Crise no Irã – Motivações internas e conspirações externas

Manifestantes em protesto no Irã .

  CENÁRIO INTERNO

 

Nos últimos dias, o Irã se tornou palco de inúmeras manifestações por todo o país, não somente na capital (Teerã) como também na segunda cidade mais populosa do país, Mashhad, e em outras cidades menos populosas do país também ocorreram alguns movimentos.

As manifestações trazem a insatisfação popular contra diversos problemas econômicos e sociais do país, pois devido as rígidas medidas implementadas pelo presidente do Irã, Hassan Rouhani, muitas políticas sociais tiveram cortes, além do reajuste nos preços de combustíveis, entre outras medidas que foram tomadas em seu governo. O país também é castigado pelas severas sanções internacionais há alguns anos. Não bastando os problemas citados acima, diversos setores da economia sofreram mudanças que trouxeram desagrado de parte da população, bem como reduziu o poder de compra de grande parte do povo iraniano, com fortes reajustes nos preços de alguns alimentos, como exemplo, houve reajuste de mais de 30% nos preços do ovo e das aves – que segundo o governo, ocorrera devido a receios de um surto de gripe aviária – essas são apenas algumas das mudanças antipopulares implementadas pelo atual governo a fim de corrigir problemas orçamentários.

 

Manifestação no Irã contra o governo.

O nível de desemprego no Irã permanece alto, e a inflação também, na casa dos 10% a.a. e o descontentamento com estes péssimos indicativos é devido ao levante de algumas sanções contra o país, nos setores energético, transporte e financeiro, mudança esta que trouxe esperanças para a população de dias melhores com a volta progressiva do país ao cenário internacional, o que não houve. Tais manifestações começaram com viés social e avançaram para um tom político, onde o atual presidente e sua gestão são os alvos.

Por conta do tom político adotado na manifestações, boa parte da população tem se mobilizado nas ruas a favor do governo, pois creem que tais levantes da população são meramente políticos, especula-se inclusive, que haja apoio de clérigos iranianos e de políticos envolvidos nesta crise.

 

CENÁRIO EXTERNO

 

As inimizades iranianas

No cenário externo, as coisas se complicam um pouco mais nesta função iraniana repleta de variáveis, por isso, serão citadas as mais pertinentes ao assunto

O Irã há muito tempo não goza de boas relações com parte do ocidente além de outros países do Oriente médio, principalmente com a Arábia Saudita – por motivos religiosos, políticos e geoestratégicos – e Israel – pois o Irã se recusa a aceitar a existência do estado judeu. Tais relações tem estado num patamar de negatividade a décadas, com Israel por exemplo, existe o possível apoio do Irã a grupos paramilitares  (quase todos declarados terroristas em Israel e nos EUA) como o grupo Hezbollah (organização política e paramilitar com sede no Líbano) grupos esses que lutam diretamente contra o estado sionista. O apoio iraniano a estes grupos, segundo Israel, é feito e diversas áreas, desde repasses financeiros, até no repasse de armas, e devido a este apoio tanto Israel quanto EUA declararam o Irã como nação apoiadora do terrorismo, tornando Teerã alvo de suas políticas intervencionistas. Vale ressaltar que a poucos dias ambos os países emitiram um comunicado onde se declararam “prontos para agir no Irã”.

Presidente dos EUA Donald Trump

Não obstante as fortes divergências com os EUA e Israel, o Irã possui  inimizade com os árabes sauditas, e isso devido principalmente, a questões de fundamentação religiosa, pelo fato dos dois países serem o centro ideológico das maiores divisões religiosas do Islã: os sunitas e xiitas; assim, ambos lutam por maior representatividade de seus países e ideologias na região, e nesta busca por poder, ambos estão em lados opostos no tabuleiro geopolítico.

 

 

A primavera árabe

Não muito tempo atrás, sendo mais preciso, a pouco mais de cinco anos, ocorreu um onda de protestos em busca  “liberdade” em diversos países árabes e do norte da África. Tais levantes populares levaram a queda de diversas lideranças, algumas delas aliadas de Moscou e Pequim, e pouco tempo depois veio a publico a realidade por detrás destas manifestações, que apesar dos motivos sociais de busca por liberdade entre outras coisas, traziam nas sombras do movimento, as mãos de governos estrangeiros e serviços de inteligência, apoiando fortemente, e de diversas formas, a queda de tais regimes. A maior confrontação por influencia regional vista neste período de manifestações, ocorreu na Síria, onde a Rússia entrou com toda sua capacidade bélica, impedindo a queda do regime aliado e a divisão territorial do país, regime este liderado por Bashar Al Assad, que foi apoiado militarmente na luta contra os terroristas do Daesh (conhecidos anteriormente como Estado Islâmico)…vale lembrar que o Irã também esteve envolvido neste episódio, apoiando a Síria e a Rússia.

 

Primavera Árabe

 

Diante destes fatos ocorridos na Primavera Árabe, o governo iraniano se posicionou de maneira ofensiva, bloqueando redes sociais e outras vias de comunicações externas com o país,  iniciando uma repressão aos movimentos, o que gerou até agora mais de 20 mortos e mais de 400 detidos. Tal repressão parte do argumento que o levante ocorreu não  por conta da insatisfação popular, mas que o movimento é ativamente apoiado pelos EUA e outros países que estariam investindo na queda do regime e na desestabilização do país.

 

RESUMO

 

Diante desses cenários, é possível criar uma projeção do que tem acontecido no Irã e enxergar as possibilidades no caminho do país.  Uma coisa é certa, a liderança iraniana precisa solucionar rapidamente a situação interna, pois o último caso, da Síria, deixa claro que um descontrole poderá ocasionar um caos generalizado no país, e possivelmente na queda do regime atual, além de impulsionar uma onda de efeitos colaterais, não retirando da mesa a possibilidade de intervenção externa, como ocorreu na Síria.

 

Míssil Tomahawk disparado contra base na Síria.

 

Levando em conta as inimizades do regime persa, existe um fator a se considerar, em 2015 o país assinou um acordo com as principais potencias globais (acordo que foi fortemente rejeitado por Israel) onde foram firmados diversos compromissos, dentre tais acordos, foi fixado que o Irã não pode comprar armamentos ofensivos por 5 anos, prazo este que termina em 2020, e de acordo com o próprio governo iraniano, contratos de aquisição de diversos armamentos acontecerão quando o período restritivo passar, com a finalidade de tornar o Irã capaz de defender sua soberania e projetar poder na região de maneira eficiente, e ao que parece, algumas lideranças não ficaram nada satisfeitas com a perspectiva do Irã se tornando uma superpotência no Oriente médio.

 

Autoria do texto: ARC

OBSERVAÇÃO:  Esta matéria não representa a opinião deste site, mas exclusivamente a de seu editor.

 

Imagens: Uol, Tudo Escola, O Globo.

8 Comentários

  1. Vão vendo… logo logo algum black bloc a soldo do ocidente estoura uma arma química e bingo: motivo perfeito para os EUA choverem mísseis nas usinas nucleares e instalações militares do Irã.

  2. Acredito que o governo iraniano em breve irá contornar essa situação,não há nenhuma possibilidade de intervenção estrangeira.o Irã é muito mais organizado que os demais países da região e caso a situação esquente a Rússia e o Hezbolah darão suporte ao governo persas !

  3. Na verdade a inteligencia dos EUA sabe que o Irã transferiu a maior parte de suas pesquisas nucleares para a Coreia do Norte, por isso que a mesma avançou tão rapidamente neste campo, ai nesse caso temos mais duas potencias nucleares ao invés de uma.

    Por isso os EUA querem fazer de tudo para derrubar o governo iraniano.
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    Munhoz – Por favor, você poderia disponibilizar as referências / links, com essas informações. O Plano Brasil tem interesse em disponibilizar essas informações, pode ser aqui mesmo na seção de comentários. Desde já, muito obrigado. – Plano Brasil

    • Olha as evidencias neste caso podem ser conferidas de varias formas.

      Neste caso a CN tem a capital da Coreia do Sul como refém de sua artilharia no caso de ser atacada, o Irã teria que atacar Israel a uma distancia bem maior e os EUA poderiam usar Israel para atacar os centros de pesquisa do Irã ou seja com os recursos que tem o máximo que o Irã poderia fazer seria minar o golfo se fosse atacado, já a CN poderia lançar milhares de projeteis sobre Seul, então as pesquisas do Irã estariam muito mais seguras na CN (e bem longe de Israel).

      O Irã estava na eminencia de ser atacado, ai sem alternativa ele fechou um acordo com os EUA, no entanto provavelmente transferiu suas pesquisas para a CN contornando o embargo e garantindo a finalização do desenvolvimento.

      É mais ou menos assim a relação entre Irã e CN, segura a bronca ai com a pesquisa, desenvolvimento etc ( CN ) que o dinheiro e os recursos é comigo aqui ( Irã) onde sem embargos ele teria de sobra.

      Segue abaixo alguns links:

      https://noticias.r7.com/nosso-mundo/eua-desconfiam-que-coreia-do-norte-seja-especie-de-laboratorio-do-ira-20122017

      https://www.unitedagainstnucleariran.com/north-korea-iran

      Vindo deste link :

      As semelhanças entre os mísseis balísticos norte-coreanos e iranianos aumentam a possibilidade de que a Coréia do Norte deve desenvolver com sucesso as ogivas nucleares para misseis Nodong, por exemplo, elas seriam compatíveis com Shahab-3s do Irã. O Irã e a RPDC poderiam então entrar em um acordo de compartilhamento. Em julho de 2015 testemunho do Congresso , o especialista em não-proliferação Larry Niskch, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) afirmou: “Um acordo norte-coreano-iraniano para compartilhar as ogivas nucleares para os misseis Nodong, parece-me, é uma possibilidade realista nesta fase. A Coreia do Norte e o Irã tiveram redes de transporte clandestinas no mar e no ar bem sucedidas. Houve poucas interdições dessas redes. A transferência de ogivas de Nodong da Coréia do Norte para o Irã teria boas chances de sucesso “.

      https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://www.express.co.uk/news/world/857834/Trump-secret-nuclear-weapon-Iran-North-Korea-Kim-Jong-Un&prev=search

    • Munhoz, pouco provável uma parceria atual do Irã com a Coréia do Norte. O acordo firmado com os EUA já foi pro espaço e resta apenas o acordo com os europeus. Qualquer ligação com a Coréia do Norte romperia a quase única válvula de escape econômica do governo dos aiatholas. E eles estão precisando muito.

      Agora, acho perigoso se a situação continuar assim por lá e as sansões financeiras/comerciais voltarem a ser aplicadas. Seria interessante se o governo acenasse com algumas liberalizações e os ‘revoltosos’ recuassem.

      Contudo, o problema de revoluções sem líderes é que é difícil, senão impossível negociar.

      • Observe a queima do combustivel nos misseis do Irã e da CN em alguns videos e vera que se trata do mesmo tipo de combustivel, no demais eles tem uma parceria antiga em diversas areas como os minisubmarinos etc
        Os israelenses estão de olho no Irã e se eles não transferissem as pesquisas teriam seus centros e seus reatores atacados a própria Arabia Saudita ja tinha dado autorização para Israel sobrevoar seu espaço aéreo.

  4. Lá do CAF:

    “Você já reparou que situação estranha essa das recentes manifestações no Irã?

    Lá, o Ministério da Inteligência e a Procuradoria Geral da República trabalharam durante 4 anos seguindo as atividades de um grupo de agentes da CIA que as esteve preparando durante este tempo.

    Encontraram primeiro as provas, o dinheiro repassado, as comunicações, as gravações.

    O financiamento das operações era da Arabia Saudita e a inteligência da CIA e do Mossad.

    Agora as autoridades prenderam esse agente que coordenava o grupo.

    As manifestações tinham razões legítimas, pessoas legitimamente preocupadas com a inflação, desemprego e outras situações CAUSADAS PELO BLOQUEIO E SANÇÕES ECONOMICAS dos EUA contra o Irã alegadamente por “não cumprir o Acordo Nuclear”, coisa que até a União Europeia nega, afirmando ao contrário que o Irã está sim cumprindo este acordo para o qual Lula e Erdogan, presidente da Turquia, cooperaram muito para que fosse firmado.

    Você lembra disso? Lá em 2009? Lembra que depois de tudo resolvido com o Irã o Obama não quis assinar o Tratado?

    Pois é…

    Os manifestantes legítimos fizeram suas manifestações mas, junto com eles, estavam infiltrados manifestantes violentos, pagos e armados pela CIA que atacaram delegacias e quarteis da polícia, roubando armas e matando 10 policiais.

    A mídia pública e dos movimentos populares denunciou a articulação dos “oposicionistas” com a CIA e ajudou a mobilizar esse enorme contingente de povo contra os golpistas.

    Acontece que o Governo Iraniano vinha se preparando durante todos esses anos para quando esse golpe fosse ser dado.

    Seguiram as reuniões dos golpistas com os agentes estrangeiros.

    Mapearam o repasse de recursos e de dados de inteligência.

    E dois dias após as pequenas manifestações dos golpistas, saíram às ruas aos milhões em manifestações organizadas em 1.200 municípios do Irã, todas no mesmo dia, em apoio ao Governo do Irã, contra a ingerência da CIA, de Israel e da Arábia Saudita.

    Não adiantou nada Trump e Benjamin Netanyahu declararem publicamente com toda a Mídia Internacional do seu lado que “apoiariam os manifestantes do Irã que lutam contra o Governo corrupto e terrorista do Irã.”

    O povo iraniano e o Governo Iraniano estavam preparados.

    Os agentes estrangeiros já estão presos. E vão a julgamento. O governo já está divulgando seus nomes e as provas de sua colaboração com empresas e agências de inteligência estrangeiras.

    Você consegue fazer alguma correlação entre isso e o que aconteceu no Brasil?

    Você lembra de Kim Kataguiri num encontro do MBL , em vídeo, dizendo claramente que aquela organização recebeu dinheiro da petroleira Irmãos Koch dos EUA para financiar carros de som, coqueteis molotov, foguetes e diárias para vândalos nas manifestações verde e amarelas de 2013?

    Você não acha estranha a atuação da Procuradoria Geral da República, da PF e da Inteligência Brasileira no caso?

    E a inteligência do Exército e das forças armadas, onde estava?

    Ou está?”
    ——-

    https://actualidad.rt.com/actualidad/259175-fiscal-cia-israel-saudita-disturbios-iran

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