O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi detido neste domingo pelo Exército do país antes da realização de um polêmico referendo.
Ele foi levado por dezenas de soldados a uma base aérea próxima à residência presidencial e enviado para a Costa Rica.
Zelaya havia prometido realizar uma consulta popular para decidir se a Constituição podia ser alterada, o que poderia permitir a reeleição presidencial.
O plano do presidente foi considerado ilegal pelo Congresso e pela Justiça do país e enfrentava a oposição também do Exército, o que gerou uma crise no país.
Em entrevista à TV venezuelana já em território costarriquenho, Zelaya disse que não quer se exilar e que foi forçado a deixar seu país no que considerou um “sequestro”.
“Estou em San José, na Costa Rica”, disse ele. “Fui vítima de um sequestro por um grupo de soldados hondurenhos.”
“Esse foi um plano de uma elite muito voraz, uma elite que quer somente manter este país isolado, num nível de extrema pobreza. Ela não quer saber da população, não é sensível a ela”, afirmou.
Centenas de manifestantes se juntaram nas ruas da capital de Honduras, Tegucigalpa, para protestar contra a detenção de Zelaya. Soldados dispararam bombas de gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão.
Reação
Em uma reunião de emergência em Washington, a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o que chamou de “golpe de Estado” em Honduras.
A OEA se havia dito preocupada com as consequências que um enfrentamento entre os diferentes poderes poderia ter sobre “o processo político institucional democrático e o exercício legítimo do poder”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu a Honduras que “respeite as normas democráticas e o Estado de direito”. A prisão de Zelaya também foi condenada pela União Européia.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado político de Zelaya, acusou o “império ianque” pela derrubada do presidente hondurenho.
Em uma nota divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro disse “condenar de forma veemente a ação militar” que tirou Zelaya do poder e o levou para fora do país.
A nota diz que “ações militares desse tipo configuram atentado à democracia e não condizem com o desenvolvimento político da região” e pede que Zelaya seja reposto “incondicionalmente” em seu posto.
Instabilidade
No sábado, Zelaya havia ignorado uma decisão da Suprema Corte para devolver o cargo ao chefe do Exército, general Romeo Vasquez, que foi demitido após se negar a ajudar na preparação do referendo.
“Nós não vamos obedecer a Suprema Corte”, disse o presidente a uma multidão de simpatizantes em frente à sede do governo. “A corte, que apenas faz justiça aos poderosos, ricos e banqueiros, só causa problemas para a democracia.”
Zelaya foi eleito em 2006 e, sob a atual Constituição hondurenha, não poderia disputar a reeleição.
O presidente disse que não tinha a intenção de concorrer novamente ao cargo, mas que queria apenas que presidentes futuros tivessem essa chance.
Ele queria realizar uma consulta popular para decidir se uma Assembleia Constituinte deveria ser convocada para fazer mudanças constitucionais junto com as eleições, marcadas para novembro.
Na terça-feira, o Congresso aprovou uma lei que proíbe a realização de referendos ou plebiscitos 180 dias antes ou depois de eleições gerais, o que impossibilitava os planos do presidente.
Em seguida, o chefe do Exército disse que não ajudaria na organização do referendo para não desrespeitar a lei.
Líderes militares se recusaram a entregar urnas para a votação, uma decisão que levou à demissão do general Vasquez e à renúncia do ministro da Defesa, Edmundo Orellana.
Os chefes da Marinha e da Aeronáutica também renunciaram em protesto.
Na quinta-feira, o presidente e seus simpatizantes entraram em uma base militar e retiraram as urnas que estavam guardadas lá.
O Exército, por sua vez, colocou centenas de soldados nas ruas da capital, dizendo que queria prevenir que os aliados do presidente causem confusão.