Breve história do desarmamento, parte 3: controle de armas no mundo comunista – O leste europeu e Cuba

Luiz Giaconi é empresário, escritor e jornalista formado pela faculdade Cásper Líbero; Pós-Graduado em Política e Relações Internacionais pela FESP-SP.

Nessa série de textos pretendo recontar ações de desarmamento através da história, os motivos que levaram determinados povos a fazer essa escolha e mostrar suas consequências, muitas vezes inesperadas e desastrosas. Desarmamento não é uma iniciativa nova, e os casos do passado servem, muitas vezes, como lição para o presente e para o futuro.

Desarmamento no mundo comunista: mitos e verdades

Provavelmente toda pessoa favorável ao direito à posse e ao porte de armas de fogo já utilizou como argumento contrário ao desarmamento o fato de que nos países que adotaram governos comunistas ou socialistas, o desarmamento foi amplo, geral e praticamente irrestrito. Tanto para manter o povo sob controle, quanto para ter maior facilidade para eliminar as parcelas indesejáveis da população e enfraquecer toda e qualquer dissidência dentro da sociedade.

De fato, leis extremamente duras sobre o assunto eram comuns nesses países, mas, nem todos eram obrigados a seguir as mesmas regras. Membros dos partidos comunistas locais tinham vários privilégios. Um deles era a possibilidade de ter e utilizar armas de fogo, coisa que era praticamente impossível para o cidadão comum. Afinal, como bem escreveu George Orwell sobre a utopia socialista no livro Animal Farm: “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros”.

As caçadas patrióticas dos camaradas Honecker e Ceausescu

Após a decisiva derrota alemã na Batalha de Kursk (julho-agosto de 1943), o destino do front oriental da Segunda Guerra estava traçado. O rolo compressor do exército vermelho retomou todo o território conquistado pelas forças nazistas, culminando na batalha de Berlim (abril-maio de 1945) e o final das hostilidades na Europa. No caminho, países que estavam sob ocupação nazista foram “liberados” pelas tropas soviéticas. Liberação comunista de uma ocupação nazista é parecido com sair da panela para cair direto no fogo, como logo descobririam as populações do leste europeu. Nas palavras de Winston Churchill, “De Stettin, na Polônia, até Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro caiu sobre o continente europeu.”

E uma das primeiras iniciativas das forças de ocupação, apoiados pelos minoritários partidos comunistas locais, foi restringir as armas de fogo. Afinal, como eram uma parcela longe de ser a maioria da população, pouco interessava aos comunistas que o cidadão comum tivesse acesso à armas de fogo. Povo desarmado sempre é mais dócil. Alemanha Oriental, Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária, Iugoslávia e Albânia. Todos esses países logo teriam leis restritas sobre o tema. Algumas um pouco mais brandas, outras extremamente draconianas. Mas, como num sistema socialista certas pessoas sempre tem seus privilégios, a lei não valia para todos.

No dia seguinte à tomada do poder pelos comunistas na Bulgária, em 9 de setembro de 1944, todas as armas foram confiscadas da população civil. Na Hungria, onde inicialmente os comunistas eram apenas participantes de um governo de coalizão, o ministério do interior, comandado por um comunista, ordenou a dissolução de todos os clubes de tiro e de caça. A justificativa foi que assim era “mais fácil proteger o sistema do Estado democrático.” Apoiados pelas tropas do exército vermelho, em 1948, os comunistas húngaros foram capazes de dar um golpe de Estado, praticamente sem nenhuma resistência das oposições ou da população. Desconfie quando um comunista ou socialista afirmar que determinada medida serve para proteger a democracia. A intenção é sempre a inversa.

Na Polônia, a lei não era tão restritiva. Mas, com as primeiras dissensões internas, surgidas com o movimento Solidariedade, medidas enérgicas se mostraram necessárias. Em dezembro de 1981, o líder polonês, general Wojciech Jaruzelski, declarou lei marcial, limitando a comunicação com o exterior, aumentando a censura estatal, prendendo todos os líderes pró-democracia e ordenando a população entregar todas as armas de fogo e munições para o governo comunista.

A Alemanha Oriental seguia uma linha mais moderada, similar à polonesa. A posse de armas de fogo era proibida para a população, mas civis tinham a permissão para alugar rifles de caça por um dia, de clubes de tiro estatais. Já para os líderes do Partido Comunista, a situação era diferente. Tanto Walter Ulbricht, quanto Erich Honecker, os dois principais líderes da Alemanha Oriental, gostavam de caçar, e não sofriam as restrições que os alemães “comuns”. Honecker era tão afeito à prática esportiva do tiro que inclusive ordenou a construção de diversas e luxuosas casas de campo, no estilo das dachas soviéticas, onde poderia praticar seu esporte favorito à vontade. Ao mesmo tempo, a população da Alemanha Oriental sofria com racionamento de carne e frutas, além de enormes filas para comprar os produtos mais básicos. Armas de fogo só eram totalmente liberadas para os militares, a Stasi (polícia política) e guardas de fronteira, que tinham a ordem de atirar em quem tentasse atravessar as fronteiras para a Alemanha Ocidental. Milhares morreram tentando a travessia.

O lugar onde as leis foram mais duras, e a situação mais “exótica” foi na Romênia. O líder comunista Nicolai Ceausescu confiscou todas as armas, que haviam sido registradas previamente. Mas, enquanto os romenos ficavam sem suas armas, Ceausescu tinha outras ideias para ele próprio. Apreciador de caça aos ursos, o “Camarada Supremo Comandante” Ceausescu tinha seu próprio rifle inglês Holland & Holland customizado. Suas roupas de caça eram feitas pela Securitate, a temida polícia política local. Após serem usados apenas uma vez, as roupas eram queimadas.

Mesmo com todas as facilitações, Ceausescu não era dos melhores esportistas. Para facilitar o serviço do chefe, esquadrões do exército romeno entravam na floresta, preparando a área para a caçada, ao colocar uma carcaça de cavalo perto de uma fonte de água. Quando um urso aparecia, atraído pela carne, Ceausescu era chamado, e chegava de helicóptero de madrugada para abater o animal. Certa feita, ao não conseguir acertar o urso no escuro, ele ordenou que suas forças de segurança conseguissem equipamento infravermelho com os americanos, para que ele pudesse enxergar melhor na próxima caça.

Seria cômico se fosse apenas um ditador da ficção. Infelizmente, Ceausescu comandou com mão de ferro a Romênia por mais de 20 anos. A Securitate foi responsável pela morte de mais de cem mil pessoas que se opuseram ao regime comunista. O mesmo povo oprimido selou o destino do ditador. Ao tentar fugir do palácio presidencial, durante as revoltas de 1989, foi capturado junto com a sua esposa, julgado e executado no mesmo dia por um pelotão de fuzilamento.

Charutos e rifles: as paixões do camarada Che Guevara

As imagens mais comuns do falecido comunista Che Guevara sempre acompanham um charuto. Outra paixão do comandante Ernesto eram as armas de fogo. Rifles, pistolas, revólveres, metralhadoras… E ele não as usava da maneira que a maioria das pessoas que são a favor da liberdade para a compra e porte de armas pretende usar as suas. Poucos indivíduos na história da humanidade foram tão eficientes na arte de matar a sangue frio como Che Guevara. Inclusive, como médico que era, descrevia de forma extremamente gráfica nos seus diários a trajetória de uma bala disparada pela sua pistola, na cabeça de um prisioneiro. Um verdadeiro ícone da “paz e de um mundo melhor”.

Ao mesmo tempo em que o Che poderia utilizar a arma que quisesse, para tingir de vermelho as paredes das prisões cubanas com o sangue dos dissidentes e opositores do regime, o cidadão cubano comum não tinha a mesma opção. Caçar as armas na população civil foi uma das primeiras medidas dos revolucionários vitoriosos, em janeiro de 1959.

Dois dias depois da tomada do poder pelos comunistas de Fidel Castro, começou a apreensão das armas previamente registradas, no governo de Fulgêncio Batista, da mesma maneira que Hitler fez com as armas na mão dos proprietários judeus na Alemanha nazista. A justificativa cínica e mentirosa do comandante Fidel cairia como uma luva no discurso de qualquer desarmamentista atual:

“O apelo ao desarmamento não é ambíguo. Por que armas clandestinas estão escondidas neste momento? Por que armas estão sendo traficadas neste momento? Nesse momento, armas estão sendo trazidas para cá por grupos revolucionários. Todas as armas achadas com essas organizações serão armazenadas nos arsenais do exército, onde é o seu lugar. Para que são essas armas? Para que serão usadas?”

“Contra o governo revolucionário que apoia todas as pessoas? Nós temos uma ditadura aqui? Vamos pegar em armas contra um governo livre que respeita o direito das pessoas? Nós temos um país livre aqui. Não temos censura e a imprensa é livre. As pessoas podem se reunir abertamente se quiserem. Não há prisioneiros políticos, não há assassinatos, não há terror. Quando todos os direitos dos cidadãos forem restaurados, e tivermos eleições, para que precisaremos de armas? Vamos depor o presidente com elas? Vamos montar organizações revolucionárias? Vamos ter gangsters?”

“Vamos praticar tiros diariamente nas ruas de Havana? Para quê precisamos de armas? O roubo de armas dos quartéis e sua posse é injustificável, porque aqui não é uma ditadura. Nunca usaremos a força, porque pertencemos ao povo. Mais ainda, no dia em que o povo não nos quiser mais, iremos embora. Tirarei todas as armas da rua o mais rápido possível. Não há mais inimigos. Não há mais nada para lutar contra, e, se algum dia, alguma potência estrangeira tentar atacar a Revolução, todos nós lutaremos. As armas pertencem aos quartéis e arsenais. Ninguém tem o direito de andar armado aqui. Nós cuidaremos da sua segurança.”

Nos meses seguintes, as perseguições e fuzilamentos se multiplicaram. A censura foi instituída. Cuba jamais teria outra eleição livre até os dias de hoje. Estima-se que o regime comunista cubano matou cerca de 40 mil pessoas. Mais de 100 mil morreram na tentativa de fugir para a Flórida. Os que conseguiram, criaram uma das mais vibrantes e bem sucedidas comunidades imigrantes dos EUA. Lá seriam verdadeiramente livres, inclusive para ter suas próprias armas.

Armas em Cuba só para o exército e as milícias comunistas. Ou para a exportação. O regime cubano apoiou maciçamente, com dinheiro e armas, movimentos terroristas latino-americanos e africanos, como em Angola e Moçambique. Che Guevara morreu na Bolívia, tentando criar uma nova revolução. Felizmente não foi bem sucedido. Aqui no Brasil, a história do envolvimento cubano é bem conhecida de parte da população. Fidel Castro, com o discurso cheio de ideias que hoje fariam a festa de qualquer amante do desarmamento, ainda está por aí, no comando da ilha prisão, assombrando todo o continente.

Fonte: Defesa.org

9 Comentários

  1. Enquanto isso na terrinha, o governo engana a povinho com aquelas propagandas do pai que atirou no filho no escuro pensando que era ladrão, do coleguinha que atirou no amigo por acidente com a arma do pai. E por aí vai. 0.00000000001% dos casos de morte por arma de fogo. Enquanto isso bandido manda e desmanda.
    Hoje um senhor de idade matou um vagabundo em São Paulo. O vagabundo estava assaltando a esposa dele que estava deixando o carro na manutenção na BMW. Com certeza alguém por aí vai dizer que ela merecia ser assaltada porque era rica, elite branca, e outras diarréias verbais iluminados da turminha aí de cima.
    Um bandido a menos. E se fosse sempre assim, haveria mais respeito pela propriedade alheia.

    • por LUCENA
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      É por isso que no céu, o paraíso celestial só tem socialista porquê São Pedro não permite que entre armado por lá … ordem do chefão; já no inferno … lá aceita todo tipo e se fô uma AR-15 nem precisa pedir licença para entrar … Hahahah … o que tem Capetalista de AR-15 por lá … Hahahah

      • Mas essa galera aqui está lá embaixo debatendo com os Capetelistas:
        Stalin, Che Guevara, Fidel (já reservou assento), Nikita, Ceausescu, Marighella, Olga Prestes, Prestes, a galerinha do Kmer Vermelho, o pessoal do VPR, do RAN e por aí vai.
        Bom que eles deixaram espaço para você lá no céu, mas você tem andar desarmado, heim.

      • por LUCENA
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        Sr.Melkor
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        Graças a D’us não precisos de armas, mesmo que também eu tenha sido uma vítima da insegurança pública.
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        Não ando,por uma questão política minha ( ideologia ), não seria coerente de minha parte sê contra o armamento e ter uma, com muita certeza neste quesito, estou preparado para me somar aos anjinhos no couro celestial … Hehehh

        Más não se preocupe, estarei no céu me lembrando de vocês, quando forem inquilino do capeta , eu ouvi no radio ( hahah .. ) que ele é péssimo senhorio … Hahahah … o rabudo é bom no gatilho … Hahhaah

    • lembrando amigo, o que os socialista/comunista iluminados diria quando uma assaltante queimou a vitima por falta de dinheiro ? essa raça maldita só sabe falar ‘justiça social’, ‘igualdade’, ‘sustentabilidade’ etc… tantas outras, são meros devaneio de loucos, acham que podem mudar o mundo do dia para noite.

      o comunista che falando

      https://www.youtube.com/watch?v=BE1IQaJb_Zc#t=31

      esse foi o desembargador que libertou a sininho e quadrilhas

      http://www.blogdosirodarlan.com/

  2. CORRIGINDO
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    É por isso que no céu, o paraíso celestial só tem socialista porque São Pedro não permite que entre armado por lá … ordem do chefão; já no inferno … lá aceita todo tipo e se fô uma AR-15 nem precisa pedir licença para entrar … Hahahah … o que tem ” Capetalista ” de AR-15 por lá … 😀 😀 😀
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  3. A verdadwe é q o BRASIL e um país de grandes poenciais, e temos de nos armar até os dentes, pq o n irmão caim do norte dá mostras de olhar p nós c interesses imperialistas, cito às declarações do ex presidente Algole e planos de intewrvenções armadas ,tanto p nos tamar a amazônia como p inteerferir aki dentro em n política interna,1964 c o aval de n militares, o q me preocupa sobremaneira..ñ temos armas de especie alguma p causar danos a poderosa FORÇA MILITAR dos iankss e seus capangas da UE, vide a situação da Argentina …MALVINAS..Temos de sair dessa passividade e implementar , ainda q c compras de prateleiras. Mais uns 12 subs,sendo 4 subs nucks, satélites geoestacionários, VLS, e uma FA capaz de causa danos reais aos n atacante(s)..ñ temos.Q pais é esse?!?! Srs.qdo a vítima está armada o predador(s ) dorme c fome e às x bem ferido…p ontem. Sds. 😀

  4. Essa série sobre o desarmamento poderia ser boa,se não fosse escrita de forma rocambolesca ,tipo folhetim,recheada de ideologia, muita coisa aqui escrita não pode ser comprovada !

    Coisas como, Ceausescu era um péssimo caçador, que Che Guevara tinha um diários onde meticulosamente descrevia supostas torturas que tem haver isso !

    Eu sou contra o desarmamento 1º porque acredito que em nosso país as pessoas devam arcar com suas responsabilidades,ou seja você quer ter uma arma ? é um direito seu mas lembre de seu dever com os demais !
    2º porque infelizmente o cidadão esta a merce do bandido, sem nenhuma ajuda por parte do Estado, que ao invés de apoiar o cidadão , o incentiva a não reagir !

  5. a historia já passou pelo japao e acho que vai chegar na Inglaterra

    o que temos que debater é que as armas com o controle tao elitizado que esta agora favorece sim a algum tipo infiltrado em nosso pais

    quem tem medo do povo aqui no brasil ??? que fizeram um certificado de registro tao oneroso e dificultoso

    acho que os partidos políticos brasileiros tem muito infiltrado e também muitos que querem derrubar uma lei que depois do voto de NAO ao desarmamento deveria ter sido revista na hora

    e não todo esse tempo de atraso

    então esse papo de quem foi pior em desarmar se foi esquerda ou direita capitalismo monarquia ou comunismo

    pouco interessa o que nos queremos é que acabe essa forma de elitização das armas que ocorreu de uma forma das mais ordinárias que se existe

    pois o povo votou NAO !!!

    vamos simplificar a forma do cr e além disso tirar o tanto de imposto que acabou com a profissão dos armeiros

    que muitos entraram para clandestinidade ,as armas estão tao onerosa que facilita o mercado negro

    o que essa lei ridícula do desarmamento fez foi ,deixar o mercado negro crescer em torno de armas

    e elitizou o direito a defesa do brasileiro

    cada um cada um se você não gosta não atrapalha quem gosta
    o direito de um termina quando começa o do outro

    essa lei foi para dar emprego para psicólogo e afins do meio pois agora tem ate despachante pois é complicado para não ser feito pelo governo

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