PdM- A Lei do Equilíbrio do Brasil

Autor- Peter de Mambla (PdM) para  Plano Brasil.

Tradução e edição- E.M.Pinto


O Brasil está passando por um período de significativas mudanças. A confiança na classe política, em primeiro lugar, embora nunca tenha sido elevada, praticamente entrou em colapso. As investigações da Operação Lava-Jato servem apenas para confirmar o que todos já sabiam: que a classe política, na maioria das vezes, não é movida por preocupações nobres pelo bem maior, mas pelo simples desejo de encher seus próprios bolsos. Quando chegou ao poder, O PT de Lula, havia prometido ser diferente. Mas eles acabaram não sendo melhores. Por outro lado, a presidência de Temer não alimenta esperanças, e nesse cenário, há um crescente clamor, pelo menos por setores da direita, por uma intervenção militar. Por tudo isso, a posição do Brasil no mundo multipolar emergente é deveras questionada.

 

O Silovik Brasileiro

Com a queda do comunismo e a dissolução da URSS, a Rússia caiu em um período de caos, onde “gângsteres” dominavam as ruas e poucos sabiam de onde viria o próximo cheque para o pagamento. Os oligarcas que emergiram desse caos se importavam apenas com eles mesmos, em nada se importando com a “Mãe Rússia”.

Por seu lado, o ocidente não queria desperdiçar uma boa oportunidade e se concentrou em “nocautear” a Rússia enquanto a guarda estava aberta. O país diminuído, mas ainda vasto, precisaria, portanto, ser subdividido em cinco ou mais países menores e mais manejáveis, começando pela Chechênia.

Dado que a Rússia sempre foi multi-étnica (existem quase 200 etnias russas), é possível que o país tenha sofrido a mesma experiência que a Jugoslávia, vendo uma sangrenta guerra étnica de todos contra todos.

A comunidade de inteligência militar (o Siloviki em russo) tal como em qualquer outro país, tende a ser o segmento mais patriótico da sociedade e por razões óbvias a Rússia não seria exceção. Vendo o que estava acontecendo com sua amada pátria, os Siloviki russos não estavam preparados para simplesmente ficar de braços cruzados e assistir o país ser destruído e ao concluir que bastava decidiram intervir.

Com  Putin no comando, a ordem foi progressivamente restaurada, com os oligarcas expurgados e a situação no Cáucaso pacificada, dentre muitas outras recuperações, as aposentadorias e os salários do governo retornaram a ser pagos a tempo. Assim, a Rússia foi salva e, no processo surge um contrapeso à ordem mundial unipolar imposta pelos Estados Unidos.

A situação no Brasil é menos dramática, mas tem alguma semelhança. A classe política brasileira é reconhecida pelo público como sendo desesperada, a maioria dos políticos pensam apenas em si mesmos e não no bem público. A educação pública básica encontra-se em um estado abismal (com a notável exceção das escolas dirigidas pelos militares) e a classe média é sobrecarregada pela tributação excessiva, nesse cenário, o governo tem pouco para mostrar em termos de serviços sociais.

Um estado de piora da ilegalidade e da desordem prevalece, com a classe política não querendo ou sendo incapaz de fazer algo a respeito. Consequentemente, tem havido um clamor de segmentos da população para que os militares intervenham da mesma forma que fizeram em 1964.

O establishment militar brasileiro desfruta de alguns dos mais altos níveis de confiança do público no país – muito, muito acima da classe política. Constitucionalmente, as forças armadas são também as principais garantidoras da lei e da ordem. A esse respeito, recentemente o General Mourão advertiu recentemente que, se a atual turbulência política não for resolvida judicialmente, os militares não terão outra escolha a não ser intervir e que já existem planos bem elaborados para essa eventualidade.

Mundo multipolar ou mundo unipolar?

Os siloviki brasileiros podem ser obrigados a intervir para salvar o país, seja em trajes militares, como em 1964, ou sob uma presidência civil pró-militar, como a que poderia ser liderada por exemplo por Jair Bolsonaro.

A intervenção de 1964 foi compreensivelmente coordenada com os americanos, já que ambos compartilhavam do mesmo inimigo, o comunismo da época. Com o colapso da União Soviética e o fim da ordem mundial bipolar, os Estados Unidos avançaram para criar uma ordem mundial unipolar e consolidar sua vitória na Guerra Fria.

Com o poder americano descontrolado causando estragos em todo o mundo em sua busca pela dominação global, especialmente no Oriente Médio, esse mundo unipolar representava uma ameaça para outros países, incluindo o Brasil. Uma ordem mundial multipolar pode, portanto, garantir melhor os interesses do Brasil.

Destaca-se que nesse sentido, a liderança brasileira que mais avançou na posição do Brasil no jovem mundo multipolar foi o PT de Lula e Dilma. Mesmo quando a Guerra Fria recuou da memória, muitos no poder público, e particularmente no Siloviki brasileiro, continuaram a manter sérias reservas em relação ao PT, não confiando que haviam abandonado completamente suas tendências comunistas, mas apenas modificado sua abordagem à luta. 

De fato, o lançamento do Fórum de São Paulo pelo PT após a queda do Muro de Berlim pareceu indicar a determinação de continuar a carregar a chama do socialismo após o fim da União Soviética.

Os militares brasileiros, juntamente com muitos da ala de direita do país, têm uma visão muito obscura sobre as lideranças esquerdistas da venezuelana e de tais esforços de integração regional como a Aliança Bolivariana para os Povos da  América, de Hugo Chávez.

O quintal da América?

Isso levanta a questão sobre o que aconteceria se os Siloviki brasileiros de alguma forma intervissem e tomassem o poder, seja explicitamente enquanto ainda usassem seus uniformes, ou nos bastidores sob uma presidência nominalmente civil liderada por gente como Jair Bolsonaro.

Será que todos os esforços em prol da multipolaridade e da integração regional seriam abandonados em favor da unipolaridade, estabelecendo, assim, o status de um cão de estimação do Tio Sam?

A independência brasileira será melhor garantida por uma ordem mundial multipolar e a aversão dos patriotas brasileiros ao socialismo e ao comunismo precisará ser equilibrada contra a necessidade primordial de multipolaridade. Um consenso emergente entre os pensadores multipolares a respeito da natureza dessa ordem mundial é que ela será de direita em termos de valores sociais e de esquerda em termos de economia.

Assim, a venda de ativos estratégicos como a Petrobras seria impensável para uma liderança brasileira reconhecendo a importância de uma ordem mundial multipolar. O general Gelio Fregapani parece ser um dos Silovik que reflete esse ponto de vista, sendo de direita em termos de valores sociais, mas mais esquerdista quando se trata da economia.

A Rússia parece estar traçando precisamente esse rumo, com um conservadorismo social conspícuo, aliado ao controle governamental de indústrias e campos estrategicamente importantes, como a mídia, o petróleo e o gás. Se o siloviki brasileiro eventualmente for obrigado a intervir de alguma maneira (aberta ou discretamente) para salvar o Brasil, como o Siloviki russo interveio para salvar a Rússia, então um delicado equilíbrio terá que ser alcançado entre se afastar do socialismo e do comunismo sem ao mesmo tempo abandonar a multipolaridade e a integração regional que é uma parte inevitável deste processo. 


Sobre o Autor- Peter de Mambla é  bacharelado em ciências políticas pela Universidade Monash- Victoria, Austrália. Analista e escritor de assuntos relacionados às políticas e sociais e relações internacionais em sites de notícias dedicados a combater a narrativa da grande mídia em relação à Rússia e ao mundo multipolar.

 

11 Comentários

  1. Muito bom!
    Mas possuir industrias estatais em áreas chave para a segurança nacional, não significa necessariamente ser de esquerda…não nego a possibilidade de apoiar um intervenção militar afim de salvar o Brasil da máfia vermelha e botar o país nos trilhos do crescimento econômico novamente.

    Resumindo , para mim o ideal é ter um mercado nacional aberto e manter a presença do Estado apenas nas infraestruturas sensíveis…reduzir a carga tributária e com o dinheiro das privatizações podemos abater parte da divida pública recuperando a capacidade de investimento do país.( existe a possibilidade ainda de compormos um sistema financeiro alternativo junto com o BRICS e negociarmos nossos títulos em condições menos draconianas).

  2. O problema do país nunca foi a ideologia como está parecendo dar a entender a realidade. Só existem duas ideologias e em quase 200 anos de história (pós-‘Independência’) já foram tentadas as duas e em ambas o país nunca foi do ‘primeiro’ escalão no cenário mundial, mas sempre atrelado como diz no texto a ser ‘cão’ de algum ‘dono’, seja os EUA seja alguma ideologia esquerdista que hoje nem pode ser mais identificada de forma clara em algum país. Se não vejamos: Rússia, China, Cuba?! O que Rússia e China tem de ‘esquerda’? Só porque se opõem a tentativa de implantação do hegemonismo norte-americano?! E Cuba para mim deixou de ser esquerda quando seu arrimo de família, a URSS, sumiu no começo dos anos 90 fazendo-a se virar no mundo depois que a mesada secou…

    Ou seja, o problema não é de ideologia! O Brasil sempre foi um país secundário na arena internacional porque nunca se destacou na política, na economia, a não ser um destaque quase que posto em termos folclóricos no futebol…e se teve algum destaque em momentos excepcionais, não foi por seu próprio mérito, e sim por ser ‘carregado a reboque’ por alguma potência estrangeira, como foi nos anos da Guerra fria pelos EUA e agora muito fugazmente no Governo Lula pela entrada de dinheiro chinês para comprar matéria-prima, pois minério de ferro e soja não são ‘invenção’ humana e sim dádivas da Mãe-Natureza.

    O Brasil nunca será locomotiva da economia mundial por falta de talento de sua gente devido a sua cultura de leniência comportamental, devido a um sistema educacional que nunca foi de primeira grandeza mundial – o número de Nobeis científicos que conquistou não me deixa mentir… – será no máximo um vagão e como vagão virá sempre ao reboque de alguma locomotiva, atenda ela pelo nome de Inglaterra, de EUA, de China…os candidatos a ‘CCs’ destas potências no plano interno (isto é, os ‘puxa-sacos’ destes movimentos ideológicos estrangeiros) vão ‘decidir’ com base em suas simpatias ideológicas nesta falsa encruzilhada ideológica que alegadamente ‘atrasa’ o país.

  3. Cadê o Mister Blue e o Maquineta?
    A democracia do PB, que trata de assuntos de Poder, Defesa e Geopolítica, portanto área para debates acirrados, acabou?
    O PB se rendeu ao Sistema que é contra o povo e a liberdade de pensamento e opiniões?
    Se assim for, farei o quê aqui? Ser gado doutrinado e amordaçado? NÃO.
    Melhor que o PB saia do ar então até melhores ventos soprarem. Ou estará pisando na bola de um país democrático que as pessoas de bem tanto querem, onde confronto de idéias é mais que bem vindo é necessário para a saúde do sistema.


    E sobre o tópico acima…
    O que vem acontecendo no Brasil, atolado na lama da mediocridade capitalista e desenvolvimentista, é muito simples de ser entendido. As Leis pós 1988 foram todas arquitetadas para benefício não do povo mas da classe política.
    Acha visto seus auto aumentos de salários bem acima da inflação, inúmeros adicionais, e ainda, sobrepreços em todas as licitações e obras públicas, municipais, estaduais e federais, foi sendo realizado sob o manto protetor de uma legislação bandida. O Brasil está dominado e vampirizado por leis, e cada vez mais são feitas, a favor do sistema político montado pós 88.
    O povo brasileiro foi manietado (lei desarmamento) e colocado em um segundo plano onde não possui nenhum Poder, nem de votar com contagem de votos transparente. Etc.

    Sim, precisamos que as forças armadas acordem do boa noite cinderela jogado ardilosamente em cima do Brasil. Se é essa a idéia do texto, que seja bem vinda, pois não há outra solução para nosso amado país.

    • Assistam a ATAQUE A BUSHWICK. Estão querendo fazer essa experiência com o Brasil. Estão nos manipulando e nos deixando sem defesa. Estamos a um passo de sermos extintos. Quem não se lembra do caos no Espírito Santo? E o RJ? Nada acontece por acaso. Estão dissolvendo o país para ele caber na GRANDE PÁTRIA.

      https://www.youtube.com/watch?v=cBItCCa8p8w

      • Algo em comum está acontecendo agora em MG. logo a população civil poderá ser vitimada, pois não tem meios de se defender ao estar criminosamente desarmada pelo ESTADO TOTALITÁRIO BRASILEIRO governado por serpentes vermelhas.

  4. Com toda a vênia, o pessoal de fora não conhece o brasileiro. Aqui não se pode aplicar os marcos regulatórios civilizacionais que se aplica lá fora. vejam:

    Rio – Um vídeo que circula na Internet mostra um suposto bandido se desculpando com moradores de comunidades de Costa Barros, na Zona Norte da cidade, sobre a interrupção do roubo de cargas na cidade por causa da greve dos caminhoneiros.

    “Quero pedir desculpas a todos… galera de Costa Barros: (Morro do) Chapadão, (Morro da) Pedreira, (Morro da) Quitanda… todo mundo que compra com a gente aí, quando nos traz (sic) o negócio…”, ele começa, nas imagens divulgadas nesta quinta-feira pela página “Uber Informes Rj” (assista abaixo). Procurada pelo DIA, a Polícia Civil informou que “está apurando a informação”.

    O homem está fortemente armado, com rosto coberto por uma touca. “Os caminhoneiros parou (sic). Não quebrou só vocês, quebrou também a gente. Porque a gente levanta um dinheiro em cima disso daí”, ele continua.

    O suposto criminoso diz ainda que assim que o transporte de cargas na cidade normalizar, os roubos recomeçam. “A gente vai trabalhar e vamos (sic) trazer o melhor para vocês da comunidade (…) Não acabou não. Estamos juntos (…) Pode avisar para todo mundo: os caras não parou (sic), os caras só deram um tempo”.

    Ele encerra deixando claro em que região da cidade atua. “Assim que os caminhoneiros voltar (sic), passando a (Avenida) Brasil, a gente vai tá (sic) pegando de novo. Porque é isso: passou na Brasil, a gente pega”, avisa.”

    FONTE: https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/06/5545453-suposto-bandido-se-desculpa-com-moradores-por-falta-de-roubo-de-carga-durante-greve.html

  5. Gabriel se houver uma intervenção militar, será para tentar evitar colapso da ordem social, pormais uma politica idiota como o Temer fez. E nisso os interventores terão que lutar contra máfias vermelhas, azuis, nacionais, estrangeiras, do morro e do asfalto ai se for algo firme, vai faltar prisão e cemitério pra tanto vagabundo.

  6. Tem que acabar com mafias vermelhas, azuis, sindicatos de ladrões e oligarquias de canalhas se não, nada muda neste pais.

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