Dia da Vitória – Um lugar para a bandeira da Rússia

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Faltam poucos dias até o 8 de Maio, data da comemoração da Vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, e até o 9 de Maio, o Dia da Vitória da União Soviética na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945.

Não vai fazer mal lembrar nesse momento as cruciais páginas da História recente, não somente para aqueles que não conhecem os fatos, mas também, talvez até mais importante, para outros que desesperadamente tentam reescrevê-la e chegam a iniciar uma discussão sobre as perspectivas de um “mundo russo diferente” e colocam em dúvida a própria existência da Rússia até 2045.

Vamos aos números, porque os números são imutáveis. Alguns meses antes da invasão da URSS, em 1941, Hitler declarou “O mundo vai perder o fôlego”, seguramente pensando como o mundo iria reagir à sua esmagadora vitória sobre a URSS. Mas tudo foi muito diferente, como já tinha acontecido no passado.

No dia 22 de junho, quando o exército alemão, apoiado por seus aliados, com 4 milhões de homens, estava pronto para invadir a URSS, metade da Europa já tinha caído perante sua força militar. Inclusive a França. E a Grã-Bretanha estava pronta para ser invadida, o que não aconteceu porque os alemães deram preferência a atacar a União Soviética. Os EUA praticamente não estavam envolvidos em ações militares.

Para o dia 7 de novembro de 1941 estava programado um desfile militar das forças alemãs na Praça Vermelha de Moscou. A parada aconteceu, mas foi um desfile do exército soviético, engajado na defesa de Moscou contra os ataques das forças alemãs.

A Batalha de Moscou foi o primeiro grande acontecimento da Segunda Guerra Mundial a mudar por completo a imagem que o mundo inteiro e os próprios alemães tinham sobre a capacidade de resistência do exército e dos povos da União Soviética.

Os números falam por si sós. A participação de mais de 7 milhões de pessoas de ambos os lados dessa batalha mostra a sua grandiosidade. Durante a luta que durou 6 meses, a Rússia teve 926 mil soldados mortos, mais do que todo o exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Esse número, numa única batalha, ultrapassa todas as perdas dos exércitos britânico e americano durante toda a Segunda Guerra Mundial. A bandeira da Alemanha nazista nunca foi hasteada em Moscou.

É curioso, mas no livro “Uma breve história do século XX”, de Geofrey Blaney, que virou best-seller internacional, no capítulo destinado à Segunda Guerra Mundial está detalhado o desembarque dos Aliados em 6 de junho de 1944 na região da Normandia, mas não há uma única palavra sobre a Batalha de Moscou, e apenas muito superficialmente cita a de Stalingrado.

A Batalha de Stalingrado, na opinião de praticamente todos os historiadores do mundo, foi um ponto crucial na luta contra o exército alemão durante a guerra. Até o Presidente Ronald Reagan, muitos anos depois, no seu primeiro jantar com o Presidente Mikhail Gorbachev, lembrou Stalingrado como exemplo de extremo heroísmo e momento importantíssimo da vitória sobre o nazismo.

Na Batalha de Stalingrado, que durou de 17 de julho de 1942 a 2 de fevereiro de 1943, lutaram contra o exército soviético Alemanha, Romênia, Itália, Hungria, Croácia e voluntários da Finlândia. No início da operação, participaram dos dois lados 816 mil militares, acima de 5 mil unidades de artilharia, 480 blindados, em torno de 2 mil aviões. No final de novembro de 1942, acima de 1 milhão e 600 mil militares participaram diretamente das ações daquela que se tornou a maior batalha terrestre da História da Humanidade.

Em 1 de maio de 1945 os soldados da Divisão 150 do Exército Vermelho hastearam a bandeira vermelha em Berlim, no prédio do Parlamento alemão, o Reichstag. Na madrugada de 2 de maio, o exército alemão, que defendia Berlim, capitulou.

Pouca gente sabe que o ato de rendição incondicional da Alemanha na Segunda Guerra Mundial foi assinado 2 vezes. Na primeira vez, isso ocorreu na cidade francesa de Reims, em 7 de maio, às 2h40min, pelo horário europeu, e deveria entrar em vigor no dia 8 de maio às 23 horas.

Numa correspondência dirigida a Churchill e Truman, Stalin escreveu o seguinte: “O ato assinado em Reims não pode ser descartado, mas também não pode ser reconhecido. O ato de rendição, como um importante documento histórico, deve ser assinado no lugar onde começou a guerra, em Berlim, com participação do alto comando militar de todos os países da Aliança.” Os EUA e a Grã-Bretanha concordaram com a realização de nova assinatura do ato e consideraram o documento assinado em Reims como preliminar.

A assinatura definitiva aconteceu em Berlim na madrugada de 9 de maio, no horário de Moscou, e por esse motivo a comemoração do Dia da Vitória acontece no 9 de Maio.

Durante a guerra, a URSS perdeu 9 milhões de soldados e mais de 17 milhões de civis. No seu livro “Moscou 1941”, Rodric Braithwrite analisa a questão das vítimas de guerra de modo diferente. “Para cada britânico e americano que morreu, os japoneses perderam 7 pessoas, os alemães 20, e os soviéticos 85.” Ele continua: “Quatro quintos dos combates na Segunda Guerra Mundial aconteceram no front do Leste. Dois terços do exército alemão estavam no Leste mesmo depois do Dia D. De fato, se não estivessem combatendo os russos, eles se encontrariam na França, e não teria havido nenhum Dia D. Alguns podem contestar os números exatos. Quanto à ordem de grandeza, não restam dúvidas. Não é de surpreender que os russos acreditem que foram eles que venceram a guerra.”

No dia 8 de maio, Churchill fez a seguinte declaração em seu programa de rádio: “Hoje nós provavelmente vamos pensar sobre nós mesmos; amanhã, iremos prestar homenagem aos nossos camaradas russos, cujo heroísmo nas batalhas da guerra se tornou uma grandiosa participação na vitória comum.”

Passaram-se 70 anos. O mundo está mudando, mas, independentemente disso, todos os países civilizados festejam, cada um a seu modo, essa grande vitória.

As bandeiras dos Aliados são hasteadas como símbolos da vitória e homenagem a todos aqueles que deram suas vidas para isso.

No Brasil, que teve sua contribuição na vitória das forças aliadas contra o fascismo, esta data também é lembrada. Perante o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, no dia 8 de maio acontece o desfile militar com a participação dos representantes das Forças Armadas.

Hasteadas as bandeiras dos países aliados, não é de estranhar que a bandeira russa tenha seu legítimo lugar ao lado das outras.

Aleksander Medvedovsky

Fonte: Sputnik News Brasil

 

17 Comentários

  1. “E a Grã-Bretanha estava pronta para ser invadida, o que não aconteceu porque os alemães deram preferência a atacar a União Soviética. Os EUA praticamente não estavam envolvidos em ações militares.”

    mas como assim, quem foi que financiou todo parque industrial dos sovieticos ?
    banqueiros americanos 😛

  2. “E a Grã-Bretanha estava pronta para ser invadida, o que não aconteceu porque os alemães deram preferência a atacar a União Soviética.”

    A Grã Bretanha não foi invadida por obstinada resistência da RAF ( único caso na história onde se pode dizer que uma força ganhou uma batalha unicamente por continuar existindo… ) e pela presença sempre constante da frota britânica, a qual mantinha afastada qualquer força de invasão alemã… Evidente que houveram falhas grosseiras do lado alemão ( e elas estão entre as causas diretas da derrota alemã naquela ocasião ), mas não se deve tirar o mérito da RAF, que adotou a estratégia certa e táticas, em sua maioria, corretas.

    É bem verdade que a Alemanha já estudava sua invasão a Rússia, mas até o final de 1940, o foco das ações eram os ingleses… E o fato é que a invasão foi cancelada…

    “Os EUA praticamente não estavam envolvidos em ações militares.”

    Navios americanos já escoltavam comboios antes mesmo de Pearl Harbour… De fato, a USN já estava praticamente em guerra no Atlântico e acumulavam suas perdas, como o destroyer USS Ruben James, perdido com mais de 2/3 de sua tripulação… Salvo engano, houve pelo menos uma vez na qual Hitler teve que intervir diretamente para que não ocorressem combates contra a USN…

    • “_RR_
      4 de maio de 2015 at 22:19 ”

      com a frança neutralizada a alemanha começou uma campanha de supremacia aérea sobre o Reino Do Opio Unido para se preparar para uma invasão….a campanha fracassou e os planos de invasão foram postergados…. contudo usando os portos franceses recém capturados a Kriegsmarine(marinha alemã) obteve sucesso contra a melhor preparada marinha real usando U-Boots contra os navios britânicos no Atlântico….

      • Máquina…

        Apesar das perdas em navios, o sucesso dos U-boat foi parcial…

        De fato, numa analise mais fria, foram poucas as vezes nas quais o tráfego comercial dos ingleses com o resto do mundo esteve efetivamente ameaçado. Diversos fatores, tais como a quebra das comunicações alemãs, a adoção rápida do sistema de comboios, a formação de grupos de escolta eficazes, e a extensão da vigilância aérea, eliminaram gradualmente os “alvos fáceis” e as áreas de atuação seguras dos submarinos alemães.

        Quando havia oportunidade, quando as forças aliadas não estavam efetivamente preparadas, não haviam submarinos em número suficiente para fazer o estrago necessário ( aliás, a marinha alemã, como um todo, não estava preparada para o conflito )… E a partir da segunda metade de 1943, quando finalmente se tinham vasos em números expressivos, as defesas aliadas já estavam consolidadas e a industria naval dos aliados já estava engrenada, produzindo mais navios do que os alemães conseguiam efetivamente afundar ( em particular a classe Liberty, com mais de 2700 construídos ). E já a partir de Maio/Junho daquele ano, a ameaça dos U-boat virtualmente cessou de existir de forma organizada…

        Foi na Primeira Guerra Mundial que os alemães fizeram sua campanha naval mais terrível. Por volta do terço final de 1917, os ingleses estavam a beira do colapso… Calcula-se que os alemães tenham afundado mais de 5000 navios durante a Primeira Guerra…

      • Sim mas os Uboats deram uma supremacia de alguns meses sobre o atlantico norte.
        Esta supremacia não foi aproveitada porque Hitler resolveu invadir a URSS.

        Se tivesse insistido e feito um desembarque…

        Bom, estou chovendo no molhado aqui…

      • Natus…

        Se os alemães tivessem feito um desembarque em 1940, teria sido um desastre… Sem o controle do céu e com metade da RN guardando a costa inglesa e pronta pra entrar no Canal da Mancha, tudo o que Hitler ia conseguir seria um massacre… E os submarinos não poderiam fazer nada para evitar isso. Talvez eles até conseguissem algum sucesso pontual, mas não poderiam proteger as embarcações alemãs nas águas rasas do Canal, que estavam recheadas de obstáculos…

        Com relação a supremacia…

        Como disse acima, não havia numero suficiente de submarinos no começo da guerra… Apesar de caçarem a vontade no início, o fato é que já em 1940 eles não estavam dando conta de frear o envio de suprimento ao Reino Unido. Sucessos consistentes eram raros; e nas condições de tempo do Atlântico Norte, não poderiam durar ( principalmente no inverno )… Por tanto, essa supremacia ela ilusória…

        O que Hitler deveria ter feito era investido pesado nos U-boat antes da guerra… Tivessem os alemães os 200 submarinos que alm. Doenitz pediu, a conversa poderia ter sido outra…

      • Apenas complementando,

        Os próprios alemães fizeram suas “contas de padaria” de quanto deveriam afundar de cargas para tirar o Reino Unido da guerra; e calcularam algo como 700 mil toneladas por mês. Raras vezes chegaram perto desse número…

      • “_RR_
        5 de maio de 2015 at 13:22 ”

        durante a segunda guerra mundial os submarinos alemães eram o maior componente da Batalha do Atlântico ….que durou até à invasão da europa….. durante as fases iniciais da guerra e após a entrada dos eua na guerra os submarinos alemães foram extremamente eficazes a destruir navios de carga aliados aproximando-se da costa atlântica dos eua chegando até o Golfo do México….os avanços nas tácticas dos comboios navais, radar, sonar, cargas de profundidade, a descodificação dos códigos da Enigma e a introdução da escolta aérea diminuiu a eficácia dos submarinos alemães….

      • Maquina…

        Repito: …não havia numero suficiente de submarinos no começo da guerra…

        Apesar de caçarem a vontade no começo, não estavam dando conta de afundar o mínimo necessário para retirar os ingleses do conflito.

        Muito antes da invasão da Europa, a ameaça já estava praticamente neutralizada… Quando chegou o inverno de 1942/1943, já era certeza que os submarinos não lograriam êxito; e já no verão de 1943, os alemães passaram a perder mais submarinos do que afundavam navios…

      • “RatusNatus
        5 de maio de 2015 at 13:29 ”

        “_RR_
        5 de maio de 2015 at 18:45

        _RR_
        5 de maio de 2015 at 18:51 ”

        as perdas de submarinos foram particularmente elevadas para todas as nações a alemanha que durante toda a guerra pôs em serviço mais de 1.100 submersíveis perdeu mais de 800… o reino do opio unido perdeu 77 unidades sobre 235…à Itália 86 em 160…os eua 52 em 290… e o Japão 127 em 190…

  3. Em seus esforços para derrotar a URSS, a Alemanha nazista deslocou o grosso de seus homens e armas para o Leste. Além das 214 divisões, totalizando 8,5 milhões de homens, que a Alemanha tinha em junho de 1941, 153 divisões alemãs e 37 divisões de seus satélites, num total de 5,5 milhões de homens, foram designados para operações militares contra o Exército soviético. 1

    1 Missão Libertadora das Forças Armadas Soviéticas na Segunda Guerra Mundial, A. A. Grechko, Livraria

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