Com barril a US$ 50, petróleo volta a jorrar na costa dos EUA

A atividade frenética que toma conta da costa americana do Golfo do México ressalta uma resiliência surpreendente da indústria petrolífera dos Estados Unidos.

Apesar da pior queda de preços registrada em uma geração, muito petróleo tem jorrado dos campos localizados na costa da Louisiana e do Texas. Esse combustível está parcialmente anulando a queda na produção das regiões de xisto e elevando a produção total do país.

Atualmente, os EUA estão produzindo cerca de 8,7 milhões de barris por dia, 480 mil barris a menos que no fim do ano passado, segundo a Agência de Informação sobre Energia dos EUA. Isso ocorre num momento em que os preços baixos levam as empresas a cancelar projetos de exploração de novos poços, enquanto outros de petróleo de xisto começam a se esgotar. A previsão é de que a produção caia ainda mais, para 8,5 milhões de barris por dia no fim do ano.

Mas um volume bem acima de 500 mil barris por dia de petróleo novo vindo do Golfo deve entrar no mercado este ano e no próximo, segundo análise feita pelo The Wall Street Journal de dados do governo, apresentações de empresas e documentos entregues aos reguladores.

O aumento da produção na costa americana ameaça prolongar o excedente de petróleo estocado em todo o país, que ajudou a derrubar os preços, diz Roger Diwan, diretor de serviços financeiros da IHS Energy, uma consultoria do setor.

“Os projetos estão sendo desenvolvidos rapidamente e, às vezes, são maiores que o esperado”, diz ele. “Esse aumento parece ter acelerado com os preços baixos.”

A produção do Golfo está crescendo, em parte, porque uma série de campos de petróleo gigantescos aprovados para exploração anos atrás, quando os preços estavam elevados, por empresas como Freeport McMoRan Inc. e BP PLC, está começando a operar. Mas a produção também está aumentando porque empresas estão descobrindo que poços marginais menores podem ser explorados de forma mais barata ao serem conectados com plataformas de petróleo existentes na costa através de dutos submarinos, em um processo conhecido como “tieback”. Embora a produção de muitos desses poços marginais sendo conectados às grandes plataformas esteja refletida nas previsões de bancos e analistas, a análise do WSJ descobriu que uma parte desses poços não é considerada nos cálculos de vários especialistas.

A produção de petróleo americana no mar deve registrar um recorde em 2017, com 1,91 milhão de barris sendo retirados do Golfo até o fim do ano, segundo o Departamento de Energia dos EUA. O volume é um salto de 24% ante 2015 e ultrapassaria o recorde anterior, de 1,56 milhão de barris diários, registrado em 2009, um ano antes de o desastre da plataforma Deepwater Horizon, da BP, ter suspendido temporariamente a perfuração na região, revelam dados federais.

Embora especialistas do setor afirmem que as explorações de petróleo em águas profundas sejam caras demais para os preços atuais, de cerca de US$ 50 por barril, as petrolíferas se apressam para vincular os poços marginais às plataformas de petróleo existentes, na tentativa de maximizar seus lucros. Uma delas é a Exxon Mobil Corp., que começou bombeando 13 mil barris por dia no fim de abril de um poço chamado Julia, na costa da Louisiana, cuja produção é enviada para a plataforma Jack/St. Malo, da Chevron Corp. A Exxon espera que a produção do Julia atinja 34 mil barris por dia.

Grandes petrolíferas, como a BP e a Royal Dutch Shell PLC, assim como firmas independentes, como a Anadarko Petroleum Corp. e a Noble Energy Inc., estão querendo vincular poços. Nenhuma revela o volume de produção que desejam atingir com os projetos, devido à concorrência.

A Noble, que tem priorizado os “tiebacks”, em vez de projetos de xisto, quase dobrou sua produção no Golfo no primeiro trimestre e tem outro poço na costa que começará a produzir em alguns meses. A Anadarko tem mais de 30 prospectos para conexões de poços marginais e irá perfurar até sete deles este ano, segundo o diretor financeiro Bob Gwin.

“Com o petróleo a US$ 60, algo que estamos torcendo para que aconteça, essas oportunidades terão um retorno de mais de 70%”, disse Gwin a analistas na Conferência de Gás da UBS Global Oil, realizada no mês passado em Austin.

Esses poços vinculados são perfurados em campos que não são grandes o suficiente para justificar os gastos vultosos de construção de novas e gigantescas plataformas flutuantes. Alguns desses poços são lucrativos até quando o petróleo é negociado entre US$ 25 e US$ 30 o barril, e muitos mais podem dar lucro com os preços entre US$ 30 e US$ 40, segundo analistas da consultoria Wood Mackenzie.

Construir as enormes plataformas de petróleo pode levar até dez anos e custar bilhões de dólares. Uma vez prontas, “você pode tirar tudo dali” ao maximizar o petróleo que cada plataforma bombeia e processa, diz Terry Yen, analista da Agência de Informação de Energia dos EUA.

Os custos de perfuração em águas profundas têm caído e continuarão a cair com o vencimento dos contratos de longo prazo das plataformas. A IHS Petrodata estima que o aluguel de um navio de perfuração caiu pela metade desde o pico do boom petrolífero, de US$ 600 mil por dia em 2013 para US$ 300 mil hoje.

As empresas também estão acessando mais poços em águas profundas. A Shell economizou US$ 1 bilhão em seu projeto Stones, de águas ultraprofundas, que fica cerca de 300 quilômetros de New Orleans e começará a operar no ano que vem, usando em projetos costeiros um sistema de poços mais finos que os engenheiros adaptaram das operações de formações de xisto em terra.

ERIN AILWORTH

Fonte: The Wall Street Journal

Gestor da firma de investimentos T. Rowe Price aposta bilhões de dólares contra o petróleo

Shawn Driscoll, gestor do fundo de recursos naturais da firma de investimentos T. Rowe Price, diz que a alta atual do petróleo é cíclica e que a tendência de longo prazo é de queda.

Ser pessimista pode ser um exercício solitário, mas esse não é o problema de Shawn Driscoll. O gerente do fundo de recursos naturais da firma de investimentos T. Rowe Priceacredita que estamos atravessando um período de 10 a 15 anos de um mercado baixista para o petróleo e outras commodities. Ele apostou a maior parte dos US$ 5,2 bilhões em ativos contra um aumento nos preços. Até o momento, a estratégia tem funcionado.

A influência de Driscoll vai bem além de seus próprios fundos e ele é hoje um dos mais importantes, embora desconhecido, pessimistas do mercado de energia. A T.Rowe Price tem, coletivamente, cerca de US$ 50 bilhões investidos em petróleo e recursos naturais em seus fundos diversificados de ações. Muitos gestores de fundos da empresa, impressionados pela convicção de Driscoll e seu histórico de trabalho nos mercados de commodities, têm seguido seus conselhos.

Isso tem dado a Driscoll bastante companhia. E muita pressão.

A T. Rowe Price, que tinha US$ 765 bilhões em ativos no fim do primeiro trimestre, apostou seu próprio futuro na capacidade dos gestores de fundos de superar o mercado. Uma grande aposta a favor ou contra um grande setor pode ter consequências para toda a empresa.

No fim do primeiro trimestre, os 70 fundos de ações da T. Rowe Price, com US$ 382 bilhões em ativos, tinham aplicado em petróleo apenas metade dos 6,8% da recomendação de índices ponderados do mercado. É uma aposta bastante negativa para uma grande empresa.

Como o preço do barril de petróleo caiu de US$ 100 para cerca de US$ 30, Driscoll ganhou status de gênio. Desde então, os preços subiram para quase US$ 50. “Eu simplesmente não creio que deveríamos estar aqui”, diz ele, acrescentando que a alta é cíclica e que a tendência de longo prazo é de queda.

O fundamento do pessimismo de Driscoll é o aumento da produtividade no setor de commodities, que reduz custos e leva os produtores a perfurar mais poços. Além disso, a rápida inversão de produção que a exploração de xisto permite, os projetos próximos a costa em lugares como a Noruega e o aumento da produção no Irã e em outros países manterão a oferta elevada durante anos.

“Sempre falamos que ficaremos otimistas apenas quando a produtividade acabar”, diz ele.

O preço de quase US$ 50 o barril já está incentivando as empresas a começar a perfurar novamente e Driscoll espera que isso continue. É um dilema clássico entre as petrolíferas. A primeira empresa a explorar um novo poço manda um sinal para os investidores de que acredita que tem os menores custos. E ser a primeira permite que ela se beneficie dos baixos custos das prestadoras de serviços, que estão desesperadas por colocar seus ativos para trabalhar. “Acreditamos que estamos bem perto da preço de incentivo [acima do preço de mercado], e é por isso que as plataformas estão voltando a funcionar”, diz ele.

Driscoll assumiu há três anos a gestão do Fundo New Era, da T. Rowe Price, um fundo de recursos naturais criado há 47 anos e que tem US$ 3,3 bilhões em carteira. Embora ele faça parte dos 25% com o melhor desempenho entre seus rivais, o fundo tem perdido uma média de quase 2% por ano nos últimos três anos. O fundo perdeu cerca de 25% dos ativos em sua gestão.

“Nós nos preparamos para o mercado baixista”, disse ele. “Mas atravessá-lo é mais difícil.” Décadas atrás, alguns de seus antecessores enfrentaram mercados baixistas duradouros comprando ações em outras áreas, como de empresas da área de saúde, mas hoje os clientes reclamariam se os gestores mudassem o plano.

O fundo está ativo, comprando em períodos de quedas como a da semana passada, quando Driscoll comprou ações de petrolíferas europeias depois que os preços do petróleo caíram. E eles venderam empresas altamente endividadas, quando os mercados de alta rentabilidade começaram a cair, e compraram fabricantes de produtos químicos especiais.

Driscoll não previu uma grande alta nas ações das refinarias. Mas este ano o fundo seguiu a alta do petróleo e acumula ganhos de 17,5%, bem acima do mercado em geral e mais de 2,5 pontos percentuais acima de seus rivais.

A maior responsabilidade de Driscoll é com os outros gestores de fundos da T. Rowe Price, e ele é pago, em parte, pelo impacto que seus conselhos têm na firma. Com o dinheiro saindo de fundos administrados de forma ativa, a T. Rowe Price tem mantido um bom desempenho, comparada com o resto do setor.

O próximo teste para os pessimistas deve ocorrer agora que a oferta e a demanda de petróleo se aproximam do equilíbrio. Se a demanda superar a oferta, os preços devem ultrapassar os US$ 50 o barril. Driscoll diz que o petróleo em estoque e a oferta nova pressionarão os preços.

Nadar contra a maré tem sido divertido até agora. “Pergunte-me novamente em alguns anos”, diz Driscoll. “Eu realmente acho que os mercados baixistas têm uma forma de triturar as pessoas.”

KEN BROWN

Fonte: The Wall Street Journal

 

4 Comentários

  1. Para mim devido ao desaquecimento do mercado teremos uma baixa nas commodities por mais de um década e meia….aquele ciclo maluco de crescimento não vai voltar tão cedo sorte do cachaceiro vagaba que pegou a crista da onda e atribuiu a si os méritos do efeito China( muito indecentemente diga-se de passagem!)
    Os preços podem subir um pouquinho, mas não vai ser oq era …..estamos em plena transição da matriz energética a nível mundial

  2. Como se vê o poder de regular o mercado do petróleo mudou de mãos. Saiu da OPEP e foi para os EUA. Os aumentos e reduções da produção doméstica norteamericana, tendo em vista que o país ainda é o maior consumidor da commoditie, passaram a ditar o preço e mesmo o comportamento de outros produtores tal quando a Arábia Saudita inflacionou o mercado.

    Com o tempo novos atores no mercado, como é o caso do EUA e futuramente o Brasil com o pré-sal vão desafiar o cartel da OPEP.

    • Consulte seu Almanaque do bom serviçal e apresente-nos esta regra onde o controle de preços de produtos deva ser do consumidor e não do produtor.
      O entreguista inclusive ja da como certa a absorção do pré-sal Brasileiro pelo seu patrão O Irmão Caim do Norte e o entreguista vai mais alem ao sugerir a compactuação do Brasil com o unilateralismo corsaro Yankee.
      Vou demonstrar-lhe a diferença do verdadeiro Patriotismo para o capaxismo condicionado subserviente.
      Patriotismo do grego patriotes (patrício), é o sentimento de orgulho,amor,devolução e devoção à pátria,aos seus símbolos (bandeira, hino, brasão, mitos históricos, riquezas naturais, patrimônios materiais e imaterial).É razão do amor dos que querem servir o seu país e ser solidário com os seus compatriotas.
      Totalmente o oposto do que voce idolara em sua apologia serviçal de apegos a frações e seus beneficios proprios ou de aconchegados.

    • Os EUA não possuem e não tem capacidade nem de suprirem seu consumo interno,por isso manipulam governos e nações,promovem guerras,genocideos e passam as mãos nas cabeçinhas de quaisquer fascinoras que lhes sirvam de agentes.
      Agora arranque a calçinha pela cabeça,descabele a peruca e chame-me de comunista.

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