Sem ligar para risco, sauditas apoiam rebeldes sírios


Presidente dos EUA, Barack Obama e o Rei saudita Abdullah

Robert F. Worth

Na oitava viagem para combater ao lado dos rebeldes na Síria, em agosto, Abu Khattab viu algo que o perturbou: duas crianças mortas, cujos corpos cobertos de sangue jaziam na rua de uma aldeia rural perto da costa do Mediterrâneo. Imediatamente se deu conta de que haviam sido mortas por seus camaradas rebeldes.

Khattab, de 43 anos, administrador de um hospital saudita que combatia na jihad durante suas folgas, foi buscar respostas do seu comandante local, um homem notoriamente brutal chamado Abu Ayman al-Iraqui – que não lhe deu muita atenção e afirmou que seus homens mataram as crianças “porque não eram muçulmanas”.

Somente então, se convenceu de que a jihad da Síria – para onde viajara infringindo uma proibição oficial do seu país – não estava de acordo com a vontade de Deus. Mas, ao regressar a Riad, onde agora trabalha como voluntário num programa para desestimular outros sauditas a ir para a guerra, seu governo tinha passado por cima dos seus próprios escrúpulos e se tornado o principal defensor dos rebeldes sírios, incluindo muitos islamistas radicais que frequentemente combatem ao lado de militantes leais à Al-Qaeda.

A decepção de Khattab ilustra o enorme desafio com que os governantes da Arábia Saudita se defrontam: como lutar numa guerra cada vez mais sangrenta e caótica na Síria usando combatentes fanáticos sobre os quais não exercem praticamente nenhum controle?

Os sauditas temem o fortalecimento de facções afiliadas à Al-Qaeda na Síria – e não esqueceram o que aconteceu quando militantes sauditas que combateram no Afeganistão retornaram ao seu país, onde desencadearam um levante interno há dez anos. O reino do Golfo proíbe oficialmente seus cidadãos de ir para Síria lutar na jihad, mas a proibição não vigora: pelo menos mil partiram até agora em direção ao país em guerra, segundo funcionários do Ministério do Interior, incluindo membros de algumas famílias importantes. Mas os sauditas também são favoráveis à queda do presidente sírio, Bashar Assad, e do Irã, seu financiador, que consideram inimigo mortal. Eles só podem combatê-los de fato fornecendo apoio militar e financeiro aos rebeldes sírios. E os insurgentes mais eficientes são os islamistas cuja fé, muitas vezes, mal os distingue da Al-Qaeda. Enquanto Khattab falava sobre a Síria, suas próprias convicções não pareciam tão diferentes dos discursos dos jihadistas que ele denunciara. Ele deixou claro que considerava infiéis os muçulmanos xiitas e a seita alauita de Assad – e um perigo terrível para o seu povo. “Se os xiitas conseguirem controlar a Síria, será uma ameaça para o meu país”, disse. “Fui para a Síria proteger meu país.”

Às vezes, seus sentimentos sectários pareciam esconder seu mal-estar pelos excessos de alguns dos seus camaradas mais radicais. Ele não negou ter combatido muitas vezes ao lado de membros do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isil, em inglês), organização jihadista afiliada à Al-Qaeda.

Khattab também mencionou com orgulho que combateu quando adolescente no Afeganistão e, poucos anos mais tarde, na Bósnia. Optou por não lutar contra os americanos no Iraque “porque há muitos xiitas naquele país”, disse, com expressão de aversão.

O centro de reabilitação em que trabalha, como muitas instituições sauditas, tem-se mostrado um tanto constrangido com as contradições da política de seu país em relação à Síria. Recentemente, o centro sofreu uma decepção com um dos seus discípulos mais famosos, um jihadista reformado chamado Ahmed Shayea. Ele se tornou conhecido ao sobreviver ao próprio atentado suicida no Iraque em 2004. Shayea sofreu graves queimaduras e ficou desfigurado, mas depois de passar meses num hospital, saiu e se proclamou curado da mentalidade jihadista. Ficou conhecido como o “suicida vivo” e, em 2009, o escritor americano Ken Ballen dedicou todo um capítulo a ele em seu livro Terrorists in Love.

Em novembro, no entanto, Shayea deixou clandestinamente a Arábia Saudita e foi para a Síria, onde agora combate com o Isil. Orgulhosamente, ele anunciou sua volta à jihad no Twitter com uma foto dele segurando um fuzil com as mãos deformadas.

As autoridades sauditas afirmam ter pedido aos seus cidadãos que não se dirijam para a Síria, mas não têm condições de seguir os passos de quem que deseja combater naquele país. “Tentamos impedi-los, mas o que podemos fazer tem limites”, disse Mansur Turki, porta-voz do Ministério do Interior saudita. “Não podemos impedir todos os jovens de deixar o reino. Muitos viajam para Londres ou outros lugares e, então, se encaminham para a Turquia ou para a Síria.”

O caminho de Khattab para a Síria foi mais ou menos semelhante ao de muitos outros. Ele leu sobre os levantes em 2011, mas foi o da Síria que mais o comoveu. Não apenas em razão do derramamento de sangue, mas por seus irmãos sunitas que estavam sendo mortos por alauitas e xiitas.

Quando foi pela primeira vez, em meados de 2012, viajou diretamente de Riad à cidade turca de Antakya, perto da fronteira síria.

Na Turquia, ele encontrou muitos outros combatentes estrangeiros e rebeldes sírios que estavam ansiosos para levá-los para o campo de batalha. “Eles gostam particularmente dos sauditas, porque são mais dispostos a fazer operações suicidas”, acrescentou.

No ano seguinte, regressou à Síria mais sete vezes, em geral, durante as folgas, e deixou a mulher cuidando dos seus quatro filhos. A cada vez, permanecia de dez dias a duas semanas. Combateu com uma variedade de grupos, muitas vezes participou de batalhas – em Alepo, em Homs e no interior de Latakia, perto da costa. Em geral, usava um fuzil AK-47, mas, às vezes, uma metralhadora russa mais pesada, conhecida como 14.5. Ele foi gradualmente se desiludindo com o caos da batalha. Muitas vezes, se encontrou entre homens que rotularam os dirigentes da Arábia Saudita e de outros Estados do Golfo Pérsico de infiéis e merecedores de massacres. Isso o incomodou, mas não o impediu de retornar ao campo de batalha, disse.

No fim, foi a matança de inocentes e uma convicção maior de que os rebeldes ao seu lado não estavam fazendo aquilo pelos motivos certos que o levaram a sair. “Se a luta não é puramente em nome de Deus, não é uma verdadeira jihad. Essas pessoas lutam por suas próprias bandeiras.” Mas há outro motivo pelo qual ele desistiu de lutar. “Assad começou a colocar os sunitas na linha de frente. Esse é um grande problema. Os rebeldes não querem combater contra eles. A verdadeira guerra não é contra Assad em si, é contra o Irã. Todo o resto não passa de uma imagem falsa.”

TRADUÇÃO:  ANNA CAPOVILLA

Robert F. Worth é jornalista.

Fonte: The New York Times via, Estadão

3 Comentários

  1. por LUCENA
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    “(…)seus homens mataram as crianças “porque não eram muçulmanas”. (…)”
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    É isso que as potênfias da SS ( Sauditas/Sionistas ) fazem;e a ONU só fica calada e não se fala mais nada,é igual a situação dos palestinos,que aos poucos estão sendo dizimado e as suas terras sendo roubada dos seus nativos por uma das potenfias da SS…. 😉
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    Sem ocupação israelense, economia palestina teria mais de US$3,4 bi
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    Banco Mundial diz que permissão para Palestina utilizar área da Cisjordânia poderia incrementar PIB em até 35%
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    (*)fonte:operamundi/Brasil de fato
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    A economia palestina deixa de ganhar cerca de 3,4 bilhões de dólares por ano – o equivalente a 35% de seu PIB – em decorrência da ocupação militar israelense. A conclusão é do relatório do Banco Mundial “Area C e o futuro da economia palestina” divulgado nesta terça-feira (08/10). O estudo é o primeiro a avaliar os impactos econômicos da ocupação israelense dos territórios palestinos, mais especificamente, da área C, que constitui 61% da Cisjordânia.
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    Apesar dos Acordos de Paz de Oslo (1993) estipularem a transferência da área C para as autoridades palestinas até 1998, Israel mantém o controle sob o território, não liberando nem para a produção e comércio nem para residência de palestinos. O relatório estima que a permissão da atividade econômica na área poderia resolver, em grande parte, a situação econômica palestina, marcada por altas taxas de desemprego entre os jovens (em torno dos 37%) e pouco desenvolvimento produtivo.
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    A falta de terra e a série de sanções impostas por Israel são as principais causas da estagnação econômica do país, que se financia, majoritariamente, por doações internacionais, que ainda assim, passam pelas mãos israelenses. Segundo o Banco Mudial, a economia palestina deveria crescer, anualmente, no mínimo 6% para absorver a entrada da mão de obra – o que pode ser solucionado com a incorporação da área C.
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    Desenvolvimento de agricultura, exploração de minerais do Mar Morto e de jazidas, construção, turismo e telecomunicação seriam os setores mais beneficiados pela transferencia da área C para os palestinos, de acordo com o relatório. Atualmente, a principal atuação dos palestinos acpntece nos setores de serviços, indústria e agricultura.
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    “Normalmente, a alta densidade das areas urbanas da Cisjordânia chama a maior parte da atenção”, afirma Mariam Sherman, diretora do Banco Mundial na região. “Mas, liberar o potencial dessa ‘área restrita’ e permitir os palestinos de colocar esses recursos em andamento proporcionaria novas áreas inteiras da atividade econômica e levaria a economia palestina no caminho para o crescimento sustentável”, acrescentou.
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    Para o Banco Mundial, a utilização da área C não apenas expandiria a economia da região, como também a arrecadação da Autoridade Palestina em 800 milhões de dólares por ano, cortando pela metade o déficit e, assim, a necessidade de doações externas.
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    “Sem a possibilidade de usar o potencial da área C, o espaço da economia palestina continuará fragmentado e estagnado. Levantar as múltiplas restrições pode transformar a economia e melhorar, substancialmente, as perspectivas de crescimento”, conclui Sherman.

    Cada vez menos terras, cada vez menos produção
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    A política israelense, no entanto, tem se distanciado cada vez mais da transferência de territórios para os palestinos, como era previsto pelos acordos de paz. Nos últimos três anos, o número de licitações lançadas pelo governo israelense para a construção de assentamentos nos territórios palestinos ocupados mais do que quadruplicou. O boom teve início no final de 2010, quando o compromisso assumido pelo premiê Benjamin Netanyahu com os Estados Unidos, de congelar por 10 meses o planejamento de novas colônias, terminou.
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    Em 2012, a aprovação dos planos de construção – que incluem projetos prévios à sua administração – cresceu 300% em comparação com os dois anos anteriores. Isso significa que o Ministério de Defesa aprovou planos para outras 6.767 casas nas colônias. As novas unidades habitacionais – muitas ainda em construção – não apenas aumentarão a área de antigos assentamentos como também formarão novas colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
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    A construção do muro da “vergonha” que separa Israel da Cisjordânia também incorporou terras palestinas. De acordo com a organização Stop the Wall, o muro anexou cerca de 46% da Cisjordânia.
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    Com a expansão territorial israelense, milhares de palestinos da Cisjordânia perderam seu principal meio de sobrevivência: a agricultura. Campos foram destruídos ou anexados pelas novas colônias israelenses.
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    [ brasildefato.com.br/node/26222 ]

  2. Na oitava viagem para combater ao lado dos rebeldes na Síria, em agosto, Abu Khattab viu algo que o perturbou: duas crianças mortas, cujos corpos cobertos de sangue jaziam na rua de uma aldeia rural perto da costa do Mediterrâneo. Imediatamente se deu conta de que haviam sido mortas por seus camaradas rebeldes. === Quem paga é sempre os inocentes…esse reizeco está eskecendo da resposta q poderá desestabilizar o seu país, e seu reinado..o seria ótimo p o povo, se livre desta “famiglia”.Sds.

  3. Tem algo de esquisito neste texto.. Me lembra o caso do marido traído que só vai dar mais umas quatro chances para a mulher se endireitar. O saudita viu barbaridades, falarem mal de seu país e ainda sim continuou viajando para o campo de batalha? Fala sério, que piada. Matéria “inventada”.

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