Como os EUA estão ‘inundando’ o Oriente Médio de armas

Quase metade das exportações de tanques, aviões e mísseis dos EUA nos últimos quatro anos foi para países como Arábia Saudita, Bahrein e Catar – todos eles criticados por abusos de direitos humanos e envolvidos em conflitos regionais.

Não foi à toa que o presidente americano, Donald Trump, visitou a Arábia Saudita em sua primeira turnê oficial como presidente dos Estados Unidos.

A viagem consolidou um acordo de venda de armas para Riad avaliado em US$ 110 bilhões. Os sauditas receberão dos EUA, durante os próximos dez anos, tanques, aviões de combate, barcos de guerra e mísseis de precisão guiados.

Apesar das várias críticas ao seu histórico de repressão, violação de direitos humanos e das mulheres e por financiar mesquitas e escolas islâmicas que difundem visões fundamentalistas do islamismo mundo afora, a Arábia Saudita é um dos principais parceiros dos EUA no Oriente Médio – e, segundo a instituição americana Council on Foreign Relations, o maior importador de armas do país.

Aumento

Uma análise do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri), indica que, nos últimos quatro anos (2012-2016), as importações de armas por nações do Oriente Médio aumentaram 86%.

“A Arábia Saudita foi o segundo maior importador de armas do mundo entre 2012 e 2016 (atrás da Índia), com um aumento de 212% desde o período de 2007-2011”, diz o estudo.

No mesmo período, segundo o Sipri, os EUA foram o maior exportador de armas do planeta.

“Suas exportações aumentaram 21% comparado ao período de 2001-2011. Quase a metade destas exportações foram para o Oriente Médio.”

Se é certo que este aumento ocorreu durante a presidência de Barack Obama, seu governo também impôs certas restrições à venda de armas a determinados países por conta de preocupações com direitos humanos.

Em 2017, no entanto, o governo Trump começou a revogar estas restrições.

Em março, o Departamento de Estado suspendeu um bloqueio imposto por Obama à venda de armas para o Bahrein, depois de acusações de abusos contra grupos de oposição ligados à maioria xiita no país.

A decisão permitirá, agora, a venda de aviões de combate F-16 e de outras armas ao Bahrein, como parte de um pacote avaliado em cerca de 2,7 bilhões.

A base da Quinta Frota da Marinha dos Estados Unidos, que patrulha o estratégico Golfo Pérsico, fica no Bahrein.

Preocupações

No início do mês de junho, houve tentativas no Senado americano de bloquear um pacote de US$ 500 milhões em mísseis guiados para a Arábia Saudita, por causa de preocupações com a campanha militar saudita na guerra do Iêmen.

Todas as facções envolvidas neste conflito – que começou em 2014, já matou mais de 10 mil pessoas e afundou grande parte do país em uma escassez generalizada de alimentos – foram acusadas de cometer abusos de direitos humanos e crimes de guerra.

Muitos senadores se opunham à venda de armas à Arábia Saudita pelo seu papel no conflito. O país lança ataques aéreos contra rebeldes houthi – que controlam a maior parte do Iêmen – dizendo estar “defendendo o governo legítimo” do presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi.

A venda, no entanto, foi aprovada por uma estreita margem no Senado americano.

O Catar também é outro grande importador de armamentos. Segundo o Sipri, nos últimos anos, “as importações de armas do Catar aumentaram 245%”.

Na semana passada, o secretário americano de Defesa, James Mattis, assinou um acordo de US$ 12 bilhões para a venda de 36 aviões de combate F-15 ao Catar.

Situação ‘confusa’

O acordo ocorreu no momento em que Arábia Saudita lidera, junto com outros países da região, um duro bloqueio econômico e diplomático contra o vizinho Catar, por supostamente “apoiar a terroristas”.

O presidente Donald Trump elogiou a ação.

“Dizem que vão adotar uma linha dura contra o financiamento do extremismo e todas as referências apontam para o Catar. Talvez este seja o começo do fim do horror do terrorismo”, escreveu Trump no Twitter.

Já o democrata Ted Lieu disse, em uma audiência no Congresso, que “é muito confuso para os líderes mundiais e os membros do Congresso quando a Casa Branca faz duas coisas exatamente opostas” em relação ao Catar.

Cabe lembrar que o Catar abriga a maior base militar americana no Oriente Médio, a base aérea Al-Udeid, que foi essencial para missões militares e de contraterrorismo dos Estados Unidos e de seus aliados no Afeganistão, no Iraque e na Síria.

Principal mercado

Tudo parece indicar que o Oriente Médio, uma região submersa em numerosos conflitos, continuará sendo um dos principais importadores de armas do mundo.

E os Estados Unidos, seu principal fornecedor.

“Durante os últimos cinco anos, um dos principais mercados de armas dos Estados Unidos foram as nações do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita”, disse à BBC Pieter Wezeman, pesquisador do Sipri.

“E mesmo que Obama tenha imposto algumas restrições, no total, essas restrições foram quase invisíveis.”

“Tudo parece indicar que agora, com Trump, será inclusive mais fácil adquirir armas dos EUA do que era antes – para países como Arábia Saudita, Bahrein e vários outros na região”, conclui.

Estratégia

A pergunta é: será que Donald Trump tem uma estratégia para o Oriente Médio, para além da venda de armas?

Segundo a correspondente da BBC no Departamento de Estado, Barbara Plett Usher, em Washington se fala de uma “aparente desconexão entre o desejo de vender mais armas para a região e uma estratégia articulada para pôr fim aos conflitos ali”.

Pieter Wezeman afirma que Trump não parece ter uma estratégia mais abrangente do que “vender armas para criar empregos nos Estados Unidos”.

“Ele parece ter jogado fora qualquer preocupação com direitos humanos”, diz.

“E parece extremamente disposto a fornecer qualquer tipo de armas que os países do Oriente Médio queiram e principalmente qualquer tipo de armas que eles possam pagar.”

Alguns analistas dizem que essa aparente falta de estratégia poderia representar um risco em uma região extremamente armada e envolvida em diversos conflitos.

Eles levantam, por exemplo, a possibilidade de que aliados sunitas da Arábia Saudita utilizem essas armas para atacar seu principal inimigo na região: o Irã.

“Estamos vendo que essas armas não estão sendo importadas apenas para exibição. Países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar as estão usando em grande escala no Iêmen, na Líbia e na Síria”, diz Wezeman.

O risco, segundo o pesquisador, é colocar uma grande quantidade de armas sofisticadas “em uma região onde não existe nenhum sistema de controle de armas e onde ninguém quer sentar à mesa para discutir o assunto.”

Foto: BBCBrasil.com  – Trump na Arábia Saudita

BBC BRASIL

Fonte: Terra

 

 

 

22 Comentários

  1. A política expansionista e de dominação americana é realmente muito perversa. Fornecem armas para ambos os lados envolvidos num dito conflito e assistem o circo pegar fogo. Apóiam quase todos grupos separatistas mundo afora com o intuito de fragmentar, dividir e enfraquecer países. Com isso mantém hegemonia e controle sobre nações fracas e indefesas.

    • E mesmo assim … você vive apoiando e defendendo caninamente o império americano… principalmente quando este império apronta na America latina dando golpes para colocar vermes como o seu Temer no poder … afinal …você adora ser bajulador e puxa saco do tio Sam .. não é mesmo ? .. bom servo dedicado e capachão .

    • Quem mais apoia terroristas no Oriente médio é o Irã com o hezbollah, hamas, talibã, terroristas no Yemen, etc.

      • Concordo com o Lucena, parece que os americanos não aprenderam com os próprios erros, e vão armar aliados que futuramente atacaram os interesses americanos .

      • Smoking Snake- Por acaso já pensaste em estudar História , ou apenas lê barras de Livros ou trechos em Negrito, comeces já que acusaste o Irã a estudar a sua Hiistória no Século XX , Usando este nome parece ser nacionalista , mas tens toda a formação colonizada , sempre apoiando os interesses Escusos do Tio Satã !!

  2. Hipocrisia da braba! O dono da BBC, o governo britânico, também fatura alto vendendo armas para o Oriente Médio, especialmente para os sauditas.

    • Como eu disse, hipocrisia é pensar que só o Pentágono vem praticando essa política. Os americanos não estão nessa empreitada só. Como eu disse até o dono da BBC participa. Mas os Americanos são os mentores que puxam a carroagem.

  3. Trump e sua obsessão por uma Guerra que o tornará grande perante os seus (será?). Agora diz que Assad fará “outro” ataque químico. O roteiro será muito parecido com último que vimos e tenho certeza que de fato ocorrerá. O povo Sírio, que tinham voz, de fato clamavam por mudanças, más não pareciam ver Assad como seu grande problema, gozavam de liberdade religiosa, convivência pacífica multi étnicas, uma qualidade de vida relativamente boa. Foram envoltos em uma revolução colorida sustentanda por mercenários com o único objetivo de dilacerar a Síria e subimete-la ao the establishment. Os reis sunitas da “democrática” Arábia Saudita parecem ter subido um patamar nas relações bilaterais com Washington e são os novos eleitos para debelar o oriente médio. Irã, Síria, Turquia, Qatar e grupos Xiitas não alinhados como no Iêmen, não parecem encaixar nesta nova ordem. Parece que a guerra fria está se aquecendo outra vez. A China não quer vender ideologia a ninguém e a Russia também não, más são grandes demais para se alinhar, então são empuradas a um contra ponto. Há alguns tipos de Nações neste contesto, sócios que dividem a pilhagem, úteis estados satélites alinhados e submissos, pilhados e na medida do possível neutros (mas nunca de fato os são). O Brasil será nessa ciranda da primeira metade deste século?

    • Quando vi aquela Dancinha GAY do TRUMPALHÃO e das Bichas Sauditas Wahabitas , percebi de imediato o que viria pela frente !!

    • A Ciranda de **Reboque do Mundo** foi nos colocado pelo Exercito no Golpe da republiqueta de 1889, precisamente no dia seguinte , quando realmente é criada a REPUBLIQUETA CORPORATIVISTA DO BRASIL e confirmada quando Desgraçados Apátridas e Antibrasileiros do Exercito pedem a Intervenção de Marinhas estrangeiras contra a Marinha do Brasil , na Revolta da Armada , será que conhecem esta Desgraça de nossa história promovida pelo Exercito antinacional , Foi por causa disso que a Nação gastou uma Fortuna para construção de Fortificações na Baía de Guanabara ,foi contra a Marinha ,e não contra o Agressor inimigo , a Marinha ficaria confinada no interior da Baía e o Exercito a dominando com seus Fortes , talvez poucos conhecem mais uma DESGRAÇA NACIONAL !!

  4. Olá não sou muito de postar muitos comentário já que sou leigo, e tinha dificuldade de entender o apoio do ocidente para a Arábia Saudita , mas nesta matéria da rede voltaire ficou claro para mim muita coisa .

    http://www.voltairenet.org/article196917.html

    ai pude ver a diferença. A Arábia Saudita tem um governo Laico, porém a população segue uma religião radical. isso quer dizer que os cidadãos são radicais . mais o governo está alinhado com o ocidente,(não financia grupos contra outros países), por sua vez Irã, Qatar não são laicos e o governo esta comprometido com o islã, e financiam grupos armando contra outros países, o Qatar a irmandade muçulmana contra Egito e hamas, contra Israel e o Ira o hezbollah contra israel , hountis no yemen.

  5. se os EUA são tão malvados assim pq então esses países árabes continuam comprando armas deles ?

    lá como cá, sempre com a mesma desculpa esfarrapada de culpar os outros por seus erros, e pra piorar os ignorantes esquerdistas daqui indo no mesmo caminho, não é atoa que se merecem !!

    • ah só pra lembrar, na hora que os países árabes compram armas da Rússia e China, ninguém fica choramingando rsrs..

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