Os (nem tão) novos amigos de Pútin

Após a imposição de sanções econômicas e políticas pelo Ocidente, a Rússia perdeu as relações com os EUA e os países europeus conquistadas ao longo das duas décadas anteriores. Perante tal situação, o governo russo teve que rever as prioridades de política externa e encontrar novos aliados.

Ao que tudo indica, o destino de Moscou não é tão limitado como anunciavam os defensores do isolamento internacional da Rússia. Desde que os EUA e países da União Europeia impuseram sanções contra Moscou, surgiram potenciais aliados até mesmo entre os “eurocéticos”.

Em meados de fevereiro, o presidente russo Vladímir Pútin viajou à Hungria, onde discutiu com o primeiro-ministro local Viktor Orban sobre as novas condições para a exportação de gás. O encontro também resultou em uma série de acordos de menor importância entre os dois Estados. Não parece muito, mas, nas condições da crise atual, essa visita ganha um significado altamente simbólico.

Para o Kremlin é importante mostrar que a Europa não está unida para massacrar Moscou, que lá há também líderes que estão prontos para cooperar com os russos. A Hungria, por sua vez, precisa de gás a um preço acessível e pode, simultaneamente, incomodar a UE, ao obter certas regalias.

Além disso, o partido de esquerda Syriza, que venceu as eleições parlamentares gregas, também revelou disposição para se aproximar de Moscou. Desde 2008, o país acumulou uma dívida imensa, e os gregos precisam agora fazer pressão sobre a UE para negociar condições mais favoráveis de pagamento – motivo de sobra para flertar com a Rússia.

Diante desses acontecimentos, a parede de rejeição no lado da Europa foi aparentemente derrubada, aumentando a esperança de que a relação com os parceiros europeus – pelo menos na esfera econômica – pode ser gradualmente restaurada.

Expansão pelo Oriente

Na tentativa de diversificar seus aliados em outros continentes, o Kremlin vem intensificando sua esfera de influência sobre alguns países da Ásia e do Oriente Médio.

O primeiro avanço nesse sentido foi a aproximação com o Egito. No passado, o maior país do mundo árabe e principal aliado árabe dos Estados Unidos expressou o desejo de voltar a comprar um grande lote de armas russas, bem como desenvolver relações com Moscou.

A recente visita de Pútin ao Cairo lembrou o gesto do líder soviético Nikita Khruschov no início dos anos 1960. E o que mais evoca a sensação de déjà vu são os resultados do encontro: naquela época, Khruschov obteve um empréstimo para construir a represa de Aswan; agora é a vez de Pútin, também por meio de empréstimo, construir a primeira usina nuclear do Egito.

Paralelamente, observa-se progresso nas relações da Rússia com Irã e Turquia. No caso do primeiro, a venda de petróleo iraniano para a Rússia não foi concretizada, mas Teerã ainda precisa de tecnologia moderna, armas e energia nuclear. Quanto à Turquia, em vez de assumir as sanções da UE por tabela, Ankara uniu-se ao projeto de construção de um gasoduto que funcionará como alternativa ao abandonado “South Stream”.

Refúgio no Brics

A escalada de tensões com o Ocidente também fez com que a Rússia reforçasse os laços com seus aliados no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Embora esses países não tenham diretamente apoiado Moscou nem condenado a anexação da Crimeia, em abril de 2014, tem-se a impressão de que os Brics estão, em diferentes níveis, fartos ​​da política americana ao longo das últimas décadas.

Prova disso é que, no ano passado, a China celebrou uma série de acordos energéticos importantes com a Rússia, e a Índia intensificou a compra de armas russas.

Nikolai Surkov: Professor do departamento de Estudos Orientais do Instituto Estatal de Moscou de Relações Internacionais.

Fonte: Gazeta Russa

7 Comentários

  1. Isolar a Rússia não é algo tão trivial assim, países desse porte (cultural, tecnológico além do territorial) tem muita margem de manobra. O Irã que não é lá essas coisas conseguiu sobreviver a uma serie de embargos o que dirá a Rússia.

    • Verdade. Isso que o maior produto expotador de Cuba eram seu havanas, por que para Cana de Açucar a concorrencia era e é grande, e nem por isso conseguiram colocar de joelhos esse pequeno grande país, de gente determinada a não ter seus destino definido por nações estrangeiras.

    • Com 120 paises se declarando que querem associarem com o BRICS, os EUA vao conseguir “isolar” Russia mais 98% do resto do mundo. Com os EUA estara Europa falida e em depressao economica,Australia, Canada, Mexico, Japao, Corea do Sul, Filipina etc Mesmo Australia, Canada e Mexico estao abrindo as portas para China, que praticamentge controla seus portos no Pacifico e nao mais usam o dolar em transacoes economica com ela.

  2. Senhores como já ficou extremamente esclarecido em diversos post aqui no PB, bem como em inúmeros artigos que circulam na NET, a sobrevivência dos EUA como única grande potência mundial passa inegavelmente na sua supremacia econômica, pois sem a ciranda financeira propiciada pelo comercio mundial em dólares, sem a possibilidade de se manter a política econômica de crescimento econômico sustentado na demanda e não no aumento de renda, mediante a constante emissão de dinheiro e títulos do tesouro pelo FED, com os EUA financiarão seu deficit público e os gastos gigantescos com sua máquina militar, daí advém a necessidade de se tentar isolar a Rússia, bem como enfraquece-la economicamente, pois ainda que a Rússia tenha poder militar suficiente para barrar as pressões americanas, esta não tem capacidade econômica que os EUA tem, dai a necessidade da junção de esforços em várias frentes diplomáticas, militares e econômica para tirar os BRICS do papel e estabelecer uma outra via econômica e política no mundo que não passe necessariamente pelos corredores de Washington, UE, Banco Mundial e FMI.

    Agora isolar o Iraque, a Síria, o Vietnã ou impor um bloqueio a cuba e fácil, quero ver colocar o urso na gaiola, principalmente levando-s em conta que do lado do urso temos um estadista e do lado americano temos um bufão.

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