. O Instituto Superior de Aeronáutica e Espaço na França também recebe alunos do ITA para estágios na área espacial.
O intercâmbio de professores com universidades e institutos no exterior se dá mais através de congressos e cursos rápidos, tendo em vista que 90% deles já possuem nível de doutorado. Das missões ao exterior feitas por docentes do ITA em 2009, 49 foram para seminários e congressos e 12 para cursos diversos. O ITA possui hoje um total de 181 professores, sendo que 22 acabaram de assumir suas funções, através de um concurso que abriu 26 vagas este ano.
Outra prioridade na gestão do atual reitor, que também é ex aluno do ITA, é a criação de um fundo de doações para a Instituição, de modo que a escola tenha mais alternativas de recursos, além dos orçamentários, muito sujeitos aos contingenciamentos do governo federal.
“A ideia é que esse fundo possa aceitar doações diversas, inclusive de ex alunos e empresas, que sirvam para alimentar a escola em momentos de baixa de recursos orçamentários”, explica Santos. O orçamento do ITA para este ano, segundo Santos, da ordem de R$ 6,5 milhões e é mantido pelo Comando da Aeronáutica, que está subordinado ao Ministério da Defesa.
A folha de pagamento da instituição consome cerca de R$ 23 milhões por ano. Além dos recursos orçamentários, o ITA também sobrevive com dinheiro que vem de arrecadação própria (alojamento dos alunos e pós-graduação), emendas parlamentares, convênios e contratos com empresas, órgãos de fomento à pesquisa e fundos setoriais. Em 2009, a escola estima que esses recursos serão da ordem de R$ 29 milhões.
Santos disse que, desde 2004, o ITA e a Fundação Casimiro Montenegro Filho vem tentando encontrar uma forma legal para a criação do fundo. A Fundação, que leva o nome do fundador do ITA, gerencia projetos de desenvolvimento e capacitação tecnológica entre o ITA, empresas e institutos de pesquisa e ensino superior.
“Com esse fundo teríamos uma administração independente, semelhante ao modelo aplicado em universidades americanas: um terço dos recursos vem de algum orçamento do Estado e de mantenedores, um terço de doações e o restante de projetos”, explicou.