Reflexões em Barcelos

http://blogdoantonioneto.files.wordpress.com/2009/06/amazonia-eb_onca.jpgPor: Cel Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Reflexões em Barcelos

Por Hiram Reis e Silva, Barcelos, Amazonas, 07 de janeiro de 2010.

“… Um oceano em seu olhar

pelo amigo que se foi

o amor de uma mulher

por tudo o que vier

nesses tempos

marcados pela inquietação

à procura da verdade

e ela se esconde

mas seu barco vai

por onde a sua mão guiar…”

Oceano (Guilherme Arantes)

– O Negro

“(…) vimos uma boca de outro grande rio, à mão esquerda, que entrava no que navegávamos, e de água negra como tinta, e por isso lhe pusemos o nome de Rio Negro. Corria ele tanto e com tal ferocidade que em mais de vinte léguas fazia uma faixa na outra água, sem misturar-se com a mesma”. (Gaspar de Carvajal)

O Negro vem encantando desbravadores, naturalistas, pesquisadores desde que se teve notícia de sua existência, pelos ‘civilizados’ há mais de cinco séculos. A cada um, este portentoso ente aquático impressionou de uma forma. Alguns pela cor de suas águas, outros pela força de sua torrente, outros ainda pelas características físico-químicas…

“No dia 23 entramos no rio Negro, outro mar de água doce que o Amazonas recebe pelo norte. A carta do Padre Fritz (que nunca entrou nesse rio), e a última carta da América de Delisle, feita conforme a do Padre Fritz, fazem correr este rio do norte para o sul, ao passo que é certo, pelo relato de quantos o remontaram, que ele provém do oeste, e que corre para o este, inclinando-se um pouco para o sul. Testemunhei por meus próprios olhos que essa é a sua direção várias léguas acima de sua desembocadura no Amazonas, onde o rio Negro entra tão paralelamente que, sem a transparência das águas que se chamam precisamente `rio Negro´, seria tomado por um braço do próprio Amazonas, separado por alguma ilha”. (Jean Louis Rodolphe Agassiz)

O Negro me envolveu no seu manto de mistério; a alvorada silente, diferente do Solimões, que mais parecia uma Ode à Natureza, torna-o um ser inerte, apático e sem vida. A beleza das paisagens contrasta com a ausência de sons. A calmaria do Alto Solimões e as belas ilhas de pedra foram substituídas, progressivamente, pelas intermináveis praias de areias virgens, pelos banzeiros e fortes ventos de proa que dificultam a progressão de minha equipe de apoio no seu precário ‘bongo’.

– Margens

O efeito devastador das águas do Solimões sobre as margens, golpeando, destruindo, arrastando, reconstruindo, alterando continuamente seu traçado aqui não se vê. O Negro derruba os gigantes da floresta, mas eles permanecem no mesmo lugar em que tombaram. São redesenhados, esculpidos pelas mãos do tempo e das águas. As margens de tabatinga, golpeadas continuamente pelas ondas, formam paredões verticais e as arenosas se espraiam preguiçosamente.

– Vegetação

As terras mais pobres não apresentam a estupenda variedade e portento da bacia do Solimões e as águas carentes de nutrientes não revitalizam a várzea por ocasião das cheias. Talvez, por tudo isso haja uma diferença tão grande na capacidade de trabalhar dos nativos das mais variadas etnias do Alto Rio Negro em relação aos Tikunas do Alto Solimões. A compleição física indica uma carência alimentar ancestral que não conseguiu ser suprida até os dias de hoje, agravada, certamente, pela falta de aptidão para a agricultura. Uma coisa, porém, têm em comum essas comunidades: a bela hospitalidade amazônica.

Comunidade Boa Vista – Barcelos

Por Hiram Reis e Silva, Barcelos, Amazonas, 07 de janeiro de 2010.

“… eu gosto de me distrair olhando o céu,

as nuvens se movendo para o outro lado

e o sonhos vagando por aí.

Brincar de imaginar formatos para nuvens

é o mesmo que poetar sonhos,

a nuvem que parece um barco

navegando pelas águas deste oceano”.

(Velejando as nuvens – Bruno Marques da Silva)

Saímos ao raiar do dia. Ao longe, um coral de soturnos guaribas quebrava a monotonia diária que caracteriza o alvorecer do Negro. Os delicados e cândidos cirrus, a oito mil metros de altura, contrastavam com o azul celeste amazônico e prenunciavam bom tempo. Imprimi um ritmo forte, de 10 km/h, para chegar ao meu destino antes das quinze horas. Orientei a equipe de apoio quanto ao percurso.

– Partida para Barcelos (04 de janeiro)

Os temidos banzeiros nos deixaram em paz na primeira etapa da jornada. Na primeira parada programada, a equipe de apoio me aguardava junto com ribeirinhos da comunidade de Baturité que haviam ancorado seus ‘motores’ com receio de enfrentar os fortes banzeiros do dia anterior. Partimos juntos e, depois de alguns quilômetros, eles enveredaram por um furo que ia até Barcelos. O furo estreito, para quem conhecia seus atalhos, era garantia de escapar dos banzeiros. A equipe de apoio me aguardava junto à foz do furo e informei a eles que não tinha fotografia aérea da região que pudesse me guiar e não pretendia partir num vôo cego.

Continuamos pela rota do CECMA. Pequenos banzeiros não dificultaram a navegação e não tive necessidade de colocar a saia no caiaque. Pouco antes da segunda parada tive de desembarcar no meio do rio e rebocar o caiaque por uns 600 metros com água pela canela. Antes de avistar minha equipe, fui saudado por um bando ruidoso de guaribas que evoluíam pela margem direita. O Teixeira me alcançou umas bananas que comi, mergulhado até o pescoço para neutralizar a canícula.

Partimos e, novamente, um enorme banco de areia me fez desembarcar e rebocar o caiaque. Aportei às 14h20min em Barcelos e o Teixeira me aguardava com seu sorriso largo e na mão uma latinha de refrigerante gelada. A Polícia Militar nos conduziu direto para a residência do tenente Walter de Souza e Silva, na vila militar do 3º Batalhão de Infantaria de Selva onde ficaríamos hospedados.

O tenente Walter, embora na reserva remunerada, foi convidado a prestar seus serviços ao exército, novamente. O espírito de liderança e planejamento metódico, aliados à quase três décadas de bons serviços prestados à Força, levaram os chefes militares a convocá-lo.

– Barcelos

Recebemos apoio incondicional por parte do pessoal do Centro de Atendimento ao Turista (CAT), coordenado pela Secretaria de Turismo Vilmara Moraes e sua assessora Eunice de Araújo Ribeiro, que permitiu que usássemos suas instalações e equipamentos para digitação e upload das fotos. A Josely Macedo Bezerra, assessora particular, orientou seu staff para nos dar todas as informações solicitadas.


Solicito Publicação

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Acompanhe as fotos e demais artigos da expedição no Diário de Bordo
http://diarioriomar.blogspot.com/

NOTA DO BLOG: Os artigos publicados na seção Amazônia Nossa Selva não necessariamente refletem a opinião do Blog PLANO BRASIL, simplesmente por se tratarem de textos de autoria e responsabildades do autor.

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