Cadetes americanos vivem experiência como alunos da Força Aérea Brasileira

Os cadetes americanos (da esq. à dir.) Pablo Steven Vespasiano, Aleigh Morgan Mclean e Maxwell Richard Heefner foram integrados à rotina da Academia da Força Aérea Brasileira. (Foto: Soldado-de-Segunda-Classe da Força Aérea Brasileira Antônio Messias Santos Conceição)

Um intercâmbio pioneiro entre a Academia da Força Aérea Brasileira e a Academia da Força Aérea dos Estados Unidos permite aos estudantes experimentar a vida no exterior.

Por Taciana Moury/Diálogo 

Três cadetes da Academia da Força Aérea dos EUA (USAFA, por sua sigla em inglês) estudam, desde o início de agosto, na Academia da Força Aérea Brasileira (AFA). Os cadetes Pablo Steven Vespasiano, Maxwell Richard Heefner e Aleigh Morgan Mclean são os pioneiros de um intercâmbio entre os dois países com o objetivo de fortalecer as habilidades em língua estrangeira, bem como aumentar a interoperabilidade entre as forças aéreas. Eles permanecem no Brasil até o final do ano letivo da AFA, em dezembro.

Durante cinco meses, os alunos americanos estão sendo integrados ao dia-a-dia da AFA, em Pirassununga, interior de São Paulo, e assistindo cursos como Aerodinâmica, Economia, Liderança, Gestão de Pessoas, Eletrônica e História Militar, além das atividades ligadas à doutrina militar. Eles foram selecionados entre os cadetes que estudavam língua portuguesa. “Para participar do intercâmbio, é necessário falar bem o idioma, ter boas notas e estar bem fisicamente”, disse o Cad Vespasiano.

O motivo da escolha dos estudantes americanos pelo Brasil foi a oportunidade de conhecer como funcionava outra força aérea. “Existia a opção de Portugal, mas era uma faculdade civil. Eu queria ter uma experiência militar diferente, conhecer a doutrina e a rotina dos cadetes brasileiros”, explicou o Cad Heefner.

Ainda na USAFA, os cadetes foram preparados durante seis meses, do início de janeiro ao início de julho de 2017, pelo instrutor brasileiro Tenente-Coronel Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB) Saint-Clair Lima da Silva, instrutor nos departamento de Línguas Estrangeiras e de Ciência Política da academia. “Tínhamos uma hora de aula, vários dias por semana, falando dos costumes da AFA e do estilo de vida no Brasil”, contou o Cad Heefner. Música brasileira, vídeos sobre o Brasil na internet e filmes também foram fontes de consulta para os alunos. “Eu costumava assistir filmes infantis dublados em português. Como já conhecia a história, era mais fácil compreender”, revelou a Cad Mclean.

A experiência dos três cadetes americanos incluiu a participação nos treinamentos militares, como o de sobrevivência no mar. (Foto: Capitão da Força Aérea Brasileira Fernando Braga Ferrão Galante)

Adaptação no Brasil

As primeiras semanas na AFA foram de ambientação para os cadetes americanos. Assistiram aulas sobre a cultura brasileira, a história da FAB e do Brasil, a rotina militar e a forma de avaliação das matérias na academia. “Apesar de cursar o terceiro ano nos Estados Unidos, aqui eles se integraram ao quarto ano. Permaneceram em quartos separados, apenas com colegas brasileiros, para facilitar a adaptação à língua”, contou o Capitão Aviador da FAB Marcelo da Silva dos Santos, instrutor do Esquadrão Fenrir, que recebeu os cadetes.

“Nos primeiros dias eu não entendia nada do que falavam. O sotaque daqui era muito diferente do meu professor brasileiro na USAFA”, lembrou o Cad Vespasiano. “O início foi assustador. Tínhamos muitas atividades e não conseguíamos entender bem o português”, reforçou a Cad Mclean. Segundo o Cap Silva Santos, a dificuldade inicial com o idioma já era esperada. “Por mais que você conheça uma língua, quando você chega para viver na localidade, tem todo um linguajar coloquial ao qual eles tiveram que se adaptar. Mas os companheiros de quarto ajudaram nesse processo”, disse.

O Cap Silva Santos destacou a qualidade dos cadetes americanos e a disponibilidade em estar sempre integrados às atividades. “Em todas elas apresentaram um desempenho satisfatório, principalmente na parte física”, revelou. Ele acrescentou que a adaptação à doutrina militar da AFA foi rápida.

Diferenças entre a AFA e a USAFA

As diferenças entre as duas academias foram sentidas logo nos primeiros dias. “Aqui na AFA o esporte é obrigatório e exigem muito no aspecto militar”, disse o Cad Heefner. Para ele as aulas na USAFA são mais participativas. “Os alunos perguntam mais. Além disso, temos mais laboratórios e projetos de pesquisa”, revelou.

“As atividades como acampamento, sobrevivência no mar ou na selva, fazemos no período de verão. Já na AFA, esses treinamentos são realizados junto com a rotina acadêmica”, contou o Cad Vespasiano. Para ele, algumas matérias têm grau de aprofundamento diferenciado. “Aqui no Brasil, a Aerodinâmica é voltada para a formação de pilotos, com foco em aviação. Na USAFA é mais complexa, voltada para a área de engenharia”, explicou.

A AFA atualmente oferece os cursos de Formação de Oficiais Aviadores, de Formação de Oficiais Intendentes e de Formação de Oficiais de Infantaria, todos com duração de quatro anos. Os aviadores iniciam a atividade aérea no segundo ano. Lá, eles aprendem a voar o T-25 Universal e fazem 34 missões avaliadas, completando cerca de 36 horas de voo no ano. Os cadetes aviadores voltam a pilotar somente no quarto ano, onde fazem cerca de 75 horas em 64 missões no T-27 Tucano, depois de terem cumprido três missões de procedimentos normais e de emergência no simulador dessa aeronave.

O Ten Cel Saint-Clair explicou que o método de ensino da USAFA enfatiza muito a leitura prévia, a análise e o debate dos temas em sala, trazendo uma carga muito grande de estudo. Já a atividade aérea desempenhada pelos cadetes tem a função principal de motivá-los para a aviação. O curso consiste de aproximadamente 20 horas de instrução teórica e cerca de 13 horas de voo, distribuídas em 10 saídas, na qual a última é um voo solo. “Praticamente não há reprovação no curso e o cadete exercita pousos, decolagens, aproximações, estóis (perda de sustentação), atitudes anormais e panes simuladas”, explicou. Ele acrescentou que, depois de formados, os oficiais que forem selecionados e optarem pela aviação, realizarão uma “triagem inicial” de voo durante 40 dias na cidade de Pueblo, no Colorado.

Os cadetes da USAFA e da AFA assistem aulas juntos. (Foto: Soldado-de-Segunda-Classe da Força Aérea Brasileira Antônio Messias Santos Conceição)

Vantagens do intercâmbio

O Cap Silva Santos disse que o intercâmbio com a USAFA é muito positivo para a AFA. “É uma oportunidade de conhecer melhor como é a formação da mais importante força aérea do mundo, que está na vanguarda do desenvolvimento de doutrina e tecnologia”, destacou. Para o Ten Cel Saint-Clair, a possibilidade do contato com diferentes perspectivas sobre a formação militar e acadêmica de oficiais é a grande vantagem.

Os cadetes americanos destacaram os benefícios da experiência. “Hoje, consigo compreender como funciona a hierarquia do Brasil e os objetivos dos treinamentos”, disse o Cad Heefner e acrescentou que vai sentir falta da comida e dos passeios. “Conheci várias regiões do Brasil, como o Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu, Salvador e Minas Gerais, região histórica do país”.

O Cad Vespasiano ficou surpreso com a simpatia das pessoas e as belezas naturais do país. As lições aprendidas durante o treinamento de sobrevivência no mar foram destacadas pela Cad Maclean. “Foi difícil ficar 48 horas no meio das ondas. Mas achei interessante ver como os oficiais atuaram ao lado dos cadetes e subordinados durante a atividade”, reforçou.

Os cadetes brasileiros aproveitaram a oportunidade para exercitar o inglês e adquirir novos conhecimentos com os colegas estrangeiros. “Eles têm uma visão muito diferente da nossa no que diz respeito à guerra. Precisam estar preparados para uma situação real, já que eles são de um país que é protagonista em alguns conflitos”, disse a Cadete da FAB Mariana Dutra.

Cadetes brasileiros na USAFA

Os cadetes brasileiros que estão estudando na USAFA seguem estritamente a rotina dos cadetes da academia e estão sujeitos às mesmas restrições e privilégios, a exemplo dos cadetes americanos na AFA. Todos eles cursam cinco disciplinas, que foram selecionadas em função de seus cursos de formação – Aviação, Intendência ou Infantaria – e da contribuição para a sua formação como oficial da Aeronáutica, como disciplinas de guerra irregular, desenvolvimento de liderança e outras.

Todos se adaptaram muito bem à rotina da USAFA, segundo o Ten Cel Saint-Clair. “Hoje, nossos cadetes estão entre os melhores nas disciplinas que cursam. O Cadete Aviador Christian Eloysio Silva, por exemplo, obteve a maior média entre todos os cadetes da USAFA, que são pouco mais de 1.000 que cursam a disciplina de Poder Aéreo e Profissão Militar”, revelou.

A Cadete Intendente Michelle de Mattos também obteve bom resultado e ficou com a terceira maior nota no curso de ‘Gerenciamento de Produção, Operações e Cadeia Logística’. Já o Cadete Aviador Diego Bertolo e o Cadete de Infantaria Felipe Cazuza alcançaram as primeiras posições nas competições desportivas internas da academia dos EUA.

O Ten Cel Saint-Clair destacou ainda o privilégio para os cadetes brasileiros de estudar por seis meses numa das melhores instituições de ensino dos Estados Unidos. “Esse clima de excelência no ensino é apreendido e levado para o Brasil, possibilitando uma avaliação crítica dos nossos próprios métodos e paradigmas na formação dos oficiais”, declarou. “A possibilidade de criar laços com os cadetes americanos certamente vai gerar frutos em alguns anos, quando esses jovens cadetes estiverem liderando suas forças aéreas”, finalizou.

 

Fonte: Diálogo Américas

8 Comentários

  1. Viver experiência?!
    Acho que é para rir…Que tipo de experiencia?

    O dia a dia de uma força aérea sem recursos e sem aeronaves no estado da arte?!

    Venham yankee boys,venham para a AFA e poderão voar nos F-5 mike do século passado…

    • Até onde sei, nesses intercâmbios eles nem chegam entrar em aviões. Então, querendo ou não, não pilotariam F-5 nem F-39.

  2. E normal eles estão vindo conhecer sua nova colonia de exploração sabe como ne botar ordem na zona kkkk viva o Brasil Colônia

  3. Otima materia. Agora, aquele buraco ali no chão da sala de aula da ultima foto é constrangedor. Fico imaginado a sala de aula lá e o q os alunos americanos silenciosamente pensam, são esses detalhes q fazem a diferença.

  4. …………………te enganas…não é “nova” colonia de exploração…..é velha, aliás antiquíssima…só que agora até as FFAAs entraram no conluio entreguista…..escancarou de vez…..pobre do nosso país….como se rebaixou…..deplorável…………..

  5. “Aqui no Brasil, a Aerodinâmica é voltada para a formação de pilotos, com foco em aviação. Na USAFA é mais complexa, voltada para a área de engenharia”

    Ou seja, aqui formamos caçadores natos, enquanto lá são formados mecânicos que posteriormente aprendem a pilotar.

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