Crise ucraniana expõe os desacordos entre Alemanha e EUA

Luis Doncel

Barack Obama e Angela Merkel se reúnem nesta segunda-feira na Casa Branca para falar sobre a guerra contra o jihadismo, a situação econômica europeia e o G7 de junho. Mas, acima de tudo, destaca-se a mais recente tentativa de pacificar a Ucrânia que culminará na quarta-feira em Minsk com um encontro entre quatro partes. Em Washington, os líderes de EUA e Alemanha terão a oportunidade de discutir suas diferenças, não só em relação à guerra não declarada na Ucrânia, mas em questões tão diversas quanto uma fórmula para tirar a Grécia da crise ou a política de proteção de dados.

Faz tempo que as relações entre a superpotência mundial e a primeira economia europeia não são boas, mas a Conferência de Segurança que ocorreu em Munique neste fim de semana serviu como termômetro do momento. E a temperatura está muito alta. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, tentou reduzi-la neste domingo, depois de uma intervenção mais acalorada do vice-presidente Joe Biden e das discussões exaltadas conduzidas a portas fechadas sobre a conveniência de armar ou não Kiev.

A insistência de Biden no direito dos ucranianos de se defenderem contrastava com o rechaço categórico expressado antes por Merkel e sua ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, de enviar mais armas à região. O discurso do vice-presidente não deixou um gosto bom na boca dos políticos alemães consultados. Fontes parlamentares consideram “vergonhosas” algumas de suas passagens — como por exemplo criticar a corrupção na Rússia, mas não fazê-lo em relação à Ucrânia — que forneceriam argumentos fáceis para a propaganda do Kremlin. A mesma fonte admite que as relações entre os dois países atravessa uma fase difícil, na qual a desconfiança mútua não para de crescer.

Depois das palavras de Biden e, sobretudo, dos falcões republicanos John McCain e Lindsey Graham, que criticaram Merkel por dar as costas ao povo ucraniano, por não ter “a menor ideia”, por agir como os aliados diante de Hitler nos anos trinta e outros comentários semelhantes, Kerry relaxou o ambiente. “Estamos unidos. Tivemos discussões, mas de natureza tática, não estratégica. Todos estamos de acordo quanto ao objetivo final”, disse em Munique, sentado ao lado de seus colegas alemão e francês, Frank-Walter Steinmeier e Laurent Fabius, respectivamente.

“Rejeitamos o estilo testosterona de Putin; por isso não queremos enviar armas. Temos enormes diferenças com os EUA em assuntos muito diversos, mas isso não nos faz esquecer a estreita cooperação que nos une a eles”, explica Omid Nouripour, porta-voz das Relações Exteriores dos Verdes.

Essas outras divergências às quais Nouripour se refere voltaram a ficar evidentes há apenas uma semana. Em uma entrevista à CNN, Obama se mostrou compreensivo com a tese do novo Governo grego e aproveitou, além disso, a ocasião para lançar um golpe pouco dissimulado a Merkel e suas políticas de austeridade. “Não se pode continuar pressionando um país que se afunda na depressão. A população grega está sofrendo muito”, disse o presidente dos Estados Unidos.

“O eixo franco-alemão está passando por momentos ruins, mas vai se recuperar, porque é fundamental para ambos. Fico mais surpreso com a deterioração das relações entre Berlim e Washington”, destacavam fontes diplomáticas há alguns dias. A situação atual é explicada por uma mistura de desinteresse americano e desconfiança alemã: faz tempo que os EUA prefere olhar para o Pacífico do que para a velha Europa; e em Berlim ainda pesa o escândalo revelado pelo ex-espião Edward Snowden, o que faz com que a promotoria alemã continue investigando as escutas ao celular de Merkel. No fundo, também influi a relação um tanto bipolar que os alemães têm com o amigo americano, que passa por fases de amor —primeira eleição de Obama— intercaladas por outras de ódio —guerra do Iraque. Esse vínculo visceral também está presente no apaixonado debate que o país vive sobre o acordo comercial entre Europa e UE, que divide em dois, entre outros partidos, os sociais-democratas.

Talvez a chave para explicar a perspectiva diferente com a qual são vistos os problemas com o Krêmlin a partir de Washington e de Berlim tenha sido dada ontem pelo ministro Steinmeier. “Me perguntam se Putin será nosso amigo, parceiro, rival ou inimigo”, afirmou o político social-democrata. Sua resposta é que, aconteça o que acontecer, só se pode garantir uma coisa: que continuará sendo seu vizinho.

Fonte: El País

23 Comentários

    • Salve Richard,
      .
      Desculpe, mas, devo fazer um reparo em sua observação.
      .
      Não é o Putin que está conseguindo rachar a aliança atlântica, mas, a estupidez dos EUA é que está fazendo isto.
      .
      Saudações,
      .
      konner

      • Salve Konner,

        Concordo em parte, mas não há como negar que o Putin está fazendo o jogo certo, não pôquer, mas a lá xadrez mesmo.
        Ele ainda não ganhou muita coisa além de apoio interno, mas aos poucos, o Dragão, que é uma traíra, está se juntando com o Urso, que não é pouca coisa.
        Um mundo multipolar é tudo que os EUA não desejam.

  1. Putin enquanto joga Xadrez, um jogo estratégico já o Obama, joga o queimado, só tá levando bolada nas costas … Hahhaahhaah

    • Pôquer. Obama joga o pôquer americano. Um jogo muito baseado em intrigas, paranóia e blefes. E muita gente perde empresas, as calças, e até a mulher em jogos de pôquer.

      Dizem que quando você não sabe quem é o otário (ou o pato) da mesa, então o otário (ou pato) é você. De repente é o caso do Obama!

      Nunca vi isso acontecer em mesas de xadrez!

      É completamente outro nível!

      • Boa. É interessante notar que psicopatas, teoricamente, dariam ótimos jogadores de pôquer. Imagino que o xadrez, por outro lado, não lhes pareça um jogo atraente.

  2. Os estadunidenses estão brigando com todo mundo? Será que acreditam ser possível, realmente, manter uma política unipolar? Não seria melhor admitir um país grande como o Brasil, ou mesmo outros da região, no grupo de parceiros de primeira grandeza, fazendo pressão pela sua admissão no Conselho de Segurança da ONU e outros fóruns internacionais, em troca do agigantamento do conjunto, população + território + governo, ou seja, Estado, e mercado consumidor disponível. Uma parceria mais igualitária, com a venda de tecnologias que coloquem os parceiros em pé de igualdade na mesa é fundamental para que os estadunidenses mantenham antigos aliados.

    • E desde quando os EUA, que gastam uma fortuna todo ano em ciência e tecnologia, vão vender a mesma, de forma “igualitária” para o bananão aqui onde empresas estatais são usadas para financiar o projeto de poder do ParTido?Só se eles fossem trouxas! Está vendo porque seus comentários não valem nada meu caro sindicalista alegre?

      • Se vendeu tecnologia que custou um dinheirao de “forma igualitaria” eu nao estou em condicoes de dizer sim ou nao, mas sei que China hoje e a maior potencia industrial do mundo foi porque os EUA transferiram suas industrias, ciencia, tecnologia e what have you para la.

  3. Não é Putin que está rachando a “aliança atlântica”…
    Há aqui uma questão clara de divergência de interesses entre europeus e estadunidenses.

    A Europa não tem nenhum interesse em uma guerra desastrosa em suas fronteiras, já o EUA, separado por um oceano, se dá ao luxo de jogar (com os outros) seus jogos de guerra e poder, bem longe de suas fronteiras…
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    Le Pen acusa Washington de tentar iniciar “guerra na Europa”

    RT
    09 de fevereiro de 2015

    A líder de direita da França, da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, chamou Bruxelas de “lacaios americanos” a respeito da política da UE para a Ucrânia . Ela ainda acusou Washington de tentar iniciar uma “guerra na Europa” e expandir a OTAN em direção às fronteiras da Rússia.

    “Capitais europeias não têm a sabedoria de se recusar a ser dependente de posições dos EUA sobre a Ucrânia,”disse Le Pen aos jornalistas franceses no domingo.

    “No que diz respeito a Ucrânia, se comportam como lacaios americanos”, disse ela, antes de advertir que “o objetivo dos americanos é a iniciar uma guerra na Europa para empurrar OTAN até à fronteira russa.”

    Ela passou a acusar os líderes europeus de fechar os olhos para o”bombardeio de civis” do governo ucraniano , acrescentando que tanto os moradores da Crimea, como do Leste da Ucrânia, acreditam que o país deve ser federalizado.

    Le Pen tem criticado regularmente a UE por sua política em relação à Ucrânia e sua alegada falta de independência de Washington.

    Em setembro, ela disse ao Le Monde que a crise em curso na Ucrânia é “tudo culpa da União Europeia”, dizendo que Bruxelas tinha “chantageado o país para escolher entre a Europa e a Rússia.”

    Em junho, ela disse de forma semelhante a Sophie Shevardnadze/RT que “não havia estados independentes de esquerda na Europa”, dizendo que muitos dos seus erros de política externa nos últimos tempos tinham sido feito “sob a influência de Washington.”

    Suas palavras ecoaram as declarações do ex-primeiro-ministro francês, François Fillon, que disse à emissora pública ‘France 5’, no domingo, que os Estados Unidos estavam tentando “desencadear uma guerra na Europa, que acabaria em catástrofe.” Ele acrescentou que uma vez que uma guerra eclodisse , os EUA iriam tentar distanciar-se dela.

    “A guerra total causado [pelo] conflito ucraniano é absolutamente inaceitável. E realmente não há razão para isso “, disse ele.

    Fillon acusou os EUA de sofrer de “cegueira” e uma abordagem simplificada da realidade, que os vê constantemente tentando “resolver todos os problemas pela força.”

    Ele ainda disse que Washington estava sempre tentando forçar os outros a se juntar ao seu “acampamento”, uma abordagem equivocada, uma vez que um país como a Ucrânia tem laços com a Europa ea Rússia.

    “Os americanos fizeram um erro atrás do outro, e hoje eles foram simplesmente desacreditados”, disse Fillon.

    Ele acrescentou que a tentativa de punir a Rússia com sanções era como tentar intimidar um urso com uma picada de alfinete. Elogiou ainda os mais recentes esforços do presidente francês, François Hollande, ea chanceler alemã Angela Merkel para abrir um diálogo com Moscou.

    “O Ocidente está tentando imaginar hoje a Rússia como uma ameaça para o mundo inteiro, enquanto deliberadamente esquecendo que a Rússia é um grande e verdadeiramente um grande país, para não mencionar uma potência nuclear”, disse ele.

    “Humilhar a Rússia é simplesmente inaceitável.”

    Também no sábado, o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que a Europa era parte de “uma civilização comum com a Rússia”, dizendo que eles precisavam evitar conflitos no continente.

    “Os interesses dos americanos com os russos não são os interesses da Europa e Rússia”, disse ele, acrescentando que “não queremos que ocorra o renascimento de uma Guerra Fria entre a Europa e a Rússia.”

  4. Não sei por que os States passaram a agir dessa forma arrogante, talvez pela covardia do mundo ao lhes delegarem tanta autoridade e poder.
    Mas tem uma frase do George War Bush que ilustra bem esse espirito americano. – Se não estão conosco estão contra nós. Como se administrar países fossem como formar gangues.

    • Estive revendo o documentário de M Moore sobre o 11 de setembro. A cara que o sujeito faz quando recebe a notícia sobre as torres durante sua visita à escola ilustra perfeitamente o total desinteresse por seu povo, chega a ser assustador. Percebe-se claramente que sua única preocupação no momento foi algo como “caramba, o que devo fazer agora?”. Sua agonia é prolongada por vários minutos, enquanto ninguém lhe sugere uma reação “apropriada”…

  5. Foi quando os EUA informou Alemanha de sua decisao de usar Ucrania para atacar Russia, que esta decidiu abandonr a OTAN, retirar-se da Uniao Europeia, pedir o retorno de seu ouro que estava depositado em Nova York. Digo estava depositado, porque aparentemente esse ouro desapareceu. Os gringos nao foram capaz de retornar o ouro alemao, pediram um prazo de 7 anos. O ouro depositado no Fort Knox foi roubado, pelo president Bush Senior, Clinton, e suas gangs. Minha fonte de informacao Jim Willie vem dizendo isto ja ha quase um ano..Alemanha tinha 300 toneladas de ouro nos EUA, mas sua reserve de ouro e 4.000 toneladas.

    • Sua fonte de informação é um conspiracionista idiota de extrema direita que não tem credibilidade alguma JOJOzinho bipolar!

      • ENTRE INVESTIDORES VC TEM CREDIBILIDADE, , ESSES ANALISTAS CUJO AGENCIAS ONDE TRABALHAM DEPENDE DA CREDIBILIDADE DE SEUS ANALISTAS NAO AS TEM. E NAO E SO O JIM WILLIES, E ROB KIRBY, GERALD CELENT, SILVER ORACLE, GOLLDSEEKER, ETC ETC

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