Com o Taleban, história anda em círculo vicioso

NOVA YORK – Na véspera das eleições afegãs de quinta-feira, existe uma escalada da violência terrorista do Taleban e das operações militares das forças ocidentais, capitaneadas pelos EUA. O presidente Obama diz que seu país está travando uma “guerra de necessidade” no Afeganistão, ao contrário da “guerra de escolha” de George W. Bush no Iraque. No caso, a necessidade gira em torno de dois objetivos essenciais: garantir um Estado viável no Afeganistão e impedir que a rede Al-Qaeda recupere o santuário perdido com a invasão do país depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Os objetivos dos americanos e seus aliados da Otan são limitados e em princípio alcançáveis. Mas em princípio também é preciso ser cético sobre o sucesso. O Taleban, que perdeu o poder formal com a invasão de 2001, hoje está ganhando a guerra, como reconhece o próprio comandante americano no país, o general Stanley McChrystal. Claro que este reconhecimento tem o objetivo tático de pedir reforços. A expectativa é de que em setembro, o general peça mais tropas. Assim é possível que em breve tenhamos mais tropas estrangeiras no Afeganistão (120 mil soldados) do que o finado Exército soviético durante sua ocupação nos anos 80.

E as lições da aventura soviética não são estimulantes. É uma guerra que a Rússia de hoje não gosta de lembrar. Do lado ocidental, tampouco há motivos de júbilo embora o Afeganistão tenha sido o Vietnã de Moscou e tenha contribuído para a derrocada do comunismo soviético. Os rebeldes afegãos e os combatentes islâmicos estrangeiros apoiados por vários países, a destacar os EUA, geraram monstros como a rede Al-Qaeda e o Taleban.

Os soviéticos também consideravam sua guerra como uma necessidade. Mas não dá para comparar o podre império soviético com o confuso império americano. Seria um atentado histórico e ideológico. A justificativa de Moscou para a intervenção era insensata, como o jargão: naquele fim do mundo, ajudar o fraternal povo afegão em sua luta de classe contra a burguesia a concretizar a revolução proletária.

Mas alguns paralelos são razoáveis. As táticas militares soviéticas guardam algumas semelhanças com as que estão sendo usadas hoje pelas forças ocidentais: tentar controlar cidades e pontos estratégicos, reduzir os movimentos de tropas na zona rural e treinar o Exército local para o ingrato trabalho na frente de combate. Ontem, como hoje, era essencial separar os insurgentes da população civil (uma tarefa quixotesca). Como os soviéticos, os ocidentais subestimam as habilidades táticas do inimigo, que evitam choques frontais quando convocados para batalhas “históricas”.

Mesmo em uma sociedade ditatorial como a soviética (e o padrão stalinista era inviável nos estertores do comunismo) a opinião pública não estava mais preparada para tolerar baixas em uma guerra insensata. A pressão para a retirada do Afeganistão se tornou irrefreável. Imagine, então, como reagirá a opinião pública em sociedades democráticas como nos EUA e Grã-Bretanha com o incremento de baixas?

Há 20 anos, os soviéticos abandonaram o Afeganistão e o deixaram nas mãos do Exército local e sob a liderança do fraternal comunista Mohmmad Najibullah. Três anos depois foi o colapso do seu regime. Em 1996, o Taleban tomou o poder. Najibullah, antes de ser morto, foi torturado e castrado. O corpo ensanguentado foi exposto publicamente, pendurado em um semáforo. Agora, oito anos depois da queda do Taleban, os países ocidentais tentam impedir que o grupo castre uma governança nascente. Missão inglória e brutal.

Colaborou: Vinicios Motta

Fonte: Último Segundo

1 Comentário

  1. Sem o uso de armas nucleares, e estando até um pouco preparado,não tem exercito iank que possa derrotar um inimigo denodado , que se juntem bem, vai correr muito sangue de ambos, e bota tempo nisso.
    Enquanto os corações e mentes dos afegões não forem conquistados por melhorias em suas vidas ( IDH ) está guerra vai se prolongar.

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