Por que a Alemanha, grande potência europeia, tem Exército com equipamentos obsoletos e insuficientes

soldados alemães em exercício militarDireito de imagemAFP
Image captionBundeswehr carece de armamentos e efetivo

Quando, em 2014, um grupo de militares alemães se apresentou para um exercício militar conjunto da Otan (aliança militar ocidental), na Noruega, armados somente com pedaços de madeira, os exércitos dos outros países ficaram espantados.

Os soldados da Bundeswehr, como é conhecido o Exército alemão, se juntavam naquela ocasião aos demais militares da Força de Reação Rápida da Otan, criada para responder à intervenção russa nos conflitos que levaram à independência da Crimeia da Ucrânia.

Como a Alemanha não contava com fuzis suficientes para todo o seu efetivo, os tacos de madeira pintados de preto foram a solução.

A Alemanha é a quarta maior economia do mundo e é reconhecido como o país mais poderoso e influente da União Europeia. No entanto…

“Suas capacidades militares de modo algum são equiparáveis ao seu peso econômico ou diplomático”, destaca Jonathan Marcus, analista da BBC especializado em segurança e defesa.

“O Exército alemão foi aniquilado nos últimos anos e grande parte de seus equipamentos estão obsoletos ou mal conservados”, diz.

Em várias oportunidades, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se queixou de que os membros europeus da Otan não têm investido o suficiente em defesa. Embora os Estados-membros tenham se comprometido em 2014 a investir 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, a Alemanha só mobilizou 1,2% para este setor, muito abaixo do destinado por outras grandes potências da Europa Ocidental, como Reino Unido (2,14%) e França (1,79%).

Donald Trump e Angela MerkelDireito de imagemAFP
Image captionDonald Trump e Angela Merkel têm visões divergentes sobre gastos militares

Ante a pujança da economia alemã, diz Marcus, críticos alegam que o país “não está gastando o suficiente em defesa e que sua contribuição não é proporcional a suas possibilidades”.

Berlim contesta dizendo que investimento em cooperação internacional é mais eficaz para prevenir conflitos do que o dinheiro gasto em programas de armamento.

Se por um lado Trump quer que a Alemanha e outros países europeus aumentem seu gasto militar, a ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, já manifestou “preocupação” pela redução do aporte de recursos dos Estados Unidos a organismos internacionais, como as Nações Unidas.

Fiel à tradição de não aderir a ações militares que não contem com o respaldo da ONU, a Alemanha não participou da recente ofensiva conjunta de Estados Unidos, França e Reino Unido na Síria em resposta ao suposto uso de armas químicas por parte das tropas leais ao presidente Bashar al-Assad.

Ursula von der Leyen ao lado do marido militarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, prometeu incrementar o orçamento do exército

Dependência

Jufy Dempsey, editora do centro de análise Strategic Europe, explicou à BBC que a segurança da Alemanha “depende fortemente dos Estados Unidos, da França e da Otan”.

Em maio de 2017, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, afirmou que “os tempos em que poderíamos depender totalmente dos outros estão acabando”. Mas nada indica que a capacidade técnica e armamentista da Bundeswehr tenha melhorado nos últimos anos.

Karl-Heinz Kamp, presidente da Academia Federal para Política e Segurança – um organismo governamental que se dedica à capacitação de agentes públicos da Alemanha – afirma que investimentos estão sendo feitos, embora tenham passado despercebidos.

“Nos últimos anos, temos incrementado o orçamento da Defesa, mas isso não foi notado porque o PIB está crescendo ainda mais rapidamente. Por isso, temos nos afastado do famoso objetivo de 2% da Otan, em vez de nos aproximarmos”, diz à BBC. Segundo Kamp, o gasto com a Defesa cresceu em termos absolutos, mas o PIB aumentou ainda mais, afastando o país da meta.

“O governo planeja investir muito mais em defesa, chegando a um percentual de 1,5% do PIB em 2021.”

A meta de 2% ficaria para 2024, segundo Kamp. Mas ele admite que a situação das Forças Armadas alemãs ainda é precária. “Estão corretas todas as notícias sobre submarinos que não navegam e tanques que não disparam.”

De acordo com um informe de fevereiro baseado em entrevistas com os próprios militares, os seis submarinos 212A da Marinha alemã estão fora de serviço. Essa é também a situação de 244 carros de combate.

A frota de aviões de transporte A400M sofre com manutenção deficiente, e a escassez de aeronaves atrasa, com frequência, o traslado das tropas.

Mas os problemas não afetam apenas os armamentos mais sofisticados. Faltam bens de uso cotidiano das tropas, como roupa de proteção, óculos de visão noturna e peças de reposição para automóveis.

O representante das Forças Armadas no Parlamento alemão, Hans-Peter Bartels, atribui esses problemas aos “25 anos de cortes no orçamento” da Defesa. Já Kamp afirma que o fim da Guerra Fria e a sensação de que um conflito seria improvável levaram, a partir de 1990, a que quase todos os países europeus se “descuidassem” de suas Forças Armadas.

“Conduzimos o carro sem manutenção, óleo, nem reposições, e agora está acontecendo o que acontece com todos os carros velhos”, resume.

avião de combateDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionÉ frequente que o transporte de efetivos atrase por falta de combustível ou reposição de peças

Dempsey, por sua vez, aponta que o problema não é só de dinheiro, mas também de gestão. “Há uma grave falta de planejamento”, critica.

“Comparado com outros exércitos, grande parte dos recursos vai para custeio de pessoal em vez de para a renovação e treinamento das equipes.”

A ministra Von der Leyen prometeu, em fevereiro, que o novo governo de coalizão manteria o aumento no orçamento da Bundeswehr. Ela advertiu, porém, que serão necessários anos para corrigir as deficiências.

submarino alemãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNenhum dos submarinos 212A está em operação

Receio de militarização

O baixo investimento no Exército alemão tem razão de ser. Jonathan Marcus acredita que a situação atual “reflita o legado da Segunda Guerra Mundial e dos anos de nazismo, assim como um forte consenso na política interna de receio ao militarismo”.

Dempsey afirma que, em um país ainda marcado pela dolorosa lembrança de Adolf Hitler e do Terceiro Reich, “não agrada à classe política falar sobre Forças Armadas”.

Segundo a especialista, após a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a unificação alemã, houve uma grande replanejamento militar.

“Basicamente se reduziu o tamanho (das Forças Armadas), quando foram suprimidos o Exército da República Democrática Alemã, o Estado oriental aliado com a União Soviética e o bloco comunista dos anos da Guerra Fria.”

A reduzida Bundeswehr se envolveu em poucas atividades até os ataques de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova York (EUA). Após esse episódio, as forças alemãs passaram a ser empregadas sob a bandeira da Otan em missões de manutenção da paz e de estabilização que incluíram combates em lugares como Afeganistão e Kosovo.

Soldados alemãesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO exército alemão não chega a gastar 2% do PIB, como é esperado dos membros da Otan

Algumas das missões foram alvo de polêmica. Em setembro de 2009, dezenas de civis morreram em Kunduz, no Afeganistão, após o lançamento de bombas de caça F-15 norte-americano sob instruções de um oficial de inteligência alemão que havia alertado sobre a presença de guerrilheiros talebãs naquela área.

O incidente gerou protestos do governo afegão e culminou com a demissão do então ministro da Defesa alemão, Franz Josef Jung.

O desafio russo

Como outros países da Europa, a Alemanha passou, nos últimos anos, a ver a Rússia de Vladimir Putin como uma potencial ameaça.

A Conferência de Segurança de Munique, em 2014, marcou uma mudança de tom. Passou a prevalecer a retórica de que a Alemanha precisa ter um poderio militar compatível com sua importância e seu peso político e econômico no cenário internacional.

Depois disso, Berlim impulsionou a assinatura, pela União Europeia, da Cooperação Estruturada Permanente em Defesa. Os Estados Unidos encaram essa proposta com receio, já que o acordo é visto como o embrião de um exército comum no velho continente que poderia, eventualmente, entrar em contradição com a Otan.

Mas muitos dizem que os esforços alemães em aparelhar suas Forças Armadas têm sido mais lentos que o esperado. Dampsey argumenta que o poder bélico de “dissuasão da Alemanha ainda é fraco”. Para ela, a maior garantia do país europeu a uma eventual invasão russa continua a ser o artigo 5 do Tradado da Aliança Atlântica, que diz que todos os países-membros devem responder solidariamente a um eventual ataque contra qualquer um deles.

soldados alemães em exercício militarDireito de imagemAFP
Image captionApós o ataque de 11 de setembro, a Otan passou a se envolver em mais missões militares

Venda de armas

A escassez de equipamentos da Bundeswehr contrasta com o dinamismo da indústria armamentista do país, que foi o quarto maior exportador mundial de armas em 2017, segundo dados do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo.

Empresas como a Hekler & Koch, cujo fuzil G36 é um dos mais usados por Forças Armadas de diferentes países, figuram na lista dos maiores fabricantes mundiais.

Após anos de críticas e protestos de ativistas, a Hekler & Koch anunciou em 2017 que deixaria de vender seus produtos em países em conflito e que pratiquem violações sistemáticas dos direitos humanos.

soldado na crimeiaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA anexação da Crimeia despertou na Alemanha a preocupação com o estado de suas Forças Armadas

Fonte: BBC Brasil

23 Comentários

  1. Porque perdeu uma guerra a menos de 80 anos… os vencedores não deixarão que ela se torne o que era novamente assim tão facilmente… contentem-se com o que tem por mais um bom tempo… mas o mundo é redondo… 🙂

  2. Peço permissão ao ferreira junho pra comentar , não quero correr o risco de se processado por dizer que o lixo alemão merece um destino pior do que aquele que deram aos judeus e as outras minorias , portanto só com o consentimento da BESTA petista para poder comentar , aliás Sr fiscal de expressão aguardo uma visita tua lá no voz da Rússia, tem xenófobos anti-semitas por lá aguardando sua intervenção sapiente , otário @

    • Para sua informação eu não sou xenófobo…a cultura estadunidense é a que mais admiro e gosto(depois é a Japonesa e a Muçulmana)…apesar de uma parcela de sua gente ser cretina, racista e xenófoba….mas como a doutrina das religiões ensinam não devemos odiar…desejar o mal ou a desgraça…sem falar que foi neste lugar que surgiu paixões minhas como o vídeo game, os quadrinhos de super-heróis e a cultura nerd… 🙂

      • QUADRIPOLAR… rsrsrrssrsssss… meu amiguinho troll… a cada dia vc nos surpreende ainda mais… rsrsrsrsrssss… acho que só não nos damos melhor porque não curto Game of Thrones e cultura nerd pra mim é coisa de idiotas que nos levará a IDIOCRACY… sem ofensas, é claro… 🙂

      • “BLUE EYES, NA RESISTÊNCIA
        7 de Maio de 2018 at 20:10

        QUADRIPOLAR… rsrsrrssrsssss… meu amiguinho troll… a cada dia vc nos surpreende ainda mais… rsrsrsrsrssss… acho que só não nos damos melhor porque não curto Game of Thrones e cultura nerd pra mim é coisa de idiotas que nos levará a IDIOCRACY… sem ofensas, é claro…”

        também não curto Game of Thrones …achei uma porcaria…e os idiotas retratados no filme IDIOCRACY não fazem alusão a nerds e sim alusão aos ditos “democratas” e ao seu grande líder Obama Bin Laden representado como o presidente “Camacho” ……..

        “cultura nerd pra mim é coisa de idiotas”

        e sem ofensas também…foda-se….

      • Essa foi boa Máquina Troll. Mas os bebem do veneno do ódio, não conseguem entender o mundo multipolar.

      • Só os que bebem OXALATO DE ESCITALOPRAM entendem o mundo multipolar… rsrssrsrsrssrssss…

    • Ohhh fake liberdade de expressão não significa libertinagem de expressão. Teus comentários esdrúxulos são que provocam gargalhadas nos foristas. Respeito é bom! Se dê ao respeito, menos ódio, mais discernimento.

    • Em qualquer lugar do mundo há corrupção!…Nos países desenvolvidos ela é refinada e no Brasil grosseira…Entretanto, no Brasil a corrupção é maior porque não é um privilégio de políticos…Ela esta entranhada nos pequenos gestos do dia-a-dia…Na cultura e na mentalidade da maioria da gente deste pais…

      países como Austrália, Canadá e Coreia do sul são exemplos de grandes países corruptos atualmente…onde esquemas de cartas marcadas e reserva de mercado para os eua são uma tradição já…

      só que estes países nunca sairão na relação das pesquisas estatísticas de países mais corruptos do mundo feitas pelos órgãos deles…só quem sairão claro, serão os “inimigos da democracia e da liberdade”…as nações do eixo do mal deles como Rússia ou China…

  3. Ha sim um resguardo devido as atrocidades das Grandes Gerras. Eles temem se militarizar.

    Mas creio que é uma forma de contradizer as políticas de Washington – “a gente gasta nos investimentos de cooperação internacional e assim não precisamos de exércitos pra participar de suas guerras” – esse é o discurso dos alemães em relação a OTAN.

    E se eles forem criar uma força com peso igual ao seu crescimento, vão ter que ser maiores que a sua vizinha França. Isto pode criar ou um Exército Europeu, diminuindo o poder da OTAN, ou por a França e Alemanha em choque.

    • Adriano Correa, discordo deste ponto “E se eles forem criar uma força com peso igual ao seu crescimento, vão ter que ser maiores que a sua vizinha França. Isto pode criar ou um Exército Europeu, diminuindo o poder da OTAN, ou por a França e Alemanha em choque.”.

      Penso que dificilmente existiria um atrito entre França e Alemanha, por causa deste motivo, alem de que a OTAN já eh um exercito europeu + EUA + aliados. Penso que os alemães estão dando sopa pro azar, ficar dependendo de acordos internacionais pra este tipo de coisa, uma hora pode dar ruim, ai já vai ser tarde.

    • CORRETA ANÁLISE… viu como não dói sair da casinha esquerdopata de vez em quando… 🙂

  4. Dois motivos:
    A sociedade alemã ainda sofre de “síndrome de Madalena arrependida”E com razão devido a tantas cacas que causaram, tanto no campo militar quanto no campo ideológico com o nazismo (e incluo ai porcaria da escola de Frankfurt, haja BMW W Volkswagen para pagar tudo o que o lixo do povo alemão deve a humanidade, sim comentário totalmente xenofobo e racista, mas como são loiros ninguém liga não e verdade?!) ..

    E porque abriram as pernas para toda ideologia besta herdada da antiga Alemanha Oriental, como se algo que não deu certo no passado, pudesse ser revisto e dar certo agora, a Merkel e ponta de lança disto.

    A Russia não vai atacar a Alemanha (A não ser em delírios dos extremos) , não tem economia para bancar uma campanha tão custoso nem cacife geo politico para bancar as consequências. E mais Polônia, próxima grande potencia europeia, não vai mais se sujeitar a ser passagem de campanha como foi na Segunda guerra, poloneses odeiam russos e odeiam alemães, com toda razão.

    No mais a Alemanha tem dois problemas graves no Horizonte, uma economia que depende muito da exportação, e viu crescimento em um ambiente globalizado, mas vê no horizonte cada vez mais um mundo protecionista. E a destruição eminente de sua cultura nas próximas duas décadas devido a baixa natalidade de seu povo, alemães não cruzam mais rsrs, as alemães estão cada vez mais masculinizadas e intolerante por conta do feminismo europeu, e os homens alemães cada vez mais frouxos e fracos, junta-se isto a milhões de imigrantes do Oriente Médio e Africa, que se reproduzem como coelhos, logo teremos uma ” Republica islâmica Chucrute” (Com salsichas em carne de frango, porco vai ser proibido) ,

    • Salsichas de frango JOESLEY… rsrsrsrsrsrsssss… FINO HUMOR, caro CP… saudações… 🙂

  5. A ALEMANHA TEM UM EXERCITO OBSOLETO OU FRACO EM VISTA DE OUTRAS POTENCIAS EUROPEIAS DEVIDO O ACORDO DE VERSALHES

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