Jobim: Colômbia freou acordo militar na Unasul

Ministro defende aquisição feita pelo Brasil, que ‘não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional’

Leila Suwwan

 

BRASÍLIA, BOGOTÁ e CARACAS. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que resistências e falta de garantias formais da Colômbia levaram ao fracasso a tentativa de fechar um acordo militar entre os 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) anteontem em Quito, Equador. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, Jobim defendeu ainda as novas aquisições de armamentos que o Brasil decidiu fazer, dizendo que o “Brasil não é como a Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional”, numa crítica à postura do país vizinho sobre o tema.

Indagado pela oposição sobre a aquisição de armamentos, Jobim disse que o país não está simplesmente comprando novos equipamentos:

– O Brasil não está comprando. O Brasil não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional. Queremos fazer uma capacitação (das Forças Armadas). Eu não uso o termo “compras”.

Mas defendeu o governo Hugo Chávez, dizendo que a compra de armas pela Venezuela não é preocupante para a região.

– O que aconteceu é que as elites venezuelanas usavam a verba do petróleo em operações comerciais fora do país sem reinvestir no próprio país – disse, acrescentando que a situação criou grande desigualdade social, que Chávez tenta reverter.

Chávez voltou a criticar a Colômbia ontem, dizendo que o país “ficou totalmente isolado” na Unasul, por se negar a explicar a extensão do acordo militar com os EUA, atitude que considerou “vergonhosa”. E defendeu a postura do Brasil, que “com muita firmeza exige garantias de que as forças militares ianques não vão fazer incursões em territórios de outros países”.

Jobim evitou ainda pôr a aquisição de equipamento militar pelo Brasil no contexto de uma corrida armamentista regional, limitando a estratégia brasileira a uma postura pacífica de capacitação e poder de dissuasão:

– Não temos inimigos. Temos vizinhos e eles têm tensões e conflitos, como a Colômbia e a Venezuela.

Já sobre o acordo militar entre os membros da Unasul, Jobim disse que partiu dele a iniciativa de impedir a coleta de assinaturas dos outros 11 países, devido à falta de consenso. Segundo ele, a Colômbia pediu para analisar melhor três itens do acordo: a apresentação dos tratados de defesa de cada país ao Conselho de Defesa da Unasul; a notificação prévia aos vizinhos em caso de manobras ou exercícios militares na fronteira, e a garantia de que países não permitam ações militares de seus aliados em territórios vizinhos.

– Ontem (terça) fracassou a reunião. A Colômbia não quis firmar nenhum desses pontos – disse.

 

Colômbia cogitou se retirar da Unasul

A garantia de não-extraterritorialidade de ações militares, que abarca a preocupação regional com o acordo feito pelos EUA para usar bases colombianas, foi a que causou mais atrito. Jobim disse que a Colômbia chegou a oferecer “garantias plenas” de cumprimento do item.

– Mas nós pedimos garantias formais, como um posicionamento por nota diplomática – afirmou, explicando que só assim a norma teria validade.

O ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, disse ontem que o encontro em Quito foi difícil porque houve uma aliança de países contra a Colômbia para questionar o acordo com os EUA. E afirmou que o país considera retirar-se da Unasul:

– Eventualmente se esse impasse se perpetuar, e não virmos uma preocupação sobre o armamentismo, o tráfico de armas, o narcotráfico, o crime organizado, se não houver sensibilidade quanto a esses temas, que são nossos, então caberia avaliar essa possibilidade.

 

Fonte: Resenha CCOMSEX

 

2 Comentários

  1. A colombia está se escondendo atrás deste tripé, é está olhando os exercitos dos países fronteiricios como sendo iguais aos seus, policiais, enquanto os outros são soldados, feitos p a guerra; é e essa a tribuição das nossas FAs…eles estão mt comprometidos com os ianks, existe algo maior por trás dessa reticência toda. Temos de vigia-los é de perto,até pq tem ianks no meio…

  2. Por que mentir sobre o acordo militar?

    As novas bases militares colombianas expandiram a esfera de influência estadunidense para uma ampla região da Amazônia brasileira. Elas completam as posições da IV Frota Naval dos EUA, no Oceano Atlântico. Não há coincidência na simultaneidade dessa mobilização armada com a divulgação dos imensos potenciais das reservas do pré-sal.
    Há anos o Brasil pleiteia uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. A absurda ausência do país tem o histórico patrocínio dos EUA, que não querem dividir esferas de influência na América Latina. A pretensa necessidade da tutela de Washington nasce da insuficiência material de nossas Forças Armadas.
    Elas são realmente obsoletas e virtualmente inúteis. Os oficiais vomitam elogios à ditadura, enquanto o ministério da Defesa responde com afagos modernizadores. É necessário rever a impunidade dos torturadores e assassinos do regime militar, mas também fornecer condições materiais para que as Armas cumpram seu papel na manutenção do Estado de Direito.
    Por menos democrático que pareça, nenhum governo do planeta divulga as minúcias de negociações militares. A transferência de tecnologia é imprescindível para compras da proporção que o país necessita. Ela sempre foi recusada pelas empresas norte-americanas, que só agora acenam com um recuo, ainda assim parcial e condicionado.
    O poder de persuasão dos lobbies da indústria bélica é inimaginável, e vai muito além das simples (e já por si irrecusáveis) ofertas financeiras. Deve-se acompanhar com muito zelo a participação de jornalistas, “especialistas” e políticos nesse debate.
    Por que de repente surgiram tantos defensores da Boeing e da Lockheed na imprensa nacional? Por que as análises insistem em evitar discutir os tais “méritos” da opção pela concorrente francesa? Por que, afinal, uma discussão de tamanha complexidade tem sido tão flagrantemente manipulada pelo noticiário?

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