Por que a Rússia continua vendendo armas à Síria?

rusia-siria

Em uma feira de armas nos arredores de Moscou, cinco tanques russos movimentam-se graciosamente para frente e para trás, com seus canhões subindo e descendo com marcações típicas de uma valsa. Esse atípico “balé dos tanques” foi criado por um coreógrafo do prestigiado Balé Bolshoi.

Mas essas armas não foram concebidas para dançar.

De uma hora para outra, os mesmos tanques começam a performance esperada por todos os presentes: milhares de balas são lançadas em uma fração de segundos e o local de demonstração praticamente desaparece em uma grande nuvem de fumaça.

Observando das arquibandas estão potenciais clientes: delegações da África, Ásia, Oriente Médio e Golfo.

A Rússia é hoje o segundo maior exportador de armas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Um dos clientes é especialmente polêmico. Nesse ano, a Síria deve encomendar as baterias antiaéreas russas Buk-M2E, sistemas de defesa antiárea Pansir-S1, segundo alguns relatos, caças Mig-29.

Os negócios foram fechados antes do pico de violência na Síria, mas, apesar do conflito que se arrasta por mais de dois anos, a Rússia nunca demonstrou a intenção de cancelar esses contratos.

“Se o contrato foi assinado antes, precisamos cumpri-lo”, argumenta Igor Sevastyanov, vice-presidente da Rosoboronexport, a exportadora de armas estatal do país. “Nós cumprimos nosas obrigações internacionais de acordo com as regras internacionais”.

Dois pesos, duas medidas?

A Rússia recorre ao mesmo argumento para os helicópteros militares que está tentando enviar para a Síria.

São helicópteros de ataque da era soviética que os russos estão reformando. Na semana passada, um navio cargueiro do país que estava transportando as aeronaves foi impedido de entrar em águas britânicas e teve de retornar a Moscou, embora a Rússia esteja determinada a realizar a entrega.

Países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos vêm acusando a Rússia de apoiar o presidente da Síria, Bashar al-Assad, com carregamentos de armas. Já a Rússia rebate a acusação dizendo que o Ocidente trabalha com “dois pesos e duas medidas”

“Por que os Estados Unidos estão determinados em vender armas para o Bahrain depois que as autoridades bahrenitas, com a ajuda dos sauditas, sufocaram a Primavera Árabe no país?”, questiona Ruslan Pukhov, analista de comércio de armas do centro de estudos russo CAST.

“A Rússia não vê nenhum problema em vender armas para a Síria uma vez que a CIA (agência de inteligência americana) e os serviços secretos da França e da Inglaterra suprem os rebeldes com armas via Turquia”.

Os contratos de armas entre a Rússia e a Síria são avaliados em bilhões de dólares. Mas Moscou nega que o dinheiro seja a principal razão para continuar enviando carregamentos militares às autoridades sírias.

Autoridades russas temem que se os rebeldes tirarem Assad do poder, radicais islâmicos podem tomar seu lugar e representar uma ameaça à segurança nacional da Rússia.

“Não se trata de kalashnikovs ou helicópteros. Trata-se de coisas muito perigosas batendo à nossa porta”, argumenta Andrei Klimov, vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento russo. “Essa área é muito próxima ao nosso país e queremos evitar qualquer agressão vinda do exterior. Do contrário, podemos ter um problema sério perto das nossas fronteiras”.

Jogo de poder

A geopolítica também é um ponto crucial. A Rússia teme que se Assad renunciar ou for deposto, a influência do país no Oriente Médio desaparecerá com ele.

“Síria é o único país no Oriente Médio que segue os nossos conselhos, esse é um país onde nós podemos exercer certa influência tangível”, disse Pukhov.

“Claro, a perda da Síria significará uma perda completa da influência na região. Isso terá um valor simbólico para as autoridades russas e o estabelecimento da política externa como um sinal da Rússia como uma grande potência”.

A Rússia ainda se vê como uma superpotência, como um país que possui tantos direitos como os Estados Unidos para vender armas para quem quer que seja, e ainda ganhar a influência onde puder.

Mas o Kremlin é pragmático. Se Moscou começar a sentir que há mais perdas do que ganhos em apoiar o presidente Presidente Assad, o líder sírio poderá sofrer pressão tanto do Ocidente quanto do Oriente.

“Nós na Rússia não temos ilusão sobre esse regime”, afirmou o parlamentar russo Andrei Klimov, “A única coisa que nós queremos é ter uma saída pacífica para esse problema. Não queremos prolongar o regime por décadas ou por séculos. Nosso objetivo é achar uma solução pacífica para isso o mais breve possível.”

 

Fonte: BBC Basil

9 Comentários

  1. A Síria é o mais recente exemplo do que Henry Kissinger disse certa vez: “muitas vezes, é mais perigoso ser aliado, que inimigo, dos EUA”.

    Bashar al-Assad
    O governo Assad em Damasco foi, por décadas, aliado tácito do Ocidente, porque reprimia os extremistas islamistas, mantinha em paz a fronteira com Israel e interrogava prisioneiros que os serviços de inteligência dos EUA despachavam para lá. Damasco sequer reagiu com vigor, na defesa do próprio território nas Colinas do Golan, quando Israel anexou ilegalmente a região, depois da guerra de 1967 entre árabes e israelenses.

    Mas nem esse bom comportamento ajudou a Síria, quando EUA, Grã-Bretanha, França e Israel decidiram que querem cortar a cabeça do Irã, principal aliado dos sírios. Quando se recusou a unir-se à aliança ocidental liderada pelos EUA e pelas pertromonarquias conservadoras, contra o Irã, o presidente Bashar al-Assad selou o próprio destino.

    • Nascimento,

      A Síria está longe de ter esse bom comportamento…

      Que o digam os israelenses durante o Yom Kippur, em 1973…

      • FONTE VEJAO BEM DE ONDE VEM
        BBC = British Broadcasting Corporation
        os mesmo que espalharao para os 4 cantos do globo que o Irak tinha WMD =Weapon of mass destruction
        nao me asuta tal lavacao de celebro

      • KLM,

        Em 1973, Egito e Síria montaram uma ofensiva surpresa contra Israel, que foi lançada em Outubro daquele ano e deu início a Guerra do Yom Kippur ( ou Guerra do Ramadã ). Lutaram também forças expedicionárias de diversos outros países árabes ao lado de Síria e Egito. Foi, de longe, o maior perigo enfrentado por Israel desde a sua guerra de independência ( que, aliás, também contou com participação síria… ).

        Por tanto, reafirmo: os sírios estão longe de serem santos…

  2. Cada um apoia e vende armas ao lado que lhe é mais conveniente. Ou alguém pensou que eles apoiavam um lado ou outro por altruismo? É sim por dinheiro, mas a muito mais por trás, que é manter ou tirar um governo que por qualquer motivo você acha (in)conveniente. É assim que funciona o jogo. Ninguém se importa nem minimamente se um povo tem ou não liberdade, se está ou não morrendo milhares nas mãos dos grupos em guerra. A guerra, hoje, é apenas um como tantos outros negócios. Nada pessoal, apenas pragmatismo puro e simples. E como os EUA decidiu que quer pegar de jeito o Irã, antes eles têm que eliminar os aliados do mesmo. E mais conveniente ainda é o fato da Siria estar entre o Irã e Israel. Ou seja, ou a Siria larga o Irã e faz vistas grossas a um hipotético ataque, ou então a guerra prosegue. E eu não vou ficar nem um pouco surpreso se o Assad pra salvar o seu da reta largue o Irã, afinal, ninguém é burro o suficiente para por o seu na reta por outros.

    Já o medo Russo pelo visto é de que armas químicas caiam na mão de fundamentalistas islâmicos, e que de lá, vá parar nas mãos de rebeldes chechenos ou de qualquer outra provincia rebelde Russa de maioria islâmica. Os chechenos já mostraram do que são capazes diversas vezes, imagina com armas químicas? É bem possível que para evitar que as mesmas caiam em mãos de extremistas os próprios Russos agridam bases e alvos Sirios, afinal, é o povo Russo que pode ser feito de alvo.

  3. Que pergunta! Porque Russia vende armas a Siria. Geopolitica meu filho! E business of course. Putim nao quer ver Russia perder a base naval que esta manten nas costas Siria, como perdeu a influencia que tinha dentro da Libia durante o regime de Gadafi.Pelo menos enquanto ele for o presidente da Russia. Alem do mais, como ex chefe da KGB ele tem conhecimento detalhado do plano de Remapeamento da Asia Ocidental, Oriente Medio e Norte da Africa organizado pelos neo-conservadores dentro do Pentagono e CIA. Russia marcou bobeira quando permitiu que a ONU desse carrta branca aos Ianques fazerem o que desejassem em ralacao a Libia. Aprendeu a licao. O urso da Siberia percebeu que nao pode confiar muito na aguia norte americana.

  4. Mundo cão, que põe os valores acidentais no chinelo!Os paises tem interesses e não amigos!Salve-se quem puder e conseguir!

  5. tomora que vendo muitos s-300 bukm2 assim vamos ver varios drones caças furtivos caindo, meio parecido com o aconteceu com cossovo que usava aparelhos velhos de defesa antiario e derrubou f117 EUA imagine o s-300 de elite,

  6. Por que pode e ninguém vai conseguir impedir com pressão ou militarmente… então vende pra quem quiser e basta!!

    Certamente, se tiver um lucro a mais eles poderiam concordar em vender a Síria, mas não farão isso… então, vão continuar vendendo armas pros inimigos do Ocidente, queiram ou não queiram!!

    Que inveja dos russos né.. . poderíamos estar jogando nesse mesmo patamar, economia maior que a deles nós temos, falta o resto agora!!

    Valeu!!

Comentários não permitidos.