Polícia Militar do Rio vai adquirir 20 veículos blindados de transporte de tropa

Por: Vera Araújo

RIO – Em sua primeira entrevista como secretário da Polícia Militar, o coronel Rogério Figueredo de Lacerda, de 49 anos, é categórico: “Já passou da época de a PM se modernizar”. Buscando fazer história na corporação, o militar anunciou novidades na área de tecnologia, que se encaixam dentro dos R$ 5 bilhões de orçamento da corporação para este ano. Entre elas, a instalação de câmeras em Copacabana, com um programa de reconhecimento facial e de placas de veículos, já no Carnaval. Segundo ele, as mudanças “são para ontem”.

Como melhorar o policiamento nas ruas?

A nossa previsão é de R$ 5 bilhões no orçamento para este ano. Se conseguirmos cumpri-lo como planejamos, teremos condição de fazer um bom trabalho. Temos demandas infinitas, para recursos finitos. Uma das metas é renovar a nossa frota até a metade deste ano. Estamos comprando 3.392 carros que, somados aos que já recebemos, nos darão um fôlego, com um policiamento ostensivo mais dinâmico. A frota, hoje, é de sete mil carros, mas teremos cinco mil viaturas novas. Leiloaremos as antigas, pois pretendemos trocar um terço da frota a cada ano.

Que medida o senhor destacaria de imediato?

Foi feita uma integração entre as polícias Militar e Civil, em que os PMs poderão fazer o registro de ocorrência, usando um tablet conectado à plataforma da Polícia Civil. O projeto será iniciado na Ilha do Governador, no mês que vem. Isso fará com que 68% das ocorrências não precisem de deslocamento do policial para a delegacia. Essa prática levava, em média, duas horas e meia. Agora, o tempo será reduzido para 30 minutos. São ocorrências de baixo potencial ofensivo. A meta é que, até o fim do ano, todas as unidades da PM estejam em condições de atender à população.

Em que ocorrências os PMs vão atuar?

Furtos, brigas de vizinhos e ameaças, entre outras. O PM fará o registro, e o delegado de plantão validará as informações, tudo online. O delegado dando o ok, as partes vão receber o registro por e-mail, assim como o policial e o batalhão da área. Quem não tiver e-mail poderá buscar no batalhão. Perdas de documentos também poderão ser registradas nos batalhões, cabines e destacamentos da PM.

O senhor fala em tablets, mas há viaturas sem GPS e câmeras para filmar as ações policiais…

Os tablets estão dentro do orçamento. Quanto aos demais equipamentos, faremos convênios com as empresas para fazer os reparos. Se não tiver jeito, compraremos novos.

O que haverá a mais na parte de tecnologia?

Junto com a Polícia Civil, iniciamos parceria com a empresa de telefonia Oi, que nos disponibilizará um software de reconhecimento facial e de placas. Vamos começar por Copacabana pela importância turística e pelos recursos já disponíveis lá. Mas a ideia é espalhar isso para todos os bairros. As informações serão direcionadas para o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), onde policiais farão a análise das imagens e acessarão o banco de dados do IFP e do Detran, além dos mandados de prisão da Justiça.

Se for detectado que alguém da região tem um mandado de prisão ativo, ou que há algum carro roubado circulando pela região, será enviado um alerta do CICC para a viatura mais próxima. Também haverá blitzes com câmeras para fazer a leitura das placas de automóveis. É a modernidade, enfim, chegando. A previsão é que comece no Carnaval. A ferramenta é fantástica. Já passou da época de a PM se modernizar.

Há mais novidades nesse campo?

O ISPGeo será outra ferramenta importante para o combate ao crime. Ela nos dá o resultado de imediato, do tipo de crime e a hora e o local onde ele está sendo praticado. Quando se identifica que há uma incidência alta de delitos em determinado local, remanejamos o nosso policiamento de imediato para aquela área. O crime não espera.

A PM sempre sofre com a falta de policiais. Qual o déficit atual?

Esse é o nosso maior desafio. O efetivo atual é de 43.900 homens. Cada batalhão precisa fazer seu planejamento de forma adequada, remanejando pessoal para os pontos certos. Já temos mil homens, do concurso de 2014, em treinamento, e iremos receber mais 800. Para isso, estamos reformando o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap), a fim de aumentar a capacidade de treinar 3.500 policiais ao mesmo tempo.

Quais foram os resultados nos primeiros dias do seu comando?

Já apreendemos 28 fuzis. Também apreendemos um número grande de pistolas. Conseguimos ainda reduzir índices, em relação ao ano passado: 20% nos roubos de cargas; 31% nos roubos de veículos; 29% nos homicídios dolosos; 22% nos roubos no interior de coletivos; 43% nos roubos a estabelecimentos comerciais; 28% nos roubos a transeuntes; e 21% nas mortes com intervenção policial. Esses dados são do ISPGeo, não consolidados.

Como a PM conseguiu melhorar esses índices ?

Exigindo mais rigor na cadeia de comando. Tenho cobrado mais planejamento das ações dos comandos de policiamento até o soldado que está na ponta. Eles estão sentindo na orelha. Se identificarmos um cenário difícil em determinada região, como está acontecendo em Duque de Caxias e São Gonçalo, abrimos mão do pessoal da Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) para fazer o policiamento ostensivo.

Haverá a compra de mais “caveirões”?

Sim, a nossa ideia é adquirir 20 veículos blindados de transporte de tropa. Só que, dessa vez, a Diretoria de Engenharia está estudando as adaptações que deverão ser feitas. O projeto prevê um veículo capaz de trafegar com segurança em ladeiras íngremes, vias estreitas e mal pavimentadas. O novo desenho deve ficar pronto em um mês. Daí, podemos comprar o chassis e os insumos para montá-lo com as adaptações ou firmar um contrato com uma empresa que prepare o veículo do jeito que queremos. Esses veículos substituirão os dez blindados vindos a África do Sul, que estão parados por falta de peças.

Como pretende atacar a corrupção policial?

Nosso objetivo é fortalecer a Corregedoria, aumentar o efetivo e aparelhar a instituição. Na lista de compras, há um equipamento capaz de armazenar informações específicas das armas da corporação, o que chamamos de “DNA” do armamento. Cada estojo ou projétil tem uma característica única. No caso de haver a suspeita da participação de policiais num crime militar, o material poderá ser confrontado com as informações registradas no aparelho. A ideia é que as armas da corporação, assim como as de uso particular dos agentes, passem pelo equipamento. Fortalecendo a Corregedoria, combate-se a corrupção policial. O comando não vai compactuar com desvios de conduta.

O governador Wilson Witzel falou que bandido de fuzil deverá ser abatido. Essa será a postura da corporação?

Não podemos admitir que criminosos andem portando armas de guerra. O confronto é escolha do criminoso. Ele tem a opção de entregar a arma e escolher a prisão. A nossa ação será sempre dentro da lei.

Que planos tem para as UPPs?

Vamos continuar o realinhamento. Atualmente, temos 31 unidades. Uma das prioridades é dar segurança ao policial. É transformar as bases de contêiner em unidades fortificadas, além de garantir armamento adequado e munição suficiente. Cada UPP tem que ser pensada de maneira individual. Também vamos continuar com o projeto de nos aproximar da comunidade.

Por que ultimamente há tantos tiroteios no Dona Marta?

Houve a unificação dos comandos das UPPs Cerro Corá e Dona Marta. Isso fez com que aumentássemos nossa presença no Dona Marta. Com mais policiais na rotina de patrulhamento, onde não havia policiamento, houve resistência por parte dos bandidos. A tendência é que os tiroteios acabem.

Quais os seus planos para Rocinha e Maré?

Elas estão dentro de um projeto do governo de reurbanização e serviços. No momento em que melhoram os acessos, os policiais passam a circular no local.

O que o senhor pretende fazer para reduzir as mortes de policiais?

Estamos fazendo um estudo para rever procedimentos. Além disso, temos que treinar ainda mais.

Fonte: Jornal O Globo

3 Comentários

  1. Quanto aos caveirões em uso, não seria viável um contrato de manutenção? Eu duvido que a fabricante não produza mais peças.

    Dinheiro existe, e muito, a questão é a forma de utilização.

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