‘Onda de brutalidade está cada vez mais difícil de conter’, avalia sociólogo francês

No entender de Michel Wieviorka, atentados são fenômeno estrutural e não mais casos isolados

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Membro das forças especiais da França guia moradora nas proximidades do local do ataque – EMMANUEL FOUDROT / REUTERS

PARIS – Para o sociólogo francês Michel Wieviorka, autor de várias obras sobre o terrorismo, os novos atentados ocorridos na França, na Tunísia e no Kuwait comprovam que a ameaça terrorista no mundo é hoje algo estrutural, não apenas constituído de casos isolados. Ele alerta para um fenômeno de radicalização consolidado nos subterrâneos das sociedades, França em primeiro lugar, e acredita que solução não passa apenas por uma maior vigilância e repressão, mas também pelas questões sociais e de política global.

De forma geral, como senhor analisa este novo ataque ocorrido na França?

É um fenômeno que, obviamente, não pode ser visto de forma isolada. Isso nos indica que esta alavanca que há muitos anos fabricou a hiper radicalização, este jihadismo, permeia a sociedade francesa e outras pelo mundo. E apesar de todos os esforços da polícia, da Justiça e das autoridades — e da própria sociedade —, este tipo de coisa surge a qualquer momento, por meio de pessoas capazes de cometer tais atos de barbárie.

O senhor vê alguma diferença no modelo de atentado?

A diferença que vejo é sobretudo no fato de que ocorreu não em locais simbólicos franceses, centrais, quase evidentes para os autores de atos terroristas, mas numa usina de gás em Isère, um lugar no qual não se pensaria espontaneamente que isso poderia ocorrer. A localização é o mais inquietante, pois indica que este fenômeno pode se manifestar das formas mais variadas. Parece-me que a pessoa que foi decapitada era um chefe de empresa, e isso nos leva a refletir, talvez, a também um ato anticapitalista, antipatronato. Mas obviamente que falo com bastante prudência, pois neste exato momento não se sabe ainda detalhes mais precisos sobre o que aconteceu e de que forma.

O fato de haver uma decapitação em solo francês o suprende?

É algo bastante grave, de extrema violência, e que provocou muita emoção. Desde a guerra da Argélia (1954-1962) a França não sofria algo tão bárbaro, em tal grau. Devemos nos questionar sobre a perda de sentido que leva pessoas a cometerem tais atos de selvageria. E há também nisso, certamente, um aspecto de comunicação, para semear o terror.

Qual o nível de vulnerabilidade hoje da França, que acaba de aprovar uma nova lei antiterrorista no país?

Este atentados são fenômenos que se construíram de forma subterrânea há muitos anos, e são necessários meios gigantescos para controlá-los. Acredito que as autoridades francesas reagiram bem, e a sociedade também. Mas é uma onda de uma brutalidade terrível, cada vez mais difícil de conter. É uma mistura de problemas internos da sociedade francesa e de lógicas geopolíticas globais. Ao mesmo tempo em que descobrimos este horror na França, somos informados de mais de 30 mortes em uma atentado na Tunísia.

Como o senhor analisa esta concomitância de atentados em três países?

Parece que não são atentados coordenados , mas tudo isso nos diz coisas sobre a natureza destes fenômenos, que vão de problemas locais a lógicas planetárias. Todo mundo entende hoje que estamos diante de um fenômeno que se tornou estrutural, e não apenas episódico. Como estes atentados se reivindicam do Islã, isso coloca evidentemente a questão do problema do Islã em países como a França. Devemos esperar, na sequência, por tensões, debates e inquietações no seio das populações muçulmanas.

Fonte: O Globo 

5 Comentários

  1. “…mas tudo isso nos diz coisas sobre a natureza destes fenômenos, que vão de problemas locais a lógicas planetárias” Star Trek mandou um alou.

    N acho que se trata de um fenomeno social “normal” ou que tenha um fundamento permanente — que é o que o sociologo preocupado colocou. Os atentados tem causas, motivações, e muito dos culpados são os proprios países da OTAN que ora, tentam amedrontar suas populações com o perigo dos “atentados”.

    Se algo de mais grave ocorrer por lá (grande escala e n apenas um fenomeno social estrutural), será um verdadeiro caos para um sociedade repleta de filhos criados a”leite com pera”.

    Lembro de uma declaração de um pracinha, qnd ele foi convocado. Era algo como varios jovens num lugar grande, aguardando as ordens para decidir quem ia, ou quem ficava: “Dê um passo a frente” o comandante falou. Dar o passo para tras era sinonimo de covardia, ela algo vergonhoso. Duvido que muitos correram para os seios de suas mamães — como pode ocorrer com essa atual geração por la (e não vou mentir que eu mesmo morro de medo do EI).

    Lendo A Ética de Aristóteles, uma das coisas que mais terriveis e vergonhosas para um cidadao atenienses era q se ele fosse “efeminado”. N se trata de ser “gay” — haja visto que os soldados mts se amavam na guerra e protegiam uns aos outros com amor mesmo. Efeminado para os gregos, eram aqueles que acostumados com “leite com pera”, tinham medo de pisar no chão frio, de usar uma arma para defender a sua patria…

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