Alta recorde do dólar é ameaça à recuperação industrial dos EUA

O fortalecimento do dólar ressurge como uma ameaça para o setor manufatureiro americano, colocando em risco os lucros obtidos no exterior por empresas exportadoras e complicando as promessas do presidente eleito Donald Trump de sustentar o emprego industrial.

O dólar, que se valorizou fortemente nos últimos dois anos, atingiu o nível mais alto em 14 anos após a eleição de Trump e a decisão recente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de aumentar a taxa básica de juros.

É certo que o fortalecimento do dólar sinaliza um otimismo cada vez maior com relação à economia americana num momento em que o mercado de ações também atinge novos recordes. Perspectivas de inflação mais alta e elevação das taxas de juros incentivam o investimento em ativos do país, refletindo a crescente esperança do investidor de obter melhores retornos.

Um dólar mais forte aumenta o poder de compra dos americanos. Se as importações são mais baratas, os consumidores do país têm mais dinheiro disponível para gastar. Isso, por sua vez, poderia impulsionar as vendas no varejo, um fator-chave para o crescimento econômico, e geraria mais confiança nos EUA em geral.

Mas, embora seja positivo para os consumidores e empresas dos EUA que compram matéria-prima e peças no exterior, a alta do dólar ameaça os fabricantes americanos que dependem das vendas no exterior. Muitas multinacionais começaram a reduzir suas previsões de receita e buscar formas de cortar os custos. A 3M Co. e a United Technologies Corp. indicaram que o dólar forte pode dificultar um aumento das vendas em 2017.

Algumas concessionárias das motocicletas Harley-Davidson Inc. e das escavadeiras da Caterpillar Inc. estão se preparando para o risco de que seus rivais japoneses tirem proveito da queda do iene contra o dólar e ofereçam preços mais baixos. A Caterpillar informou que o iene fraco intensificou a concorrência. A Harley não quis comentar.

Vários líderes empresariais disseram ao The Wall Street Journal que as promessas de Trump de promover os negócios do país iriam mais que compensar os efeitos de um dólar mais forte, especialmente se os impostos e o peso da regulação forem aliviados. Eles esperam que o plano de Trump de reformar a infraestrutura impulsione o crescimento econômico e que um aumento nas vendas no mercado interno possa compensar qualquer queda nas exportações.

“Não estou em pânico em relação ao dólar”, diz Mike Haberman, diretor-superintende da fabricante de equipamentos de construção Gradall Industries Inc., de Ohio, que exporta cerca de 20% de seus produtos.

Jerry Johnson, presidente da divisão agrícola da Blount International Inc., fabricante de produtos para o campo do Oregon, diz que o dólar forte pode ser compensado pela queda nos preços de importação. Cerca de 50% dos componentes usados pela Blount vêm do exterior.

O dólar tem se mantido relativamente fraco em relação à maioria das principais moedas do mundo ao longo dos últimos dez anos. Isso ajudou as exportações dos EUA a crescerem rapidamente após a crise financeira.

No fim de 2010, as exportações atingiram níveis recorde e continuaram aumentando, chegando a US$ 598 bilhões por trimestre em 2014. O emprego na indústria manufatureira começou a se recuperar e acreditava-se que os EUA podiam estar iniciando um renascimento industrial.

Desde então, o dólar subiu fortemente contra moedas como o iene e o euro. Enquanto isso, a libra britânica caiu na esteira da votação de junho em que os eleitores do Reino Unido optaram por sair da União Europeia. No início deste mês, o Fed subiu os juros e sugeriu que haverá mais aperto monetário em 2017.

O índice do dólar do WSJ, que compara a moeda americana com outras 16, atingiu o maior nível em 14 anos na semana passada. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA também tem subido devido a expectativas de maior crescimento e de inflação durante o governo Trump, mas a alta do dólar poderia prejudicar o plano do presidente eleito ao elevar o valor das exportações e tornar as importações mais baratas. A equipe de transição de Trump não respondeu a um pedido de comentário.

Para algumas empresas, um dólar mais forte provavelmente irá limitar o interesse na expansão da manufatura doméstica.

O yuan caiu para seu nível mais baixo em relação ao dólar em oito anos, o que poderia incentivar os fabricantes a manter suas fábricas na China em vez de repatriá-las para os EUA.

O peso mexicano, por sua vez, acumula queda de 13% em relação ao dólar desde as eleições americanas, ampliando a tentação de levar as fábricas para o outro lado da fronteira, apesar das promessas de Trump de punir empresas que levarem empregos para o exterior.

A Boeing Co., maior empresa exportadora dos EUA, citou na semana passada “menos oportunidades de vendas e uma concorrência feroz” ao anunciar que fará novas demissões em sua divisão de aviões comerciais em 2017. Este ano, ela reduziu sua força de trabalho em 8%.

A Boeing não mencionou especificamente as flutuações do câmbio, mas a alta do dólar tem ajudado sua rival Airbus Group SE, que por anos sofreu os efeitos de um euro valorizado. A Boeing não quis comentar e um porta-voz da Airbus disse que os bons ventos oferecidos pelo dólar forte são muito limitados, já que 40% dos componentes de seus aviões vêm dos EUA.

Vários fabricantes já estão reduzindo sua força de trabalho. Entre janeiro de 2015 e novembro deste ano, foram eliminados 51 mil empregos na indústria, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.

Ben Herzon, economista sênior da consultoria Macroeconomic Advisers, realizou uma simulação para o WSJ para mostrar o impacto de um aumento adicional de 10% no valor do dólar sobre a economia dos EUA.

Ao longo dos próximos três anos, as empresas gradualmente se ajustariam através de, entre outras coisas, um aumento da capacidade em fábricas no exterior e uma redução da fabricação nos EUA, modificando sua cadeia de abastecimento ou ampliando o uso de automação.

Num cenário em que o dólar não fique ainda mais forte, o produto interno bruto real registraria uma alta cumulativa de 6,3% nos próximos três anos. Se o dólar subir outros 10%, o crescimento do PIB seria 1,8 ponto percentual mais baixo, ou seja, 4,5% no acumulado, de acordo com a simulação da Macroeconomic Advisers.

O efeito negativo de um aumento de 10% no valor do dólar seria especialmente concentrado no setor manufatureiro dos EUA. A produção industrial seria 3,6 pontos percentuais mais baixa, as importações reais seriam 3,6 pontos percentuais mais elevadas e as exportações reais dos EUA para o resto do mundo cairiam 6,2 pontos percentuais.

Inicialmente, os consumidores se beneficiariam ao pagar menos pelos bens importados. “É bom para os consumidores, desde que continuem tendo empregos”, diz Herzon. Com o tempo, esse benefício também será reduzido pelas inevitáveis perdas de emprego no setor manufatureiro, alerta.

Andrew Tangel / Josh Zumbrun

Bob Tita

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: WSJ

 

4 Comentários

  1. O dolar esta subindo porque as moedas do resto do mundo estao afundando. A politica financeira do FED. de expandir a impressao do dolar, Quantity Easy, e a causa principal da destruicao da economia mundial. O que esta ocorrendo e que todo mundo que tem dinheiro ao ve-lo despencar procura refugio na moeda de reserva internacional e isso faz agravar a crise no resto do mundo ao memo tempo que faz as mercadorias produzidas nos EUA muito cara para serem exportadas. O que esta ocorrendo e o dolar subindo, subindo que nem um balao que sobe ate desaparecer na estratosfera. O dolar vai subir tanto que vai matar as moedas do resto do mundo, que serao forcados a procurarem moedas de reserva internacional alternativa, que so pode ser o Ouro e a Prata…

    • Não eram vcs que a alguns meses vinham profetisando que o dolar iria desaparecer porque os brics iriam acabar com a moeda americana num estalar de dedos ?… já mudaram de discurso ?… ou foi a realidade que bateu a porta e não pode ser contestada… 🙂

  2. Tá cheirando a retaliação do FED… tão com medo do TRUMP devolver ao povo americano o poder de imprimir seu próprio dinheiro… já pensaram… ai que ninguém segura o poderio do povo americano… em 2018 é a nossa vez de cairmos fora definitivamente da esquerda… ACORDA POVO MEU… não continuem no mesmismo… é hora de mudar a agenda politica atual por uma patriota e conservadora como os americanos fizeram e irão se dar bem…

    • Luis a nova reincarnacao do Old Blue Eyes esqueceu que se eu nao tivesse ido nas encruzas nao sei quantas vezes rezando o credo de tras para frente, oferecendo galinha preta assada com oleo de dende para o Pemba e para o Seu Sete Espada o Trump com toda a Familia Gambino e a Familia Genovese atras dele nao teria ganhado essa eleicao nao. Desculpa ai, mas fato e fato.

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