Relatório de inteligência e análise da Stratfor para geopolíticas continua causando polêmica

O relatório com previsões geopolíticas para o período de 2015-2025 realizado pela agência estadunidense de inteligência e análise Stratfor continua causando polêmica entre especialistas brasileiros em relações internacionais. O professor Fabiano Mielniczuk, por exemplo, ficou espantado com o relatório, pois viu muita ficção e pouca realidade.

Entre as previsões citadas pelos autores do documento destacam-se situações como a fragmentação da Rússia, o colapso da União Europeia, o fortalecimento da Turquia, o declínio da China e da Alemanha, a ascensão da Polônia, Hungria e Romênia, e a hegemonia política e econômica cada vez maior dos Estados Unidos.

Para Fabiano Mielniczuk, o primeiro ponto que chamou atenção e com o qual não concorda no relatório foi como a China foi rebaixada a mero coadjuvante dentro da política internacional, alegando um esgotamento do modelo de desenvolvimento econômico naquele país baseado em trabalho intensivo, em mão-de-obra mal remunerada e em produtos de baixa qualidade. Porém, o especialista em relações internacionais registra que a China está investindo muito em tecnologia justamente para modificar os padrões antigos de desenvolvimento econômico.

“A China está investindo muito num salto tecnológico, pois ela quer abandonar a dependência que a economia dela tem dessa produção de setores de trabalho intensivo para setores de capital intensivo, ou seja, setores de alta tecnologia e desenvolvimento de produtos que agreguem valor por meio da inovação tecnológica e que possam fazer com que a China tenha um salto qualitativo em termos de desenvolvimento econômico. E isso o relatório negligencia.”

Ainda sobre um possível enfraquecimento da China, Japão e outros países do leste da Ásia até 2025, o especialista em relações internacionais explica que a tendência mundial é a de perceber a transição do centro econômico do planeta saindo da Europa e dos Estados Unidos e indo para a Ásia, porém o relatório vai na contramão disso.

Sobre a análise econômica da Rússia feita pela Stratfor, Fabiano Mielniczuk considerou que a agência mais parecia estar se referindo à União Soviética nos anos 80, devido à distância da realidade. O professor critica a posição catastrófica do relatório, colocando a Rússia como muito dependente da produção de hidrocarbonetos, e como o país não vai conseguir utilizar o período de aumento do preço do petróleo para fazer uma espécie de transição da matriz econômica para outros tipos de atividades até 2025, isso vai gerar uma crise na Rússia, levando a uma fragmentação política e territorial, com direito à utilização de armas nucleares.

“O que me chamou mais a atenção do grau de alarmismo e de ficção da análise da Stratfor foi a fragmentação representar um perigo para o mundo por conta do arsenal nuclear russo, que pode ser utilizado por grupos terroristas ou líderes regionais que surjam do processo de ruptura em relação as países ocidentais.”

Fabiano Mielniczuk revela, que quando se faz a análise da Rússia, a indicação que se faz em termos de políticas a serem adotadas pelos EUA e pelos países ocidentais é a de que os ocidentais vão aceitar o lançamento de mísseis nucleares não controlados, ou eles vão fazer uma intervenção militar antes que isso aconteça. O relatório aponta, no entanto, que não há formas de conceber uma intervenção militar contra a Rússia. A solução seria transformar a Rússia e os países da região em regimes aliados aos ocidentais, em prosperidade econômica vinculada ao capitalismo ocidental, diminuindo o perigo de uma ameaça nuclear russa em mãos de terroristas.

“Me parece que eles criaram um monstro que não existe, um fantasma para legitimar as ações que já são tomadas desde os anos de 1990 e 2000, pelos governos ocidentais como, o avanço da OTAN, a harmonização da Rússia, a entrada do presidente Putin. A análise no meu ponto de vista é bem diferente. O governo Putin conseguiu organizar e recentralizar o Estado russo depois do período de Yeltsin, que de fato foi um período de fragmentação, e contou com o apoio da população para fazer esse processo.”

O especialista critica também o ponto do estudo sobre a fragmentação da União Europeia por causa de uma crise econômica, a fraqueza da Alemanha derivada dessa fragmentação, e a ascensão da Polônia, Hungria e Romênia como países líderes na Europa, inclusive como líderes numa possível aliança europeia contra a Rússia.

“Primeiro tem que ter muita imaginação para acreditar que a Alemanha vai deixar de ser uma potência econômica na Europa, isso é um aspecto pra mim que parece ser bastante complicado de sustentar. Segundo, mesmo que haja isso, nem a Alemanha e nem a França têm interesse em permitir que a Polônia surja como uma liderança, e crie um antagonismo com a Rússia, porque os franceses e os alemães não querem complicações com a Rússia.”

Em relação à colocação da Hungria como um aliado dos Estados Unidos e do Ocidente numa aliança contra a Rússia, e da Turquia, que também é vista pela Stratfor como um aliado e como um país que vai começar a se envolver nos conflitos com o apoio do Ocidente para isolar a Rússia diplomaticamente, e também militarmente no controle do Mar Negro, Fabiano Mielniczuk avalia os dois países como complexos, em que a história política recente deles mostra uma tendência contrária a de se aliarem aos EUA e a Europa contra a Rússia.

“A Hungria tem atualmente se aproximado cada vez mais da Rússia e criticado o capitalismo ocidental. Já a Turquia tem pretendido uma posição de líder regional, não para reforçar uma estratégia ocidental, mas para se opor as estratégias ocidentais, e o relatório parece desconhecer isso.”

Fonte: Sputnik

 

11 Comentários

  1. Em resumo, é um relatório com uma boa carga de chauvinismo barato de quem não gosta perder, até parece coisa de estagiário do sub do sub do gabinete da secretária da CIA . 😉
    .
    Essa CIA … rsrsrs …ela e seu “planfetoides” e manuais para conspiração . 😉

    • Será que é o mesmo pessoal que fez o relatório sobre o Iraque. Eu fico imaginando o que passa na cabeça de uma pessoa que leva a serio um relatório desses.

  2. Parece que as praticas das culturas indigenas nativas americanas estão de volta com toda força, de forma institucional. Reunem-se todos em uma roda, fumam um grande cachimbo carregado de peyote para falar com o grande espirito que tudo vê. Rsrsrsr.

  3. “Sobre a análise econômica da Rússia feita pela Stratfor, Fabiano Mielniczuk considerou que a agência mais parecia estar se referindo à União Soviética nos anos 80, devido à distância da realidade.”

    Aposto que foi o Deagol que escreveu! Só pode!

    “Primeiro tem que ter muita imaginação para acreditar que a Alemanha vai deixar de ser uma potência econômica na Europa,”

    kkkkkkkk direto e reto kkkkkkk

    “A Hungria tem atualmente se aproximado cada vez mais da Rússia e criticado o capitalismo ocidental. Já a Turquia tem pretendido uma posição de líder regional, não para reforçar uma estratégia ocidental, mas para se opor as estratégias ocidentais, e o relatório parece desconhecer isso.”

    Convenhamos pessoal! Além da ajuda do Deagol o relatório foi escrito pelo Jim Kerry! Fala a verdade! Foi a coisa mais engraçada que já li este ano. Praticamente a pérola de 2015 (a de 2014 foi: “A Rússia não pode se comportar como se estivesse no século passado” – Kerry).

    Piada pronta! 😀

    • Carol, não faça isso consigo mesma.
      Ninguém no blog está interessado nessas suas briquinhas.
      Cresce, arrume uma namorada para ser feliz.

    • Warpath é uma mulher?
      Que bom!
      Acho ótimo ver uma mulher acompanhado este tema árido que é a Geopolítica e os assuntos de Defesa.
      Obrigado por nos honrar com a sua presença, Carol.

      E fico ainda mais feliz em perceber que é uma pessoa lúcida, concernente, pautada pela sensatez, ou seja, anos – luz de distância da corrente de adoração do “Grande Irmão do North”, cuja última peça de culto, percebemos, é o presente relatório da Stratfor…

      E por falar em Stratfor… Não é que tem gente que ainda paga por isso
      (ABIN)?

  4. Perco nem meu tempo com materias que não passam de ferramenta de manipulação da maquina midialitica Americana.
    Assim DOMINAVAM o mundo,não dominam mais.

  5. Eu assinei o STRATFOR por um ano. 2012/2013. E como o DEBKA em Israel, que tem conexao com o Mossada. STRATFOR trabalha com a CIA. Esta tem desde meados de 1990 planos de criar caos na Russia, visando cindi-la em pequenos paises, como eles criaram caos na Uniao Sovietica que resultou no desaparecimento desta. Se os russos aprenderam a licao nao posso dizer. As contemporizacoes de PUTIN com o Ocidente, chamando seus lideres parceiros, quando na verdade eles sao seu inimigos, deixa-me em duvida sobre o future da Russia. Quando observe a politica russsa, sempre vem na mente a tese de Trotsky, que se Russia voltasse a ser um pais capitalista, ela seria desmembrada e se tornaria um pais do terceiro mundo, controlado pelas nacoes imperialistas..

    • JOJO…

      Você pagou para ter acessos aos relatórios da Stratfor?
      Agora, diga para nós… Quando você lembra disso, você tem muita raiva, né?
      😀

      Normal…
      Mas, não fique assim, você não rasga mais o seu dinheiro e ademais… Tem muita gente por aí que assina a Veja…
      😛
      😀
      😉

      • Ilya. eu creio que vc como jornalista, deve estar consciente dos dois niveis de informacoes que a burguesia produz. Um e propaganda para consumo das massas, cujo objetivo e mante-las alienadas, calmas e subjugadas. Isto e faze-las aceitar suas posicoes na ordem social como se fosse determinada pela ordem natural. Outro e estudo para burguesia elaborar sua estrategia de combate.Acredito que o STRATFOR, o DEBKA, o EIU, (Economic Intelligence Unit) produz este segundo tipo de literatura. Se alguem so le a propaganda que a burgueia produz e divulga atraves da midia, vivemos no melhor dos mundos possivel. Reina paz, prosperidade etc. Se vc le o que os intelectuais burgueses produz para consumo interno, como guia para investidores, vivemos num mundo caotico, em depressao economica e as veperas de uma terceira guerra mundial. Espero que explica minha assinatura do STRATFOR, DEBKA, etc.Hoje, com essa crise financeira se aprofundando, sou obrigado fazer economia e ser mais seleto no que pago para ler. Meus respeitos

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