O plano russo para construção de “Cruzadores” Nucleares

 
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Desenho do novo destróier Russo é revelado.

Em Março de  2015, por ocasião do lançamento das corvetas russas Retiviy e Strogiy em Sevemaya , St. Petersburg, o comandante da frota russa o Almirante Russo, Viktor Chirkov causou surpresa a mídia local e internacional ao anunciar a construção de uma nova geração de “Destroyers” lança mísseis pesados ​​com propulsão nuclear.

Segundo Chirkov os trabalhos de construção do navio terão início em 2017 em São Petersburgo e a entrada em serviço da primeira unidade está prevista prevista para ocorrer entre 2023 e 2025.Leader4

O projeto, conhecido como “Leader” (Líder), centra-se na construção de uma belonave de grande tonelagem cujas característica o posicionam muito mais no perfil de um “Cruzador” que de um “Destroyer”.  Porém, uma vez que está caindo em desuso o termo “Cruzador”, os “Leader” devem continuar sendo denominados “Destroyers”.

O fato é que o navio proposto exigirá uma plataforma de dimensões impressionantes e deve embarcar sistemas de armas e opto-eletrônicos que exigirão uma  plataforma avantajada. Para se ter uma ideia,  recentemente foi declarado que o deslocamento do navio situa-se em padrão 14.000 toneladas e máximo de 18 000 toneladas, seu comprimento varia segundo as fontes entre 180 e 200 metros, boca de 23 metros e um calado de 6,6 metros, o que por conseguinte, não tornaria errônea a classificação de Cruzador Nuclear  lançador de Mísseis- CGN, segundo padrão da OTAN.

Ressalta-se que apesar dessa dimensão o navio será muito inferior aos “monstros” da guerra fria da classe Kirov, que ostentam 252 metros de comprimento e 26 mil toneladas em plena carga.

Recentemente a agência russa TASS, noticiou que a Marinha Russa intenciona construir 12 unidades do navio que serão distribuídos pelas frotas do Mar do Norte e do Pacífico com seis navios cada uma. Afirma-se nos meios noticiosos que o planejamento naval prevê a entrega ao serviço ativo de  um navio ao ano entre 2023 à 2035, especula-se ainda que os “Leaders” formarão o cinturão de defesa dos futuros Porta aviões Nucleares Russos, compondo o seu grupo de escoltas, mas que também poderão capitanear grupos de ataque, comboios e escoltas  isoladas.

Com sua propulsão nuclear, esses “Destroyers” terão uma autonomia considerável, limitada apenas pela escassez de recursos necessários a manutenção das tripulações. Tal escolha da propulsão não é um ato isolado, a Marinha Russa não dispõe de infraestrutura de apoio suficiente nos mares os quais navega e, portanto, necessita permanecer nos mares por mais tempo que o padrão das Marinhas ocidentais e até mesmo que a Chinesa, que atualmente implanta uma infraestrutura nas cercanias dos mares da China e Pacífico sul.

A propulsão nuclear dará a oportunidade as frotas de se deslocarem mais rápido e permanecerem por longos períodos sem apoio logístico.Leader2

Segundo informações do grupo IHS Jane’s, o centro de pesquisa de Krylov (KSRC) foi o responsável pelo desenvolvendo da nova classe de Destroyers, cujo programa foi classificado como Project 23560E Shkval (Squall).

Segundo o vice-diretor da KSRC Valery Polyakov:

“O projeto do Destróier 23560E destina-se a escolta antiaérea de longa distância incluindo a capacidade antimíssil e de ataque à superfície, sendo capaz de destruir alvos em terra e no mar possuindo capacidade de operações em qualquer parte do planeta” disse Polyakov. 

Um modelo em escala foi exibido pela primeira vez durante  International Maritime Defence Show em  2015, a feira ocorreu entre 1 e 5 de Julho na cidade de São Petersburgo.Leader5

O projetista alega que o navio é concebido para navegar a  uma velocidade máxima de 30 nós (60 km/h) ( embora outras fontes aleguem que a velocidade máxima seja de 32 a 35 nós)  e velocidade de cruzeiro de 20 nós (40 km/h) possuindo uma autonomia de pelo menos 90 dias para  a sua tripulação do navio deve se situar entre 250 a 300 militares.  

O navio será equipado com um sistema integrado tático de batalha (battle management system integrated with tactical and operational-tactical ACSs). cuja a suíte de sensores inclui um conjunto de radares e sensores semelhante ao sistema Norte americano AEGIS. Possuirá um subsistema de guerra eletrônica integrado ao sistema de comunicações e sistema de reconhecimento de submarino.

Os “Leaders” são concebidos para substituir as principais unidades da frota de superfície russa, atualmente compostas pelos dois últimos navios da Kirov ainda em serviço, o Admiral Nakhimov (ex-Kalinin) o Petr Velikiy (ex-Yuri Andropov) que estão operacionais desde 1988 e 1998; além deles, os navios vão substituir os três cruzadores da classe Slava (186 metros, 11.500 ton), o Moskva, Marshal Utsinov e Varyag, encomendados entre 1982 e 1989.

Porém, de acordo com o almirante Chirkov, os Leader foram planejados com a intenção real de sucederem os Destroyers classe Sovremenniy, navios de 156 metros e 8.000 toneladas de deslocamento, dos quais foram construídas 17 unidades (entregues entre 1988 e 1994), das quais por sua vez, apenas sete ainda estão em serviço. Chirkov ressalta, os navios darão a Marinha Russa um expressivo salto quantitativo e qualitativo no que se refere ao poder  naval.

“Os novos Destroyers apresentarão uma tonelagem consideravelmente mais elevada do que os seus predecessores e seu poder de fogo será equivalente ao dos cruzadores. As mais recentes inovações da indústria militar russa na automação serão incorporados a este projeto “,

Na International Maritime Defence Show em  2015, suscitou-se muitas dúvidas e  diferentes pontos de vista sobre  a capacidade e armamentos do navio. Após a visita ao modelo  apresentado, ficou-se com a impressão de que o instituto KSRC apresentou uma plataforma saída dos filmes de ficção científica. Foi exibida uma plataforma impressionante, futurística e que apresenta um invejável mix de armamentos. 

“A besta do mar foi planejada para transportar todas as armas da terra”.

Este foi um dos comentários que mais expressavam o espanto dos vistantes e não era para pouco, segundo a TASS, os “Leaders” serão equipados com uma carga enorme de mísseis de cruzeiro Kalibr que possuem a capacidade de ataque a qualquer alvo em superfície terrestre ou marítima. Os mísseis são igualmente capazes de neutralizar alvos em terra e navios.

Segundo exposto, o navio transportará uma carga modular de 60 a 80 mísseis deste modelo. Segundo afirmado os Kalibr podem ser armados com ogivas convencionais ou mesmo com uma pequena ogiva nuclear de 1 Kton. As mais variadas versões do Kalibr oferecem um alcance de combate que varia de 375 km à 2500 km contra alvos  anti-navio e terrestres.

Outros 16 ou 24 Mísseis Kalibr-M que se destina a função anti submarino  a distâncias de 180 km.

Ademais, a KSRC afirma que o navio também operará entre 16 e 24  mísseis anti-navio supersônicos-N-26 SS Oniks, cujo alcance é de 300 km. Também foi mencionado que uma nova variante do míssil de maior velocidade precisão, menor peso e maior agilidade estaria sendo desenvolvido para equipar os navios da nova classe,  o novo Oniks estará pronto para operação assim que o primeiro navio estiver sendo incorporado, por volta de 2015. Torpedos e armas anti torpedo também serão introduzidas no navio capacitando-lhe a guerra anti submarino.

Para defesa antiaérea os “Destroyers” serão equipados com uma gama variável de 128 à 256 mísseis dos sistemas S-350, S-400 e S-500. Segundo Chirkov, os “Leader” terão capacidade de combater ameaças de mísseis de ataque naval, aeronaves não tripuladas mas também executarão a função de defesa contra o ataque de mísseis balísticos.

Além disso o navio contará com 4 -6 sistemas para defesa de ponto, provavelmente o sistema AK-630 ou ainda Patisr-M além de uma arma de cano 130 mm, cuja hipótese de se tratar de um canhão magnético não foi totalmente descartada.

Dentre as novidades, as informações sobre o seu elemento aéreo causaram igualmente surpresa ao ser informado que o destacamento aéreo embarcado será composto por dois helicópteros tripulados, mas que outras duas ou três aeronaves não tripuladas podem vir a integrar o braço aéreo do navio.

A surpresa maior ficou por conta de uma mensagem suspensa no ar e não confirmada de que não seriam os tradicionais Ka-25 – 27 os helicópteros de guerra anti submarino e guerra de superfície, mas sim, de uma nova aeronave de maior capacidade e velocidade que deverá embarcar no “Leader” a partir de 2030. No entanto segundo Polyakov,

“As especificações podem ser alteradas de acordo com as necessidades dos clientes, Aeronaves de  até 15 toneladas poderão operar sem restrições do deck do navio “.

Esta informação suporta a tese de que o navio também poderá ser empregado em missões de apoio as forças especiais e até mesmo em coordenação de grupos táticos anti pirataria, embora não seja plausível que um navio tão grande e tão caro como estimado, possa ser utilizado para estes fins.

O fato é que o planejamento russo parece ser mais realista quanto ao horizonte de tempo e quanto aos desafios tecnológicos a serem alcançados, pois no que se refere as armas, todas já estão desenvolvidas (com exceção das hipóteses dos mísseis supersônicos e da aeronave orgânica). Pesa contra a Rússia a exequibilidade financeira frente as restrições orçamentais e aos embargos tecnológicos impostos, embora Polyakov tenha afirmado que:

“O navio foi concebido no período de sanções, ou seja,  todas as tecnologias embarcadas serão Russas e sem restrições de incorporação ou produção.”

O “Leader” é tratado na alta esfera militar Russa como a arma de importância primordial, supera com folga a tonelagem de todos os seus homólogos estrangeiros, seu poder ataque será considerável e inigualável até mesmo pelos “monstros” da era soviética.  

Mas a principal surpresa que guarda o projeto é a possibilidade aventada de que o navio fora concebido para integrar ativamente  um sistema integrado que congregará a defesa aérea russa nas próximas décadas.

Os “Leaders” serão plataformas móveis do escudo anti-mísseis balísticos Russo, cujo comando integrado, foi recentemente criado de modo a congregar a atividade de defesa daquela nação no espectros terrestre, aéreo, naval e espacial.

11 Comentários

  1. “O navio foi concebido no período de sanções, ou seja, todas as tecnologias embarcadas serão Russas e sem restrições de incorporação ou produção.”

    ———————–

    É assim que se transforma dificuldades em oportunidades de desenvolvimento…Parabéns aos russos!

    • Exatamente isso, de uma maneira ou de outra a tecnologia desenvolvida acaba beneficiando a industria local em outros produtos inclusive de uso civil.

  2. Uma autoridade de certo pais do oriente médio, cujo nome se inicia pela letra י ‘ Iud’ declarou o seguinte: Tudo que se economiza em DEFESA e SEGURANÇA, EDUCAÇÃO e PEQUISA é o que se perde.

  3. Será que haverá dinheiro suficiente para tudo isso ???

    Um novo Porta Aviões, novos LHDs para para substituir os Mistral que foram cancelados, Cruzadores de Batalha nucleares, uma nova classe de submarinos de ataque, mais 5 ou 6 Borei anunciados, 30 novos TU-160. 40 Complexos ICBMs Yars, 2000 unidades do T-14 Armata, produção em série do PAK-FA, S-500…

    Ainda mais nessa época de sansões e com o preço do barril do petróleo em baixa vai ser difícil cumprir todas essas metas… a não ser que eles vendam algumas ogivas no mercado negro para arrecadar o dinheiro !!!

  4. Se o Kremlin permanece com seus atuais planos de desenvolvimento navais, a Marinha russa terá uma força potente de submarinos alimentados por energia nuclear assassinos de transportadores no ano de 2020. No futuro próximo este tipo de sistemas de armas vai continuar a ser o elemento mais importante de dissuasão russa em relação ao crescimento econômico e militar dos vizinhos asiáticos com poucos recursos naturais, mas revivendo ambições imperiais.

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