O Futuro da Guerra e da Geopolítica?

Autor- De leon Petta para o Plano Brasil


Particularmente como estudioso e explorador da geopolítica, eu não gosto muito de entrar em previsões sobre como será o futuro. Afinal, frequentemente coisas que inevitavelmente irão acontecer acabam não acontecendo e coisas impossíveis acabam acontecendo.

Acho que a geopolítica é muito mais uma ferramenta de análise e planejamento do que uma bola de cristal para previsões de futuros. A menos é claro que a pessoa que arrisque tais previsões faça várias estimativas em variadas probabilidades e tenha em mente que tais probabilidades mudam. Mas de forma geral o que vemos são análises 8 ou 80.

Porém, algumas tendências verdadeiramente Geopolíticas acabam por se mostrar ou imutáveis ou pelo menos de mudança muito lenta, podendo dar certo conforto para quem gosta de analisar os cenários políticos e estratégicos. Um dos VÁRIOS aspectos que determinarão a força dos países e atores irregulares no futuro será sua capacidade de projetar seu poder por meios indiretos. Ou seja, entrar em guerra com rivais através Guerras Indiretas. Especialmente, no uso de facções criminosas e grupos terroristas.

(Destaquei o “VÁRIOS” para evitar que alguém diga “o autor só esqueceu de…”, afinal, não dá pra falar de tudo. Sendo que eu priorizei o que acho que será mais importante no contexto atual, de curto e de médio prazo.)

Nos próximos textos pretendo mostrar as tendências que as disputas geopolíticas no mundo têm tomado e como elas têm sido executadas a partir da cooperação com o Crime Organizado e com grupos tidos como terroristas.

Parte 1

Contexto Geopolítico após Segunda Guerra Mundial

Antes de propriamente entrar na parte da cooperação com esses atores irregulares, é preciso fazer alguns apontamentos básicos de como o mundo mudou de fato com a Segunda Guerra Mundial e não após Guerra Fria como geralmente é apontado. Sendo que muitas mudanças apontadas como “efeito Pós-Guerra Fria” na verdade já existiam, sendo que o fim da bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética apenas tornaram essas mudanças evidentes e óbvias.

Certa vez ainda na década de 1990, o General Krulak do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos disse: “O futuro da Guerra não é filha da Tempestade no Deserto, mas enteada da Chechênia”. No mundo militar poucas frase foram tão proféticas. De fato, ainda que guerras urbanas, lentas e exaustivas já tinham sido observadas durante a Segunda Guerra Mundial (Batalha de Stalingrado, por exemplo). Elas vinham sendo tratadas por parte considerável da literatura como sendo exceção e não a regra. Sendo como motivo para isso quatro características: o fator Nuclear (já largamente explorado), o custo militar, a complexidade além-militar e as mudanças demográficas no planeta.

Nos anos seguintes ao fim da Segunda Guerra, os dispositivos nucleares dificultaram que as lideranças políticas engajassem guerras totais, afinal, o risco de destruição múltipla estava em vigor e os políticos com suas famílias agora eram tão sujeitos a serem mortos no conforto de seus lares, quanto os soldados que eles enviavam para as distantes guerras; o custo das guerras também complicou. Se antes apenas um capacete, uniforme e fuzil eram suficientes para equipar um soldado e manda-lo para a guerra, agora os soldados cada vez mais carregavam variados dispositivos que encareceram o seu emprego, algo que ano após ano apenas ia se aprofundar (óculos de visão noturna, GPS, rádios, drones, etc.); a guerra também se tornara cada vez mais complexa, na verdade o fator “soldado” cada vez mais dividia o protagonismo da guerra com outras profissões fundamentais. Pessoal especializado em logística, espiões, técnicos de informática, médicos, pesquisadores e cientistas para desenvolver armas, um setor industrial robusto para manter as forças armadas equipadas, especialistas em propaganda e etc., são tão fundamentais quanto o combatente em si; e por fim, o próprio desenvolvimento espacial da população no mundo, que em 1 século deixou de morar no campo para ocupar cidades cada vez maiores, densas e caóticas.

Imagem mostrando o custo médio do soldado Norte-Americano através das guerras.

Se observamos após a Segunda Guerra Mundial, as únicas invasões e ocupações militares bem sucedidas de fato foram de “países grandes” (no sentido de poder) em “países pequenos”, invasão dos Estados Unidos a Granada por exemplo. Com países medianos aparentemente já se mostraram inviáveis de serem ocupados.

Mesmo que a capacidade e estrutura militar principal seja até relativamente derrotada facilmente, (invasão dos EUA no Iraque em 2003) ocupar de forma bem sucedida acabou se mostrando desastroso, cansativo e extremamente caro, em custo humano, político e militar. Neste sentido, essas coisas impedem uma Terceira Guerra Mundial no sentido tradicional da palavra. Afinal, ninguém hoje em dia teria capacidade de mobilizar os mesmos efetivos que foram vistos na Segunda Guerra Mundial, campanhas militares de 10 milhões de soldados de um lado lutando contra 14 milhões de soldados do outro, é surreal. Com o detalhe de que a população hoje em dia é bem maior do que a dos anos de 1940.

(Uma observação rápida é que em Geopolítica a questão nunca pode ser limitada somente ao aspecto militar, tendo ainda que se considerar os aspectos econômicos e políticos. Por exemplo, se militarmente os Estados Unidos venceram os vietnamitas, por outro, perderam no sentido econômico e político, resultando daí a sua derrota geopolítica.)

Ou seja, a menos que se ache um meio de baratear radicalmente a guerra, não veremos grandes operações militares como as da Segunda Guerra Mundial. Qualquer papo de uma invasão Norte-Americana (ou pior ainda, Chinesa) no Brasil, por exemplo, é viagem total. Isso sem entrar ainda nos detalhes absurdos do transporte material e pessoal.

Contudo, essa dificuldade toda dos Estados lutarem entre si longe de significar o fim das guerras, apenas impulsionou os principais países a acharem meios alternativos de atingirem seus objetivos estratégicos. Nascendo aí a cooperação e o uso de atores irregulares (Crime Organizado e Terrorismo) como ferramenta de projeção geopolítica ainda durante a Segunda Guerra Mundial, sendo aprofundado ainda mais durante a Guerra Fria pelas potências e finalmente, pulverizado nos anos de 1990 para cá e que será posteriormente abordado.

Sobre o Autor:

De Leon é Autor associado ao Plano Brasil e Professor das Faculdades Integradas Rio Branco. Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Com estágio sanduíche na Virginia Commonwealth University (Estados Unidos) e University of Hong Kong (China). Tem experiência na área de Geopolítica e Crime Organizado. 

8 Comentários

  1. O texto é bom,mas discordo quanto aos EUA terem vencido militarmente o Vietnã, se o invasor, no caso os EUA, abandonaram o campo de batalha fica nítido a derrota militar frente ao Vietnã !

    • Por causa do acordo de Paris que o Vietnam do Norte eventualmente não obedeceu as tropas americanas se retiraram do Vietnã 2 anos antes da queda de Saigon portanto pode-se dizer que os americanos penderam politicamente mas não militarmente. Por causa da enorme pressão que a opinião publica americana colocou em cima da administração Nixon este não teve escolha ou sera que alguém ainda tem alguma duvida que se os EUA tivessem jogado todo seu poderio militar em cima do Vietnã do Norte este não seria derrotado. Haveria algum problema com os Chineses mas isso é outra historia alem do mais o objetivo dos EUA nunca foi propriamente invadir o VN mas sim conter o VN e os Vietcongs que estavam tentando derrubar o regime corrupto do Vietnã do Sul e implantar o comunismo.

      • ”…sera que alguém ainda tem alguma duvida que se os EUA tivessem jogado todo seu poderio militar em cima do Vietnã do Norte este não seria derrotado…”
        Os EUA tiveram mais de uma década para derrotar os vietnamitas,sera que isso não foi tempo suficiente ?
        Vencer uma guerra é uma coisa,devastar o teatro de operações é outra bem diferente,Sun Tzu deixa isso bem claro no seu livro A Arte da Guerra !
        Ninguém contesta a capacidade bélica dos EUA,mas no Vietnã ficou claro que não basta apenas armas,há de se ter estratégia,caso contrário de nada servirão as armas modernas !
        ‘.. Por causa da enorme pressão que a opinião publica americana colocou em cima da administração Nixon este não teve escolha …”
        Essa pressão da opinião publica sobre o governo dos EUA, foi fruto da estratégia vietnamita, da chamada Ofensiva do Tet !
        Verdade seja dita os EUA tiveram sim uma derrota militar,frente aos vietnamitas ,apesar de todo o seu poderio !

  2. As Lava Jatos em diversos países, prendendo e atacando somente aqueles que desafiaram os EUA como Lula no Brasil, Cristina na Argentina e Correa agora no Equador, são apenas mais uma das diversas facetas da guerra assimétrica.
    Sai muito mais barato comprar corruptos traidores da pátria do que invadir países.

    • Isso mesmo, a Lava Jato é um projeto imperialista-sionista, anti-patriota planejada nos porões de Washington para destabilizar esses governos latino americanos eleitos democraticamente como o lulo petismo brasileiro e o bolivarianismo de Maduro que tão bem tem feito a seus povos!!

      • “Só 3 coisas funcionam no Brasil: o crime organizado, os sindicatos e a política ideologizada… as três sugam o sangue do povo brasileiro e ambas são bem vistas pelos cubanos…”…

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