EUA cobram que membros da OTAN gastem mais com defesa

Em Bruxelas, secretário de Defesa ameaça “moderar comprometimento” com aliança caso outros países-membros não elevem seus gastos e cobra plano para alcançar meta de 2%.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, afirmou nesta quarta-feira (15/02) que Washington vai “moderar seu comprometimento” com a Otan se os demais membros da aliança não elevarem seus gastos com defesa.

“Os contribuintes americanos não podem mais arcar com uma parcela desproporcional da defesa dos valores ocidentais”, afirmou Mattis em Bruxelas, reiterando uma posição já assumida pelo presidente Donald Trump. “Se as nações de vocês não querem ver os EUA moderar seu comprometimento com a aliança, cada um dos governos precisa mostrar apoio à nossa defesa comum.”

O Pentágono insiste que os países-membros da Otan cumpram a meta de gastar o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) na área da defesa, mas poucos o fazem apesar de todos terem concordado com a meta estabelecida na cúpula no País de Gales, em 2014. Dos 28 países-membros da Otan, apenas EUA, Reino Unido, Estônia, Grécia e Polônia tem alcançado ou ultrapassado a meta.

“Se há um plano [para chegar à meta], nossa aliança conta com os senhores para que acelerem seus esforços e mostrem resultados finais. E, se ainda não há, é importante que o estabeleçam em breve”, afirmou o secretário de Defesa aos representantes dos demais países.

Ao chegar ao encontro, Mattis ressaltou que os Estados Unidos consideram a Otan uma base fundamental para a cooperação transatlântica e reiterou o compromisso do governo Trump com a aliança. Ele também disse que a Otan é uma força de estabilidade na Europa e ajuda a “manter a paz e defender valores compartilhados”.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que Mattis mostrou um “forte compromisso” com o órgão e destacou a importância de reforçar ainda mais a aliança. “Isso foi muito celebrado na reunião, porque todos os demais ministros expressaram o mesmo compromisso com a aliança transatlântica. Todos entendemos que estamos mais seguros e mais fortes juntos”, declarou.

Foto: Secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: DW

Entenda: A Rússia e a expansão da OTAN para o Leste

Provocação do ponto de vista dos russos, imperativo de segurança na argumentação de antigos países satélites da União Soviética: expansão da Otan para o leste é polêmica e muito criticada. Confira na coluna desta semana.

Para os russos, talvez seja mais uma provocação que o recente encontro de cúpula da Otan tenha acontecido justamente em Varsóvia. Afinal, a aliança militar liderada pela antiga União Soviética, contraponto à Otan, carregava justamente o nome da capital polonesa.

O Pacto de Varsóvia é história, e boa parte dos membros de então ingressou na Otan. A expansão da Aliança Atlântica para o leste começou em 1999, com os ingressos da Polônia, da República Tcheca e da Hungria. Em 2004, seguiram-se Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia. Em 2009, a Albânia e a Croácia.

Esse processo, ainda em andamento, incomoda a Rússia, que o encara como provocação. Pelo artigo 5 da Otan, o ataque a um país-membro é um ataque a todos. Se a Ucrânia fosse membro da Otan, a presença de tropas russas em território ucraniano seria automaticamente uma afronta a toda a aliança militar.

A proteção é o principal argumento de países do Leste Europeu para o ingresso na Otan. Eles temem a Rússia e citam os recentes conflitos na Geórgia e na Ucrânia como exemplos.

Já a Rússia vê a expansão da Otan como provocação, se não ameaça, e invoca um argumento controverso: durante as negociações que levaram à reunificação da Alemanha, em 1990, políticos ocidentais teriam prometido que a Otan não ampliaria sua fronteira oriental.

Não existe um acordo conhecido que sustente essa afirmação, mas transcrições de conversas da época (por alguns anos secretas, mas hoje de livre acesso) mostram que diplomatas ocidentais de fato fizeram promessas nesse sentido para conquistar a anuência russa à reunificação alemã.

Em 2009, a revista alemã Der Spiegel publicou trechos de uma conversa entre o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher, e o seu colega soviético, Eduard Shevardnadze, na qual o diplomata alemão fala claramente que a Otan não vai se expandir para o leste. Promessa semelhante teria sido feita pelo então secretário de Estado dos EUA, James Baker.

A questão de por que a União Soviética não exigiu esse compromisso por escrito pode ser encontrada numa declaração de Shevardnadze, citado pela revista alemã: “No início dos anos 1990 ainda existia o Pacto de Varsóvia. A possibilidade de que a Otan iria se expandir para países dessa aliança soava então absurda”.

Controvérsia à parte, vários historiadores, diplomatas e políticos americanos consideram a política de expansão oriental da Otan um erro, argumentando que ela serve para acirrar tendências nacionalistas, antiocidentais e militaristas na Rússia.

Coluna Zeitgeist

Foto: © REUTERS / Francois Lenoir

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