‘Foi um grande erro de relações públicas dos EUA’

BRUCE MIROFF

Bruce Miroff é um dos mais respeitados cientistas políticos dos EUA. Foi presidente do Grupo de Pesquisas Presidenciais da Associação Americana de Ciência Política, e acompanha com atenção o governo dos EUA. Para ele, os Estados Unidos cometeram um grande erro de relações públicas no caso das bases colombianas. Visitando o Brasil, amanhã fará uma palestra na sede da Firjan sobre o governo Obama.

Renato Galeno

O principal tema da campanha de Obama foi mudança. Já é possível dizer que a política externa dos EUA está mudando?

BRUCE MIROFF: Obama chegou ao poder tendo como pano de fundo a política externa de Bush, que foi mal recebida em todo o mundo, e também nos EUA, após a guerra no Iraque se descontrolar. Entrou prometendo uma nova atitude, com maior ênfase em diplomacia, uma menor disposição de usar a força militar, e prometendo conversar com qualquer país, mesmo que percebido como adversário dos EUA. O comportamento de Obama na Cúpula das Américas chamou a atenção. Apertou a mão de Chávez, disse que chegava ali para escutar – não para ditar – o que a América Latina tinha a dizer. E os EUA condenaram o golpe em Honduras. Há uma sensação de mudança. Ainda que eu saiba que aqui no Brasil há grande expectativa e preocupação com este acordo das bases colombianas.

Qual a importância, para os EUA, das operações militares contra drogas na Colômbia?

MIROFF: Não quero soar como um defensor do governo americano. Acho que é compreensível que os latino-americanos, olhando para a história de intervenções militares do passado, fiquem preocupados. Mas acho que não há um grande afastamento da atual política americana, e não é algo que deveria alarmar os países latino-americanos. Como disse o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, James Jones, é uma continuação da guerra contra as drogas. Como um acadêmico, não vejo uma razão pela qual os EUA deveriam ter algum interesse maior em ter militares interferindo na América Latina. Não faz sentido para mim.

O próprio general James Jones disse que foi um erro os EUA não terem discutido a questão antes do acordo. O senhor concorda?

MIROFF: Totalmente. Acho que não houve a intenção de mudar uma política americana, pois teria sido um desvio chocante da retórica de Obama de boa vontade e cooperação. Governos por vezes fazem esse tipo de mancada. Fazem negociações secretas, neste caso militares, e não pensam como a opinião pública vai reagir. Foi um grande erro de relações públicas da parte dos EUA. Mas não acho que seja uma ação militarmente ameaçadora que deveria alarmar os governos da América Latina.

Fonte: Resenha CCSOSEX

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