Iraque denuncia uso de armas químicas pelo Daesh ou “Estado Islâmico” (EI)

Extremistas teriam utilizado armamento contra ofensiva das tropas do governo em Mossul. Ataque não causou mortes. Segunda maior cidade do país foi tomada por jihadistas em 2014.

Forças de segurança do Iraque denunciaram neste domingo (16/04) o uso de armas químicas pelo grupo extremista “Estado Islâmico” (EI). O armamento foi utilizado pelos jihadistas no sábado durante um combate em Mossul. O ataque não causou mortes.

De acordo com as forças de segurança, os combatentes do EI usaram “mísseis que continham substâncias químicas tóxicas” durante o confronto travado na parte ocidental de Mossul, a segunda maior cidade do país que foi tomada pelos extremistas em 2014.

As forças iraquianas indicaram ainda que “os mísseis tinham um efeito limitado e causaram danos limitados”, e apontaram que o ataque não deixou “nenhum morto” e “não afetou o avanço” das unidades militares que continuaram com a libertação das áreas ocupadas.

As forças iraquianas condenaram o uso das armas químicas dentro dos bairros residenciais e afirmaram que continuam com o ataque para debilitar os extremistas e expulsá-los do território iraquiano.

De acordo com as Nações Unidas, no último mês, ao menos 12 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram tratadas após uma possível exposição a armas químicas em Mossul.

As unidades da Polícia Federal progrediram neste domingo cerca de 200 metros na complexa zona central de Mossul, e conseguiram rodeá-la com o objetivo de expulsar os combatentes, segundo o comandante Raid Shaker Yaudat.

As forças governamentais começaram sua ofensiva no oeste de Mossul em fevereiro, um mês depois de expulsar o EI da parte oriental da cidade. Estima-se que 400 mil pessoas estejam presas na região da cidade controlada pelos extremistas.

Foto: Forças de segurança iraquianas travam batalha contra o EI em Mossul

Fonte: DW

“Daesh ou “Estado Islâmico” (EI) produz em massa armamentos de qualidade surpreendente”

Em entrevista à DW, diretor de ONG responsável por relatório sobre arsenais do “Estado Islâmico” afirma que organização terrorista fabrica armas e munições em grande escala e com bons padrões de produção.

Equipes da ONG britânica Conflict Armament Research (CAR) acompanharam tropas do Iraque durante uma ofensiva contra a milícia terrorista do “Estado Islâmico” (EI) na cidade de Mossul, em novembro último.

Após examinar armas e munições abandonadas no campo de batalha, assim como seis fábricas de armamentos, os especialistas britânicos constataram que os jihadistas do EI estão capacitados a produzir equipamento militar de qualidade surpreendentemente elevada. Os materiais de produção vêm sobretudo da Turquia.

A DW entrevistou o diretor da ONG, James Beavan.

Especialista em armas James Beavan no Iraque

DW: Que tipos de armas eram produzidos nas fábricas do EI, em que quantidade e qualidade?

James Beavan: Em primeira linha, o “Estado Islâmico” produzia granadas de morteiro de diversos calibres, sobretudo de 120 milímetros, assim como, pelo menos, dois tipos de mísseis. Tanto o que vimos nas oficinas como o que pudemos recolher no campo de batalha permite concluir que foram fabricadas dezenas de milhares dessas granadas.

Em relação à qualidade, o EI trabalha com regras de controle padronizadas. Documentos que encontramos enumeram as especificações exatas: ao conferir as medidas, constatamos que a munição encontrada correspondia exatamente às indicações. A precisão era elevada, a qualidade de produção, boa.

Simplicidade mortal: formas de fundição para granadas de morteiro

Então, até que ponto o EI depende da própria produção armamentista? Que papel ela desempenha na logística bélica da milícia terrorista?

O EI emprega armas improvisadas, mas as aplica de forma convencional. Na maioria, seus comandantes eram oficiais do Exército ou dos serviços secretos iraquianos, por isso tendem mais a um uso convencional. Com a fabricação de granadas de morteiro, por exemplo, fica suprida a demanda de artilharia local; o mesmo se aplica aos mísseis. Eles foram e são usados em larga escala, também durante a estada da equipe da CAR em Mossul.

Quão sofisticada é essa produção de armamentos?

Falamos de armas improvisadas no sentido de não se utilizarem materiais padronizados, ou explosivos e combustíveis para mísseis industriais. Contudo, mesmo se as oficinas pareciam muito simples, os terroristas produziam o que necessitavam em regime de divisão de trabalho, em grande escala e com qualidade adequada. Era bem mais desenvolvido do que tudo o que já vimos numa tropa não estatal.

Também examinamos fábricas armamentistas do EI em Ramadi, Fallujah ou Tikrit, mas o volume de produção em Mossul era muito maior. Afinal, a cidade é o centro econômico do “Estado Islâmico”, é uma metrópole importante, a segunda maior do Iraque, possuía enorme capacidade tecnológica e de produção, e o EI se aproveitou dela.

Nitrato de potássio: da agricultura para o campo de batalha

Segundo o relatório da CAR, o EI obteve, em grande quantidade, os produtos químicos primários para combustível de mísseis e explosivos através de uma cadeia de fornecimento estável, partindo sobretudo da Turquia. Como o EI consegue manter uma rede de abastecimento assim no longo prazo, sem que os serviços secretos se deem conta?

O governo turco sabe que tem um problema nas mãos. Ele até toma medidas para, por exemplo, regular a venda de nitrato de sódio, ou salitre, no mercado nacional. Essa substância é aplicada na agricultura como fertilizante, mas também pode servir à produção de explosivos. Mas o fato permanece: por muito tempo o EI pôde se suprir com produtos primários ou matérias primas químicas no mercado comercial do Sul da Turquia.

O estudo da cadeia de abastecimento mostra isso muito claramente. Durante muito tempo a fronteira entre as áreas controladas pelo EI e o Sul da Turquia esteve mais ou menos aberta, havia muito comércio transfronteiriço. Aqui é interessante o contraste com a fronteira separando a Turquia das zonas sob controle da milícia curda YPG, que está hermeticamente fechada.

Padrões rigorosos de produção: munição do EI é cuidadosamente rotulada

Além da produção armamentista, que outras informações sobre as armas do EI a CAR conseguir coletar em Mossul?

De início – e isso também foi divulgado – o EI se apoderou de muitas armas e munição do Exército do Iraque. Até hoje encontramos entre os jihadistas armas provenientes dos arsenais iraquianos. Também do Exército sírio eles tomaram muitas armas. Recentemente passaram a utilizar cada vez mais armas chegadas através do Norte da Síria. Com financiamento internacional, elas foram entregues pela Turquia a tropas rebeldes sírias, antes de chegarem às mãos do EI.

Qual a relevância das pesquisas da CAR para a continuação da ofensiva contra o EI em Mossul, em relação ao abastecimento da milícia terrorista com armas e munição?

Prefiro não especular. Mas o que estamos vendo é que no momento o EI dispara munição que acabou de ser produzida, nos últimos três anos. O consumo de munição deles é enorme, mas o fornecimento parece que segue funcionando. Eu concluiria que o EI está bem provido de armas e munição.

Foto: 1°- ONG britânica CAR examinou fábricas de armas do EI em Mossul

Fonte: DW

 

 

 

 

1 Comentário

  1. A ONU e os EUA nunca inspecionam e nem descobrem armas químicas entre os guerrilheiros e terroristas, que podem usar tudo o que quiserem sem embargos nem qualquer forma de sanção, sem perseguições por parte de organizações de direitos humanos.

    Se procurarem, acharão muitas coisas “Made in USA” entre eles, talvez até as tais armas químicas.

    Só falta culparem o Assad da Síria.

    Por isso é que a guerra por procuração é a guerra do futuro: pode tudo contra quem não pode nada – assimetria pura.

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