Putin se transforma em uma espécie de “Czar”

Em 25 anos de história, depois do colapso da União Soviética, nunca as eleições para a Duma (Câmara baixa) da Rússia foram tão tediosas quanto as que serão realizadas no dia 18 de Setembro.

Ao longo da última legislatura (2011-2016), as instituições do Estado se debilitaram enquanto organismos capazes de resolver os problemas dos cidadãos, e o sistema político, evocam na verdade uma arcaica monarquia baseada na vontade do soberano.

Céticos sobre o poder de decisão de ministros e parlamentares, os russos em dificuldades querem ser ouvidos pelo presidente Vladimir Putin e se dirigem a ele para que os proteja de um sistema erodido pela apatia, inércia e falta de profissionalismo. A população se queixa hoje da deterioração do nível de vida, da alta de preços de medicamentos, alimentos e tarifas dos serviços públicos, assim como dos abusos das autoridades locais. Publicamente os russos não costumam culpar o líder, e sim a máquina administrativa instalada entre eles e o presidente-árbitro. Até o oligarca Vladimir Evtuchenkov, de quem foi tirada a florescente empresa petrolífera Bashneft devido às ambições de seus concorrentes, deu graças a Putin por livrá-lo do confinamento a que tinha sido submetido pelos órgãos de segurança. “Antes se dirigiam ao imperador (em busca de justiça), e agora nos dirigimos ao presidente”, explicou Evtuchenkov ao canal de televisão Dozhd.

Nenhum grupo no poder é alheio às tentações humanas. Uma intelectual russa destaca que “os cínicos e pragmáticos” são até uma garantia contra os desastres que poderiam ser cometidos pelos “fanáticos”. Sem ir mais longe, neste sábado o coronel Dmitri Zajarshenko, do Ministério do Interior, foi preso depois de lhe confiscarem o montante de 8 bilhões de rublos (mais de R$ 400 milhões), guardado em sacos em sua casa, segundo a agência Interfax. A soma poderia ser a recompensa de um oligarca em fuga depois de ser alertado a tempo.

  • A Rússia vive uma época de transição (de duração indefinida), na qual Putin se prepara para a busca de um sucessor

A eleição talvez permita a chegada de alguma cara nova a um Parlamento acostumado a aprovar de forma rotineira as leis que lhe chegam dos órgãos de segurança e da Administração Presidencial. Também contribuirão para delinear a estratégia do Kremlin para a eleição presidencial de 2018. Na legislatura anterior houve mudanças importantes na relação da sociedade com Putin. A anexação da Crimeia em 2014 (referendada pela Duma com apenas um voto contra) transformou a imagem do presidente e o marcou como o líder capaz de restabelecer o papel da Rússia como superpotência.

“Em 2014 Putin passou da legitimidade eleitoral à legitimidade da liderança militar”, afirma Nikolai Petrov, chefe do Centro de Análise Política e Geográfica. Diferentemente da legitimidade eleitoral, que é renovada nas urnas, a legitimidade da liderança militar “exige que a alimentem”, mas “não há uma segunda Crimeia, e a possibilidade de vitórias militares está limitada pela escassez de recursos, pelas linhas vermelhas traçadas pelo Ocidente e pelos problemas econômicos decorrentes das sanções”, ressalta Petrov em debate na agência Rosbalt. Para Putin, voltar à legitimidade das urnas após ter conhecido a legitimidade da liderança militar é “como voltar para a cerveja depois de ter bebido vodca”, destaca o analista.

A Rússia vive uma época de transição (de duração indefinida), na qual Putin se prepara para a busca de um sucessor, segundo Nikolai Mironov, chefe do Centro de Reformas Econômicas e Políticas. São sintomas da mudança as trocas de funcionários, que culminaram este ano com a substituição de Serguéi Ivanov, o chefe da Administração Presidencial. O modelo dirigido por Putin passou de um Politburo (o órgão dirigente do partido comunista da União Soviética, que tomava decisões de forma colegiada) para um “modelo de corte imperial em que não há alternativa”, explica Petrov. Putin está na encruzilhada: ou terminar de construir um sistema autoritário ou executar uma modernização autoritária, que em última análise levaria à democratização do sistema.

  • A eleição talvez permita a chegada de alguma cara nova a um Parlamento acostumado a aprovar de forma rotineira as leis que lhe chegam do Governo

Na administração do Estado, em um equilíbrio regulado pelo presidente, coabitam hoje funcionários aptos a ambas tarefas. Os partidários da militarização usam a ideia da ameaça internacional para obter recursos, e os defensores da “liberalização econômica”, herdeiros da política dos anos noventa, adaptam-se ao rumo atual, embora invoquem a necessidade de equilibrar o orçamento e os parâmetros macroeconômicos. Esses grupos de influência são fragmentados por rivalidades internas e por interesses econômicos pessoais. Este ano foi criada a Guarda Nacional, submetida diretamente ao presidente e dirigida por Victor Zolotov, o chefe de seu serviço de segurança de 2000 a 2013. Os especialistas consideram que o novo corpo responde a um anseio de autoproteção e também de controle imediato em caso de distúrbios.

Ninguém está a salvo hoje na Rússia. Nem os oligarcas fiéis, que podem ser presos mediante o uso seletivo de alguma das acusações acumuladas contra eles, nem os governadores, que também são detidos, como Nikita Belikh, de Kirov, e seus colegas de Komi e Sajalin. A Duma que sai aprovou leis restritivas que afetam a adoção internacional de crianças russas, a realização de reuniões, as atividades das ONGs com financiamento estrangeiro, as organizações internacionais (que podem ser declaradas “indesejáveis” sem argumentos) e a liberdade de expressão. A nova legislação permite encarcerar quem se manifestar contra a unidade do Estado (até cinco anos de prisão) e serviu para punir o cidadão Vladimir Luzguin por “reabilitar o nazismo” ao difundir um comentário segundo o qual Alemanha e União Soviética tinham desencadeado a Segunda Guerra mundial ao atacar a Polônia e repartir seu território.

PILAR BONET

Edição/Imagem: Plano Brasil

Fonte: El País

 

26 Comentários

  1. Vladimir Putin é hoje o líder mais influente no globo, todas as decisões de grande porte global acabam tendo sua participação, e as grandes empreitadas geopolíticas são levadas a sua mesa, hoje é natural vermos os grandes líderes globais o consultarem para questões estratégicas, procurando alianças, e isso se deve a sua capacidade com líder e estrategista, que já demonstrou capacidade de contornar as maiores dificuldades de maneira prospera (caso das sanções) e de humilhar a política inconsequentes de países adversários, não há como contestar, somente constatar, que hoje, não existe um político no mundo (pelo menos em exercício) do gabarito de Putin. Vale ressaltar que Putin também não faz verão, ele montou uma equipe formidável, desde o secretário até seu possível sucessor (Medvedev) são todos treinados para todos os cenários possíveis, devolvendo a Rússia seu papel de superpotência global e mediadora geopolítica.

    • Exato Arc… um estadista nato, maestro da geopolítica… guinadas de 180º em seu favor nos foram mostradas repetidas vezes… a Cesar o que é de Cesar, Putin é um grande líder. A simples tentativa de contestar esse fato soa como ranço ideológico… é de admirar um líder de um país poderoso e importante como a Rússia se colocar sozinho em confronto de interesses com a maior potência da terra e sua trupe de 31 seguidores, mantendo a unidade de sua nação e ainda conquistando novos espaços, confrontar todos eles, virar o jogo a seu favor e sair vitorioso… apenas uma palavra:

      BRAVO !!!

      • Fato Topol, e vale ressaltar, uma pesquisa realizada entre os norte americanos apontava que sua população aprovava Putin mais que seu presidente (Obama), ou seja, o Putin é mais admirado que o próprio Obama dentro de seu próprio país.

  2. A imprensa ocidental adora elogiar lideres que se curvam a Washington como os europeus e os corruptos golpista da elite brazileira .. basta tirar os sapatos para entrar na casa grande branca que logo é tido como grande democrata como é o caso do chocolateiro mafioso da Ucrânia e os lideres jihadista que combatem a o ditador Assad .. >:)

  3. Um déspota corrupto cujo personalismo inevitavelmente irá levar a Rússia de novo ao buraco. Logicamente a meninada que guarda rancores por não ter ido à Disney irá discordar (e gritar furiosamente em sentido contrário) mas é só esperar para ver…..

  4. È claro que qualquer país que faz oposição ao EUA e que não se curva ao interessa dos EUA ou da Europa é taxado de louco, de ditador, de repressor e tudo mais. Putin está sendo muito bom para seu povo e para seu país.

    • Claro! Chávez, Ahamadinejad e os diversos Kim, sejam eles de cabelos espetados, da Coréia do Norte estão aí para provar. E todo eles foram tão bonzinhos para os seus respectivos povos….SQN

      • …………bem tem um ditado no futebol que diz que “não se mexe em time que tá ganhando”….. o Putin faz uma boa administração e o povão tá gostando……em 2018.nas eleições, pode novamente botar o Medvedev ou outro qualquer de sua total confiança como candidato e se o fulano vencer o Putin continua manobrando nas sombras ao estilo “eminencia parda”……o cabra é escovado!!……

      • Exatamente o que o ParTido, em especial o queixoso, esperava fazer aqui na Terra de Veracruz. Mas no meio do caminho havia uma lavajato…rs!

      • Quer dizer que o funcionamento das instituições do Estado Democrático de direito é “gópi”? E alguém que para assegurar a própria impunidade vai se esconder embaixo da saia da ONU?

      • você só sabe dizer miimi! Sua cegueira só lhe mostra o que sua ignorância é capaz de apreender! Chega de mimimi! Seja ao menos mais inteligente em suas alucinações!

  5. q ele é um líder isso ele é, até acho q está levantando a Rússia !
    agora, LOUVA-LO pelo que ? Por ele fazer o serviço q os EUA faziam tão bem antes e agora não fazem (invadir países) ? meio contraditório isso não ?

    e tem mais, procurem saber só um pouco da vida dele, o cara tá longe de ser exemplo em alguma coisa.

    • ……………. o que o Putin fez por uma Rússia em crise e com sanções, poucos governantes fazem por seus países ….. seu trabalho ainda não terminou porquanto deveria ficar mais uma pá de tempo lá no Kremlin…..um ótimo presidente………aqui no Brasil….infelizmente….

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