Forças Armadas e de segurança pública combatem crimes na fronteira sul do Brasil

Militares operam no posto da Receita Federal em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, Brasil, na fronteira com o Uruguai. (Foto: Divulgação, Exército Brasileiro)

A cooperação entre as Forças Armadas e os organismos de segurança do Brasil amplia combate a crimes e conta com a participação simultânea do Exército do Uruguai.

Duas apreensões de droga e armas em abril de 2018 no Rio Grande do Sul, estado ao sul do Brasil, reforçaram a importância de ações que se intensificaram nos anos recentes, unindo as Forças Armadas e os órgãos de segurança pública no combate a crimes transnacionais. O Exército Brasileiro (EB) mantém monitoramentos frequentes e prepara a próxima edição da Operação Fronteira Sul (FORSUL), prevista para o final de 2018 e uma das mais importantes no esforço das autoridades brasileiras. “Nossa missão é prevenção e repressão aos delitos transfronteiriços, sobretudo a entrada ou saída ilegal de armas, munições e outros produtos controlados, e o tráfico de entorpecentes e contrabando”, destacou o Coronel de Cavalaria do EB Jorge Francisco de Souza Júnior, comandante do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMec), localizado em São Borja, Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina.

A região de São Borja, Rio Grande do Sul, é ponto de bloqueios para revistar veículos que transitam na fronteira com a Argentina. (Foto: Divulgação, Exército Brasileiro)

O estado registrou em 26 de abril a maior apreensão de maconha da sua história e uma das maiores no Brasil até meados de maio de 2018, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foram apreendidas 6,017 toneladas da droga em um caminhão que havia saído de Iraí, município a cerca de 160 quilômetros da fronteira com a Argentina, e corredor do tráfico internacional. A droga abasteceria a região metropolitana de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul.

O policial rodoviário federal Alessandro Castro, chefe de Comunicação Social da PRF no Rio Grande do Sul, disse que investiga como a maconha ingressou no Brasil. A Polícia Federal (PF) informou que a carga representa quase todo o volume apreendido em 2017, que foi de 6,6 toneladas da droga. Em 2016, o volume foi de 4,5 toneladas. Em 13 de abril, chamou a atenção das autoridades civis e militares o poder bélico de outra apreensão: dentro de um carro com placa do Paraguai que trafegava em Bento Gonçalves, na região nordeste do estado, foram encontrados 13 fuzis de calibre 556 e um AK 762.

O Cel Souza Júnior citou entre as iniciativas de ação conjunta a última FORSUL, que ocorreu entre dezembro de 2017 e começo de fevereiro de 2018, e as patrulhas móveis na extensão terrestre com Uruguai e Argentina. As patrulhas são permanentes e contam com a colaboração da PRF, da PF, da Brigada Militar – que é a Polícia Militar gaúcha –, da Polícia Civil e da Receita Federal, para fiscalizar e coibir ilícitos na faixa de fronteira. O maior desafio é o de cobrir a extensão de 1.800 quilômetros, somando a interface do Rio Grande do Sul com Uruguai e Argentina. “Como a extensão é muito grande, fazemos ações em pontos onde há grande chance de ocorrer ilícitos”, disse o General-de-Brigada do EB José Ricardo Vendramin Nunes, comandante da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (BdaCMec), com sede em Bagé. Somente a 3ª BdaCMec precisa vigiar 700 km da fronteira de 1.068 km com o Uruguai.

FORSUL e o intercâmbio com o Uruguai

Na última FORSUL, similar à Operação Ágata comandada pelo Ministério da Defesa, o Gen Bda Vendramin destacou as ações simultâneas entre os exércitos do Brasil e do Uruguai. “Eles fecharam lá [lado uruguaio] e nós aqui [Brasil]”, descreveu. “Trocamos informações sobre a atuação de cada lado, o que se intensifica cada vez mais como parte da cooperação entre os dois países”, acrescentou. As movimentações ocorreram na faixa entre Santana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai, e também entre Bagé, no Brasil, e Aceguá, no Uruguai. A expectativa é a de repetir o intercâmbio bilateral no fim de 2018 com a nova edição da FORSUL.

Somente na área da 3ª BdaCMec foram envolvidos 812 militares de 11 organizações do EB. A maior movimentação concentrada ocorreu entre os dias 26 de novembro e 1º de dezembro de 2017. No restante do período até o começo de fevereiro de 2018, algumas unidades militares fizeram patrulhas móveis na fronteira. A FORSUL mobilizou um total de 3.816 pessoas no Rio Grande do Sul, sendo 3.389 do EB e 427 de órgãos de segurança pública, informou a Comunicação Social do Comando Militar do Sul, que coordenou a operação, que também ocorreu em Santa Catarina e no Paraná.

A Polícia Federal fez a Operação Natureza Degradada no rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a Argentina, em ações com outros órgãos. (Foto: Divulgação, Polícia Federal)

“A operação mais intensa foi realizada em um prazo curto, mas foi precedida por um trabalho de inteligência para mapear os locais e montarmos pontos de vigilância onde havia grande chance de ocorrerem ilícitos”, explicou o Gen Bda Vendramin. “Não houve apreensões que chamem a atenção e nem era o foco. Trabalhamos para inibir o comportamento e os crimes. A função era de dissuadir e mostrar a nossa presença na fronteira.” Outro resultado esperado com operações como a FORSUL é complementar o treinamento da tropa. “Se o Estado brasileiro decidir expandir uma operação como esta em tempo ou alcance, estamos treinados e com planos prontos”, completou.

Bloqueios coíbem crimes

O Cel Bda Vendramin descreveu que a estratégia para coibir os crimes contou com movimentações das tropas, usando viaturas de transporte Marruá e Worker. Foram 10 a 12 pontos onde os militares mantiveram bloqueios e patrulhas. Nos locais com bloqueio fixo, as tropas atuavam por 12 horas, verificando cargas de caminhões e veículos de passeio que trafegam pelas estradas. Já os pontos móveis servem para monitorar rios, que estão em boa parte da fronteira, e alcançar uma extensão maior de vigilância. “Quando fazemos a operação, eles [criminosos] tiram o pé do acelerador, e quando desmobilizamos a tropa, na semana seguinte, podem ocorrer apreensões”, citou o Gen Bda Vendramin. Com as vigilâncias, que serão mantidas até o fim de 2018, os militares também acabam auxiliando na manutenção de estradas em situação mais precária.

Na fronteira com a Argentina, o 2º RCMec mobilizou três esquadrões de cavalaria mecanizados, que foram a campo com apoios em manutenção, saúde e suprimento. “Temos uma área de responsabilidade de 180 km de extensão, englobando os municípios de São Borja, Garruchos, Santo Antônio das Missões e Nhu-Porã [no Rio Grande do Sul]”, informou o Cel Souza Júnior. As tropas atuaram em rotina pesada as 24 horas do dia, os sete dias da semana. Bloqueios com pontos de controle nas estradas marcaram a operação. “A movimentação ocorreu por períodos curtos e mudanças de pontos constantemente, para manter a surpresa em áreas que poderiam ter ilícitos e que rastreamos com apoio da inteligência.” O oficial destacou a cooperação permanente e que se intensifica nas operações com outros órgãos. As atividades tinham bloqueios conjuntos com a PF, a PRF, a Brigada Militar, a Polícia Ambiental e Civil, além da aduana na Ponte da Integração, que liga São Borja a Santo Tomé, no lado argentino. Na última edição da FORSUL, o Cel Souza Júnior disse que houve queda em registros de crimes e apreensões.

Marinha e Polícia Federal atuam contra ilícitos

O delegado federal Getúlio Jorge de Vargas, coordenador da Operação Sentinela pela PF no Rio Grande do Sul, disse que o trabalho conjunto eleva o êxito no combate a crimes na fronteira. A Operação Sentinela ocorre anualmente desde 2011 e une PF, PRF e Força Nacional de Segurança Pública. “Não vamos conseguir combater crimes sem inteligência e trabalho integrado”, justificou o delegado Vargas. A PF realizou, em 2016 e 2017, a Operação Natureza Degradada, contra crimes na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, que é cortada pelo rio Uruguai. O uso de tecnologias como o georreferenciamento auxilia na localização de delitos. Entre 2 e 6 de abril de 2018, foi feita nova operação no rio Uruguai.

Vargas observou que o combate ao narcotráfico deve ser permanente e citou apreensões crescentes de maconha nas rotas para o Uruguai, com origem do Paraguai. “Enquanto tiver mercado consumidor, tem vendedor, que é o traficante”, concluiu Vargas, destacando a migração de quadrilhas do crime organizado, como o Primeiro Comando do Interior, da região metropolitana para a fronteira.

A Marinha do Brasil no Rio Grande do Sul se integrou no combate aos ilícitos em 2017, executando três fases da Operação Ágata, informou a Assessoria de Comunicação Social do 5º Distrito Naval. Foram atividades de vigilância no mar, próximo ao Uruguai, e em rios, na fronteira com a Argentina, atuando com órgãos ambientais e de segurança pública.