Visita de Kirchner à Rússia indica posição clara da Argentina de antagonismo com os EUA

O professor de Relações Internacionais da ESPM-Sul e ex-diretor do BRICS Policy Center da Pontifícia Universidade Católica – Prefeitura do Rio de Janeiro, Fabiano Mielniczuk, acredita que a visita da Presidente Cristina Kirchner à Rússia indica uma posição bastante clara da Argentina, de antagonismo com os Estados Unidos.

Mielniczuk argumenta que o objetivo da visita é buscar novas alianças para tentar resolver os problemas da economia daquele país.

A Argentina enfrenta uma batalha jurídica em torno do pagamento de dívidas com credores desde 2014, quando o juiz norte-americano Thomas Griesa decidiu que o Governo argentino teria que pagar integralmente o valor dos débitos, orçados em US$1 bilhão, a credores da dívida que recebiam em parcelas.

Segundo Fabiano Mielniczuk, desde então a Argentina tem problemas em termos de captação de recursos no mercado internacional, pois o Governo do país não conseguiu, inclusive, manter o programa de pagamento dos credores que haviam aceitado a reestruturação da dívida no começo dos anos 2000. “Os argentinos veem a decisão da Suprema Corte norte-americana como sendo um indício de má vontade dos Estados Unidos em relação à Argentina, causando muitos problemas econômicos ao país. Por isso, a Argentina está fechando parcerias com países que não estão muito bem com os EUA no momento, como é o caso da Rússia.”

O professor acredita que a visita da Presidente Kirchner e a busca de alianças com a Rússia têm, sim, a intenção de irritar os EUA e o Reino Unido, até porque o encontro tem também uma conotação militar. “Está sendo negociada, da parte do Governo argentino, a compra de caças Su-24 produzidos pela Rússia, e isso ameaça bastante a posição do controle das Ilhas Malvinas, ou Ilhas Falkland, como as chamam os britânicos.”

Mielniczuk explica que, se a Argentina conseguir realizar o negócio com os russos, os argentinos vão forçar os ingleses a mudar a política de segurança nas Ilhas Malvinas, pois os argentinos passariam a ter maior capacidade de ataque e a possibilidade de ocupar novamente o arquipélago sem que os britânicos reagissem a tempo, como aconteceu no começo dos anos 80, na Guerra das Malvinas.
Da parte do Governo russo, Fabiano Mielniczuk acredita que exista o interesse em reforçar a parceria com países maiores da América Latina, como a Argentina. “As maiores parcerias com a Rússia eram com países de porte menor, como a própria Cuba, a Nicarágua e a Venezuela. Agora, além do bloco BRICS e de uma grande parceria com o Brasil em várias áreas, há a possibilidade de aproximação com um país como a Argentina, criando um fortalecimento da presença russa na região.”

De acordo com o especialista em Relações Internacionais, a política externa russa desde o final dos anos 90 e ao longo de todo o ano 2000 foi de buscar fomentar a multipolaridade no mundo.

Para ele, os russos sempre aguardaram a oportunidade de fazer negócios com grandes parceiros regionais localizados em outros hemisférios, “inclusive aqui no nosso hemisfério, que seria visto como uma espécie de quintal dos Estados Unidos, numa mentalidade bem de Guerra Fria”.

Apesar da rivalidade entre Argentina e EUA, Fabiano Mielniczuk não acredita que os Estados Unidos possa querer revidar, caso haja mesmo um acordo militar entre os Governos argentino e russo. ”O jogo diplomático está sendo jogado de forma clara, embora sutil. A postura norte-americana para tentar contrapor o avanço russo e chinês no hemisfério ocidental tem sido de estabelecer boas relações com países que eram ícones do antiamericanismo. A reaproximação dos EUA com Cuba se enquadra nesse contexto. A política dos EUA tem sido mais uma política de poder brando e não de um poder de projeção mais intenso.”
A grande questão colocada pelo especialista é a de saber como o Brasil vai se posicionar em relação a tais mudanças, pois, da mesma forma que Venezuela, Argentina e Bolívia buscaram parcerias com países que hoje estão em conflito com os EUA, o Brasil parece seguir numa tendência de aproximação com o governo americano. “O Brasil parece mudar a tendência, que era bastante marcada no governo do Presidente Lula, de fomentar a multipolaridade no mundo, e agora está buscando estreitar novamente relações com os EUA, principalmente no âmbito econômico, e aí a concepção do Governo brasileiro parece ser de que seja necessário reconstruir as relações do Brasil com os EUA para que o crescimento norte-americano ajude o país a sair da crise econômica em que se encontra.”

Para o Professor Fabiano Mielniczuk, a Argentina segue em direção oposta, e ele questiona até que ponto esse tipo de posicionamento na esfera internacional não vá prejudicar ramos regionais como o Mercosul, os quais precisam fundamentalmente de um acordo entre Brasil e Argentina.

Além de negociações na área militar, a parceria da Argentina com o Governo russo prevê a possível construção de uma usina hidrelétrica e outra nuclear no país.

Fonte: Sputnik News Brasil

 

22 Comentários

  1. Se os Americanos e Europeus não podem, ou não querem, ajudar, Rússia e China podem resolver o problema. Ou não!
    O problema é que até agora a louca do sobrado está somente tomando os analgésicos para a dor de cabeça. A cirurgia para retirar o tumor ainda não foi marcada.
    A maluca está hipotecando as economias do pais para ter uma solução imediata.
    Pelo que percebi, a Argentina está trocando sua dívida por outra.

  2. Parabéns a Argentina, por não pautar suas ações por força psicológica de países estrangeiros. Assim se começam a construir povos soberanos.

  3. Resta saber se após as próximas eleições presidenciais da Argentina mão ocorrerá uma mudança de rumos na política do país. Acredito que a Kirchner não conseguirá eleger seu sucessor, devido aos péssimos resultados da economia do país.

  4. Sobre a compra dos Su 24, não acredito que ocorra. A Argentina deverá no máximo comprar os JF 17 sino-paquistaneses e olhe lá.

    Essa notícia parece mais informação plantada pelos ingleses para reforçar o orçamento militar com uma suposta ameaça às ilhas Falklands.

  5. ela dá um calote economico nos EUA é depois vem com conversinha esquerdinha para a midia,
    # cala boca Kirchner.

  6. “Os argentinos veem a decisão da Suprema Corte norte-americana como sendo um indício de má vontade dos Estados Unidos em relação à Argentina, causando muitos problemas econômicos ao país. Por isso, a Argentina está fechando parcerias com países que não estão muito bem com os EUA no momento, como é o caso da Rússia.”

    Essa frase revela ou a má-fé do aludido “especialista” ou os conceitos totalmente deturpados de Democracia e Estado de Direito da beiçola do Prata pois nos EUA, como em todas as democracias saudáveis, existe e independência entre os poderes de forma que um poder não interfere no outro e fiscalizam-se mutuamente (Check and balances), que aliás é uma criação da doutrina constitucionalista norte-americana.

    Assim, se a rainha louca de Buenos Aires realmente achar que a decisão da Suprema Corte dos EUA tem algo a ver com uma suposta má-vontade do governo, talvez isso se deva ao fato da referida caudilha populista há muita já ter violado o referido princípio, tendo manipulado de forma descarada a composição da Suprema Corte local para que seus projetos autoritários fossem mantidos, como é o caso da malfadada Ley de Medios, delírio ditatorial que ataca frontalmente a liberdade de imprensa, que é um dos corolários de qualquer democracia.

    • Falou a “estafeta Capital Status Quo”. 😀

      Quem disse que o governo americano tem parte nos fundos podres da dívida Argentina? 😀

      Até parece que a ‘poderosa’ corte suprema é formada por deuses incorruptíveis que não tem amizades com banqueiros e investidores financeiros….

      No mais, onde está a Veja para criticar a postura Britânica quanto à exploração de petróleo no arquipélago das Malvinas, sendo que tal commodities ‘perdeu o seu valor estratégico’?
      Ou isso só serve para criticar a Petrobrás?

      É estafetinha Da_Luinha ‘capital status quo’. Vc quietinha é uma poetinha e falando, um show de stand up comedy… 😀

      P.S – e o Irã, hem? Cadê a destruição das usinas Iranianas, hem? Ou o bombardeio do território Argentino pelos tornados Britânicos?

      • Ia me esquecendo:

        “Meu sanduíche de mortadela e meu suco de caixinha sou eu quem pago”

        Ou que tal essa:

        “Os EUA possuem um governo de esquerda”

        No mais você apenas usou mais do mesmo chororô dos petralhas quando do julgamento do mensalão e agora no petrolão, segundo o qual o judiciário é um poder “dazelite”. Toma vergonha na cara Carolzita que todo mundo aqui já sabe que você é também um estafeta do lulopetismo….

        Ps: quanto é que o partido paga para você trollar aqui?

  7. Ma que monte de bobagem.

    Começando com esta frase: “…O professor (Fabiano Mielniczuk) acredita que a visita da Presidente Kirchner e a busca de alianças com a Rússia têm, sim, a intenção de irritar os EUA e o Reino Unido…”

    Quem, em sã consciência, faz algo em política internacional para “irritar” um país em particular? Mas nem Idi Amim Dada em seus momentos mais insanos fez isto. A Cristina Kierchner menos ainda. E se ela foi buscar algum apoio ao país dela, aonde está o problema? Ela não precisa de autorização de ninguém para fazer isto. Infelizmente este Fabiano Mielniczuk é um destes novos “analistas” produzidos em nossas fraquíssimas universidades e que as mídias tupiniquins tem trazido a luz nos últimos anos, e que mostram serem incapazes de juntar informações dispares e montar um contexto. São sempre mais torcedores do que qualquer coisa.

    Outra frase memorável no artigo: ”O jogo diplomático está sendo jogado de forma clara, embora sutil. A postura norte-americana para tentar contrapor o avanço russo e chinês no hemisfério ocidental tem sido de estabelecer boas relações com países que eram ícones do antiamericanismo… A política dos EUA tem sido mais uma política de poder brando e não de um poder de projeção mais intenso.”

    A Venezuela que o diga. Digam o que quiser de seus governantes, mas incluir o país em lista de apoiadores do terrorismo é uma destas infantilidades que só o departamento de estado dos EUA faz. E o pseudo analista faz de conta que isto é softpower. Os países latino-americanos não se afastaram dos EUA, mas mudaram a forma e o conteúdo de seus relacionamentos com este país, priorizando quem os tratasse de forma mais igualitária. Como essa não é uma premissa dos EUA, acabou perdendo poder relativo regional. Pra nossa sorte.

    Mas ainda não acabou. Ainda resta esta pérola aqui: “O Brasil parece mudar a tendência, que era bastante marcada no governo do Presidente Lula, de fomentar a multipolaridade no mundo…e aí a concepção do Governo brasileiro parece ser de que seja necessário reconstruir as relações do Brasil com os EUA para que o crescimento norte-americano ajude o país a sair da crise econômica em que se encontra.”
    Mais um cabeça de vento que acha que a nossa economia somente andará para frente se a dos EUA nos rebocar. Se é desse tipo de profissional que iremos depender daqui para frente para realizarmos nossa política internacional estamos todos ferrados. E outra coisinha: é possível perceber que parte da nossa mídia, e “especialistas” como esse professor, esta tratando a próxima vigem da Dilma aos EUA como processo de reaproximação, coisa que não é pois os dois países nunca se afastaram. Ninguém brigou. Houve estremecimento porque alguém foi pego com a boca na botija e tomou um “carão”. E só.

    Finalizando, outra obra prima deste “analista”, só que desta vez ele toma as dores da Europa e afirma que a Ucrânia será a Síria européia. “J”ênio.
    http://www.sul21.com.br/jornal/guerra-na-ucrania-implantaria-nova-siria-em-territorio-europeu/

  8. Os russos que se cuidem pois poderão tomar um calote dos Argentinos também. A Argentina é um país rico que foi colocado de joelhos desde o Menem por pura incompetência e corrupção e terminará de se afundar com a família de fanfarrões Kirchner.

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