Para Planalto, Ahmadinejad deve aproveitar oferta dos EUA de retomar cooperação rompida há três décadas
Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA
O Brasil quer valer-se de seus bons ofícios diplomáticos para intermediar um possível diálogo direto entre o Irã e os Estados Unidos. A boa vontade do governo Luiz Inácio Lula da Silva em receber o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, depois da suspensão de sua visita em maio passado, responde a uma convicção do Palácio do Planalto de que Teerã pode e deve aproveitar a oferta da Casa Branca de retomar uma cooperação rompida há três décadas.
Para a vinda ao Brasil de Ahmadinejad, no próximo dia 23, o Itamaraty recomendou à chancelaria iraniana que não sejam feitas declarações sobre questões sem consenso entre ambos os países. O recado foi claro: em Brasília, o presidente do Irã deve se controlar e não repetir seus ataques a Israel nem sua opinião de que o holocausto não existiu. De preferência, deve evitar críticas aos EUA.
O governo brasileiro está ciente de que o Irã tem mais a ganhar que o Brasil com essa visita polêmica. Para Ahmadinejad, significará a aproximação com um país que mantém uma política externa independente e conquistou respeito na comunidade internacional ao longo dos últimos 15 anos. Além disso, abrirá contato direto e azeitado com um governo que terá, em 2010 e 2011, assento no Conselho de Segurança da ONU – órgão que poderá vir a votar um novo lote de sanções contra o Irã, por causa dos objetivos pouco claros de seu programa nuclear.
OBAMA
Para Lula, a visita dará oportunidade de atrair o líder iraniano para um diálogo com Barack Obama, hoje impossibilitado especialmente pela reação da opinião pública dos dois países. Se essa aproximação prosperar em curto prazo, Lula terá como colher os frutos de sua intermediação antes de concluir o mandato. Do ponto de vista do Itamaraty, o sucesso dessa empreitada credenciará o Brasil para tornar-se um dos atores relevantes em um novo modelo de governança global. Seria traduzido como a vitória da diplomacia da persuasão do governo Lula.
“A proposta de Obama de engajar o Irã em um diálogo é muito mais ameaçadora aos líderes iranianos e a setores americanos que aos dois governos”, afirmou uma autoridade que acompanha os temas de Oriente Médio. “A demonização do inimigo externo (Washington, para o Irã; Teerã, para os EUA) deixou os dois lados em uma sinuca de bico: ninguém pode conversar com o diabo.”
Na quarta-feira, sentado ao lado do presidente de Israel, Shimon Peres, Lula defendeu a visita ao Brasil de Ahmadinejad e argumentou que a paz não pode ser construída em um “clube de amigos”. A declaração refletiu a perspectiva do governo Lula de que o Irã é hoje uma das peças centrais na solução dos conflitos do Oriente Médio. Sem Teerã, acredita o Itamaraty, nenhum acordo terá substância. “Não se constrói a paz no Oriente Médio sem conversar com todas as forças políticas e religiosas”, receitou Lula.
REZA
O governo brasileiro reza para que, até dia 23, o Irã já tenha respondido – favoravelmente – ao acordo negociado com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre seu programa nuclear. Até quinta-feira, nenhuma reação havia surgido de Teerã, que continuava a exigir emendas ao documento. O acordo servirá como salvaguarda contra qualquer iniciativa do regime iraniano de utilizar urânio enriquecido para produção de armas nucleares.
Tal ameaça ainda está presente e foi reforçada pela constatação de que uma planta descoberta recentemente não estaria apta a objetivos civis, mas adequada a um programa militar. Uma eventual resistência do Irã, cujo programa nuclear já foi condenado pelo Conselho de Segurança, poderia reverberar no programa nuclear brasileiro, que abarca toda a cadeia de produção de urânio enriquecido e tem inquestionável finalidade pacífica.
“O Irã não deve abandonar seu programa nuclear de jeito nenhum”, afirmou a mesma autoridade. “Mas já dissemos ao governo iraniano que somos contra a fabricação de armas nucleares e o descumprimento de compromissos internacionais.”
A visita será marcada pela assinatura de acordos modestos – um programa na área cultural, a isenção de vistos diplomáticos, a cooperação técnica e um primeiro passo para futura colaboração da Embrapa. Mas uma missão do Tesouro embarcou na sexta-feira para Teerã a fim de negociar a criação de mecanismo de financiamento para as exportações brasileiras. No início de 2010, uma missão comercial completará o objetivo de elevar o intercâmbio – US$ 839,4 milhões de janeiro a setembro. “Vamos deixar o moralismo de lado porque os maiores parceiros do Irã são o Japão, a França e a Itália”, afirmou a autoridade.
Conversinha delicada, esta que nossos embaixadores, consul, terão que ter com esses caras, mais se eles cederem aos termos oferecidos a estes, para parar com seu projeto nuclear, o Brasil ganharia de vez voz no setor geopolitico mundial.
Abraço.
Sai fora…deixe q eles se entenderem . caso contrario vão se matar,,,vamos recolher os espólio …