A população do Rio merece ter paz

Há filmes em que as pessoas torcem pelo bandido. No Brasil, isso ocorre na vida real, como se os bandidos fossem as verdadeiras vítimas.

 

A Câmara dos Deputados e o Senado confirmaram a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. O decreto assinado pelo presidente Michel Temer teve 340 votos favoráveis e 72 contrários na Câmara, e 55 a 13 no Senado. O Exército irá assumir a segurança pública do estado, com responsabilidade sobre as polícias, os bombeiros e a área de inteligência, inclusive com poder de prisão de seus membros. O interventor será o general Walter Braga Netto. Ele, na prática, vai substituir o governador do Rio na área de segurança pública.

No momento em que a temática da segurança pública começou a ser pauta prioritária nos discursos de políticos, especialistas e da imprensa, houve um primeiro ensaio de emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio. Desde essa época, por volta de 2010, essa já parecia ser a única alternativa possível no combate às facções criminosas ligadas ao narcotráfico e a outras atividades criminosas. Sem apoio dos órgãos policiais, que boicotavam sistematicamente a iniciativa do governo federal ao considerá-la uma intromissão, optou-se agora pela intervenção propriamente dita, quando há subordinação de todos os que atuam na segurança pública aos militares. A própria Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro mantinha uma colaboração pífia, motivo de muitas reclamações dos responsáveis pela GLO.

Será que pode ser falso o motivo para intervir em uma cidade que tem um aplicativo para avisar sobre tiroteios?

A opinião pública, cansada da insegurança, do medo e de levar a culpa pelo fracasso do atual modelo de segurança, se mostra favorável à medida. Os cidadãos não suportam mais conviver com tiroteios, assaltos e mortes por motivos torpes. Não há respeito nem pelos muito idosos, pelas mulheres grávidas, pelas crianças. Ao contrário, tudo desperta a ira dos que portam suas armas ilegalmente para fazer o ganho do dia por meio do crime. Morre-se por causa de um celular ou por não ter o celular, não há salvação.

A experiência no Rio certamente será um projeto-piloto. Se os resultados forem bons, outros estados seguirão pela mesma linha. O emprego da intervenção federal é necessário como um último recurso na resolução de problemas da segurança pública, enquanto, paralelamente, devem ser adotadas políticas saneadoras para mitigar a situação caótica dos estados na questão da proteção de sua população.

A politização do tema distorce a tentativa de solucionar o problema da insegurança no Rio de Janeiro e não leva em conta o sofrimento da população. Por que alguns partidos, como o PSol, entraram com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a votação da intervenção na Câmara dos Deputados, mas nada fizeram, como políticos representantes do povo, para resolver o problema da segurança pública, que se arrasta há anos? Por que algumas ONGs estão criando grupos para fiscalizar a ação militar em vez de fiscalizar as atividades dos criminosos? Por que professores doutores de Direito criticam a intervenção e se mostram preocupados com a possibilidade de abusos cometidos por membros do Exército permanecerem impunes, enquanto a impunidade reina soberana nas vidas das pessoas de bem que perderam seus entes queridos em uma ida ao supermercado ou na volta da escola?

Está tudo invertido em nosso país. Há filmes em que as pessoas torcem pelo bandido. No Brasil, isso ocorre na vida real, como se os bandidos fossem as verdadeiras vítimas. Chegou a hora de todos se posicionarem de forma consensual contra os maus. A comunidade intelectual manifesta o tempo todo seu repúdio à medida, alegando “falsa motivação”. Será que pode ser falso o motivo para intervir em uma cidade que tem um aplicativo para avisar sobre tiroteios? “Fogo Cruzado” mapeia as regiões metropolitanas fluminenses onde ocorrem disparos de armas de fogo e alerta seus usuários. O fim de semana do carnaval deste ano registrou 46 tiroteios contra 17 no ano passado – um aumento de 170%. Nem a maior festa da Cidade Maravilhosa tem sucesso em colocar uma pausa na violência. O Fogo Cruzado registrou ainda 348 tiroteios/disparos de arma de fogo nos arredores das Linhas Vermelha e Amarela entre julho de 2016 e janeiro de 2018. Ou seja, turistas que descem no aeroporto e são obrigados a passar por essas vias correm o risco de encontrar em seu caminho uma bala perdida. Para mim, esse cenário é de guerra. Se isso não for motivo suficiente, então não sei o que será.

Termino citando a cantora carioca Fernanda Abreu: “ Rio 40 graus / Cidade maravilha / Purgatório da beleza e do caos (…) O Rio é uma cidade de cidades misturadas / O Rio é uma cidade de cidades camufladas / Com governos misturados, camuflados, paralelos / Sorrateiros, ocultando comandos”.

Carlos Arouck é agente de Polícia Federal, com formação em Direito e Administração e especialização em Gerenciamento Empresarial, e ex-instrutor da Academia Nacional de Polícia.

10 Comentários

  1. Resumindo o ótimo texto: INVERSÃO TOTAL DOS VALORES NATURAIS MORAIS E ÉTICOS DA SOCIEDADE PELOS REFORMISTAS COM FINS A DESCONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE E POSTERIOR IMPLEMENTAÇÃO DA AGENDA REVOLUCIONÁRIA DOS DITOS IGUALITÁRIOS (iguais na miséria, é claro… vide a Venezuela atual…)… sem prazo de validade… ad eternum… isso sim é RELIGIÃO… do mal, é claro…

  2. Tomara que essa intervenção não seja mais uma pegadinha de mau gosto,feita por aqueles que são os responsáveis por todo esse caos, o seja o próprio Estado !

    • Infelizmente essa intervenção já é uma pegadinha de muito mau gosto, e quem vai pagar o pato serão nossas forças armadas. Essa intervenção em pouco tempo vai mostrar a sua real finalidade, que nada mais é que uma pirotecnia politica.

      Sds

    • Reparem como estes arrastões generalizados de bandidos ocorrem em um estado e depois de um tempo nós vemos ocorrer em outro…Espírito do Santo, RN e agora RJ…presta atenção…e ai paladinamente aparece o governo com a “força nacional” pra decretar “intervenção na segurança pública e salvar a sociedade do caos”…senhores…tudo isso dai não passa de mais um circo montado por este governo pilantra para instaurarem um Estado Policial no pais…pra evitar acontecer aqui as mesmas revoltas e manifestações que estão havendo lá em Honduras agora…pois as eleições do pais foram fraudadas na cara dura…é o mesmo que intentam implementar aqui…

      Lula só não foi preso ainda porque temem uma revolta geral da maioria do povo deste pais…ou prenderão e cassarão os direitos políticos dele e do seu partido ou então fraudarão as eleições como fizeram lá em Honduras…e em ambas circunstâncias eles esperam e se preparam por uma eclosão de distúrbios e conflitos no pais para controla-la…

      estão usando facções criminosas com ramificações por todo o pais para realizar estas ações e assim fabricar pretextos ou justificativas para implementarem um Estado Policial no pais…pois como já é bem manjado neste pais essa gente tem envolvimento com o crime organizado e o trafico…é notório o envolvimento de grande parte de juízes e do alto escalão do judiciário neste pais com facções criminosas, principalmente no sudeste…é comum e notório juízes que atuam a serviço do crime organizado ou que vendam sentença pra bandido ficar solto…

      na classe política não é diferente…os grandes tubarões do trafico de drogas deste pais são a maior parte políticos…a maior parte é envolvida com o crime organizado e com trafico principalmente os ligados aos partidos ditos de ‘direta’ ou ‘neoliberais’…seja por serem tubarões ou por buscarem curral eleitoral nas periferias…pois através das organizações criminosas que controlam as favelas eles conseguem angariar votos para suas campanhas eleitorais…vemos no pais ministros do STF ligados a facções criminosas e até candidatos a presidência envolvidos com o trafico de drogas e assassinatos encomendados…Não é preciso nenhum especialista para notar o envolvimento da classe dirigente deste pais com o crime organizado…Olha como as polícias são intencionalmente sucateadas, as leis brandas, infratores com inúmeras passagens e soltos a reviria…

      Em Alagoas, bandido quebra tornozeleira eletrônica, é solto pelo juiz e tira onda da polícia :

      https://www.youtube.com/watch?v=YelKH3DlHU8

  3. A população do Rio não merece ter paz, merece sifu mesmo.
    Leva desde 83 votando na esquerda mais rale que existe e digo isso com fatos

    Brizola deu imunidade para os narcos no Rio na década de 80 e no seu primeiro governo vi aconteçer o primeiro sequestro e o primeiro arrastão e os cariocas seguiram votando nessa escoria, Brizola mais de uma vez, Benedita, Garotinho e outras escrotos mais.

    A nvl nacional levamos 20 anos com a esquerda, que nos privou de poder ter pena de morte, prisão perpetua, trabalhos forçados e armas nucleares com o FHC e depois nos privou de poder defender nós e a nossa familia com o desarmamento feito em contra do desejo da população, ademais de proteger criminosos juridicamente e apoiar esses morde fronhas dos direitos humanos.

    A paz não é uma situação da que possa ser disfrutada por gente burra e frouxa.

  4. Nada contra a vontade de amenizar a situação caótica do Rio, diga-se que percentualmente há Estados em situação muito pior https://googleweblight.com/i?u=https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Lista_de_unidades_federativas_do_Brasil_por_taxa_de_homic%25C3%25ADdios&hl=pt-BR . O que por si só ja denota uso político para criar uma cortina de fumaça. De fato um Fernandinho Beira Mar é um personagem caricato mas longe de ser empiricamente o retrato dos verdadeiros barões do crime. Estes homens se passam por senhores impolutos, empresários, políticos, muitos com negócios no setor agrário. São intocáveis. Como notórios senadores com misteriosos 500 quilos de pasta base apreendidos em helicóptero e aviões que a ninguém pertenciam. A situação ficará anestesiada durante a intervenção. A raiz do crime e muito mais ramificada e profunda, e mesmo que se matem muitas “baratas”, sem tratar o esgoto tudo voltará a seu status quo. Haverá tráfico enquanto houver demanda e todo o tipo de crime que se arrasta a sua volta. Há uma geração perdida e a esta talvez só reste a força, más e inadmissível perder a próxima. Há um certa eugenia social. Que trás a “sensação” de segura há alguns e seleciona outros como suspeitos tendo como critério unicamente a classe social. Vi revistas há crianças pequenas e mães com bebês em comunidades. Não às vi na Zona Sul. E na Zona Sul não faltam pessoas que alimentam o tráfico. Será que solução formidável no Brasil é fazer uma “faxina” de temoos em tempos é vendar os olhos para não se ver também como parte do problema?

  5. Que a esta operação amenise a situação. Não trará paz ao Rio. E que essa tropa de guerra não cometa crimes de guerra. Haja com inteligência e perspicácia. O desejo por sangue e truculência de parte sociedade não deve corromper o direito de uns em detrimento de outros.

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