Guerra nos Céus: França diz ter feito oferta inédita ao Brasil

Ministro da Defesa se reúne com Jobim e volta a fazer lobby pela venda dos caças Rafale

José Meirelles Passos e Maiá Menezes

 O ministro da Defesa da França, Hervé Morin, veio ao Rio ontem para receber, no início da noite, juntamente com seu colega brasileiro, Nelson Jobim, o prêmio Personalidade França-Brasil 2009, outorgado pela Câmara de Comércio França-Brasil. Mas ele aproveitou a oportunidade para reforçar o lobby junto ao governo brasileiro para a venda do avião militar Rafale, da francesa Dassault, que concorre numa disputa internacional com os caças Gripen, da sueca Saab, e o Super Hornet F-18, da americana Boeing.

Um de seus principais argumentos foi dizer que o presidente Nicolás Sarkozy está fazendo uma oferta inédita e fora do comum ao seu colega Luiz Inácio Lula da Silva: — Estamos oferecendo ao Brasil um índice de transferência de tecnologia como a França jamais propôs a qualquer outro país. Sem contar que se trata, também, de uma parceria industrial — disse Morin.

 França insinua que decisão do Brasil seria política

Ele evitou mencionar detalhes, como o preço de cada aeronave (o Brasil quer comprar 36), preferindo insistir no aspecto inusitado da proposta: — Estamos falando de algo mais do que uma relação compradorvendedor. Trata-se de uma parceria capaz de conceber em conjunto (Brasil-França) evoluções futuras do Rafale.

Como, por exemplo, um sistema de armamento para esse caça — sugeriu Morin, em entrevista no consulado da França, no Centro do Rio.

Pouco antes, o ministro Jobim afirmara que considera legítima a pressão dos governos da França, dos Estados Unidos e da Suécia em favor dos caças de seus países: — Eles estão todos empenhados.

 É interesse de Estado.

É normal. Da mesma forma que temos interesses em privilegiar negociações das nossas transnacionais. Mas a FAB (Força Aérea Brasileira) ainda não concluiu a análise — afirmou, acrescentando que uma decisão sobre qual modelo adquirir deverá ser tomada até o fim deste ano.

Na defesa do Rafale, Morin procurou acentuar especialmente o fato de Sarkozy e Lula terem assinado, em fins do ano passado, um acordo criando uma parceria estratégica entre os dois países. E deu a entender que essa iniciativa de cunho político poderia vir a ser o fator decisivo, na hora de o governo brasileiro escolher o avião que comprará: — Nossas conversas com o governo brasileiro continuam num clima de muita confiança, no qual estamos aguardando a avaliação (técnica dos concorrentes) e o processo de decisão política — disse o ministro de Defesa da França.

 O Chile estaria interessado na parceria Brasil-França

Perguntado sobre qual item ele imagina ser decisivo na escolha do Brasil — a qualidade técnica do avião, o preço ou a questão política —, Morin respondeu enfaticamente: — Temo um conjunto. Não estamos oferecendo um tijolo, mas uma casa inteira: o melhor avião, parceria política e parceria industrial e tecnológica.

 Quanto ao preço, não estou aqui para falar disso.

Jobim levou Morin ontem a um passeio turístico pelo Rio, de helicóptero, e, em seguida, até a área, no litoral norte fluminense, onde será construído um estaleiro para a produção de submarinos Skorpène — recém adquiridos pelo Brasil — e também de uma nova base naval específica para aquele tipo de embarcação.

— Deu para ver que será realmente uma obra de infraestrutura de grande porte à imagem da ambição brasileira — disse o ministro francês.

Ele contou que Jobim lhe informou que as obras do estaleiro deverão ser iniciadas nas próximas semanas. Além disso, ambos discutiram perspectivas para futuros contratos de compra do Brasil na área militar. Uma das probabilidades seria a da aquisição de uma fragata que a França atualmente desenvolve junto com a Itália.

Morin acentuou, ainda, a possibilidade de outros países da América do Sul virem a participar da parceria estratégica França-Brasil. Antes de chegar ao Rio ele passou por Santiago do Chile e Buenos Aires. E disse ter captado grande interesse dos vizinhos, em especial dos chilenos: — O Chile demonstrou grande interesse devido à construção de uma base tecnológica e industrial no Brasil, que poderia gerar acordos com países vizinhos — disse ele.

Fonte:Resenha CCOMSEX

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