A fraude dos especialistas em segurança

Por: Aurílio Nascimento

Não é recente o aparecimento de dezenas de especialistas, consultores e estudiosos em segurança privada e pública opinando, sugerindo, ganhado os holofotes e muito dinheiro. Nos anos noventa, quando o crime de extorsão mediante sequestro atingiu níveis altíssimos no Rio de Janeiro, uma nuvem de especialistas em negociação surgiu. Militares reformados, advogados, engenheiros desempregados, curiosos e espertalhões integravam este verdadeiro panapaná, menos policiais. Panapaná? Achou estranha a palavra? É o coletivo de borboleta, e bem serve, por duas das principais características destes insetos, para designar os especialistas de plantão: surgem do nada e a vida é curta.

Apresentando um histórico profissional nem sempre confiável, os “especialistas” em negociação de extorsões mediante sequestro entravam em contato com os familiares das vítimas, oferecendo seus serviços. Um percentual sobre o valor abatido no pedido de resgate. Negociar com alguém que na primeira ligação diz: “nós quer um milhão de dólar”, não era assim tão difícil. Ainda mais quando o sequestrador nunca tinha visto uma nota de dólar na vida, e muito menos sabia como se fazer a conversão para cruzeiro, a moeda nacional da época antes do real.

O fim dos sequestros também foi o dos especialistas em negociação. Porém, seguindo um preceito da natureza, eles adaptaram-se aos novos tempos, tornam-se famosos. Ganham muito dinheiro com palestras, comentários e sugestões.

Para se tornar ou reconhecer um “especialista” em segurança é fácil. Primeiro: exerceu por pouco tempo algum cargo na segurança pública ou militar sem nenhum destaque. Segundo: nunca investigou um crime ou prendeu um criminoso. Terceiro: nunca compareceu a um tribunal para auxiliar o Ministério Público na acusação de marginais. Quarto: nunca participou efetivamente de operações policiais. Quinto: todo o seu conhecimento tem origem na leitura de relatórios. Sexto: jamais interrogou um acusado. Sétimo: leu três livros sobre o assunto. Oitavo: tem raciocínio rápido para enrolar nas respostas. Nono: nunca portou armas. Décimo: fala demais.

Além dos dez pontos acima elencados, outros fatores criam uma aura de conhecimento infinito nos autoproclamados “especialistas, consultores e estudiosos”. Sempre falar o óbvio, criticar a parte mais fraca, apontar erros em condutas sabendo apenas de poucos detalhes. É essencial na farsa um bom conhecimento da natureza humana, falando sempre o que as pessoas querem ouvir. Com um pouco de treinamento, qualquer um pode tornar-se “especialista” ou até mesmo vidente, já que tanto um como outro possuem como alicerce a enganação.

Se a existência dos autoproclamados “especialistas, consultores e estudiosos” da segurança fosse positiva, agregando soluções mínimas, estaríamos muito bem, não iriamos perder nem para o Jardim do Éden, onde não havia controle de acesso e alguém entrou disfarçado, estragando tudo.

Recentemente, uma outra classe de abelhudos em segurança pública surgiu: são os comentaristas. Assim como aqueles que comentam futebol, estes dizem o óbvio, criticam e relatam exatamente o que foi visto. “O Palmeiras ganhou de 1×0 no campo do Corinthians, com um jogo de muitas faltas”. Se algum torcedor que assistiu ao jogo perde tempo para ouvir isto, é bem provável estar sofrendo do Mal de Alzheimer. Na segurança púbica, o mesmo acontece. Se um comentarista de segurança afirmar que a polícia usa helicópteros em operações policiais porque eles voam, não se assustem, ele está falando uma verdade que talvez a maioria não saiba.

Fonte: Jornal Extra

8 Comentários

  1. Só alguns policiais tem credenciais para poder GERENCIAR RISCO POLICIAL porque teve que se especializar nesse mister… houve uma época em que o GF fornecia cursos específicos para essa finalidade e outras via EAD-SENASP… hoje não sei como funciona a atualização de inteligência da corporação policial dos estados e da PF… com a palavra, os policiais da ativa… em alguns Estados é obrigatório uma certa quantidade de horas de cursos do SENASP para mudança de classe funcional…

    • Sobre inteligência a Abin ministra uns cursos. Ano passado rolou o curso avançado para policiais do Paraná e esse ano teve um prova sobre o assunto.
      Problema é que muitos cursos não são ofertados via EAD, fazendo com que apenas policiais lotados nas capitais tenha acesso.

      • Sei como funciona… as nossas fronteiras estão esquecidas em todos os aspectos… o tal adicional de fronteira que existe na lei e NUNCA foi colocado em prática é outro exemplo de descaso com os interioranos… saudações…

  2. Um bom analista da área sabe coletar e interpretar dados com maestria, conhece muito de psicologia social, conhece a estruturação de operações de inteligencia em estado de arte,manja muito de orçamento público( Entende inclusive o processo político decisório inerente e sabe articular),conhece o Direto em profundidade, vive antenado em relação as melhores forças policiais do mundo assim como com o que há de mais moderno em equipamento, participa de fóruns especializados no exterior, é um bom comunicador, quando ocupa a secretária deixa claro para os subordinados quem é que manda(ELE), tem uma visão empreendedora e entende de gestão de maneira geral.

    Cursos que formam esse tipo de profissional? Ciência Política,Direito,Gestão Pública…este tipo de profissional no Brasil é quase sempre civil, pois a estrutura funcional das forças policiais brasileiras é extremamente engessada, sem progressão funcional e por tanto não permite um profissional com visão holística e integral nem da corporação em que trabalha.

    Resumindo este profissional descrito pelo autor existe nos EUA pela forma como as forças policiais são estruturadas lá….o perfil de analista de segurança pública do Brasil é outro, são MUITO escassos(Poucos cursos de especialização, quando existe!), mas nem por isso piores.

    • Das matérias que você relatou, algo que existe nos EUA são os analistas estratégicos, muitas universidades formam esse pessoal que é quase totalmente absorvido pelas agências americanas.
      Os cursos possuem matérias muito semelhantes com os cursos da Escola Superior de Guerra.

      • De certa forma sim , mas são muito diferentes também.
        Guerra é muito diferente de operação policial, guerra é matar e destruir…operação policial é salvaguardar vidas e integridade do patrimônio.

        Não dá para ser especialista nos dois!

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