Vendaval na Lagoa da Fortaleza

L Fortaleza

Por: Hiram Reis e Silva

Vendaval na Lagoa da Fortaleza

Por Hiram Reis e Silva, Cidreira, RS, 13 de outubro de 2009.

O treinamento para a descida do Rio Negro é um eterno aprendizado e, desta vez, a protagonista foi a Lagoa da Fortaleza em Cidreira.

– El Niño

O aquecimento das águas do Oceano Pacífico acarreta mudanças significativas nas correntes atmosféricas provocando secas na região norte/nordeste e a ocorrência de intensas chuvas na região sul do país provocando, muitas vezes, catástrofes que assolam impiedosamente a região serrana de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Nas planuras lacustres ao longo do litoral gaúcho, porém, estas mesmas águas trouxeram muita beleza e revitalizaram a região.

– Lagoa da Fortaleza

Na manhã de sábado (10 de outubro de 2009), ventos superiores a 10 nós (18 km/h) encrespavam a superfície da Lagoa da Fortaleza, com ondas de mais de meio metro de altura. O caiaque oceânico mais parecia um potro redomão corcoveando sobre as águas. As ondas revoltas lavavam o convés e tornavam a navegação bem mais emocionante, embora mais lenta.

Rumei direto para uma pequena represa construída no canal que une a Lagoa à sua vizinha do norte (Lagoa Manuel Nunes). As águas tinham inundado os campos mais baixos e, quando me aproximei do dique, constatei que a diferença do nível das águas de montante e jusante, que há três meses, era de um metro e oitenta era, agora, de apenas de 25 centímetros. O barranco que dificultava o acesso ao canal simplesmente desaparecera, suas águas estavam niveladas com o campo.

A quantidade de aves era impressionante: bandos de marrecas da patagônia (não avistei nenhum macho no bando), marrecas piadeiras (Dendrocygna viduata), caneleiras (Dendrocygna bicolor) e pés vermelho (Amazonetta brasiliensis) que levantaram vôo logo que me avistaram. Apenas um fleumático casal de Tarrãs me observava curioso do alto de um morrote sem esboçar qualquer reação. Pouco antes de me aproximar da represa, um movimento intenso das águas mostrava que os peixes tinham, graças às cheias, conseguido alcançar, finalmente, a Lago da Fortaleza revitalizando-a. A represa, antes da cheia, era uma barreira intransponível para os peixes que migravam desde a barra do rio Tramandaí e conseguiam chegar à Lagoa da Fortaleza depois de passar por quatro lagoas atravessando os seus canais.

Tarrãs (Chauna Torquata): ave da família dos anhimídeos, natural da Argentina, Bolívia e região Sul do Brasil. Medem cerca de 80 cm de comprimento de altura, com uma envergadura de 120 cm e 4,5 Kg de peso. As pernas são vermelha e as plumagens pardo-acinzentadas, pescoço com gola negra e estreito círculo branco. As asas são negras e com uma grande área branca visível durante o vôo. Conhecidas, também, pelos nomes de anhuma-do-pantanal, anhumapoca, anhupoca, chajá, inhumapoca, taã, tachã-do-sul, tajã, xaiá e xajá.

Tirei algumas fotos da represa e cercanias e naveguei para a foz de jusante do canal onde estacionei. A imagem da Lagoa Manuel Nunes era bastante diferente da que eu encontrara meses atrás. Na época, a foz, totalmente assoreada, permitia que se atravessasse o canal a pé com água pelo tornozelo e, hoje, tive de nadar para alcançar a margem. Uma grande cobra d’água lutava contra a correnteza forte do canal tentando alcançar a margem e uma pequena tartaruga e um grande cágado lagarteavam num local protegido dos ventos aproveitando o calor amigo dos raios solares. Encontrei um estranho crânio que resolvi levar para que os professores de biologia do Colégio Militar de Porto Alegre identificassem. A natureza irradiava uma harmonia contagiante.

– Vendaval na Lagoa

Na manhã de domingo (11 de outubro de 2009), ventos superiores a 25 nós (45 km/h), encastelavam as águas da Lagoa da Fortaleza, com ondas de mais de um metro de altura. Remei durante algum tempo, mas apesar de manter o remo abaixo da linha dos ombros, procurando evitar a ação dos ventos nas pás do remo, o esforço exigido era muito grande e resolvi realizar, apenas, pequenos percursos próximo à largada.

Eu já enfrentara um vendaval semelhante no Guaíba ao retornar do Parque Itaponã. A distância de dez quilômetros que eu vencia com 01h25m em média, sem apresentar qualquer sinal de cansaço precisou de 02h55min para ser vencida e, ao final, eu me encontrava totalmente exausto.

Solicito Publicação

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

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