Novo secretário da OTAN quer reduzir tensão nas relações com Rússia

O novo secretário da OTAN Jens Stoltenberg, deu a entender ao assumir o cargo, que tenciona restabelecer a paz entre a Rússia e a OTAN. Será isso possível?

O correspondente da Voz da Rússia Hendrik Polland conversou sobre isso com Matthias Dembinski, perito da Fundação Hessen para Investigação sobre Paz e Conflitos (HSFK) de Frankfurt.

Voz da Rússia: O antecessor de Stoltenberg, Anders Fogh Rasmussen, era partidário de medidas extremas. Ao tomar posse ele esperava, contudo, estabelecer uma parceria com a Rússia. Mas em vez disso ele talvez tenha apenas aumentado a rivalidade, o que não agradava a todos os membros da OTAN. Em que estado está a OTAN que Stoltenberg recebe de Rasmussen?

Matthias Dembinski: A OTAN vive um momento de viragem. Devido à grave crise com a Rússia, o objetivo de defesa territorial da OTAN regressou ao primeiro plano. Entretanto, muitos países-membros insistem em que a OTAN, tal como dantes, mantenha suas definições globais. Não se trata apenas da Rússia, mas também de uma grande quantidade de problemas no sul, que continuam sendo atuais. Contra eles a OTAN deve continuar se armando e lutando.

Voz da Rússia: Quais são as tarefas importantes que se colocam a Stoltenberg?

Dembinski: Tal como perante todos seus antecessores, sua principal tarefa é ser mediador. Ou seja, tentar conciliar as diversas posições e interesses dentro da Aliança para obter um denominador comum. Se agora perguntar, por exemplo, qual deverá ser a posição da OTAN relativamente à Rússia, na Aliança existe toda uma série de diversos pontos de vista e opiniões. Numa situação dessas, Stoltenberg deve desempenhar o papel de mediador.

Voz da Rússia: Stoltenberg insiste num novo diálogo diplomático com a Rússia. O que deve a OTAN fazer, sob direção de Stoltenberg, para voltar a estabelecer um diálogo construtivo?

Dembinski: As ações da Rússia na Ucrânia, assim como as recentes declarações de Putin, certamente que apenas aumentaram o sentimento de insegurança por parte de alguns novos membros da Aliança. Por isso é necessário ter cautela e a OTAN está trabalhando nisso. Mas também é importante o fato, e a OTAN reconhece isso, de essas medidas terem de ser conjugadas com o Ato Fundador das relações Rússia-OTAN. Esse é o documento fundamental que regula as relações entre a Rússia e a OTAN. É a nossa base. O passo seguinte é a procura de possibilidades de trabalhar em conjunto com a Rússia. A Rússia é um grande país da Europa, e é completamente evidente que a segurança na Europa só pode ser assegurada em conjunto com a Rússia e não contra ela.

Voz da Rússia: Jens Stoltenberg é um homem de visão moderada. Na sua juventude ele era contra a Guerra do Vietnã e contra as ações da OTAN. Ele sempre foi elogiado como um homem correto que se encontra no local correto. Qual é o rumo que ele pode imprimir ao funcionamento da OTAN por comparação com o seu antecessor Anders Fogh Rasmussen?

Dembinski: Os secretários-gerais estão limitados na sua liberdade de ação. Eles são em primeiro lugar dirigentes, e não generais. Mas se ele tiver liberdade suficiente, e ele quiser usá-la, ele talvez escolha um comportamento menos agressivo e procure possibilidades de resolver os conflitos pela via diplomática.

Voz da Rússia: Quando Rasmussen tomou posse, em 2009, ele falava sobre uma parceria estratégica com a Rússia. Porque é que seu plano para um trabalho construtivo em conjunto falhou?

Dembinski: Na altura ele não era o único que tratava disso. Antes de mais, essa ideia partiu dos EUA, os quais quiseram o “restart” das relações, ou seja, o relançamento, uma nova atitude face à Rússia. Esse plano falhou devido a uma série de razões. Começou a guerra na Síria. Depois surgiram os problemas da defesa antimísseis na Europa. Além disso, não foi possível aproximar as posições de ambos os países devido a um conjunto de questões técnicas.

Por fim, a questão é que não se conseguiu resolver totalmente os principais problemas da segurança europeia. Isto também inclui a questão do lugar que a Rússia ocupa na arquitetura de segurança europeia. Entretanto, surgiu o sentimento que depois da última tomada de posse de Putin a Rússia já não estaria tão interessada nesse tipo de diálogo.

Fonte: Voz da Rússia

 

2 Comentários

  1. Bom… em primeiro lugar vou citar algo importante que escutei de uma pessoa muito capaz e próxima a mim… “Quando João fala de José… sei mais de João que de José!”

    Aqui nós temos Matthias Dembinski falando de Jens Stoltenberg, logo… temos que ter muito cuidado para não atribuir ao outro as palavras deste!

    Quanto à reaproximação, ela é perfeitamente possível… aliás a Rússia tem tentado isso por décadas… mas os EUA e seus aliados sempre tentam pintar a Rússia como inimigo do mundo, e deixá-los isolados, impedindo que, sequer, conheçamos mais da sua cultura…

    … enquanto isso a “cultura americana” é espalhada e tatuada em todo e qualquer país possível… ex: quantas pessoas você acha que há no Brasil que sabem quando é a Independência dos EUA… agora pergunte quando foi a proclamação da República no Brasil? 🙂

    Que venha um novo administrador sem os “venenos” de praxe contra tudo que é diferente… as “Pérolas do Oriente” foram destruídas pelo Ocidente dos EUA (Beirute, Bagdá, etc)… só resta agora a magia do desconhecido (ainda) no continente asiático e Africano!

    Precisamos de alguém que queira aproximar os povos e não afastá-los!

    Mas peraí… o cara tem uma boa imagem, tá numa posição estratégica, quer unir o mundo… ferrou… deve ser o “anti-cristo”! 🙁

    Isso é só pra mostrar como a política e a religião, cada qual do seu jeito, programa o inconsciente coletivo a se manter num estado, não de atenção, mas de medo, o que permite o controle das massas basicamente disseminando algumas informações selecionadas nos canais mais eficazes… obviamente manter essas massas com um nível baixo de educação é importante para que a estratégia funcione!

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