Bilionários russos temem isolamento por culpa de Putin

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Risco de sanções mais fortes e até de que o país se torne um ‘Estado pária’ assusta empresários

O Globo, 22/07/2014

por Henry MeyerIrina Reznik e Ilya Arkhipov / Da Bloomberg

NOVA YORK — Os empresários mais ricos da Rússia estão cada vez mais desesperados com as políticas do presidente Vladimir Putin na Ucrânia, que podem levar a sanções paralisantes — e temem tanto as represálias que evitam se posicionar publicamente, segundo analistas. Se Putin não se mexer para acabar com a guerra no país vizinho, que se agravou com a derrubada, na semana passada, de um jato da Malaysia Airlines em território controlado pelos rebeldes, corre o risco de se tornar um pária internacional como o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, a quem os EUA notoriamente rotulam como o último ditador da Europa.

— O que está acontecendo é ruim para os negócios e para a Rússia — disse um bilionário local, sob condição de anonimato.

— A elite econômica e empresarial está simplesmente aterrorizada — afirmou Igor Bunin, que dirige o Centro de Tecnologia da Política em Moscou, lembrando que ninguém irá publicamente confirmar isso, temendo a ameaça implícita de represálias. — Qualquer sinal de rebelião e eles estarão de joelhos.

A derrubada da aeronave comercial que saía da Malásia, e matou 298 pessoas, levou a renovadas ameaças de sanções mais profundas por parte dos EUA e da União Europeia — que já haviam sancionado cidadãos e empresas russas, considerados cúmplices na insurgência pró-Rússia na Ucrânia. Recentemente, o Reino Unido acusou Putin de “patrocinar o terrorismo”.

— Marcar a Rússia, como o Irã ou a Líbia de Muammar Kadafi, como um “estado patrocinador do terrorismo”, como o ministro da Defesa britânico sugeriu, seria uma grande jogada que teria um impacto muito significativo sobre a Rússia e as empresas que lidam com o país — afirmou Timothy Ash, economista de mercados emergentes do Standard Bank Plc em Londres.

De acordo com o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, no entanto, a Rússia não está preocupada com a possibilidade de ser rotulada assim.

PRECEDENTE LÍBIO

Em 1988, o atentado contra o voo da Pan Am Flight 103 sobre Lockerbie, na Escócia, que matou 270 pessoas e foi atribuído a Líbia, foi uma das causas que levaram a sanções internacionais nos anos de 1980 e 1990, consolidando o status da Líbia como um pária até o final do século.

Embora a UE tenha até agora imposto medidas menos severas contra a Rússia do que os Estados Unidos — por causa da oposição de países como a Itália e a Áustria —, Reino Unido e Holanda lideram a pressão por punições mais ousadas em uma recente reunião de ministros das Relações Exteriores. A maioria das vítimas a bordo do avião, 193, eram holandeses; dez eram britânicos.

E em meio à turbulência do mercado provocada pelo conflito, os 19 russos mais ricos perderam US$ 14,5 milhões desde o início do ano, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg — em comparação a um aumento de US$ 56,5 milhões entre os 64 americanos mais ricos.

— A Rússia corre o risco de se tornar um Estado pária, se não se comportar adequadamente — disse o ministro do Exterior britânico, Philip Hammond, ao Sky News, no fim de semana. — Precisamos agora usar o sentimento de indignação que está claro para obter uma nova rodada de sanções contra Moscou.

Punições adicionais dos EUA podem ser impostas nas próximas semanas, com sanções prováveis em toda a indústria em setembro, caso os investigadores comprovem que os rebeldes realizaram o ataque. A Europa, no entanto, tomaria medidas menos amplas, já que tem laços comerciais mais estreitos com a Rússia, de acordo com o Eurasia Group, empresa de pesquisa e consultoria com sede em Nova York.

— A ameaça de sanções contra setores inteiros da economia é agora muito real e há motivos sérios para que os empresários tenham medo — afirmou Mikhail Kasyanov, primeiro-ministro da Rússia durante o primeiro mandato de Putin, de 2000 a 2004. — Se houver sanções contra todo o setor financeiro, a economia entrará em colapso em seis meses.

Andrey Kostin, chefe do credor estatal VTB Group, sinalizou na semana passada que as sanções já em vigor podem prejudicar a economia russa em US$ 2 trilhões. Apesar de toda a pressão econômica, Putin, que negou repetidamente armar os separatistas na Ucrânia, não vai recuar, porque está determinado a resistir à ingerência dos EUA e Europa, de acordo com um estudo do Eurasia Group.

“Ele ainda verá a influência russa sobre o Leste da Ucrânia e um veto russo em relação à adesão da Ucrânia à Otan como interesses nacionais russos vitais. A ajuda militar aos rebeldes vai continuar”, diz.

Fonte: O Globo 2ª Edição, Mundo, Página 27, Terça-Feira, 22/07/2014

15 Comentários

    • por LUCENA
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      ” ( … ) A elite econômica e empresarial está simplesmente aterrorizada ( … ) ”
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      Como se chama ” elite coxinha ” em russo … 😀
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      Até pare com certo pais, bom de se viver más tem uma casta que na hora do pega para capa …vai roe a corda e vender o país para aquele que dê mais.
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      Enquanto hover esse tipo de gente que simplesmente só pensa no país para enrriquecer em cima da exploração nascional e não pensa na sua comunidade, será sempre um país colônia,daquela nasção onde a sua elite é consciênte do seu papel na nação a qual ela pertence.
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      Más, o quê se pode esperar de uma elite que tem complexo de vira-lata e que não acredita no potencial da sua nação e do seu povo ? … só sabem explorar e se nutrir das riquezas da nação ! 😉

    • Merece matéria rebatendo… acho que não né! Afinal é O Globo os mesmo do “não vai ter copa” não vai ter cozinha, não vai ter banheiro, não vai….

  1. Falando dos bilionários pós-União Soviética, veja o link abaixo que mostra o crescimento da Rússia desde que abandonou a idade da pedra e migrou para a economia de mercado.
    http://en.wikipedia.org/wiki/File:Russian_economy_since_fall_of_Soviet_Union.PNG
    Entre 2000-2009 a economia russa cresceu em média 7% ao ano.
    O salário médio de um russo era de 80 dólares em 2000 e fechou na média de 967 em Dezembro de 2013. Espantoso.
    Tem muito político na américa latina que se inspira em livros produzidos na Rússia do século 19/20. Eles deveriam ler os livros mais modernos. 🙂

    • É ai que mora a questao caro Melkor, as pessoas acreditam neses conto de papai noel de que a Russia é farsa, quando na vdd os indices de crescimento economico, o IDH entre outros indicadores, demonstram que a Russia é um pais serio, que cresce.
      Podem ter sim pessoas que temam novas represalias, normal, mas acredito que Putin não é burro, ele sabe jogar muito este jogo, e ate agora tem dado uma surra no Obama, a questao é esperarmos a conclusão dos dados da queda do avião e entao muita coisa mudará, se foram os pro Russia sabemos qhe a Russia tirará seu apoio aos mesmos, e se foi a Ucrania, os EUA E UE tirarão o dedo da historia pra nao feder pro lado deles, enquanto isso tomamos nosso café e observamos o desdobramento desse embate fascinante. Sds

  2. Acredito que já vi essa notícia num evento histórico uns 2.000 anos atrás… tinha um cara lutando pra melhorar a situação… começaram as sansões… depois convenceram todos que o CULPADO pelo APERTO era ele… e o próprio POVO mandeu ele pra cruz! História bem interessante, por sinal!

    • O Putin não esta fazendo nada p/ bem dos russos, só p/ ego dele. Jogou a Ucrânia no colo da Europa, vai unir o ocidente todo contra a Rússia numa nova guerra fria, com a qual a Rússia não tem dinheiro p/ bancar, breve breve o Kremlin atendera em outro endereço, Pequim.

      • Rogério, eu tenho que discordar.

        A única opção que resta à situação atual é ceder às sugestões americanas, e isso seria como que decretar que a Rússia é moribunda e subserviente à única nação capaz de POLICIAR o planeta, os EUA.

        A Ucrânia foi humilhada e pisoteada durante a vigência da URSS, e é óbvio que, ao se ver livre desses grilhões, iria procurar outras relações políticas que não com seus antigos “parceiros”, por assim dizer. O mesmo fizeram todas as colônias ao se libertar de seus colonizadores.

        O fato é que não há solução fácil no atual contexto mundial… mas Rússia e China estão formando um bloco de ajuda mútua que irão se sustentar por muitos anos ainda… e o BRICS traz países emergentes de peso para esse grupo comercial, ou seja, a HEGEMONIA americana acabou… eles ainda têm muita influência no mundo… mas a subserviência absoluta devido às possíveis sansões, limitando acesso à remédios, processadores, etc, etc, tende a diminuir e muito… chineses e indianos têm fortíssima indústria farmacêutica… países asiáticos e europeus tendem a reafirmar sua soberania, e provavelmente irão suprir a demanda de países “sancionados” com muito prazer!

        Na minha opinião Putin tem sido um líder exemplar, enquanto que a contraparte ocidental mostra agora que apesar da pompa e circunstância, inclusive com um “Prêmio Nobel da Paz” logo após a eleição, vive de muita propaganda, arrogância e intrigas… mas agora com tantas “mídias sociais” isso se tornou muito, mas muito mais difícil!

      • A China só esta com essa pujança toda graças ao mercado americano, ela jamais os americanos pelos BRICS, mas aguarde o Tempo, esse sim Senhor da Razão.

      • É o mais provável… desconfiei desde o princípio que eles tinham engolido a isca com anzol e tudo…

  3. Será? Ou como sempre isso é mais vontade da corporação dos empresários ocidentais, principalmente brasileiros, que costumam medir o sentimento civico de empresarios de paises que sequer conhecem profundamente com as próprias réguas.

  4. lendo essa matéria aqui me dei conta de que é bem capaz de que aqueles pronunciamentos petralhas em relação a ofensiva Judia tiveram outras intenções..apoio político e ideológico aos árabes e muçulmano..por questões comerciais ou interesses maiores..o oriente médio é um grande mercado consumidor nosso…..um mercado consumidor promissor e visado….alianças e parcerias se fazem por lá..

  5. A fonte é a Bloomberg e é claro que não poderíamos esperar coisa diferente.
    Pode ser que empresários estejam perdendo dinheiro mas é inimaginável que Putin desse Sevastopol de mão beijada para OTAN, ao contrário daqui tais atos de lesa à pátria não são tolerados nem pelo povo e nem pelos militares. Há muitos aspectos dessa crise ucraniana que a mídia não levanta e como bem sabemos eles só reescrevem o que o patrão manda.

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