Negociação nuclear com o Irã esbarra em obstáculos em sua reta final

Secretário de Estado dos EUA John Kerry e o chanceler francês Laurent Fabius em reunião no Beau Rivage Palace Hotel 28 Março de 2015 em Lausanne. Foto: Brendan Smialowski / REUTERS

As negociações entre seis potências mundiais e o Irã depararam na noite de domingo com um obstáculo inesperado quando se aproxima o prazo, meia-noite de terça-feira, para se chegar a um acordo preliminar sobre o programa nuclear de Teerã. A delegação iraniana nas negociações na Suíça anunciou que rejeita a ideia de enviar ao exterior grande parte de suas reservas de urânio enriquecido.

É um ponto que tinha apoiado no passado —a Rússia parecia o destino mais provável— e que na manhã de domingo diplomatas ocidentais davam por certo que faria parte de um acordo preliminar que parecia próximo. O pacto final deve ser feito antes de 30 de junho.

Apesar da mudança de critério, a delegação iraniana disse que o acordo continua sendo possível. E fontes ocidentais citadas pelo jornalThe New York Times destacaram que há outras formas de gerir as reservas de urânio que continuariam permitindo se chegar a um pacto com Teerã. Uma opção seria mesclar o urânio com materiais mais diluídos para torná-lo mais difícil de utilizar, como se pretendia ao mandar as reservas para o exterior.

No entanto, a possibilidade de que se tolere que a totalidade das reservas iranianas de urânio permaneçam no país pode reforçar o parecer dos críticos às negociações, que dizem que Teerã não faz concessões suficientes.

Vários países árabes e Israel têm reservas quanto ao compromisso do Irã de conter suas ambições nucleares e temem que um acordo suponha um apoio ao regime dos aiatolás que altere o tabuleiro geopolítico do Oriente Médio. “Este acordo confirma todos os nossos medos e outros mais”, disse neste domingo o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

A mudança de critério foi anunciada na imprensa pelo vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, presente às negociações de Lausanne. “A exportação de reservas de urânio enriquecido não está em nosso programa”, disse o diplomata, conforme informou a agência France Presse. “Não há nenhuma questão quando a mandar as reservas para o exterior.”

Mas Araqchi negou que isso possa prejudicar um possível acordo. Disse que um pacto é “realizável”, mas que há “dois ou três” assuntos que ainda devem se resolver. “Somos otimistas, as possibilidades de chegar a um acordo estão aí. Mas isso requer que o outro lado tome as decisões necessárias e demonstre sua vontade política”, afirmou.

Entre os obstáculos a ultrapassar estão o nível de supervisão das instalações nucleares, o calendário de suspensão das sanções e a permissão ao Irã de manter projetos de pesquisa nucleares e com fins médicos.

O Irã —que negou estar desenvolvendo uma bomba nuclear— estaria disposto, segundo a agência Reuters, a reduzir a menos de 6.000 o número de centrífugas (inicialmente pedia que fossem 10.000). As seis potências (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) querem que durante pelo menos dez anos a capacidade nuclear iraniana esteja a um ano de distância de adquirir o material para produzir uma bomba. Em troca, seriam suspensas as sanções que estrangulam o Irã e o isolam internacionalmente.

Em um reflexo de que as negociações devem ser intensas, os ministros das Relações Exteriores dos EUA, França e Alemanha cancelaram seus planos de voltar no domingo para seus países a fim de permanecer na Suíça na fase final das negociações.

Durante todo o dia, os nervos, as expectativas, os vazamentos e os desmentidos sobre as possibilidades de se chegar a um acordo iminente dominaram as negociações. As mensagens enviadas pelos diplomatas eram uma combinação de otimismo e cautela: o acordo preliminar parece próximo, mas falta fechar detalhes importantes e o entendimento pode sair dos trilhos a qualquer momento.

Fonte: El País

3 Comentários

  1. Até onde sei, o Irã está certo em suas reivindicação.
    Estão prontos a assinar o acordo, já todo alinhavado, mas exigem a retirada total do embargos a seu país. Lógico que isso não o libertará lhes dando poder para competir com parceiros do ocidente Yanke, parece que é aí que mora o perigo, no Business.

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