“SHALE GAS”, OU GÁS DE FOLHELHO, AMPLIA A COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL NOS EUA

“O shale gas (ou gás de folhelho, tipo de gás encontrado em rochas no subsolo) jogou os preços do gás nos Estados Unidos para baixo, ampliando a competitividade industrial naquele país.

Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que o preço médio do gás nos EUA é de US$ 4,45 por milhão de BTUs (medida usada para gás natural), enquanto no Brasil é de US$ 17,14 por milhão de BTUs.”

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Indústria brasileira gasta com gás US$ 5 bilhões a mais que os EUA

Por Danielle Nogueira

RIO – O shale gas (ou gás de folhelho, tipo de gás encontrado em rochas no subsolo) jogou os preços do gás nos Estados Unidos para baixo, ampliando a competitividade industrial naquele país. Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que o preço médio do gás nos EUA é de US$ 4,45 por milhão de BTUs (medida usada para gás natural), enquanto no Brasil é de US$ 17,14 por milhão de BTUs. A diferença faz com que a indústria nacional tenha um gasto adicional de US$ 4,9 bilhões por ano. Para reduzir esse custo, a Firjan diz que é necessário não apenas baixar o preço do produto, como os impostos e a margem das distribuidoras.

 No estudo “O preço do gás natural para a indústria no Brasil e nos Estados Unidos — comparativo de competitividade”, foi considerado o consumo pela indústria brasileira de 10,4 bilhões de metros cúbicos por ano de gás natural, o que equivale a um custo de US$ 6,6 bilhões anuais. Se o preço final do gás no Brasil fosse equivalente ao do americano, o gasto da indústria seria de US$ 1,7 bilhão. O gás natural tem participação relevante no custo de produção de setores industriais de peso na economia, como indústria química (30%) e cerâmica (25%), por exemplo.

 A Firjan fez simulações para empresas de diferentes portes. No caso de uma microempresa, uma padaria de bairro, por exemplo, que tem de cinco a sete empregados e consumo de gás natural de aproximadamente 1,5 mil metros cúbicos por mês, a perda de competitividade é de R$ 29,7 mil por ano na comparação com uma padaria americana. Para uma empresa química de grande porte, com 600 empregados e consumo de gás natural de 2,7 milhões de metros cúbicos por mês, o gasto adicional em comparação com sua concorrente americana é de R$ 29,8 milhões.

‘Tarifa é cara’

O estudo mostra que a melhoria da competitividade do gás no Brasil depende de mudanças estruturais, que passam não só pela redução do preço da molécula (parcela variável do preço final do gás e que representa 43,5% da tarifa), como também de outros componentes na formação de preço. Os tributos respondem por 22,08% da tarifa ao consumidor e a margem das distribuidoras, por 19,01%. A parcela fixa no preço, que corresponde ao custo de transporte, representa 15,39%.

 — O importante é mostrar justamente isso. A tarifa é cara não só pelo preço do gás em si, como também pelos outros componentes. Mesmo que o Brasil consiga ter o mesmo custo da molécula de gás natural dos EUA, a tarifa para a indústria cairia para US$ 11,78 por milhão de BTUs, ainda quase o triplo do valor praticado nos EUA — afirma o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.

 A queda de preço do gás natural dos EUA resulta principalmente do advento do shale gas no país, cuja produção cresceu desde meados dos anos 2000. Os grandes depósitos do chamado gás de folhelho (que vem sendo traduzido para o português de forma equivocada como gás de xisto) são conhecidos há muito tempo. No entanto, por ficarem aprisionadas dentro de rochas, tais reservas só se tornaram viáveis recentemente com o desenvolvimento de uma técnica ambientalmente polêmica chamada de fratura hidráulica.

 Como o nome diz, a técnica consiste em fraturar rochas no subsolo para liberar o gás armazenado dentro delas, usando água bombeada com alta pressão e produtos químicos. Ambientalistas temem a contaminação de lençóis freáticos.

 No Brasil, o gás não convencional — seja o de folhelho ou outro — é uma aposta para o próximo leilão a ser realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), em outubro.

Fonte: O Globo, Economia, Página 23, 3ª feira, 21/05/2013 

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O “SHALE GAS” NO BRASIL

O mercado de gás natural vem vivenciando uma revolução, proporcionada pela viabilização técnica e econômica da extração de gás não convencional, provocando aumento da oferta e, consequentemente, redução de preço no mercado americano.

Por  Adriano Pires (*)   

O caso do shale gas nos Estados Unidos é notável, pois sua produção era insignificante até 2005. Hoje é responsável por 23% da produção americana de gás natural e nos próximos 20 anos deve alcançar 50% do total explorando as reservas tecnicamente recuperáveis de 93 bilhões de barris equivalentes do petróleo do país.

A queda do preço no mercado americano vem viabilizando a conversão de usinas termelétricas a carvão para gás natural e vem atraindo indústrias para o território americano, que procuram se beneficiar do baixo preço desta energia.

O shale gas se encontra em formações sedimentares de baixa permeabilidade. Diferentemente do gás convencional, que migra das rochas onde foi formado para rochas reservatórios, este gás não convencional fica aprisionado, pois a baixa permeabilidade dificulta o seu escape.

Esta característica inviabilizou por muito tempo a sua extração. Com a técnica de perfuração horizontal dos poços e o advento do faturamento hidráulico este problema foi superado.

Na década de 70, o governo iniciou um processo de financiamento de pesquisa através do Departamento de Energia, para novos métodos comerciais de fracking. Foi criado o Gas Research Institute (GRI) com recursos públicos, como instrumento para investir em pesquisa e novas técnicas de exploração de gás natural não convencional.

Ao mesmo tempo, foi criado um programa de incentivo fiscal e o resultado foi a criação do Natural Gas Policy Act (NGPA), que levou a introdução de um crédito tributário de três dólares por barril de gás natural não convencional.

Os maiores frutos da pesquisa se deram no final da década de 1990, com a maturidade das técnicas de hydraulic fracturing (fracking) e horizontal drilling que permitiram a exploração comercial de gás não convencional. Estima-se que a indústria do shale gas emprega atualmente cerca de 600 mil trabalhadores nos Estados Unidos, e que em 2015 a atividade vá contribuir com US$ 118 bilhões para o PIB americano.

Além dos Estados Unidos, pioneiros na área, o processo para extração desse tipo de gás já foi iniciado na Austrália, na Europa, na África (África do Sul), na América do Sul (Argentina) e na Ásia. O último plano quinquenal da China (2011-2015) prevê grandes investimentos para esta atividade.

A EIA classifica o Brasil como a 10ª maior reserva de shale gas no mundo, analisando apenas o potencial da bacia do Paraná. Como se sabe da existência de outras bacias sedimentares com potencial como a bacia do São Francisco e do Parnaíba, há a possibilidade do Brasil se transformar num grande produtor.

Para viabilizar a atividade, é preciso definir um conjunto de regras e políticas que fomentem a atividade no seu inicio. Seria necessária a criação de um marco regulatório específico e a criação de uma legislação própria de forma a lidar com as questões inerentes à atividade.

(*) Adriano Pires, é Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Fonte: Brasil Econômico 

1 Comentário

  1. Caros amigos comentaristas…
    Nós estamos sendo bombardeados, todas as semanas, por notícias sobre as reservas de gás nos EUA, que agora começam a ser exploradas pelo método de fracionamento, pois… O que não se fala, é que este método leva a contaminação dos lençóis freáticos que porventura estejam acima, ou vizinhos, aos campos de rochas que retenham este mesmo gás…
    Fica a pergunta: você trocaria a sua água potável, por hidrocarbonetos?
    Eu não bebo gasolina. E você?

    Detalhe no mapa (ilustração desta matéria): observem como os nossos campos de gás ocupam o mesmo espaço, ou algo bem próximo, do Aquífero Guarani…
    😉

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