‘Caixa Preta’ testa navegação do pombo-correio

Cientistas inventaram um sistema de monitorização (Neurolloger2) que cruza os impulsos cerebrais dos pombos-correio com tecnologia GPS, para perceberem como estes se orientam em voo. Usadas há milénios pelo homem, estas aves têm perdido importância como meio de comunicação mas ainda têm milhares de adeptos nas corridas internacionais
Há milénios que o homem se serve deles como meio de comunicação à distância. Reza a lenda que o faraó Ramsés III, do Egipto, os usou para dar a conhecer ao povo a sua subida ao trono. Achados arqueológicos confirmam a sua utilização 6500 anos antes de Cristo. E até às últimas décadas do século XX continuavam a integrar as equipas dos correios de países como a Suíça e a Argentina.
Mas até hoje, ainda ninguém conseguiu explicar sem margem para dúvidas a forma como os pombos-correio encontram o seu caminho para casa, sendo largados aleatoriamente a dezenas ou mesmo centenas de quilómetros de distância das suas bases .
Estudos científicos já sugeriram que a posição relativa do Sol e o campo magnético terrestre são dois dos “instrumentos de navegação” da bem sucedida ave.
Mais recentemente, descobriu-se que os pombos, mesmo voando a centenas de metros de altitude, a 65 quilómetros por hora, também usam marcos visuais terrestres para se orientar.
Foi precisamente para perceber como funciona este último mecanismo que os cientistas decidiram inventar um sistema de registo de navegação adaptado a estes animais. À falta de melhor definição, podemos chamar- -lhe “caixa negra” para pombos. Trata-se do Neurologger2, um dispositivo de apenas duas gramas, que recorre a electroencefalogramas para monitorizar a actividade cerebral das aves em pleno voo.
A tecnologia é complementada com minúsculos eléctrodos implantados nos pombos, que transmitem os sinais, e monitores de Global Positioning System (GPS) para comparar as variações nos seus impulsos cerebrais com as características do terreno.
Segundo um artigo publicado na revista científica Current Biology, o sistema foi testado com uma “equipa” de 26 pombos, treinados para reconhecerem o sótão de um edifício como a sua “base”. As aves foram libertadas em pontos diferentes, entre 10 a 30 quilómetros do local.
No final, os cientistas descobriram, por exemplo, que a intensidade da actividade cerebral dos pombos aumentava quando estes sobrevoavam determinados marcos familiares do terreno, como uma auto–estrada, e que também se notavam variações entre paisagens mais neutrais (como o mar) e terrenos com relevo assinalável.
Esta tecnologia, com grande potencial científico, será agora testada em outros animais, como roedores e mamíferos marinhos.
Os pombos-correio têm perdido relevância como meio de comunicação. Mas são muito populares nas provas internacionais de velocidade e endurance, com centenas de milhares de “praticantes” a nível mundial, em que não faltam sequer as transferência milionárias dos melhores atletas.

Colaborou Ricardo Carvalho

Fonte:DN