Banco Mundial admite que manipulou dados sobre o Chile contra o Governo de Bachelet

O economista-chefe do organismo, Paul Romer, pede desculpa ao país pelas manipulações num ranking de competitividade, que teriam motivação política.

Michelle Bachelet, em seu último discurso de prestação de contas públicas diante do Congresso / RODRIGO GARRIDO – REUTERS

ROCÍO MONTES

A edição do The Wall Street Journal (WSJ) deste sábado, 13 de janeiro, causou um profundo impacto no mundo da política e da economia chilenas. O economia-chefe do Banco Mundial, Paul Romer, reconheceu ao jornal que o organismo financeiro, oficialmente subordinado às Nações Unidas, alterou seu ranking de competitividade empresarial e prejudicou o Chile – e, mais especificamente, Michelle Bachelet. Trata-se do relatório Doing Business, em que a posição do Chile caiu constantemente durante o mandato da socialista (2006-2010), subiu no Governo de direita de Sebastián Piñera (2010-2014) e voltou a cair quando a médica assumiu um novo mandato (2014-2018). Nesses 12 anos, o Chile flutuou entre o posto 25 e o 57.

As variações teriam ocorrido “por motivações políticas”, segundo as palavras de Romer ao WSJ. “Quero pedir desculpas pessoalmente ao Chile e a qualquer outro país ao qual possamos ter transmitido uma impressão errada”, afirmou o economista.

A presidenta Bachelet, que termina o segundo mandato em março, reagiu imediatamente através do Twitter. “Muito preocupante o que ocorreu com o ranking de competitividade do Banco Mundial. Além do impacto negativo da posição do Chile, a alteração prejudica a credibilidade de uma instituição que deve contar com a confiança da comunidade internacional”, escreveu a socialista.

“Dada a gravidade do ocorrido, como Governo pediremos formalmente ao Banco Mundial uma completa investigação. Os rankings que as instituições internacionais administram devem ser confiáveis, já que têm impacto no investimento e no desenvolvimento dos países”, afirmou Bachelet, que integra o Sistema das Nações Unidas. Entre 2010 e 2013, ela liderou a ONU Mulheres em Nova York e, a partir de junho, encabeçará o programa Aliança para a Saúde da Mãe, do Recém-Nascido e da Criança, da Organização Mundial da Saúde (OMS), no lugar de Graça Machel, viúva de Nelson Mandela. Além disso, soube-se há alguns meses que participará de um novo organismo mediador de conflitos internacionais da ONU, ao qual foi convocada pelo secretário-geral da organização, António Guterres.

O economista-chefe do Banco Mundial disse que os índices de competitividade chilenos serão corrigidos e recalculados. Nos últimos quatro anos, por exemplo, a queda do Chile foi provocada, quase em sua totalidade, pela alteração da metodologia de análise, não por mudanças nas medidas permanentes do ambiente comercial do país. “Com base nas coisas que estávamos medindo antes, as condições comerciais não pioraram no Chile sob a administração de Bachelet”, completou Romer.

O ministro chileno da Economia, Jorge Rodríguez, declarou que a alteração do ranking “é de uma imoralidade poucas vezes vista”. “É um escândalo de grandes proporções, pois o que indica é que teria sido manipulado pelo economista encarregado de sua elaboração (Augusto López-Claros), para que fosse vista uma piora econômica durante o Governo da presidenta Michelle Bachelet, com intenções basicamente políticas”.

Após a entrevista de Romer ao WSJ, o Banco Mundial anunciou em nota que realizará uma investigação para esclarecer os fatos. “Em razão das preocupações e de nosso compromisso com a integridade e a transparência, realizaremos uma revisão externa dos indicadores correspondentes ao Chile no relatório Doing Business.” O organismo, porém, defendeu a imparcialidade da classificação em seus 15 anos de existência, definindo-a como “uma ferramenta inestimável para os países que buscam melhorar seu clima de negócios, acompanhando milhares de reformas”.

López-Claros, o especialista do Banco Mundial acusado de manipular os dados de competitividade do Chile, disse num e-mail à Bloomberg que as acusações de manipulação política “não têm nenhum fundamento” e que a mudança metodológica foi “totalmente justificada e transparente”.

O segundo Governo de Bachelet foi marcado por transformações estruturais e por um crescimento econômico discreto, de 1,8% em média. Seus críticos acusam a socialista de gerar instabilidade com reformas mal implementadas, como a tributária, e de deixar de lado o crescimento econômico, uma das bandeiras com as quais Piñera foi eleito para o período 2018-2022.

Fonte: El País

 

4 Comentários

  1. Complicado viu….
    O Poder econômico é mesmo aquilo que move os interesses no planeta

    Não deveria ser…. mas é !!

  2. Isso não é nenhuma novidade, o Brasil mesmo vive sendo afetado por essas palhaçadas anti-éticas por parte de diversas instituições e afins, hoje em dia esse tipo de manipulação absurda pode ser vista até mesmo em premiações como o Nobel (não é mesmo Obama?), e é por isso que sempre deve-se estar com os dois pés atrás quando se lê qualquer tipo de informação fornecida por essa gentalha.

  3. A quantos anos combato Prêmio Nobel , ONGs , Ambientalismo e Grupos que dão notas Mais ou Menos a Nossa Economia , tudo isto funciona para a Manipulação de Nossos Interesses Nacionais , Políticos e de Soberania , mas nada por parte do Estado brasileiro acontece em favor de nossos interesses , ONGs então Mentem , Forjam Fotos e Noticiário usando a Imprensa Venal e Comprometida brasileira , conhecida por todos , mas não há Reação do Estado brasileiro .

    • Poxa,eu gostaria de saber mas sobre esses assuntos.
      Tem como o Senhor entrar em contato comigo por email ou whats zap?
      Eu estou sempre assistindo matérias de pessoas que também trabalham combatendo essas coisas que é encoberta à bois.
      zaqueuoliveira.jms@gmail.com

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