Ponto de vista: Comparações das Forças Aéreas

Exercício conjunto PLAAF e Força Aérea da Tailândia.
Exercício conjunto PLAAF e Força Aérea da Tailândia.

Autor: Feng – China Air and Naval Power

Tradução e adaptação: E.M.Pinto – Plano Brasil

No passado, por vezes tentei evitar as discussões sobre o que eu chamo vs batalhas. Fãs militares universalmente gostam de debater se uma aeronave é melhor do que outra. Existem muitas boas razões para isso, obviamente. Se nós pudermos afirmar que o J-10 da PLAAF é mais poderoso no combate que os Flankers, equivalentes ou superiores aos Eurocanards, então podemos concluir que a China é capaz de fazer frente a quaisquer ameaças circundantes. Mais contemporaneamente, temos observado argumentos de que o J-20 vs F-35 vs F-22 vs PAK-FA definirão as futuras opções da China contra os EUA e seus aliados…

… Porém, de uma maneira geral, eu não gosto de me envolver em tais discussões, porque eu não acho que este tipo de contendas seja produtiva, ou que produzam boas indicações de como é ou como serão os futuros cenários de combate real no mundo.

Recentemente, houve algumas discussões sobre os resultados dos exercícios da PLAAF com a Força Aérea da Tailândia. Foi mencionado em fóruns chineses que a PLAAF enviou os seus Flankers e que aparentemente estes caças foram vitoriosos na maioria das batalhas, mas também, que teriam perdido nos combates simulados em cenário BVR.

Isto levou a inúmeras pessoas a arguir sobre qual o modelo dos Flankers foi enviado? versões anteriores como Su-27 ou J-11? Ou ainda se estes seriam indicados para estes tipos de engajamentos em combate? Para mim, quanto ao modelo, isto pouco ou nada importa de fato no que se refere à PLAAF.

Eu imediatamente pensei sobre o exercício que ocorreu há vários anos na Turquia. Nesse exercício, a China enviou alguns Flankers antigos e a Turquia empregou os seus F-4 (ou pelo menos é o que nós presumimos já que os F-16 não foram empregados no exercício).

Presumo que a China envia os caças de versões mais antigas, justamente porque as características de voo e aviônicos destes modelos são bem conhecidos, enquanto que os caças  J-11 e J-10 B são muito bem guardados como segredos de Estado.

peoples-liberation-army-pla-j-11-jet-fighters

Na altura do exercício, havia rumores em fóruns chineses que os “flanqueadores” foram esmagados no exercício, colocando os jatos chineses em posições muito desvantajosas. Embora nenhuns dos resultados dos rumores tenham sido confirmados, eu acho que há um monte de boas razões para que a PLAAF assuma-os como verdades.

Já em 2005, houve uma agitação entre os seguidores de defesa da Índia em razão dos combates aéreos simulados entre os caças da IAF (Indian Air Force), (SU-30MKI) que alegadamente “aniquilaram” os F-15C da USAF. Apesar de ter sido relatado que os  caças da USAF estavam operando sob condições restritivas muito difíceis, muitos fãs da IAF ficaram alvoroçados ao declarar que os Su-30MKI e Mig-21 haviam abatido os F-15C americanos.

Com isso em mente, eu creio que devemos considerar antes de mais nada, o porque? do PLAAF participar nestes exercícios e o que ela tem a ganhar com a definição de determinados cenários?

Pessoalmente eu acredito que a PLAAF reconhece que não faz bastante treinamento com outras forças aéreas, desta forma, estes exercícios são valiosos para aprender sobre estilos e táticas de outras forças aéreas.

Nos exercícios com a Turquia, suponho que a PLAAF propositadamente definiu as  condições desafiadoras para que ela possa avaliar como as forças aéreas da OTAN operam com vantagens numéricas, de guerra eletrônica e cenário BVR. Assim, mesmo que a Turquia não tenha apresentando os seus F-16, a PLAAF teve muito a ganhar ao participar do exercício.

Não estou dizendo que os Su-27 são significativamente melhores que os F-4 ou que os pilotos PLAAF estão no mesmo nível de pilotos da OTAN. Essas são coisas que eu simplesmente não disponho de dados suficientes para afirmar. No meu ponto de vista, em comparação com a OTAN, a PLAAF ainda está em um estágio muito embrionário no que se refere a táticas de engajamento e combate aéreo em cenário BVR e portanto a evolução passa pro aprendizado constante.

Recordo que, no início de suas fases operacionais os Su-27 da PLAAF e os J-11, que participaram do exercício chinês equivalente ao Red Flag, tiveram dificuldades e eram constantemente derrotados pelos J-7, embora, estes caças fossem sabidamente muito superiores, não era incomum as suas derrotas.  Porém, a vitória dos Flankers só veio ocorrer bem mais tarde, quando a PLAAF desenvolveu melhores táticas para eles daí puderam virar a mesa.

Desta forma, quando a PLAAF encontra uma força aérea mais experiente como a Turca, ela tem mesmo muito a aprender e a PLAAF reconhece que em muitos cenários de guerra realistas, seus combatentes poderiam enfrentar desvantagens enormes no ambiente operacional. A partir daí, seria lógico fazer vários exercícios de combate em condições desvantajosas mesmo expondo os seus pilotos a sofrerem derrotas humilhantes.

Eu não posso falar sobre os resultados no Paquistão ou na Tailândia, mas acredito que sem saber as intenções da PLAAF e os cenários de combate, os resultados destes exercícios não são muito significativos, mesmo que saibamos quais os tipos de aeronaves foram empregadas (su-27  ou J-11).

Eu tenho lido nas bbs chinesas que os pilotos do PAF (Pakistan Air force) são melhores que os pilotos da PLAAF. Se isso for verdade, então faz ainda mais sentido para a PLAAF treinar ainda mais regularmente com a PAF.

Os caças J-10A e J-11 tem sido excelentes opções para o reaparelhamento da PLAAF nos últimos 10 anos e vieram para se sustentar frente aos caças de linha dos países vizinhos que operam Su-27/30, F-15J, F-16C / D e Mig -29. O  J-10B / C e J-16 são comparáveis ou um pouco inferiores aos Eurocanards e caças Su-35, F-15K / SG e F-18E / F.

No papel, eles possuem aviônicos em estado de arte (incluindo o radar AESA), uma gama completa de capacidade de multimissão muito superior aos seus modelos de base. Apesar de possuírem motores de potências superiores, eles ainda terão o mesmo desempenho de voo que os modelos anteriores, podemos considerar qual será o verdadeiro peso de todas essas mudanças?

j20

Quanto ao J-20, eu acredito que este possua muitas vantagens em relação ao russo PAK-FA, porém não tantas assim contra o F-22/35, especialmente no ambiente ao qual os caças americanos são susceptíveis de operar.

O J-31 parece ser um bom segundo projeto, mas ainda estamos à espera para ver como se parecerá o segundo protótipo. Este pode vir a ser um verdadeiro 5ª geração de menor custo, ou, na pior das hipótese um significativamente mais furtivo caça que os Eurocanards e F-18E / F, porém, com relativa e/ou limitada capacidade furtiva. O J 31 deverá possuir desempenho de voo e capacidade de operação centrada em rede de uma aeronave 5ª geração de verdade. Porém, de tudo isto, não se pode esquecer que até que o programa J-20 amadureça e incorpore o pretendido motor definitivo, WS15, ele terá preocupações semelhantes. É desta forma que eu os avaliaria.

5 Comentários

  1. Fica realmente difícil fazer comparações entre caças, pois é necessário levar muita coisa em consideração, são incontáveis variáveis, desde o desenho do caça, até o consumo de combustível. Concordo que existem caças com capacidades superiores aos demais, mas não isenta os mesmos de perderem num confronto para outros de capacidade inferior, como ocorre em alguns exercícios como o que foi citado na matéria, ou do exercício indiano-Bretão, etc.
    Essas comparações não podem por exemplo deixar de considerar cenários reais onde existe uma gama equipamentos suporte para aumentar a capacidade dos caças, como por exemplo os EUA e Rússia que possuem um sistema escalonado e linkado como nenhum outro país do mundo, onde seus caças acabam recebendo informações de poderosos radares em terra, céu e mar que tornam seu próprio radar um mero complemento (ou fator multiplicador , no quesito ondas) e que dão ao caça a capacidade as vezes superior a qualquer caça que possa se encontrar em seu caminho, ou seja, comparar caças é algo extremamente complexo, prefiro ter meus favoritos, pois melhor creio que não existe.

  2. É de se entender pois a PLAAF esta em agressiva expansão. Creio que como toda Força passando por um momento desses ela deve ter um núcleo de pilotos mais preparados e inseridos em sua nova doutrina e uma outra parte de pés-de-boi. Devemos levar em conta que a China ainda utiliza o J-7 em grandes quantidades… Não dá pra comparar a maior Força Aerea do mundo com a FAB cuja aviação de caça tem 100 aparelhos. Por exemplo, só de J10 a China está fazendo 1300.

  3. Depende do equipamento, da estratégia na qual ele está inserido e do adestramento. Se o equipamento for ruim uma boa estratégia e um bom adestramento pode contornar. Se a estratégia e o adestramento forem ruins nada salva. A China mesmo, na guerra sino-vietnamita, teve sérias dificuldades nessas condições.

1 Trackback / Pingback

  1. Ponto de vista: Comparações das Forças Aéreas | DFNS.net em Português

Comentários não permitidos.