Combates recomeçam e interrompem retirada em Aleppo

Forças do governo e grupos de oposição se acusam mutuamente de violação do cessar-fogo, impedindo a saída de civis e combatentes rebeldes que ainda resistem num pequeno enclave no leste da cidade.

Os combates entre forças do governo e rebeldes recomeçaram em Aleppo nesta quarta-feira (14/12), apenas um dia depois do início de um cessar-fogo. O Exército sírio retomou os combates após uma ofensiva das forças rebeldes, afirmaram militares russos. Os rebeldes teriam aproveitado o cessar-fogo para se reagrupar durante a madrugada.

Na madrugada desta quarta-feira deveria ter começado a retirada de civis e rebeldes de Aleppo, mas, no inicío da manhã, ela estava atrasada havia várias horas. Imagens de televisão mostraram ônibus que seriam usados para a retirada parados nos pontos de evacuação.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou em comunicado que os combates foram reiniciados após as milícias rebeldes romperem a trégua. “O ataque dos terroristas foi contido. O Exército sírio prossegue com a operação para liberar os distritos de Aleppo controlados pelos rebeldes”, afirmou o órgão.

Segundo o ministério, os militares russos organizaram a evacuação dos combatentes rebeldes, mas os insurgentes teriam se reagrupado e reiniciado as hostilidades. O comboio de ônibus que deveria transportá-los para fora da cidade teria sido alvo de tiros disparados a partir do território dos rebeldes, numa aparente tentativa de romper o bloqueio das posições sírias no nordeste de Aleppo.

Ministério russo da Defesa diz que insurgentes teriam “se reagrupado e reiniciado as hostilidades”.

Já os líderes da oposição atribuem o adiamento da evacuação às forças iranianas apoiadas por milícias xiitas, aliadas ao presidente Bashar al-Assad, que teriam bloqueado a passagem e reiniciado os combates no leste da cidade.

Mais de 30 ônibus permaneciam estacionados numa das áreas controladas pelo governo para realizar a evacuação. Entretanto, relatos indicam que muitos deles retornaram sem passageiros, o que indicaria o fracasso do cessar-fogo ou ao menos um atraso ainda maior no início da evacuação.

O ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, previu que a “resistência” dos últimos rebeldes em Aleppo durará mais dois ou três dias. “Espero que a situação seja regularizada em dois ou três dias. Os combatentes vão cessar a sua resistência daqui a dois ou três dias”, declarou Lavrov.

A evacuação deveria ocorrer após duas semanas de avanços rápidos das tropas sírias e de seus aliados, o que forçou os insurgentes, sob intensos bombardeios e ataques de artilharia, a se entrincheirar num pequeno enclave no leste de Aleppo.

Com o fim dos combates, um acordo para a retirada de civis e de combatentes insurgentes foi alcançado nesta terça-feira com o governo de Damasco, anunciaram responsáveis rebeldes e o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin. Os termos do acordo foram concluídos sob a liderança da Rússia e da Turquia, aliados do regime de Assad e dos rebeldes, respectivamente, afirmam líderes rebeldes. Horas depois do anúncio do acordo, os combates na zona leste da cidade terminaram, anunciou Churkin.

Os intensos combates deixaram a cidade, que era um importante centro econômico, em ruínas, causando a morte de milhares de pessoas e contribuindo para o agravamento da crise de refugiados.

Com a intensificação dos bombardeios das aeronaves russas, aumentou a preocupação da comunidade internacional em relação aos 250 mil civis que estavam presos no leste de Aleppo, sofrendo com a escassez de alimentos e água e com o fechamento dos hospitais.

RC/ap/afp/rtr/dpa/lusa/efe

Foto: 1°- Centenas de sírios tentam abandonar um bairro de Aleppo – AFP

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: DW

Trégua para retirada de civis de Aleppo é suspensa em meio ao caos da guerra síria

Cerca de 20 ônibus estavam preparados para iniciar no começo da manhã desta quarta-feira a retirada dos rebeldes e civis sitiados na zona leste de Aleppo, a cidade mais devastada pela guerra na Síria, mas a operação foi suspensa em meio ao caos.

Ônibus que deveriam transportar civis e insurgentes do leste de Aleppo retornaram sem passageiros.

Nem o Governo sírio nem a oposição ofereceram uma explicação sobre a paralisação, mas fontes rebeldes acusaram as forças xiitas aliadas do regime de dificultar a operação pactuada. Novos combates interromperam a trégua. Milhares de habitantes do leste dessa metrópole haviam passado a noite sob a chuva à espera de poder abandonar o último reduto insurgente da cidade, informou um jornalista da France Presse no local.

As armas haviam calado em Aleppo da tarde da terça-feira, mas os disparos da artilharia do regime voltaram a ser ouvidos na zona leste da cidade na manhã desta quarta. O ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, admitiu que havia confrontos, mas não entrou em detalhes. Disse, no entanto, que os últimos focos de resistência rebelde deveriam se manter ativos por no máximo mais dois ou três dias.

Diante da incerteza criada pelo adiamento da desocupação, o Governo francês se somou ao apelo dos Estados Unidos para que observadores das Nações Unidas ou da Cruz Vermelha fiscalizem a operação. A ONU informou que não participou do acordo de cessar-fogo combinado entre a Rússia e a Turquia, mas se mostrou disposta a colaborar na organização da saída dos combatentes rebeldes e dos civis que tenham ficado retidos no último bolsão de resistência. A chancelaria turca afirmou nesta terça que estava tentando negociar com Moscou a consolidação da trégua.

Também sem entrar em detalhes, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha, confirmou o atraso da operação, que fontes jornalísticas sírias atribuíram à falta de aprovação definitiva do acordo por parte das autoridades de Damasco. O canal Orient TV, próximo à oposição síria, informou que a desocupação pode ter ficado adiada para a quinta-feira.

À Reuters, alguns dos 6.000 civis que tinham conseguido escapar da área conflagrada no dia anterior descreviam assim o cenário bélico que deixaram para trás: “As ruas dos bairros de Bustan al Qasar e Fardus estão semeadas de cadáveres, mas ninguém se ocupa de enterrá-los”. Temendo saques, muitos dos refugiados queimaram os pertences que não puderam levar consigo.

Segundo o acordo russo-turco, a população civil e os doentes e feridos seriam os primeiros a serem retirados, e os combatentes poderiam abandonar posteriormente a cidade com suas armas leves em direção a zonas rurais sob controle da oposição nos arredores de Aleppo ou na província de Idlib. A saída dos insurgentes da cidade, a segunda mais importante da Síria, representa a maior vitória para as forças do presidente Bashar al Assad em mais de cinco anos de guerra.

Um precário cessar-fogo vige em Aleppo desde a noite de terça-feira, após mais de quatro anos de hostilidades na cidade. Na manhã de terça, milhares de partidários de Assad foram às ruas para comemorar a vitória sobre os rebeldes, antes ainda de que se consumasse. Uma força insurgente com apenas 8.000 combatentes tentou resistir desesperadamente na frente de combate junto ao rio que dá nome a essa cidade do norte da Síria. A presença das forças da oposição se restringe hoje a 2% do território que era controlado pelas forças anti-Assad desde 2012, quando a cidade ficou dividida pela guerra. Ao seu lado, 50.000 civis permaneciam retidos sob os bombardeios aéreos russos e sírios e a intensa artilharia terrestre das tropas governamentais e de seus aliados xiitas do Irã, Líbano e Iraque.

JUAN CARLOS SANZ

Foto: Milhares de pessoas esperam para deixar o bairro de Al-Salhen, no leste de Aleppo, após um pedido de trégua humanitária feito pelas forças rebeldes – EFE

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: El País