Tentáculos do terror

Grupos fundamentalistas inspirados na rede Al-Qaeda se espalham pelo mundo e transformam a África em teatro de operações. Para analistas, miséria torna muçulmano vulnerável.

Para eles, empunhar a espada é condição para ascender ao paraíso. Em nome de Alá, apregoam e executam uma interpretação distorcida e violenta do Corão. Como um câncer desenfreado, espalham-se pelos cinco continentes, motivados pelas aspirações segregacionistas ou pela implantação de um Estado muçulmano regido pela sharia (lei islâmica). Talibã, no Afeganistão; Boko Haram, na Nigéria; Al-Shabab, na Somália; Lashkar-e-Tayyiba, no Paquistão; Exército Islâmico do Áden, no Iêmen; Jemaah Islamiya, na Indonésia; Jihad Islâmica Egípcia… Atores da jihad (1)(guerra santa), muitos desses grupos extremistas se inspiram na rede terrorista Al-Qaeda, do dissidente saudita Osama bin Laden, e aproveitam da fragilidade econômica de alguns países para engrossar suas fileiras com homens dispostos a se explodir e matar em nome do islã. Somente ontem, atentados no Afeganistão (leia matéria abaixo), na Chechênia e na Tailândia deixaram 49 mortos e 122 feridos.

O cingalês Rohan Kumar Gunaratna mergulhou no obscuro mundo do fanatismo islâmico e entrevistou mais de 200 militantes da Al-Qaeda. Os depoimentos renderam o livro Por dentro da Al-Qaeda: rede global de terror. Por telefone, de Cingapura, o especialista em terrorismo pela Nayang Technological Univeristy contou ao Correio que os movimentos jihadistas operam com maior atividade na fronteira do Afeganistão com o Paquistão, no Iraque e na Somália. “A África é o novo teatro de operações da jihad e essa ameaça deve ser levada muito a sério”, afirmou. Segundo o analista, muitos países africanos são desprovidos de capacidade e de experiência para lutarem contra o terrorismo.

Rohan admite que a pobreza e a falta de esperança induzem ao recrutamento de militantes islâmicos. “Os grupos extremistas prometem cinco vantagens aos seus homens: um lugar no paraíso, para desfrutar de 72 virgens; um encontro com Deus; a remissão dos pecados e dos vícios, e a condução dos parentes ao céu”, explicou o cingalês. “A Al-Qaeda é a mais forte ideologia dos jihadistas. Ela funciona como motor desses grupos: além de ser fonte de inspiração e de profunda influência, lhes fornece apoio operacional”, acrescentou.

Às vezes, o próprio ensino religioso foge do controle das famílias, que veem seus filhos tragados pelo fanatismo. O administrador de vendas afegão Matiullah Qaderdan, morador de Cabul, relatou ao Correio o drama de um menino de 14 anos, apelidado de Qari (em árabe, aprendiz do Corão). “Um dia, o pai do garoto me disse que estava mandando o filho a uma mesquita para aprender sobre o livro sagrado. O jovem começou a brigar por causa da música que a mãe escutava e com a irmã, por não cobrir sua cabeça. Após o pai expulsá-lo da mesquita, o rapaz sumiu e telefonou para casa tempos depois avisando que iria a uma missão suicida. Dois meses atrás, soubemos que ele morreu num bombardeio americano contra o Talibã, na província de Ghazni (leste)”, afirmou.

Segundo o filipino Pete Troilo, diretor de inteligência da Pacific Strategies & Assessments (PSA) — sediada em Manila —, a desigualdade sociopolítica e a pobreza abrem as portas para o extremismo religioso, fundamentado na resistência ao modo de vida não sectário. “Toda região onde a miséria persiste fica vulnerável ao fenômeno, principalmente na África e no sudeste da Ásia”, admitiu, em entrevista por e-mail. “Há evidências de que os terroristas buscam santuários em nações com lei frouxa e controle de imigração frágil. Isso é claro na Somália, por exemplo, para onde há o deslocamento de extremistas muçulmanos estrangeiros”, observou. Na tentativa de coibir a ação dos fundamentalistas, o governo da Nigéria proibiu ontem a presença de clérigos no estado de Borno (norte). A decisão foi tomada depois que confrontos entre militantes islâmicos e soldados terminaram com 400 mortos na cidade de Maiduguri.

1 – Conceito confuso

Em árabe, a palavra significa “lutar por algo” ou “fazer um esforço”. Para o islã, jihad quer dizer “batalhar para ligar a fé perfeita a uma luta material para promover a justiça e o sistema social islâmico”. Segundo o Corão, o profeta Maomé teria recebido uma ordem de Deus: “Deixe haver uma comunidade entre vocês que chamam para o bem, comande o certo e proíba o errado”. Dois dos versos do Corão sugerem uma guerra de conquista ou conversão contra todos os infiéis.

Bomba mata 42 no Afeganistão

Era o quarto dia do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos. Shakib Azizi, de 19 anos, observou o período de jejum entre as 4h15 e as 18h45. A explosão sacudiu violentamente Kandahar, a terceira maior cidade do Afeganistão, quando os 324 mil habitantes começavam a preparar a refeição. Pelo celular, do Hospital Merwais, Shakib falou ao Correio, poucas horas depois do atentado. Ele correu com a mãe, o irmão caçula e a irmã — feridos no ataque terrorista —, em busca de atendimento. “A explosão veio de um estacionamento. Fazíamos nosso desjejum e, de repente, vi que minha casa estava caindo. Minha mãe estava em frente à janela e ficou machucada pelos estilhaços da bomba, detonada bem em frente à porta”, relatou. “Soldados estão vindo para Kandahar, a fim de revistar cada casa, em busca de feridos. Há muitos feridos no Merwais e vi pelo menos duas pequenas crianças mortas.”

Na hora da explosão, Musa Talash — funcionário de uma provedora de internet e primo de Shakib — voltava da Base Aérea de Kandahar, onde havia marcado o voo de hoje para Tarin Kot, capital da província sulista de Oruzgan. “Ouvi o barulho e o som de janelas se quebrando e corri para casa. Lá, me disseram que o atentado tinha sido perto do lugar onde Shakib mora, fui até lá e o encontrei em prantos. Havia uma fumaça densa e era difícil de respirar”, contou à reportagem. “Toda a cidade sacudiu e cerca de 50% das janelas se partiram.” O estrondo repercutiu a 20km de distância. Um caminhão-bomba recheado de explosivos e detonado diante da construtora paquistanesa Ceta deixou pelo menos 42 mortos e 80 feridos, todos civis. O local do ataque se situa perto de um complexo que inclui salão de recepção para casamentos, diversas lojas e um hotel.

A explosão coincidiu com a morte de quatro soldados norte-americanos, atingidos enquanto patrulhavam uma área no sul do Afeganistão. Já são 295 o número de baixas dos Estados Unidos em 2009, tornando-o o ano mais sangrento para as tropas estrangeiras desde o início da ocupação do país, em 2001. “É com grande pesar que soube sobre esse ataque. Desejo minhas sinceras condolências às famílias e entes queridos desses quatro determinados companheiros”, declarou ontem o general de brigada Eric Tremblay, porta-voz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Na batalha das urnas, o presidente afegão, Hamid Karzai, leva a melhor. Com 10% dos votos apurados, o chefe de Estado lidera com 40,6% dos votos válidos contra 38,6% para o ex-chanceler Abdullah Abdullah. (RC)

Fonte: Resenha CCOMSEX

1 Comentário

  1. Conforme eu digo sempre, a coisa ainda vai piorar, quando descobrirem que o traficar é lutar por Alah melhora a vida e traz esperança, se morrer vai para o paraíso…tudo pode ficar bem pior, que Deus nos ajude ; é dê esperanças e melhor padrão de vida..parece as grandes cidades de certos países.

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