A revolução foi pior para Líbia do que Gaddafi

James Robbins

Quando a cura é pior que a doença? Esta é uma pergunta sem resposta, mas quando se trata da Líbia pós-revolução, é uma questão a ser analisada. A doença era a tirania brutal de Gaddafi. A cura foi uma revolução apoiada por ataques aéreos internacionais, sucedida por um Estado fracassado que se tornou um campo para extremistas islâmicos.

Diplomatas tendem a ser otimistas profissionais. A maioria acredita que é possível chegar-se a um bom resultado em quase qualquer crise –pelo menos na teoria. Mas conversar sobre o colapso da Líbia é um teste duro para o sangue frio que eles costumam ter.

Sempre que, por exemplo, há algum pequeno sinal de progresso em meio a um aparente desastre, diplomatas britânicos costumam falar em “progresso na direção certa”. Mas ninguém usa essa frase sobre a Líbia atual.

Em vez disso, os conselhos de viagem emitidos pela chancelaria britânica não deixam espaço para dúvidas. “Desaconselha-se qualquer viagem à Líbia devidos aos combates e a grande instabilidade no país”.

“Cidadãos britânicos na Líbia são instados a deixar imediatamente (o país) por meios comerciais. A embaixada britânica em Trípoli foi fechada temporariamente e não é possível prestar assistência consular”.

O alerta foi seguido pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas esta semana, ao anunciar sanções contra dois grupos islâmicos líbios acusados de terem ligações com o grupo Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. O governo britânico não chega a dizer que a Líbia está em colapso total mas analistas são mais diretos.

Forças rebeldes

O grupo de estudos Menas aponta para a decisão extraordinária da Suprema Corte da Líbia que considerou a Câmara dos Deputados do país inconstitucional. “Esta decisão foi especialmente chocante para a Câmara”, disse o Menas, “já que a decisão do tribunal era sobre se a realização de suas sessões (na cidade de) Tobruk era legal ou não.

“Por isso, a decisão de que a própria existência da Câmara (ao invés apenas sobre a sua localização) é ilegal foi um grande golpe contra o Parlamento. O tribunal também determinou que sua decisão não pode ser apelada e que todas as decisões tomadas pela Câmara deveriam ser consideradas nulas e sem efeito”.

Então, o que aconteceu com o país “libertado” em 2011 de décadas de ditadura Gaddafi? Ocorreu-se o colapso – previsto por muitos especialistas – de uma frágil aliança de conveniência entre os rebeldes.

Em junho de 2014, a Líbia realizou sua segunda eleição nacional desde a derrubada de Gaddafi. Mas poucos meses depois de ser eleito, o novo Parlamento foi forçado a deixar a capital, Tripoli, expulso por islamistas e milícias tribais em um país fragmentado e excessivamente armado.

A Câmara dos Deputados foi forçada a um exílio interno, reunindo-se na cidade de Tobruk, perto da fronteira leste da Líbia. Os islamitas têm a sua própria legislatura alternativa em Trípoli, o Conselho Nacional Geral.

Analistas apontam que, além do efeito desastroso desta ruptura interna, a guerra civil é um golpe fatal nas perspectivas de investimento estrangeiro, vitais para a Líbia. Quem deve negociar com os investidores? Há qualquer lugar do país que seja seguro para eles investirem?

Luz no fim do túnel?

Há alguma esperança de uma cura para a Líbia? Os Estados Unidos foram forçados a deixar o país. A embaixada americana agora tem sede em Malta, despojada da maior parte de sua influência. Diplomatas britânicos trabalham na embaixada em Túnis.

A ONU está tentando atuar como mediadora entre as facções rivais mas, até agora, sem sucesso – o que não é totalmente surpreendente já que acredita-se haver mais de 1.700 diferentes grupos espalhados por todo o país brigando por poder.

A inteligência ocidental tende a confirmar a crescente infiltração de extremistas islâmicos, o surgimento de grupos ativamente envolvidos com o grupo ‘Estado Islâmico’ ou pelo menos simpáticos à ideia de um califado conquistar o que for possível no Norte da África e o Oriente Médio.

A Líbia pode tornar a situação grotesca na Síria parecer relativamente simples. Mas nada disso equivale a dizer que a Líbia era melhor sob Gaddafi. Foi o controle absoluto, disfarçado de ideologia, imposto por ele e sua família que destruiu qualquer fundação de um governo representativo.

Gaddafi foi uma doença terrível. E a cura ainda não foi encontrada.

BBC Brasil

Fonte: UOL

 

 

14 Comentários

  1. Que me perdoe o meu caro Deagol, mas esse é uma constatação tão previsivel que chega dar nojo dos donos do mundo, que sei que ele admira, que acham que podem reconstrui-los a sua imagem e semelhança, para lucrar com isso.

      • Sou sincero quando digo que acredito em você quando diz isso meu caro, ainda assim acho que você exagera seguidamente na admiração, como você mesmo já reconheceu algumas vezes. Abraço.

      • Caro Júlio,

        Considero que americanos, soviéticos e nazistas são criminosos iguais.
        Todos mataram e torturaram milhões seguindo seus próprios interesses e não cabe entrar no mérito de quem cometeu mais crimes.
        Até porque não tenho conhecimento para sustentar uma escolha.

        Não critico mais os Estados Unidos porque já vejo radicalismos suficientes e não quero alimentar os fanáticos.

        Prefiro me manter nas discussões sobre tecnologia onde a maior parte das afirmações que faço podem ser confirmadas com um pouco de pesquisa.

        Abraço.

  2. Libia, segundo dados do proprio Fundo Monetario Internacional, era o pais africano e o pais arabe, onde a populacao mantinha o maior padrao de vida economico. Entre os paises mulssumano, o pais onde as mulheres tinham direitos que mais aproximavam os direitos dos homens. Agora,as mulheres voltaram para cozinha e quarto, os homens readquiriram o direito de chicotera-las conformes suas vontades, e o padrao de nivel da populacao caiu ao nivel do padrao de vida do resto da Africa e dos paises arabes. .BBC nao pode admitir essa verdade, porque ela, esse centro de pedofilos e tarados, foi responsavel, como parte do servico de propaganda do governo britanico, de propagar desinformacoes e mentiras que os imperialistas usaram para justificar a guerra contra Quadafi.

    • Não duvide, meu caro, se por tras da criação deste EI pelos States, não exista o interesse de destruirem o proprio estado e realeza saudita, com uma nova engenharia chamada califado, feita de teleguiados fantoches, coisa que os Sauditas, apesar de parceiros, são tambem pouco confiaveis, e responsáveis por boa parte da criação e financiamento de outro tipo de terrorristas, os que servem aos interresses deles,,portanto independentes do serviço aos States.

    • BBC centro de pedofilos e tarados, Wall Street centro dos satanistas, Sionistas são Judeus trotskistas vira casacas….Quanta imaginação essa extrema direita dos sagrados Jim Willie e Paul Craig Roberts tem não é?…rs!

      Agora na hora de estocar armas, formar milícias, destilar ódio na internet essa turma é tão previsível….

      E eu que achei que o máximo de bizarrice dessa galera fosse o que rolou no Ramo Davidiano…..

  3. Para os árabes muçulmanos o regime democrático à moda ocidental, raramente funciona, se é que funcionou alguma vez…Neste sentido, o “ditador” Gadafi jamais foi (como diz a BBC) uma “doença” para a Líbia, pelo contrário:

    Ele unificou as diversas tribos líbias sob sua liderança, foi um remédio, uma cura que infelizmente foi destruída pela intervenção da OTAN em 2011, que no lugar do “remédio Gadafi”, inoculou o veneno do radicalismo muçulmano e ‘milicianismo’ sectário em todo o país…

    A moderna Líbia tornou-se “independente” em 1951, más sob a regência do “Rei Idris I”, fantoche colocado no poder pelo Reino Unido e EUA…A Líbia não passava de uma ditadura e protetorado miserável com bases militares britânicas e estadunidenses.

    O coronel Gadafi tomou o poder com um golpe em 1969 e expulsou os militares do EUA e RU, coisa pelo qual nunca foi perdoado, Gadafi foi muito mais do que um ditador, ele foi o líder fundador de uma efêmera Líbia independente e socialmente desenvolvida, que desapareceu com ele…

    Ele era tão querido e respeitado pela grande maioria do povo líbio, que por medo de cultos a sua personalidade em seu túmulo, tiveram que dar um sumiço no seu corpo. Comparar com o faraônico ‘Valle de los Caídos’, onde estão os restos mortais de Franco, o ditador espanhol!

    • Kadafi foi também um criminoso apoiador de terroristas. Foi através do malote diplomático da embaixada líbia na Alemanha que entraram as armas usadas pelo Setembro Negro no atentado contra a delegação israelense na Olimpíada de Munique (sob a ótica de alguns hipócritas um “ato legítimo de resistência” ) sem falar nos atentados de Lockerbie e contra um DC-10 da UTA. Ademais apoiava todo e qualquer terrorista, dos irlandeses do IRA aos narcoterroristas das FARCS. Como se vê, ele foi fazendo (muitos e poderosos) inimigos ao longo de sua jornada.

      • EU disse alguma mentira? Óbvio que não! Inclusive as acusações contra Kadafi foram já exautivamente provadas inclusive em processo judiciais. Inclusive o próprio ex-ditador líbio indenizou as famílias da vítimas dos atentados de Lockerbie e do DC-10 da UTA. Maior admissão de culpa do que essa impossível. E tampouco entrei em contradição com os argumentos do Alvez posto que usei a palavra “também”.

        Como se vê meu caro Julio, cada vez mais resta claro que você tem algum problema de leitura, compreensão e interpretação de texto. Será que é culpa do PRONATEC?..rs!

      • Rsrsrs, minha cara, vou tentar esclarecer o motivo do meu sarcasmo, mas não se irrite, rsrsrs, para que não reste duvidas. Acho muito interessante você fazendo juízo de valor sobre o Gaddafi, mas teima em não reconhecer os crimes do estado sionista, inclusive já condenado pela ONU e, lógico, ignorado, http://internacional.estadao.com.br/noticias/oriente-medio,israel-diz-que-condenacao-da-onu-a-ataque-e-hipocrita,559862
        a mesma coisa também decorre da sua recusa em aceitar as criticas ao cada vez mais claro terrorismo Yanke, como apareceu aqui no blog. Não neguei em nenhum momento o mal que significou a existência do Gaddafi (para o ocidente), mas apenas para a visão do ocidente, para seu país ele foi um mal, que se vê hoje, inclusive cada vez mais reconhecido pelo próprio ocidente, como, necessário. Rsrsrsrs. Sds.

  4. No Iraque , mais de 1 milhão de mortos, feridos e deslocados de seus lares.

    Na Líbia, mais de 200.000 mortos pela “intervenção humanitária”, enormes prejuízos pela infraestrutura destruída. contaminação do meio ambiente destes países “ajudados”, pelo uso de munição com ‘urânio empobrecido'(‘DU’- vide os efeitos genéticos terríveis no bebês nascidos em Fallujah)
    .
    Em Israel milhares de palestinos mortos pela repressão militar israelense, como por exemplo, na “Operação Chumbo derretido”, realizada na virada de 2008 para 2009, resultou na na morte 1.400 palestinos, morreram, entre eles 300 crianças, mais de 115 mulheres. Em 2014, outra operação israelense similir de “aparar a grama”, massacrou mais 2.500 palestinos …
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    Perto de criminosos de guerra como Bush, Obama ,Toni Blair, Binyamin Netanyahu, Sarkozy , Cameron…e outros genocidas, Kadafi é um “anjinho” !

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