AFV-BRASIL: Krauss-Maffei Wegmann DINGO 2 4X4

 

Autor: Anderson Barros

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PREFÁCIO

Os famosos veículos tipo jipes usados a partir da 2º guerra até mesmo nos dias de hoje estão passando por mudanças radicais para poder permitir que seus ocupantes possam sobreviver nos campos de batalha atuais onde a letalidade dos armamentos empregados tem se mostrado mortais contra veículos leves. Mesmo os Humvee, usados pelas forças armadas dos Estados Unidos e seus aliados têm se mostrado excessivamente vulnerável nesses ambientes. Por isso o leve jipe acabou sendo substituído no campo de batalha por veículos maiores, mais pesados e blindados para poder permitir a sobrevivência maior no campo de batalha.

Neste artigo vou apresentar um desses novos veículos blindados leves 4X4; O Dingo 2, desenvolvido pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann, uma das mais competentes fabricantes de blindados que existe, tendo em seu currículo o desenvolvimento do carro de combate pesado Leopard II, um dos melhores MBTs do mundo e já descrito no Plano Brasil pela série MBT Brasil.

A ORIGEM

Com o início das operações dos Exército Alemão (Bundeswehr ) durante a IFOR mostrou a necessidade de veículos blindados para transporte de tropas mais adequados. Os veículos existentes na época como o Funchs, caminhões MAN e utilitários Wolf (Mercedes Classe G) eram equipados com proteção modular (modularen Schutzausstattung – MSA)  sendo considerados apenas como uma solução paliativa e temporária.

De conceito ultrapassado e pouco eficiente dentro dos novos desafios do campo de batalha do seculo XXI, o popular WOLF (Mercedes-Benz classe G com proteção MSA) precisou ser substituído por um veículo muito mais capaz no final da década de 90 do século passado.

O pacote de proteção MSA oferecia uma baixa capacidade de sobrevivência para a tripulação sendo efetivo apenas conta explosões de uma granada de mão ou disparos de calibre 7,62 mm (não possuindo proteção contra o calibre 7,62 mm AP). Devido a esses fatores o Exercito alemão iniciou estudos para o desenvolvimento de um novo veiculo blindado  todo terreno de nova geração que substituiria todos os veículos táticos 4×4 então em operação no Bundeswehr. As  especificações alemãs visavam um veículo  especialmente projetados e equipados para resistir a explosão de artefatos explosivos improvisados, minas além de possuir blindagem contra projeteis balísticos. A Alemanha analisou modelos Sul Africanos que acabaram servindo de base para o desenvolvimento do conceito. O novo veículo recebeu a designação de Dingo e o primeiro protótipo foi terminado em 1995 desenvolvido sob o chassi do Mercedez-Benz UNIMOG 1550L, com o objetivo de reduzir custos de produção e facilitar a manutenção.

Protótipo do primeiro ATF (Allschutz Transport Fahrzeug) que posteriormente viria a se tornar DINGO.

O Dingo 1 foi aceito em serviço no exército alemão em 1999. Os primeiros veículos de produção foram entregues em 2000. Na Alemanha o Dingo recebeu a designação de ATF (Allschutz Transport Fahrzeug) que significa veículo de transporte protegido.

Três contratos de produção foram atribuídos à Krauss-Maffei Wegmann para um total de 147 unidades Dingo 1 (56 + 57 + 34) e todas foram entregues em meados de 2003.  Exército alemão é o único operador deste MRAP. O Dingo 1 foi destacado em várias operações de manutenção da paz no Kosovo, na Macedônia e no Afeganistão. A produção da primeira geração de Dingo foi encerrada pela Krauss-Maffei Wegmann devido a nova versão Dingo 2. O Dingo 2 está atualmente em serviço na Alemanha, Áustria, Bélgica, República Checa, Luxemburgo, Noruega e Iraque.

A empresa americana Textron Systems obteve a licença de produção local para uma versão do Dingo 2 para os EUA e seus contratos de vendas militares estrangeiras. As Forças de Defesa de Israel se interessaram pelo veiculo requisitando um pedido de aquisição para 60 veículos Dingo-2.  O Dingo destinavam-se a operações na Cisjordânia, em substituição de veículos blindados leves Sufa e Abir.   Posteriormente a IDF solicitou 103 veículos como opção para lotes adicionais sobre os 60 originalmente planejados. No entanto, o Governo Alemão vetou a venda para Israel.

VARIANTES

 O projeto do Dingo originou diversas versões para as mais variadas aplicações que no qual foram sendo desenvolvida mediante as implicações do campo de batalha. Podemos citar algumas dessas variantes:

Dingo 1 Primeira versão do Dingo ficou pronto em  1995, e fazia uso do chassi do Unimog U1550L possuindo uma capacidade de 1400 quilos de carga. Um total de 147 veículos foram construídos e apenas o  Exército alemão é o seu único operador.

Dingo 2 NBC variante para reconhecimento químico, biológicos e radio nucleares (QBRN ou NBC na sigla em inglês) –  vem com uma gama ampla de dispositivos integrados para identificar agentes nucleares, biológicos e químicos, além de outros materiais perigosos.

Dingo 2 GSR

O veiculo e equipado com um  radar de vigilância terrestre BUR (Bodenüberwachungsradar”) pode rastrear movimentos no terreno, no ar rente ao solo e sobre a água. A operação do sistema e do radar é totalmente feita a partir do interior protegido, sem a tripulação ter que deixar o veículo. 

Dingo 2 Ambulance versão  ambulância tática pode acomodar até três pacientes ambulatoriais ou de UTI, ou qualquer combinação dos mesmos, proporcionando maior capacidade e flexibilidade de configuração.

Dingo 2 PickUp veiculo voltado a operações de Logística apresenta um projeto modular capaz de acomodar vários tipos de estruturas, tais como Contêineres, Tanques de combustível, Guindastes entre outros.

Dingo 2 GSI versão configurada como  viatura oficina veicular e eletrônica. A viatura e preparada para manutenção eletrônica e veicular, equipado com ferramentas e equipamentos especiais projetados para suporte direto a outras viaturas.

Dingo 2 ARV versão configurado como viatura socorro equipado com guincho para prestar socorro a outros veículos. O chassi foi alongado e recebeu mais um eixo a fim de uma melhor distribuição do peso.

Dingo 2 EOD versão para a remoção e desativação de explosivos. Possui um braço articulado equipado com câmeras.

Dingo 2 Police versão voltada para operações e patrulhamento policial . Foi desenvolvida para a  Feldjäger  ( Polícia das Forças Armadas Alemãs) que é a equivalente Alemã ao que aqui no Brasil denominamos PE para Polícia do Exército, PA para Policia da Aeronáutica e SP Serviço de Policia na Marinha.

Dingo 2 Command Post

Veículo com capacidade de operação, destinada exclusivamente a prover o comando e controle entre os veículos. O dingo também possui um gerador de energia a diesel, integrado à viatura, que permite a operação de todos os equipamentos, sem a necessidade de manter o motor em funcionamento.

Dingo 2 HD (Heavy Duty)

Nova versão DINGO que fornece uma carga útil significativamente maior com as mesmas dimensões externas que o anterior DINGO 2. O peso bruto do veículo aumentou para 14,5 t. Baseado em um novo chassi Unimog e equipado tambem com um novo motor e transmissão totalmente automática. Possui uma rampa de desembarque na traseira

Dingo 2 Mine Roller Veículo especializado em detecção e limpeza de minas.

Dingo 2 PsyOps veiculo configurado para missões de Operações Psicológicas.

Dingo 2 Patrol Versão básica do veiculo

CHASSI

O projeto do DINGO 2 e bem simples fazendo intenso uso de peças de caminhão como forma de reduzir custos de produção e facilitar a manutenção. O veiculo  foi desenvolvido a partir do chassi do veículo fora de estrada alemão,  UNIMOG “UNIversal-MOtor-Gerät”) U-5000 cuja plataforma serviu de base para concebê-lo e atender a alguns requisitos importantes. Um ponto interessante e que o Dingo 2 não faz uso da carroceria monobloco muito comum em veículos militares modernos.

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O mesmo possui tem um design modular divididos em: chassi, célula de sobrevivência, compartimento de cargas, compartimento do motor e defletor inferior. Esses componentes são integrados ao chassi de forma separada tornando o quadro de chassis mais flexível aumentando sua grande mobilidade tática sem comprometer sua estrutura. Outra característica do chassi e que o mesmo pode ser oferecido em duas versões com 3,250 (3,5 toneladas de carga útil) e 3,850 mm (4 toneladas de carga útil) de distância entre eixos. 

O Dingo 2 é um veículo desenvolvido sob o chassi do UNIMOG , tendo os componentes agregados a este, de forma modular: célula de sobrevivência, compartimento de motor e assoalho anti-mina. Essa característica agiliza, em muito, sua manutenção em caso de impactos e explosões.

 Sua suspensão é de molas helicoidais progressivas com amortecedores, barras estabilizadoras  tem um excelente curso graças aos tubos de torção, que lhe dão uma maior capacidade de cruzamento de eixos e gama de movimentos.Seus eixo dianteiro e Traseiro são do tipo portal que ao contrário dos eixos da maioria dos veículos que ficam alinhados pelo centro das rodas, o Dingo (e os Unimog) usam eixos que ficam alinhados pelo topo das rodas, dando-lhe uma maior capacidade de ultrapassar todo o tipo de terrenos e obstáculos que seriam impossíveis de superar com eixos normais.

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Componentes do chassi Unimog: transmissão, eixo cardã,diferencia, suspensão e freios

Este sistema utiliza engrenagens de redução inseridos na própria roda, fazendo com que o esforço colocado sobre os eixos principais seja mais reduzido – e cabendo a cada roda “amplificar” a força.  Os freios são a disco nas quatro rodas, com ABS/ALB, duplo circuito hidráulico e freio motor de dois estágios, com direção servo assistida hidraulicamente.

A suspensão do Dingo 2 permite uma excelente performance em terreno acidentado.

 

Sistema central de calibragem dos pneus (CTIS) permite mobilidade elevada em qualquer tipo de terreno.

PROTEÇÃO

Sua blindagem é capaz de suportar impactos de projéteis  em calibre  7,62X51 mm AP que segue o Padrão OTAN STANAG 4569 nível 3. O mesmo faz uso de proteção blindada em ângulos de  20 ° ângulo com a perpendicular.

Dingo 2 vitima de um artefato explosivo improvisado ( Improvised explosive device, ou IED). Toda a estrutura da célula de sobrevivência resistiu salvando a tripulação.

A carroceria de ambas as versões têm formato de “V” (Minendeflektor ) para permitir uma proteção extra contra detonações de minas terrestres, um dos maiores problemas observados pelos alemães e aliados na guerra do Afeganistão e no Iraque. Alias, como dito antes, a característica mais importante que distingue esses veículos dos jipes tradicionais é justamente a capacidade de proteção da tripulação. O assoalho externo possui forma de “V” e está localizado abaixo da célula de segurança. É constituída por várias camadas de materiais especiais ( Mexas -Panzerung)  podendo suportar a explosão de até 8 kg de TNT sob qualquer um dois eixos e rodas. Além disso, todos os ocupantes viajam perfeitamente ajustados aos bancos do tipo anticrash capazes de resistir a explosões e amarrados por cintos de cinco pontos oque da mais segurança em caso de tombamento ou capotamento do veiculo.

 O DINGO 2 vem com proteção para ambientes NBQ (Nuclear Biológico e Químico) e sistemas contra incêndio no veículo como padrão de todas as versões. A cabine da tripulação possui uma configuração de quatro portas para embarque e desembarque da tripulação. 

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Comandante e motorista são acomodados na frente do veiculo o restante da tripulação e transportada na parte traseira que conta com seis assentos. O veiculo também possui uma escotilha no teto para operação de uma metralhadora manual.

O Dingo 2 é uma versão aprimorada do modelo Dingo 1 capaz de transportar mais carga e com melhor proteção balística. Reparem a altura do veiculo em relação ao solo e os degraus para embarque e desembarque. Um dos pontos negativos do projeto e a excessiva altura que dificulta a vida da tripulação.

PROPULSÃO

O Dingo 2 usa um motor Mercedes – Benz OM 924 de 4 cilindros e que proporciona uma potência máxima de 218 hp. O mesmo fica alojado no compartimento do motor situado a frente, do compartimento da tripulação. O compartimento do motor e projetado para evitar que o motor em caso de explosão seja direcionado contra o compartimento da tripulação.

compartimento de motor ou Power Pack. O motor Mercedez – Benz OM 924 possui fácil acesso de seus componentes o que agiliza e muito sua manutenção. Entretanto os demais componentes como cardã,transmissão, diferencial ficam alojados “dentro’ do chassi oque dificulta a manutenção.

Sua transmissão e uma Mercedes-Benz UG 3/65 automática com 8 marchas a frente e 8 à ré. Esse conjunto leva o Dingo 2, um veículo com 11900 kg, a uma velocidade máxima de 90 km/h em estradas. Sua autonomia chega nos 1000 km, graças ao seu tanque de combustível ( revestido com espuma seladora para evitar explosões) com capacidade de 220 litros de diesel. Esse desempenho é considerado muito bom para essa categoria de veículo.

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A capacidade de operar em terrenos irregulares é elevada, podendo passar por obstáculos verticais de 50 cm de altura e encarar inclinação frontal de 60º. Embora não seja um veículo anfíbio, ele pode transpor um rio (passagem de vau) com profundidade de até 1,20 metro.

O Dingo 2 não é um veículo anfíbio, mas sua boa altura do solo lhe permite transpor um rio com profundidade de até 1,20 metro.

SISTEMAS DE ARMAS

O Dingo 2 pode ser armado com uma torre  FLW-100  equipado com uma metralhadora MG-3 em calibre 7,62 mm controlada remotamente de dentro de veículo ou ainda uma torre FLW-200 com uma metralhadora pesada em calibre 12,7 mm (.50). Além de metralhadoras, o Dingo pode ser armado com um lança-granadas automático Heckler & Koch GMG de 40 mm capaz de atingir alvos até a 1500 metros e com uma cadência de tiro de 340 tiros por minuto. Embora não haja informações sobre outros armamentos que podem ser instalados no Dingo, certamente que não haveria nenhuma dificuldade de se armar este blindado com um lança-mísseis antitanque como o míssil TOW, por exemplo.

A torre FLW 100, remotamente controlada, está armada com uma metralhadora MG-3 em calibre 7,62X51 mm. Uma versão mais pesada desta torre, chamada FLW-200 pode ser equipada com uma metralhadora pesada M-3M calibre 12X7 mm (50 BMG)

CONCLUSÃO


Com melhorias em conceitos de modularidade e manutenção, na blindagem, motorização, mas acima de tudo em novos sistemas embarcados para maximizar as capacidades de combate do veículo o Dingo 2 é um dos veículos mais bem protegidos de sua categoria. Porém, como todo e qualquer veículo da atualidade, apesar de bem protegido, ainda sofre com ameaças assimétricas as quais enfrenta como visto no Afeganistão e Iraque.

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Montado sobre chassi Unimog 4×4, o Dingo 2 possui alta capacidade de manobra e de transposição de terrenos difíceis. Sua altura em relação ao solo e um grande aliado na transposição de obstáculos porem dificulta o embarque e desembarque da tripulação sobretudo com o veiculo em movimento. Outra questão são suas 4 portas em particular as traseiras que não são muito ergonômicas para o embarque/desembarque dos seis membros da tripulação que são ali transportados. Seguindo a linha dos mais modernos veículos da atualidade o Dingo faz uso de pacotes de blindagem modulares e  pode receber um escudo protetor para a proteção do chassi  contra minas anticarro. Porem a instalação dessa proteção adicional dificulta a manutenção dos componentes do eixo de transmissão e todos os componentes relacionados pois os mesmos ficam localizados “dentro” do chassi (uma característica dos veículos Unimog).

O Dingo-2 pode ser aerotransportado por aeronaves do tipo C-160, C-130 Hércules, KC-390 e A400M (e outros cargueiros maiores) podendo ser embarcado/desembarcado de maneira rápida não exigindo preparação alguma. O mesmo também pode ser igualmente aerotransportado utilizando helicópteros pesados do tipo CH-47 (com preparação) ou CH-53 e Mi-26 o que facilita sua implantação em caso de conflito. A Krauss-Maffei Wegmann, KMW, produz um veiculo com excepcionais qualidades que foi testado e aprovado pelo Bundeswehr. O Dingo 2 e o Dingo HD pode-se dizer que esses veiculos são os mais moderno e atualizado que a KMW tem para oferecer a uma nação que almeje operar veiculos dessa categoria.

O Dingo pode ser transportado por uma aeronave C-130 Hercules, extremamente comum em muitas forças armadas do mundo.

AGRADECIMENTOS

*Agradeço e dedico este trabalho ao Editor Chefe (e professor) Edílson Pinto pelas discussões técnicas e incentivos para o desenvolvimento desta matéria. Gostaria de agradecer também a Krauss-Maffei Wegmann  e a Carlos Emílio Santis Junior (Editor do site Warfare) pelas informações cedidas para a realização desse artigo. (Anderson Barros)

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