“Com a Coreia do Norte não há alternativa, senão o diálogo”

É ilusório esperar que o regime de Kim Jong-un renuncie ao seu programa atômico por enquanto. Mas há uma boa chance para negociações, afirma o especialista Eric Ballbach.

Teste de míssil norte-coreano, em 14 de maio

Chefe do grupo de pesquisa Coreia do Norte e Segurança Internacional do Instituto de Estudos Coreanos na Universidade Livre de Berlim, Eric J. Ballbach afirma que o testes de mísseis e armas nucleares por parte dos norte-coreanos seguem a velha lógica da deterrência, ou dissuasão, e ainda uma lógica interna que atende a conceitos de legitimidade.

Em entrevista à DW, ele diz que a vitória de Moon Jae-in na Coreia do Sul pode inaugurar uma nova era de diálogo.

DW: A Coreia do Norte voltou a disparar um míssil balístico, pela terceira vez desde o início do mês, mesmo com todas as advertências feitas pela comunidade internacional. Qual é o cálculo que explica a atitude da Coreia do Norte?

Eric J. Ballbach: Por trás do armamento nuclear da Coreia do Norte está uma lógica dupla. É ainda a velha conhecida lógica da deterrência: o regime se sente particularmente ameaçado militarmente pelos EUA, desse modo, uma arma nuclear, por assim dizer, serve como a maior garantia de soberania do Estado neste contexto.

Esta lógica, é claro, só funciona se outros países também acreditarem que os norte-coreanos desenvolveram sua infraestrutura nuclear até um certo estágio. Isto não tem nada a ver com irracionalidade. Muito pelo contrário: é parte inerente da lógica da dissuasão que você teste esses sistemas de armas regularmente e também demonstre o que você tem a seu dispor.

No caso da Coreia do Norte, especialmente nos últimos meses, é bastante óbvio que existe um esforço de juntar as duas tecnologias principais –  a arma nuclear e a tecnologia de mísseis. Esta etapa tecnológica é mais complicada, e testes regulares são necessários.

E qual seria a “segunda lógica” do programa nuclear norte-coreano?

Temos que entender a segunda lógica para compreender por que a Coreia do Norte tem tomado decisões que envolvem uma escalada, como estes testes de mísseis, mesmo que estes não sejam tão vantajosos para seus próprios interesses de segurança. Neste caso, envolve questões de identidade e legitimidade.

Enquanto a lógica da dissuasão segue considerações políticas, especialmente as internacionais, esta lógica de escalada atende objetivos internos. O regime precisa de um discurso amplo e existencial de ameaça para impor seus objetivos. Pois é perfeitamente concebível que, mesmo em um país totalitário como a Coreia do Norte, um projeto tão caro e intensivo como um programa nuclear não pode ser mantido sem uma ameaça externa.

Ou seja, o regime envia com esses testes regulares um sinal de força militar e um sinal de que as decisões do caso não ocorrem em Washington, mas apenas em Pyongyang.

As circunstâncias para uma reaproximação parecem favoráveis: o novo presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, expressou que estaria disposto a reunir-se em determinadas circunstâncias. Também dos Estados Unidos, há sinais de que negociações, por ora, não estão excluídas. Exatamente o que Coreia do Norte realmente quer. Por que então essas provocações repetidas?

A questão não é entre testes de mísseis ou diálogo para os norte-coreanos. Não é uma contradição. Pyongyang sabe que a comunidade internacional está diante de um problema, um problema de falta de alternativas. Sanções sozinhas não alcançam o objetivo desejado. Ações militares não são realmente realistas, não politicamente e não militarmente, já que a maioria da infraestrutura nuclear da Coreia do Norte é subterrânea e não sabemos exatamente onde está a maior parte. Ou seja, um ataque militar não faria muito sentido.

Não fazer nada, a estratégia de esperar pelo colapso, como ocorreu sob Barack Obama, também não alcançou a meta.

Assim, em última análise, a falta de alternativas leva ao diálogo, e os norte-coreanos também sabem disso. Isto significa que testes repetidos de mísseis ou testes nucleares não são diametralmente opostos a um diálogo. Experimentamos isso no passado. Após o primeiro teste nuclear em 2006, demorou menos de um mês até que as “negociações de seis partes” fossem retomadas. Ou seja, provocações trabalharam no passado várias vezes como uma espécie de catalisador diplomático que deu início a novas iniciativas diplomáticas.

Mas ainda é verdade que para a Coreia do Norte, nas condições atuais, o programa nuclear não é negociável.

O que é necessário acontecer para que um novo diálogo prospere?

Uma grande vontade política da comunidade internacional seria necessária para avançar na questão do programa atômico norte-coreano por meio do diálogo. Os requisitos básicos mudaram drasticamente nos últimos dez anos. A Coreia do Norte agora considera-se uma potência nuclear e já não é tão fácil desistir desse status, a menos por preço político alto o suficiente. Isso envolveria, por exemplo, garantias de não agressão e de segurança, que atualmente são inimagináveis com um presidente como Donald Trump na Casa Branca.

No entanto, vejo uma oportunidade com a presidência de Moon Jae-in.

Como um dos cofundadores da “Sunshine Policy”, ele sabe que a médio prazo um diálogo com a Coreia do Norte só pode ter sucesso se a questão nuclear não nortear todas as dimensões das relações inter-coreanas. Isto é, se ele for capaz de dissociar o debate sobre a questão nuclear da cooperação sociocultural e econômica, um passo a passo para a confiança poderia ser construído, algo que é um fundamento absoluto para um diálogo bem-sucedido com a Coreia do Norte.

De qualquer forma, é estimulante que chegou ao fim a dinâmica de três governos conservadores nos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. Com um presidente sul-coreano liberal, que manifestou repetidamente a importância do diálogo com a Coreia do Norte, há uma chance de que canais de diálogo estejam abertos novamente após vários anos de silêncio.

Fonte: DW

 

 

24 Comentários

  1. Boa matéria, muito sensata, opiniões que levam em conta os dois lados conflitantes. Sem aquele negocio de que só há provocações por parte dos norte coreanos e que os mesmos não podem exercer seus direitos autorais auto defesa.

  2. Rapaz … os norte coreanos encaram os maiorais do ocidente sem piscar os olhos …que isso sirva de lição para certos tipinhos abaixo da linha do equador .. altivez e determinação … é o que se vê mais no maluco do Kim .. isso para mim é de merecer elogio, mesmo que as situações lá dentro, no que se refere a liberdade do seu povo; é uma grande chaga exposta .

    • Faça uma comparação simples, compare a qualidade de vida de um sul coreano capitalista com a e um norte coreano sob o socialismo.
      Ou então faça assim, compare a tecnologia de um Hyundai Elantra pelas ruas depois vá ate o Brás em SP ouvir as historias de um norte coreano refugiado trabalhando para mafia chinesa nos box da feirinha da madrugada de ching lings.

    • Não me diga pulguento que você está preoculpadissimo com o povo norte coreano ? …. HAHAHAHA … logo você e tantos outros nazistinhas que vivem fazendo comentário “humanitário” para os índios tupiniquins …HAHAHAAH …BICHO … vai se cata vai … HAHAHAHAH

      • Não Lunatico, eu não tenho nenhum apreço pelo nazional Socialismo, portanto pode guardar seu espantalho que comigo não funciona.

  3. quem pode…PODE…desenvolve sua tecnologia e indústria….quem não pode…. é dependente dos outros e paga caro…

  4. ………… bem, pelo que sei os EU arrocharam os ucranianos pra não compartilhar tecnologia de foguete com o Brasil (e acabou-se o programa)……na Argentina arrocharam o Menem pra acabar com o projeto do foguete Tronador (o que foi feito de imediato)…..os EU como “xerife” do planeta cuja autoridade se baseia no velho jargão de “manda quem pode,obedece quem tem juízo” pensou em seus devaneios megalomaníacos que o Kim jon un ia recitar sua cartilha mas se enganaram porque o Kim ta bem equipado militarmente, com a fronteira a menos de 200 km de Seul, seu armamento é nuclear e o povão tá com êle…..Daí que o xerifão agora virá com outro papo na base do “tenha calma, vamos levar um lero”…….e..a arrogância dos EU vai pras cucuias ………nem sempre baionetas solucionam problemas………tem que,,,,conversar……………….Kkk……..

  5. A Coréia do sul está perdida com um liberal frouxo na presidência, é mais um liberal que vai causar a morte dos próprios cidadãos e dessa vez será muito mais do que qualquer ataque terrorista. A única intenção da coréia do norte é tomar a coréia do sul, sempre foi assim desde quando invadiram a coréia do sul de surpresa na guerra da coréia, afastem os EUA e verás o diálogo do ditador que já matou a própria família.

  6. Ao meu ver.. a ” janela” de um possivel ataque a K.Norte fechou a 6/7 anos atras. O —– Kim tal como todo mundo que nāo passa de fanforrice e bluff dos EUA dos manobras militares e ameaças. Actualmente as consequências de um ataque serāo imensas. Pois a capacidade de resposta da K.Norte ė grande e nāo so a K.Sul e Japāo sofreriam com o caos destruiçāo. Sendo o Japāo a 3° economia mundial e a K.Sul a 11°. Que consequências e balo provocaria na economia mundial? Tara o mundo para tal?
    Por outro lado se os EUA e seus aliados querem dar um sinal claro ao Kim, entāo o pk nāo derrubam ou abatem um desses misseis lançados que caiem no mar do Japāo? Estariam no seu direito nāo?
    E para finalizar..se nada for feito para travar a K.Norte seu poder e força vāo aumentando tera mais tecnologias e em poucos anos teram misseis de longo alcance.. misseis intercontinentais..E dai ? Nāo sera um perigo maior ?alguem se atrevera a ameaçar ou atacar?

  7. os americanos só tem que dizer uma coisa, e deixar pra lá esses norte coreanos

    “pode fazer quantas bombas atômicas quiser, mas se atacar qualquer aliado nosso ou mesmo nós, é o fim de tudo !!”

    pronto, deixa isso bem claro pra coreia do norte, China e Rússia. Se atacar morre todo mundo, e vice versa rss…

    o EUA e seus aliados não é obrigado a ter uma parceria comercial com eles, faz igual fez com Cuba, deixem eles isolados e fazendo negócios com seus pares, a natureza se encarregar por conta própria, são comunistas !!

    mas se ousarem usar suas bombas nucleares em alguém, acabou pra eles, game over !!

    • de resto a coreia do norte vai ser sempre isso ae que estamos vendo, eu entendo a preocupação dos americanos e sul coreanos, pois comunistas não respeitam nada, já invadiram uma vez a coreia do sul.

      mas estacionem tbm na coreia do sul várias ogivas nucleares, para um resposta rápida se o norte tentar qualquer coisa, e se a China querer dar uma de espertinha tbm, é essa a melhor resposta que os EUA pode dar no momento.

      tbm acho que os EUA e aliados perderam o “bonde”, agora para manter a paz mundial acho que o melhor seria fazer isso, mostrar a eles que se ousar a atacar alguém será prontamente respondido na mesma moeda com rapidez, e será o fim de tudo.

    • “pode fazer quantas bombas atômicas quiser, mas se atacar qualquer aliado nosso ou mesmo nós, é o fim de tudo !!”

      óóóó
      Mas é um genio
      É Sério que vc chegou a essa conclusão sozinho? Não teve nenhuma ajuda de fora?

      • Não é com o meu comentário que vc precisa se preocupar, eles são óbvios e inofensivos, feitos deliberadamente para pessoas de baixo intelecto para entende-los claramente, e assim se sentirem confortáveis em ironiza-los, pois pessoas assim são como eles, óbvios e inofensivos !

  8. ………….não é a Coréia do Norte que está indo ao litoral dos EU ameaçando invadir mas muito ao contrário…….não cabe aos EU exigir que os norte-coreanos não desenvolvam armamento atômico….os norte-coreanos desenvolvem o armamento que bem quiseram pra sua Defesa……. como agora o país “manda -chuva” encontrou uma “carne de pescoço” que tem êxito em seu programa de mísseis balísticos, vai tentar chama-lo prum “acordo” arapuca….nós brasileiros deveríamos ter armamento nuclear e aí então seríamos respeitados…..no contexto internacional só é respeitado e fala grosso quem tem armas atômicas …………….lastimável……..

  9. viram como a diplomacia Bulava funciona senhores….é tiro e queda….qualquer problema ou mal entendido se resolve na hora… 🙂

  10. o GORDINHO da CN mostra aos paises como o BRASIL o GRANDE JOAO GRANDAO E BOBAO como se faz uma DEFESA , o resto e BLABLABLA.

  11. agora a coreia do sul tem que mostrar que tem culhoes, flexionar os musculos e mostrar os dentes também. porque se esperar tudo dos eua, acabarao sendo tragados igual o vietnan do sul pelos comunistas. ou se grudem logo de uma vez igual a alemanha!

  12. Ainda há tempo TRUMP… encaçape esse barrigudinho em uma caçapa atômica e GAME OVER… pra ontem…

  13. É bem provavel que, uma vez alcançada a capacidade de transporte destas ogivas nucleares por misseis balísticos pelos norte coreanos, o Japão se ache no direito de também criar suas armas nucleares. A China não vai gostar nada disso, mas foram eles quem criaram o mostrinho norte coreano, e teriam que lidar com uma asia nuclearizada. Ainda acredito que os Estados Unidos não irão deixar os Norte Coreanos ameaçarem seu território com armas nucleares e agirão preventivamente, e infelizmente para sul coreanos e japoneses que terão que lidar com uma guerra e muitas baixas.

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