Welcome To The Jungle: Curso Internacional de Operações na Selva 2018

Militares estrangeiros de 14 países, entre os quais Argentina, Bolívia, Guatemala, México, Paraguai e Uruguai, formaram-se como guerreiros de selva no curso internacional oferecido em 2018 pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva, do Exército Brasileiro. (Foto: Centro de Instrução de Guerra na Selva, Exército Brasileiro)

Curso Internacional de Operações na Selva tem participação de militares de todo o mundo

Andréa Barretto/Diálogo
Pelo terceiro ano consecutivo, alunos estrangeiros passaram por treinamento intenso na floresta amazônica, conquistando, ao final de sete semanas, o título de Guerreiro de Selva.

A floresta amazônica é um ambiente peculiar, com características que o distingue da maioria dos ambientes operacionais militares. Por isso, o Exército Brasileiro (EB) possui uma unidade de ensino e treinamento dedicada especificamente a habilitar seus profissionais para atuação nesse tipo de local, que é o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com sede em Manaus, capital do Amazonas.

Desde 2016, o CIGS abre cursos para estrangeiros, com interesse crescente por parte destes. “Os países mais desenvolvidos enviam tropas para vários tipos de terreno. Por essa razão, buscam manter seus militares treinados para emprego em diferentes situações, com diferentes características”, explicou o Tenente-Coronel do EB Alexandre Amorim de Andrade, chefe da divisão de ensino do CIGS. Há, por exemplo, cursos realizados pelas forças armadas de outros países no Alaska e nos desertos africanos.

“O curso do CIGS é reconhecido no mundo inteiro. Esse treinamento nos ensina a viver e combater na selva, com elevado grau de dificuldade, tanto físico como técnico”, disse o 2º Tenente Miguel Herminio Tosatto Acosta, comandante de pelotão nas tropas especiais do Exército Paraguaio, sobre o motivo que o levou a procurar o curso. O militar foi um dos alunos da última edição do Curso Internacional de Operações na Selva (CIOS), ocorrido entre 11 de outubro e 30 de novembro de 2018.

Um total de 34 militares estrangeiros inscreveram-se para participar do CIOS 2018. Apenas 28 candidatos de 14 países, entre os quais Argentina, Bolívia, Guatemala, México, Paraguai e Uruguai, conseguiram demonstrar as aptidões físicas exigidas. O rigor na cobrança quanto a técnicas e capacidades físicas dos candidatos fundamenta-se na preocupação com a segurança individual do militar e do grupo.

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No site do CIOS, há orientações para os candidatos quanto ao preparo anterior à postulação de participação no curso. Alguns dos materiais disponibilizados oito meses antes da abertura de inscrição do curso incluem instruções nutricionais, plano de treino físico e vídeos com demonstração de técnicas empregadas no CIOS.

Um pré-teste é realizado com o candidato em seu país de origem, seja por adidos militares brasileiros ou pela organização militar à qual pertence. Se atendidas as exigências preliminares, os candidatos são convidados a participar da semana de mobilização do CIOS. Durante três ou quatro dias, eles passam por mais algumas provas, já dentro das instalações do CIGS, um espaço com cerca de 1.200 quilômetros quadrados, situado dentro da floresta amazônica. Somente após a aprovação nessa etapa, os candidatos tornam-se efetivamente alunos.

Da teoria à prática

Ainda antes do início das três fases que caracterizam o curso – vida na selva, técnicas especiais e operações –, os futuros guerreiros de selva vivenciam a chamada interação doutrinária. Essa é a oportunidade para que cada um aprenda um pouco sobre as doutrinas das forças armadas das outras nações participantes. “Nós expomos alguns problemas militares aos alunos e eles têm que apresentar soluções de acordo com a doutrina de seu país”, contou o Ten Cel Amorim, que também é coordenador do curso. A doutrina brasileira é exposta quando os alunos estão em ação dentro da mata.

Para o 2º Ten Tosatto Acosta, as diferenças culturais pareceram, inicialmente, um fator dissonante. “Mas, quando o curso se iniciou, as diferenças desapareceram e nós nos tornamos uma massa única, com vontade de cumprir a missão.”

Um dia de descanso antecede a fase de vida na selva. O objetivo dessa primeira fase é mostrar aos alunos as características do ambiente operacional amazônico. Durante uma semana, eles aprendem a obter água e comida, fazer fogo, construir abrigo, evitar e tratar doenças tropicais e se orientar dentro da floresta.

Em seguida, vem a fase de técnicas especiais, a mais desafiadora, segundo a experiência do 2º Ten Tosatto Acosta. “As instruções eram continuadas, com poucas horas de descanso. Essa fase requer muita concentração e resistência física.”

É durante essa etapa que os alunos aprendem e treinam técnicas e táticas específicas para o combate na selva, como deslocamento na floresta por distâncias mais longas – de 10 a 15 km –, natação nos rios e emprego de embarcações e helicópteros. Uma novidade do CIOS 2018 foi a instalação de módulos de tiro dentro da selva. A intenção foi fazer o aluno sentir a dificuldade de operar a arma e atirar nesse ambiente, que é cheio de obstáculos. 

A troca de conhecimentos, o senso de cooperação e a amizade entre os participantes é um dos pontos fortes da experiência dos alunos do Curso Internacional de Operações na Selva. (Foto: Centro de Instrução de Guerra na Selva, Exército Brasileiro)

Irmandade

A fase de técnicas especiais durou 12 dias, aos quais se seguiram os últimos 15 dias do curso, dedicados à fase de operações. Nesse momento, a intenção da coordenação do curso é fazer os alunos colocarem em prática tudo o que foi absorvido e exercitado desde o início. “Nessa fase, eles podem mesclar as diferentes doutrinas para fazer o planejamento e executar as missões. Essa mescla é muito rica e interessante”, avaliou o Ten Cel Amorim.

O incremento que a fase de operações ganhou em 2018 foi o aumento do número de atividades noturnas. O Ten Cel Amorim contou que, até a década de 1970, existia uma máxima de que militares não deviam andar na selva à noite. “Com o desenvolvimento da tecnologia e de novas técnicas, táticas e procedimentos, nós conseguimos executar bem essas operações. Isso é importante porque permite maior sigilo da missão, buscando surpreender o inimigo.”

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Os 28 alunos que conseguiram ultrapassar as três fases participaram da 133ª Cerimônia de Concessão do Facão do Guerreiro de Selva, em 30 de novembro de 2018. No evento, oficiais do CIGS entregaram a cada um dos novos guerreiros um facão, instrumento de sobrevivência e combate na floresta que, para esses militares, é símbolo de aprendizado, superação e irmandade.

Fonte: Diálogo Américas *

Edição Plano Brasil

Diálogo Américas é uma publicação do Comando Sul dos Estados Unidos sobre os esforços de cooperação e colaboração militar dos EUA na América Latina.