Entenda a rivalidade entre Arábia Saudita e Irã

No xadrez político do Oriente Médio, as peças são mexidas por sauditas e iranianos, numa guerra por procuração que alimenta conflitos em Síria, Iraque, Iêmen e Líbano.

Manifestantes seguram bandeira da Arábia Saudita

A retórica da divisão atende aos interesses da Arábia Saudita e do Irã no Oriente Médio, mas o sectarismo não é a raiz do conflito entre os dois países muçulmanos. O relacionamento tenso gira mais em torno do poder e da influência, seja na Síria, no Iraque, no Iêmen, no Bahrein, no Líbano ou dentro de casa.

Com o apoio dos Estados Unidos, Riad e Teerã tentaram melhorar os laços durante a década de 1960, o rei Faisal, da Arábia Saudita, e o xá Mohammad Reza Pahlavi realizaram visitas oficiais de Estado aos respectivos países.

Mas a tensão estava sempre presente. Em uma série de cartas escritas no final da década de 1960, o xá teria instado Faisal a modernizar a Arábia Saudita no âmbito dos valores culturais ocidentais, dizendo:

“Por favor, meu irmão, modernize. Abra seu país. Faça as escolas misturarem mulheres e homens. Deixe as mulheres usarem minissaias. Tenha discotecas. Seja moderno. Caso contrário, não posso garantir que você fique no seu trono.”

Faisal teria respondido: “Sua majestade, agradeço o seu conselho. Permita-me lembrá-lo de que sua majestade não é o xá da França, não está no Palácio do Eliseu. Sua majestade está no Irã. A população de seu país é 90% muçulmana. Por favor, não esqueça disso.”

A concorrência entre os dois países aumentou durante a política de “pilares duplos” do presidente dos EUA, Richard Nixon, na década de 70, que procurava oferecer suporte material ao regime do xá, enquanto continuava a manter laços estratégicos com Riad.

Presidente dos EUA, Donald Trump, durante visita à Arábia Saudita

Revolução

A revolução de 1979 no Irã, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, levou à derrota do xá e mudou fundamentalmente as relações entre o que se tornaria uma república islâmica dominada pelos xiitas e o reino de maioria sunita.

Para a Arábia Saudita, a Revolução Islâmica marcou uma tentativa de destronar seu papel hegemônico na região, especialmente porque Teerã tentou exportar sua revolução para outros países do Golfo. Durante a guerra Iraque-Irã de 1980-1988, os sauditas, juntamente com os EUA, apoiaram o regime de Saddam Hussein no Iraque e até instaram outras nações do Golfo a apoiarem Bagdá.

Após violentos confrontos em 1987 entre peregrinos xiitas e forças de segurança sauditas em Meca, que deixaram mais de 400 mortos, Khomeini criticou a liderança do reino como “wahabistas vis e ímpios”, uma referência ao movimento islâmico ultraconservador promovido e exportado pelo governo em Riad. O incidente provocou protestos em Teerã, que resultaram no ataque à embaixada da Arábia Saudita, o que, por sua vez, levou Riad a cortar os laços diplomáticos com Teerã.

Após o fim da guerra entre Iraque e Irã, os dois países iniciaram uma redução cautelosa das hostilidades. A reaproximação durante a década seguinte culminou com a visita oficial do então presidente iraniano, Mohammad Khatami, a Riad em 1999.

Iranianos queimam bandeira dos EUA: com a Revolução Islâmica, Washington perdeu um aliado regional

Novo cenário 

Após a Revolução Islâmica, o Irã começou a ser visto pelo Ocidente como uma ameaça em potencial para a segurança regional e global, com foco especial em suas ambições de energia nuclear. A tensão contínua provocou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em 2006, que determinou sanções ao Irã, porque o país se recusava a suspender imediatamente seu programa de enriquecimento de urânio.

Por outro lado, a Arábia Saudita continuou a desfrutar do apoio dos Estados Unidos na década de 2000 e se manteve um garante dos interesses dos EUA na região.

No entanto, o acordo nuclear de 2015, negociado pela Alemanha, China, França, Rússia, Reino Unido e EUA, marcou outra reviravolta. Sob o acordo, o Irã reduziria o seu programa nuclear em troca do relaxamento das sanções econômicas.

Para a Arábia Saudita, o acordo ameaça minar seu domínio regional, já que a comunidade internacional acolheu de bom grado o Irã como uma fonte de petróleo e de novas oportunidades de negócios, efetivamente fornecendo ao país uma nova forma de legitimidade internacional.

Após o acordo, a Arábia Saudita lançou várias operações que ameaçam os interesses iranianos em toda a região. No Iêmen, Riad continuou a lutar contra rebeldes apoiados pelo Irã e, na Síria, apoia grupos islâmicos antigovernamentais.

A execução de vários membros da comunidade xiita da Arábia Saudita, incluindo o prominente clérigo Nimr al-Nimr em janeiro de 2016, desencadeou manifestações violentas em Teerã, com manifestantes incendiando a embaixada da Arábia Saudita. Riad respondeu cortando todos os laços com o Irã – e é esta a situação atual.

Fonte: DW

 

 

 

2 Comentários

  1. Bem no fundo deste baú há o importantíssimo acordo do dólar petróleo entre a Arábia Saudita e os EUA. Quem não sabe do que se trata, creio que é urgente se informar.

    • É verdade meu caro, quem lastreia o dólar é o petróleo Saudita por isso que o Reino de terror de Riad nunca é levado aos tribunais internacionais! Hoje já existe um movimento por parte da China, Rússia e do próprio Irã para minar essa promiscuidade, os títulos de mercado futuro chineses que podem ser revertido em ouro e a aceitação por parte de alguns produtores de petróleo de outras moedas , certamente causará grandes mudanças.

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