Confiança em xeque

Troca de acusações marca reunião de chanceleres e ministros de Defesa para discutir os riscos de uma corrida armamentista na região

Isabel Fleck

A reunião de chanceleres e ministros de Defesa da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) tinha como meta estabelecer um documento para “restaurar a confiança” entre os países da região, mas o que se viu, mais uma vez, foram trocas de acusações de todos os lados. O vice-presidente e ministro da Defesa da Venezuela, Ramón Carrizales, disse que a delegação colombiana não foi “transparente” ao deixar de mostrar o texto do acordo militar recém-fechado com os Estados Unidos. O chanceler da Colômbia, Jaime Bermúdez, pediu que o debate se estendesse à presença de “grupos terroristas” nos países da região — em referência à acusação recorrente de que os governos de Caracas e Quito toleram acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

As acusações e demonstrações de receio extrapolaram os limites da reunião. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, pediu mais clareza a Caracas sobre as compras militares recém-fechadas com a Rússia. “Expressamos nossa preocupação em relação ao número de compras venezuelanas de armas. (…) Isso levanta a questão de que pode haver uma corrida armamentista na região”, afirmou. A resposta veio do chanceler Nicolás Maduro, ainda durante a reunião: “Essas declarações não têm embasamento político ou moral”. Maduro lembrou que são os EUA que estariam movimentando esse tipo de compra, ao garantir acesso operacional a sete bases militares na Colômbia.

Também o ministro de Defesa venezuelano se pronunciou, garantindo que seu governo está disposto a informar detalhes sobre os US$ 2,2 bilhões gastos em material bélico russo. “Temos a obrigação constitucional de nos proteger. Compramos armamento apenas defensivo”, justificou. Carrizales alfinetou o governo de Bogotá, dizendo que “a confiança começa com a transparência”. “Não vimos nada de profundo, nem das letras miúdas do acordo (dos EUA com a Colômbia). Esse convênio representa uma grande capacidade estratégica para os EUA, que pretendem usar a base de Palanquero como base expedicionária”, criticou.

Antes de se iniciar a reunião, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, reafirmou qual seria o principal pedido do país na reunião: garantias formais de que o pacto militar entre a Colômbia e os EUA não afetará a região. Segundo Amorim, os países têm autonomia em suas escolhas, mas elas podem causar “apreensões” em outros governos. “Por isso, insistimos na questão da transparência, na criação de medidas de confiança e nas garantias.”

Colômbia

O ministro de Relações Exteriores da Colômbia, Jaime Bermúdez, não deixou por menos os ataques da delegação venezuelana. “Assim como é importante discutir de maneira ampla e democrática as compras de armas, as garantias e os mecanismos de segurança, também o são a presença de grupos terroristas na região e a luta contra o narcotráfico”, disse. Até mesmo o presidente Álvaro Uribe, que não participava da reunião, resolveu se pronunciar. Segundo ele, as armas compradas por seu governo servirão para recuperar a ordem pública interna do país e “não visam a uma corrida armamentista”.

Quem também não esteve na reunião, mas não deixou de se pronunciar, foi o presidente do Peru, Alan García. Em uma carta, ele propôs “frear o armamentismo” na América do Sul. “Com urgência, a mais importante ação (do Conselho de Defesa da Unasul) deve ser a transparência e homologação dos gastos militares e das compras de novos recursos e tecnologias”, escreveu García.

Até o fechamento desta edição, a reunião em Quito não havia sido encerrada, mas a expectativa era de que fosse aprovado um documento apresentado pelo Equador, baseado em seis pontos: intercâmbio de informações, transparência nos gastos de Defesa, cooperação em atividades militares, cumprimento e verificação, impactos migratórios ou ambientais e garantias. “Sem dúvida, não é um texto fácil. Buscamos uma visão abrangente, global e integral dos aspectos de segurança”, afirmou o chanceler do Equador, Fander Falconí.

 Nós temos a obrigação constitucional de nos proteger. Compramos um armamento apenas defensivo”

Nicolás Maduro, chanceler da Venezuela

Boeing na ofensiva

A gigante norte-americana da aviação Boeing garantiu ontem que apresentará até a próxima sexta-feira uma oferta “bastante competitiva” para que seu caça F/A 18 Super Hornet seja o vencedor da concorrência F-X2 , que prevê para a compra de 36 aparelhos para a Força Aérea Brasileira (FAB). Falando à imprensa depois do primeiro de dois dias de conferências com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o vice-presidente da empresa responsável pelo programa F/A 18, Bob Gower, reafirmou o compromisso de transferir tecnologia referente a “tudo que está na proposta”. E assegurou que a Boeing oferece um preço “muito menor” que o da rival francesa Dassault, favorita do Planalto com o Rafale, num pacote estimado em cerca de 5 bilhões de euros.

“Estamos confiantes que a nossa oferta representa a solução de melhor valor para o Brasil, proporcionando a mais avançada tecnologia disponível, superior e comprovado sistema de apoio logístico e preço que é consideravelmente mais baixo que o apresentado pelo Rafale”, disse Gower. Ele e o vice-presidente de Suprimentos Globais da divisão militar da empresa, Ron Shelley, reuniram-se com 140 potenciais parceiros. “Nosso objetivo é montar uma rede de fornecedores que representem o que há de melhor na indústria, e vislumbramos oportunidades promissoras no Brasil”, disse Shelley. “As oportunidades para as empresas do maior país da América Latina vão muito além da concorrência F-X2.”

Os executivos reiteraram a disposição da empresa de, caso vença a disputa, acertar a montagem de 24 dos 36 aviões na fábrica da Embraer, em São José dos Campos (SP). A Dassault faz proposta semelhante em relação ao Rafale, e a sueca Saab oferece montar no Brasil todos as 36 unidades do caça Gripen — que, ao contrário dos concorrentes, está ainda em desenvolvimento.

A concorrência F-X2, que se desenrola há 10 anos, deve ser decidida até o fim deste mês, quando a FAB entregará seu parecer sobre os três concorrentes ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que levará a decisão final para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No último dia 7, durante a visita do colega francês, Nicolas Sarkozy, Lula firmou comunicado conjunto que mencionava a “decisão política” de abrir negociações com a Dassault para a compra do Rafale. Diante das dúvidas causadas pela declaração, as empresas ganharam prazo até sexta-feira para reformular e detalhar melhor a proposta final.

Discutindo a relação

 O chanceler equatoriano, Fander Falconí, anunciou que começará a trabalhar com o colega colombiano, Jaime Bermúdez, em diretrizes “claras” para restabelecer as relações diplomáticas. Depois da reunião dos chanceleres da Unasul em Quito, os dois deverão manter um encontro bilateral durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, no próximo dia 22, em Nova York. Falconí também descartou, em um primeiro momento, a necessidade de um mediador, como havia sugerido o presidente Álvaro Uribe, que mencionou o nome do governador da província colombiana de Nariño, Antonio Navarro. “Nos pontos de conflito, podemos acudir eventualmente a centros de mediação especializados, personalidades ou buscar outros mecanismos”, considerou.

Fonte: NOTIMP

1 Comentário

  1. Esses srs, são preocupantes, mt temerários, ainda + com esses brinquedinhos novos q eles estão comprando…e os ianks no meio..mt preocupante, até pq seremos arrastados nessa loucura, casos eles deem tapas um nos oputros,é os ianks no querendo um motivo p fazerem besteira por aqui; é nós seremos envolvidos nesta briga. Temos de nos prepararmos p o que está sendo apontado por esses sinais de fumaças de guerra. Só falta sebermos os dia é a hora.

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